Os 17 Poemas mais Icônicos da Literatura Brasileira


Escrito por Rebeca Fuks

1. Vinicius de Moraes - Tomara

Tomara

Que você volte depressa

Que você não se despeça

Nunca mais do meu carinho

E chore, se arrependa

E pense muito

Que é melhor se sofrer junto

Que viver feliz sozinho

Tomara

Que a tristeza te convença

Que a saudade não compensa

E que a ausência não dá paz

E o verdadeiro amor de quem se ama

Tece a mesma antiga trama

Que não se desfaz

E a coisa mais divina

Que há no mundo

É viver cada segundo

Como nunca mais...

Vinicius de Moraes (1913-1980) é considerado um grande poeta da literatura brasileira, sendo mais conhecido pelos seus líricos versos apaixonados. Uma das mais famosas obras do poetinha é Tomara, que expressa o sentimento de afeto em sua plenitude.

Neste poema, é descrita uma situação inversa da tradicional: ao invés de um amor compartilhado, é o momento em que o sujeito é deixado. Seus versos expressam o desejo de que sua amada mude de ideia e volte para ele. É neste momento conturbado que manifestações de amor são mais poéticas, pois expressam a tristeza de um coração partido.

O poema nos recorda a importância de aproveitar o momento presente, como se fosse o último. Esta lição se torna ainda mais evidente na estrofe final.

O clássico da MPB "Tomara" foi musicado por Toquinho e Marilia Medalha. Essa canção tornou-se um sucesso de grandes proporções na voz desses artistas.

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2. Poesia de Manoel de Barros

Todas as coisas cujos valores podem ser

disputados no cuspe à distância

servem para poesia

O homem que possui um pente

e uma árvore serve para poesia

Terreno de 10 x 20, sujo de mato — os que

nele gorjeiam: detritos semoventes, latas

servem para poesia

Um chevrolé gosmento

Coleção de besouros abstêmios

O bule de Braque sem boca

são bons para poesia

As coisas que não levam a nada

têm grande importância

Cada coisa ordinária é um elemento de estima

Cada coisa sem préstimo tem seu lugar

na poesia ou na geral

Manoel de Barros, um poeta mato-grossense (1916-2014), costumava observar o mundo à sua volta com muita delicadeza e usar essas impressões para compostos seus versos. Sua obra é repleta de detalhes das coisas "miúdas" que vemos no nosso dia a dia.

A poesia se faz a partir de matéria simples e sem maiores valores. O poeta toma aquilo que muitos ignoram e transforma-o em algo sublime. Por exemplo, um simples tijolo, uma gota de chuva, um pôr do sol, entre outros elementos, podem se tornar sua inspiração.

As pessoas, muitas vezes, não dão muita importância para objetos tão diversos como o pente, a lata ou o carro, mas isso é essencial para se construir um poema. Esses materiais são fundamentais para a poesia.

A poesia, segundo Manoel de Barros, não diz respeito tanto ao que ela contém, mas sim ao olhar que temos sobre o que está ao nosso redor.

3. 666 - Uma Obra de Mario Quintana

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…

Quando se vê, já é 6ª-feira…

Quando se vê, passaram 60 anos!

Agora, é tarde demais para ser reprovado…

E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,

eu nem olhava o relógio

seguia sempre em frente…

E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.

Mario Quintana (1906-1994) era natural do Rio Grande do Sul e tinha a incrível capacidade de criar um laço empático entre o poeta e o leitor. Seus versos pareciam transmitir a impressão de que ambos estavam tendo uma conversa agradável e despretensiosa.

Assim foi concebido Seiscentos e Sessenta e Seis, um poema que é como um conselho de experiência dado por alguém mais velho à alguém mais jovem. Compartilhando um pouco da sua sabedoria de vida.

É como se a pessoa mais velha refletisse sobre sua própria vida, querendo alertar os mais jovens sobre os erros que ela cometeu para que eles não os repitam.

