Análise do Poema Tabacaria de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)


Escrito por Laura Aidar

"Tabacaria", obra poética do heterônimo Álvaro de Campos de Fernando Pessoa, é uma criação longa e complexa, abordando temas centrais da poesia deste autor. É uma das poesias mais conhecidas do escritor português.

Os versos escritos em 1928 e publicados em 1933 na Revista Presença retratam o ambiente de modernidade acelerada em que o autor vivia. A instabilidade que acompanha esse cenário é traduzida pela sensação de vazio, isolamento e desorientação descrita no poema.

Tabela da Tabacaria: Versão Completa

Não sou nada.

Nunca serei nada.

Não posso querer ser nada.

À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,

Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é

(E se soubessem quem é, o que saberiam?),

Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,

Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,

Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,

Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,

Com a morte a pôr umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,

Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.

Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,

E não tivesse mais irmandade com as coisas

Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua

A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada

De dentro da minha cabeça,

E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.

Estou hoje dividido entre a lealdade que devo

À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,

E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.

Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.

A aprendizagem que me deram,

Desci dela pela janela das traseiras da casa.

Fui até ao campo com grandes propósitos.

Mas lá encontrei só ervas e árvores,

E quando havia gente era igual à outra.

Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?

Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!

E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!

Gênio? Neste momento

Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,

E a história não marcará, quem sabe?, nem um,

Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.

Não, não creio em mim.

Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!

Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?

Não, nem em mim...

Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo

Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?

Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -

Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,

E quem sabe se realizáveis,

Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?

O mundo é para quem nasce para o conquistar

E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.

Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.

Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,

Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.

Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,

Ainda que não more nela;

Serei sempre o que não nasceu para isso;

Serei sempre só o que tinha qualidades;

Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,

E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,

E ouviu a voz de Deus num poço tapado.

Crer em mim? Não, nem em nada.

Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente

O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,

E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.

Escravos cardíacos das estrelas,

Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama;

Mas acordamos e ele é opaco,

Levantamo-nos e ele é alheio,

Saímos de casa e ele é a terra inteira,

Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;

Come chocolates!

Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.

Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.

Come, pequena suja, come!

Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!

Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,

Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei

A caligrafia rápida destes versos,

Pórtico partido para o Impossível.

Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,

Nobre ao menos no gesto largo com que atiro

A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,

E fico em casa sem camisa.

(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,

Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,

Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,

Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,

Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,

Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,

Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -

Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!

Meu coração é um balde despejado.

Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco

A mim mesmo e não encontro nada.

Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.

Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,

Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,

Vejo os cães que também existem,

E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,

E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei e até cri,

E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.

Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,

E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses

(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);

Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo

E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

Fiz de mim o que não soube

E o que podia fazer de mim não o fiz.

O dominó que vesti era errado.

Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.

Quando quis tirar a máscara,

Estava pegada à cara.

Quando a tirei e me vi ao espelho,

Já tinha envelhecido.

Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.

Deitei fora a máscara e dormi no vestiário

Como um cão tolerado pela gerência

Por ser inofensivo

E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,

Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,

E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,

Calcando aos pés a consciência de estar existindo,

Como um tapete em que um bêbado tropeça

Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.

Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada

E com o desconforto da alma mal-entendendo.

Ele morrerá e eu morrerei.

Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.

A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.

Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,

E a língua em que foram escritos os versos.

Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.

Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente

Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

Sempre uma coisa defronte da outra,

Sempre uma coisa tão inútil como a outra,

Sempre o impossível tão estúpido como o real,

Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,

Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)

E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.

Semiergo-me enérgico, convencido, humano,

E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los

E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.

Sigo o fumo como uma rota própria,

E gozo, num momento sensitivo e competente,

A libertação de todas as especulações

E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira

E continuo fumando.

Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira

Talvez fosse feliz.)

Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.

O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).

Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.

(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)

Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.

Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo

Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

Explorando o Poema Tabacaria

Neste poema, o sujeito se encontra perdido e mergulhado em suas próprias reflexões. Uma torrente de imagens e emoções se desenrola com velocidade, dando vida à Tabacaria.

Os versos, cheios de informação, são transmitidos rapidamente ao leitor, quase não lhe permitindo respirar, causando uma sensação de invasão, pois o poeta apresenta muitas questões sem lhe dar tempo para refletir.

O período vivido por Fernando Pessoa (1888-1935) foi marcado por um ritmo frenético de modernização urbana, que se refletia em sua poética, em particular na obra de Álvaro de Campos. Esta era permeada com a imagem das cidades modernas, sua velocidade de mudança e angústias que ela gerava. O resultado é uma obra que emprega numerosas imagens em rápida sucessão, que parecem caóticas mas que transmitem, do mesmo modo, a atmosfera de um tempo às gerações atuais.