A passagem do tempo e o quanto a vida é curta são temas abordados no breve poema Seiscentos e Sessenta e Seis. É um lembrete de que devemos aproveitar ao máximo cada momento que temos.

4. Ferreira Gullar e o Homem Comum

Sou um homem comum

de carne e de memória

de osso e esquecimento.

Ando a pé, de ônibus, de táxi, de avião

e a vida sopra dentro de mim

pânica

feito a chama de um maçarico

e pode

subitamente

cessar.

Sou como você

feito de coisas lembradas

e esquecidas

rostos e

mãos, o guarda-sol vermelho ao meio-dia

em Pastos-Bons,

defuntas alegrias flores passarinhos

facho de tarde luminosa

nomes que já nem sei

Ferreira Gullar (1930-2016) foi um poeta multifacetado: sua produção abrangia poesias concretas, poesias com conteúdo político e poesia de amor.

Buscar pela identidade é o tema de Homem comum. Os versos abordam assuntos materiais e lembranças que resultaram na formação do indivíduo. Esta obra-prima nos ajuda a nos sentirmos mais ligados ao próximo.

O poeta nos faz sentir uma conexão ao dizer "sou como você". Isso nos lembra que todos somos mais parecidos do que diferentes, especialmente quando consideramos aqueles ao nosso redor. Ao estabelecer esta conexão, cria-se um sentimento de partilha e união.

5. Como Escrever um Poema de Antonio Carlos Secchin

Um poema que desaparecesse

à medida que fosse nascendo,

e que dele nada então restasse

senão o silêncio de estar não sendo.

Que nele apenas ecoasse

o som do vazio mais pleno.

E depois que tudo matasse

morresse do próprio veneno.

Considerado um dos grandes nomes da literatura brasileira contemporânea, Antonio Carlos Secchin, membro da Academia Brasileira de Letras, é poeta, ensaísta e professor nascido em 1952.

Receita de Poema nos apresenta a estilística singular do poeta. Esta obra nos ensina como a arte de compor versos pode ser realizada. O título original é intrigante, pois comumente o termo "receita" é associado à culinária. Esta obra também vem acompanhada de uma provocação: seria possível haver uma única receita para compor um poema?

Apesar do título sugerir que o poema trataria sobre instruções para compor poesia, a obra caminha para uma reflexão sobre as noções subjetivas e o sonho de um poema perfeito, o qual se revela inatingível.

6. As Pedras de Aninha, de Cora Coralina

Não te deixes destruir…

Ajuntando novas pedras

e construindo novos poemas.

Recria tua vida, sempre, sempre.

Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.

Faz de tua vida mesquinha

um poema.

E viverás no coração dos jovens

e na memória das gerações que hão de vir.

Esta fonte é para uso de todos os sedentos.

Toma a tua parte.

Vem a estas páginas

e não entraves seu uso

aos que têm sede.

Com 76 anos de idade, Cora Coralina (1889 - 1985) começou a publicar sua poesia, cheia da sabedoria adquirida ao longo de muitos anos de vida. Ela queria transmitir seus ensinamentos para as gerações mais novas.

Em Aninha e suas Pedras, encontramos uma oportunidade de adquirir o conhecimento, acumulado ao longo da vida da autora, sobre assuntos existenciais e filosóficos. Este livro busca aproximar o leitor, a fim de partilhar esse conhecimento e aconselhamento.

Na obra de Cora Coralina, a resiliência é um tema recorrente. Aninha e suas pedras é apenas mais um exemplo disso. O poema nos inspira a nunca desistirmos de nossos sonhos e a sempre nos recuperarmos para tentar mais uma vez.

7. Poema Final de Manuel Bandeira

Assim eu queria o meu último poema

Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais

Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas

Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume

A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos

A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

Último poema, de Manuel Bandeira (1886-1968), é a expressão poética perfeita de sucesso. As palavras contidas nos seus seis versos mostram como ele desejava que a sua criação poética final fosse. É uma obra-prima da nossa literatura.

Aqui reina um tom de desabafo, como se o poeta quisesse compartilhar seu último desejo com o leitor.