Tabacaria é um poema moderno de estrutura versos livres (sem rima). A poesia exprime profundamente tanto os sentimentos internos quanto externos. De estilo descritivo, é bastante longa.

Veja mais

Análise dos versos em Tabacaria

Não sou nada.

Nunca serei nada.

Não posso querer ser nada.

Durante a apresentação de Tabacaria, tivemos a oportunidade de conhecer um pouco sobre o personagem principal do poema.

Ao se enfrentar o homem não identificado, constatamos inicialmente que ele recorre às suas negativas para definir-se. Ele é, primordialmente, aquilo que não é (e que nunca foi e nunca será). Além disso, não tem nenhuma aspiração.

Ao longo dos versos, orações negras e pessimistas são usadas para denunciar a tristeza e vazio que o sujeito sofre.

A desconfiança pode abranger não só o que se sente em relação a si mesmo, mas também o que nos rodeia.

Álvaro de Campos cria um personagem que se desnuda corajosamente para o leitor, revelando seu lado vulnerável e inseguro, demonstrando a angústia de ser incapaz de sucesso.

Falhei em tudo.

Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.

A aprendizagem que me deram,

Desci dela pela janela das traseiras da casa.

Fui até ao campo com grandes propósitos.

Mas lá encontrei só ervas e árvores,

E quando havia gente era igual à outra.

Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Esse sujeito não nomeado, ao olhar para o passado, vê que não alcançou nenhuma realização amorosa ou profissional, fazendo com que se sinta um fracassado e vencido, sem energia e sem ambições para lutar na vida. Ele lê a sua história pessoal como uma derrota.

No princípio de sua reflexão, Álvaro de Campos constata que fracassou em tudo, o que pode ser entendido como um começo positivo: ele tinha algum objetivo, mas não conseguiu alcançá-lo. No entanto, a seguir, ele refuta a ideia de que tinha um plano, pois, segundo ele, nada tem sentido e não existe propósito na vida.

Neste trecho de Tabacaria, o cansaço e o tédio são evidentes, como se tudo girasse em torno de uma rotina e como se o sujeito não tivesse nenhuma esperança ou aspiração.

Tentando escapar de sua atual condição, ele logo descobre que não há como escapar. Nem mesmo a vida no campo consegue oferecer uma saída para essa situação.

Ao ler os versos, percebemos que o sujeito está em busca de uma verdade que o sustente. Uma verdade que seja duradoura, que permaneça eternamente e que lhe dê sentido à vida. Algo que o norteie.

O indivíduo está ciente de sua situção e, como consequência, a alegria se torna algo inatingível.

Janelas do meu quarto,

Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é

(E se soubessem quem é, o que saberiam?),

Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,

Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,

Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,

Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,

Álvaro de Campos retrata-se individualmente em "Tabacaria", mas de forma coletiva também, como se vê no trecho acima.

O sujeito do poema reflete sobre si mesmo, enquanto também reflete sobre a humanidade como um todo. Percebe que há um sentimento comum entre os seres humanos, ligado às questões existenciais e aos problemas que todos enfrentamos. A ligação entre as pessoas se manifesta nas suas janelas e no mistério que todos experimentam - o sentimento de estar perdido.

Ele é simplesmente um ser humano comum, igual a nós, que compartilhamos das mesmas inquietações filosóficas. Conseguimos nos relacionar e nos identificar com ele.

Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,

Ainda que não more nela;

Serei sempre o que não nasceu para isso;

Serei sempre só o que tinha qualidades;

Álvaro de Campos sente-se como se estivesse permanentemente deslocado; como se não estivesse à altura dos demais. Esta sensação de desajustamento é como se ele estivesse vivendo no sótão: não na parte principal da casa, mas num lugar menos visível.

Esse trecho é significativo, pois ilustra o entendimento que o sujeito tem de si mesmo, da sua autoestima, bem como de suas fraquezas de caráter e de personalidade. Ele demonstra que conhece a si mesmo com tal precisão que consegue evidenciar suas deficiências.

Ele se sente insignificante, pois nunca alcançou destaque ou sucesso. Embora ele tentasse, ficará apenas mais um da multidão, desconhecido e sem qualquer marca na história.

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?

Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!

E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!

A vida moderna oferece um vasto leque de possibilidades, o que pode deixar alguém se sentindo confuso e indisposto diante de tanta variedade de escolhas. O sentimento de estar paralisado diante de tantas hipóteses é comum ao se enfrentar o dilema de qual caminho seguir.

Apesar de nos sentirmos familiarizados com os versos de Fernando Pessoa, a verdade é que a sensação de terem múltiplas possibilidades está diretamente ligada à época em que viveu. Durante a industrialização de Portugal, a vida passou a oferecer escolhas que não eram havia antes.

Álvaro de Campos experimentou e registrou as profundas mudanças sociais e pessoais que ocorreram na sociedade de forma acelerada.

O poeta expressa uma sensação de desamparo e instabilidade emocional, diante das escolhas que tem pela frente. Sem rumo ou perspectiva, ele compartilha com o leitor o seu desânimo perante à vida.

(Come chocolates, pequena;

Come chocolates!

Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.

Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.

Come, pequena suja, come!

Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!

Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,

Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Vendo pela janela, o sujeito do poema encontrou um motivo para sorrir: uma menininha desfrutando de chocolates, isenta de qualquer preocupação existencial como a dos adultos.

Álvaro de Campos gostaria de ter a inocência da criança para se sentir feliz com tão pouco quanto uma barra de chocolate. Porém, sua inveja deixou claro que aquela felicidade simples não pode ser obtida por ele.

Após pegar o papel de prata, o sujeito experimentou um breve ímpeto de alegria. No entanto, ao constatar que o papel era de estanho, seu estado inicial de tristeza rapidamente retornou e o sujeito ainda se encontra em busca do caminho da felicidade.

Quando quis tirar a máscara

Estava pegada à cara

Quando a tirei e me vi ao espelho,

Já tinha envelhecido.

Neste trecho de Tabacaria, Álvaro de Campos aborda o tema da busca pela identidade, algo muito presente na poética de Fernando Pessoa. O sentimento de desamparo é ainda mais forte, pois a pessoa não tem certeza do que ela realmente deseja, assim como também não sabe exatamente quem ela é de verdade.

É possível observar a busca constante dos seres humanos por aprovação social, muitas vezes através de tentativas de se tornar algo que não é. Isso é feito para se adequar às expectativas dos demais e obter sua aceitação.

Ao retirar a máscara que usava há tanto tempo - a personificação que escolheu para se relacionar com o mundo - Álvaro de Campos descobre como o tempo passou e quão velho ficou durante todo esse tempo de encenação.

O mundo é para quem nasce para o conquistar

E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.

Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.

Em alguns trechos de Tabacaria, Álvaro de Campos apresenta o sonho como uma válvula de escape da realidade concreta e dura que é retratada por meio de elementos físicos, como as janelas, pedras, ruas e casas.

O poeta alterna momentos de grande lucidez, fazendo referência tanto ao mundo exterior, com imagens de seu subconsciente, fantasias e sonhos, quanto a elementos internos, com versos que contêm filosofias, pensamentos, devaneios e sonhos. Uma mistura intencional é assim criada na poesia.

Álvaro de Campos mergulha na complexidade de seus sentimentos, busca compreender as emoções que o fazem agir, o sentimento de desânimo que o envolve e então vislumbra o sonho como um lugar seguro, um santuário em tempos turbulentos.

Análise do Título do Poema

A Tabacaria é frequentada pelo sujeito do poema e ele a observa desde a janela de sua casa. Esta loja de produtos relacionados ao tabaco é também local de encontro e de convívio dos visitantes habituais, de conhecidos e do dono do estabelecimento. Lá ele encontra vida.

Não foi mencionada nenhuma data específica, mas é possível identificar alguns traços dos tempos modernos nos versos. As tabacarias são sem dúvida um símbolo desta época.

Histórico Contexto

Tabacaria, um dos mais importantes poemas modernistas de Portugal, foi escrito em 15 de janeiro de 1928 e publicado pela primeira vez na edição 39 da Revista Presença, em julho de 1933.

A obra poética de Álvaro de Campos, que compreende a terceira fase de sua produção, retrata o tempo em que vivia e reflete os sentimentos típicos da geração do autor, como a fragmentação e a fugacidade.

No período entre 1923 e 1930, Álvaro de Campos abraçou um estilo poético mais íntimo e pessimista. O famoso estudioso português Eduardo Lourenço destaca Tabacaria como uma das melhores obras do heterônimo, pois a sua leitura permite compreender, de forma sintética, todos os temas importantes abordados por Álvaro de Campos.

Testemunhando as profundas transformações sociais e econômicas que Portugal enfrentava, Álvaro de Campos exprimiu suas inquietações nos versos de seus poemas. Estes, cheios de nervosismo, transmitiam a incerteza e a sensação de desorientação que acompanhava a mudança acelerada da sociedade.

Álvaro de Campos, o heterônimo de Fernando Pessoa, nasceu em 15 de outubro de 1890, na região de Tavira, no Algarve. Ele se formou em engenharia mecânica e naval e teve a oportunidade de presenciar grandes mudanças na ordem política e social, como a Primeira Guerra Mundial, em 1914, e a Revolução Russa, em 1919.

Tabacaria

Laura Aidar
Escrito por Laura Aidar

É arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Possui licenciatura em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e formação em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.