Após uma vida inteira dedicada à experiência, o sujeito adquire a consciência do verdadeiro significado das coisas e decide compartilhar o que aprendeu com o leitor.

O poema é encerrado de maneira forte e intensa no último verso, manifestando a coragem de aqueles que optam por seguir por um caminho desconhecido.

8. Paulo Henriques Britto – Acalanto

Noite após noite, exaustos, lado a lado,

digerindo o dia, além das palavras

e aquém do sono, nos simplificamos,

despidos de projetos e passados,

fartos de voz e verticalidade,

contentes de ser só corpos na cama;

e o mais das vezes, antes do mergulho

na morte corriqueira e provisória

de uma dormida, nos satisfazemos

em constatar, com uma ponta de orgulho,

a cotidiana e mínima vitória:

mais uma noite a dois, e um dia a menos.

E cada mundo apaga seus contornos

no aconchego de um outro corpo morno.

Paulo Henriques Britto, um dos principais nomes da poesia contemporânea brasileira, é um escritor, professor e tradutor nascido em 1951.

O título do poema escolhido é "Acalanto". Esta palavra não somente significa a cantiga para embalar o sono, mas também é sinônima de carinho e afeto, ideais que se encontram presentes no tom íntimo do poema.

No poema "Acalanto", o casal partilha o seu quotidiano com felicidade e companheirismo. Partilham a cama, as tarefas diárias e abraçam-se mutuamente, conscientes da sorte que têm de ter um parceiro. É a celebração desta união completa.

9. Evito Discussões, de Leminski

não discuto

com o destino

o que pintar

eu assino

Paulo Leminski (1944-1989) era um poeta que exaltava o poder dos poemas curtos. O poema não discuto, com seus quatro versos concisos, demonstra a sua disposição em relação à vida. Nele, o autor expressa suas reflexões densas e profundas.

Aqui, o poeta demonstra uma postura de aceitação, aceitando “navegar com a maré”, como se estivesse pronto para enfrentar as dificuldades que a vida lhe impõe.

10. João Cabral de Melo Neto - Os Três Mal-Amados (1943)

O amor comeu meu nome, minha identidade,

meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade,

minha genealogia, meu endereço. O amor

comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos

os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas

camisas. O amor comeu metros e metros de

gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o

número de meus sapatos, o tamanho de meus

chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a

cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas

médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas,

minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus

testes mentais, meus exames de urina.

O longo poema Os três mal-amados, escrito pelo pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999), contém alguns dos mais belos versos de amor.

O tom deste poema é de amor; a paixão é alegoricamente representada como um bicho faminto, que vai se nutrindo dos objetos significativos do cotidiano do sujeito. O amor foi o que transformou o seu dia a dia.

Com sua mestria, o poema retrata os efeitos da paixão que experimentamos quando nos apaixonamos. O sentimento de afeto é tão intenso que tem o poder de mudar a nossa identidade, transformando as nossas roupas, documentos e objetos em algo para ser consumido pela fera chamada amor.

11. Chacal - Rápido e Rasteiro (1997)

Vai ter uma festa

que eu vou dançar

até o sapato pedir pra parar.

aí eu paro

tiro o sapato

e danço o resto da vida.

A não menção a Chacal (1951) seria um enorme erro ao se discutir poesia brasileira atual. O poeta brasileiro é incontestavelmente um dos mais influentes artistas da atualidade, dedicando-se particularmente a escrever poemas curtos, com uma linguagem fácil e estimulante que encanta os leitores.

Rápido e Rasteiro, de musicalidade abastecida, traz um final surpreendente, que encanta o espectador. O poema, enigmático, mostra em seus seis versos uma maneira de viver pautada na diversão e na felicidade.

O poema é escrito como um diálogo, usando uma linguagem simples e fluida. Ele tem uma vibração de vida e é repleto de humor, facilmente gerando uma conexão com os leitores.

12. Suportando o Mundo nos Ombros: Carlos Drummond de Andrade

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.

Tempo de absoluta depuração.

Tempo em que não se diz mais: meu amor.

Porque o amor resultou inútil.

E os olhos não choram.

E as mãos tecem apenas o rude trabalho.

E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.

Ficaste sozinho, a luz apagou-se,

mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.

És todo certeza, já não sabes sofrer.

E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?

Teus ombros suportam o mundo

e ele não pesa mais que a mão de uma criança.

As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios

provam apenas que a vida prossegue

e nem todos se libertaram ainda.

Alguns, achando bárbaro o espetáculo

prefeririam (os delicados) morrer.

Chegou um tempo em que não adianta morrer.

Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.

A vida apenas, sem mistificação.

Carlos Drummond de Andrade, considerado o maior poeta brasileiro do século XX, abordou diferentes temas em suas obras: amor, solidão, guerra e o seu contexto histórico.

Publicado em 1940, na meio da Segunda Guerra Mundial, o poema "Os ombros suportam o mundo" continua até hoje sendo considerado uma obra atemporal. Ele trata de um sentimento de exaustão e vazio, de não ter mais amigos, amores ou fé.

Os versos nos evocam tristes realidades mundiais, como guerra, injustiça social e fome. No entanto, o tema principal do poema aponta para a resistência do sujeito às adversidades.

13. Adélia Prado: Dona Doida (1991)

Uma vez, quando eu era menina, choveu grosso

com trovoadas e clarões, exatamente como chove agora.

Quando se pôde abrir as janelas,

as poças tremiam com os últimos pingos.

Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema,

decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.

Fui buscar os chuchus e estou voltando agora,

trinta anos depois. Não encontrei minha mãe.

A mulher que me abriu a porta riu de dona tão velha,

com sombrinha infantil e coxas à mostra.

Meus filhos me repudiaram envergonhados,

meu marido ficou triste até a morte,

eu fiquei doida no encalço.

Só melhoro quando chove.

Infelizmente, "Dona doida" é um poema menos conhecido da escritora mineira Adélia Prado (1935), apesar de ser uma joia da literatura brasileira e um dos maiores trabalhos da poetisa.

Adélia Prado possui habilidade ímpar para levar-nos do passado ao presente e de volta ao passado, como se seus versos fossem uma máquina do tempo.

O som da chuva fora transportou a mulher adulta casada de volta ao seu passado. Ela não teve escolha a não ser lembrar da sua infância com a sua mãe. Embora esse retorno às memórias de uma época anterior traga consigo dor, a mulher não consegue explicar o porquê a seus filhos ou marido.

14. Adeus, de Cecília Meireles

Por mim, e por vós, e por mais aquilo

que está onde as outras coisas nunca estão,

deixo o mar bravo e o céu tranquilo:

quero solidão.

Meu caminho é sem marcos nem paisagens.

E como o conheces? - me perguntarão.

- Por não ter palavras, por não ter imagens.

Nenhum inimigo e nenhum irmão.

Que procuras? - Tudo. Que desejas? - Nada.

Viajo sozinha com o meu coração.

Não ando perdida, mas desencontrada.

Levo o meu rumo na minha mão.

A memória voou da minha fronte.

Voou meu amor, minha imaginação...

Talvez eu morra antes do horizonte.

Memória, amor e o resto onde estarão?

Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.

(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!

Estandarte triste de uma estranha guerra...)

Quero solidão.

Em 1972, Cecília Meireles (1901-1964), carioca, escreveu um dos seus poemas mais celebrados: Despedida. Esta obra retrata o desejo do sujeito poético de se isolar e encontrar a solidão.

O sujeito busca a solidão como forma de autoconhecimento, e o poema se esforça para representar esta jornada, através de um diálogo com aqueles que desaprovam a sua escolha de estar sozinho.

O poema aborda a temática individualista, refletindo sobre o processo de autodescoberta e a serenidade que se adquire ao alcançar a paz interior. Palavras como "deixo", "quero" e "levo" se destacam, deixando claro o foco na jornada de cada um.

15. Dez Chamadas para o Amigo - Hilda Hilst

Se te pareço noturna e imperfeita

Olha-me de novo. Porque esta noite

Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.

E era como se a água

Desejasse

Escapar de sua casa que é o rio

E deslizando apenas, nem tocar a margem.

Te olhei. E há tanto tempo

Entendo que sou terra. Há tanto tempo

Espero

Que o teu corpo de água mais fraterno

Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

Olha-me de novo. Com menos altivez.

E mais atento.

Sem dúvida, dentre as escritoras brasileiras a poetisa Hilda Hilst (1930-2004) foi a responsável por criar os mais intensos poemas de amor.

Em 1974, a coletânea de Dez chamamentos ao amigo foi publicada, fornecendo um exemplo de produção literária característica. Uma pequena parte desta série de poemas apaixonados foi usada para ilustrar o estilo literário. O tema destas obras baseia-se na entrega da amada, na sua necessidade de ser percebida, notada e vista pelo seu amado.

Ela se encaminha com determinação para aquele que detém o seu coração e se abre, sem inibições, para o olhar do companheiro, suplicando que ele também se junte a ela nessa travessia com todo o empenho.

16. Casimiro de Abreu: Uma Saudade Eterna

Nas horas mortas da noite

Como é doce o meditar

Quando as estrelas cintilam

Nas ondas quietas do mar;

Quando a lua majestosa

Surgindo linda e formosa,

Como donzela vaidosa

Nas águas se vai mirar!

Nessas horas de silêncio,

De tristezas e de amor,

Eu gosto de ouvir ao longe,

Cheio de mágoa e de dor,

O sino do campanário

Que fala tão solitário

Com esse som mortuário

Que nos enche de pavor.

Então – proscrito e sozinho –

Eu solto aos ecos da serra

Suspiros dessa saudade

Que no meu peito se encerra.

Esses prantos de amargores

São prantos cheios de dores:

– Saudades – dos meus amores,

– Saudades – da minha terra!

Em Saudades, Casimiro de Abreu aborda a saudade como tema literário, evocando lembranças infelizes da sua terra, dos seus amores e da sua infância. Em 1856, Casimiro de Abreu (1839-1860) abordou a saudade como tema literário em seu poema Saudades. Nele, o escritor evoca lembranças tristes da sua Terra, seus amores e sua juventude. A perspectiva é de uma melancolia nostálgica, que contrasta com seu poema mais famoso - Meus oito anos -, que celebra as recordações da infância. A obra de Abreu destaca não só a vida e o passado, mas também o sofrimento presente. Ele expressa o sentimento de angústia pela ausência de quem e do que amou.

17. A Contagem Regressiva de Ana Cristina César

(...) Acreditei que se amasse de novo

esqueceria outros

pelo menos três ou quatro rostos que amei

Num delírio de arquivística

organizei a memória em alfabetos

como quem conta carneiros e amansa

no entanto flanco aberto não esqueço

e amo em ti os outros rostos

Infelizmente, Ana Cristina César, carioca nascida em 1952 e falecida em 1983, ainda não é conhecida pelo grande público, apesar de deixar uma obra de extrema riqueza. Apesar de viver por um período curto, ela, também conhecida como Ana C., escreveu poemas sobre inúmeros assuntos.

No poema Contagem regressiva, publicado em 1998 no livro Inéditos e dispersos, se fala sobre a sobreposição de amores, quando nos envolvemos com outra pessoa para tentarmos esquecer outra.

Apoetisa deseja, acima de tudo, reorganizar a sua vida amorosa, como se tivesse o poder de controlar todos os seus sentimentos e superar seus anteriores relacionamentos com outro novo amor.

Ela entrou nesta nova relação com o intuito de deixar o passado para trás, no entanto, o que ela descobriu é que as memórias das relações anteriores ainda estão lá, mesmo com o novo parceiro.

Rebeca Fuks
Escrito por Rebeca Fuks

É graduada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), possui mestrado em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutorado em Estudos de Cultura pelas Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).