Análise e Comentários dos 14 Mais Célebres Poemas de Vinicius de Moraes


Escrito por Sónia Cunha

Em 1913, nasceu Vinicius de Moraes, um dos maiores representantes da cultura brasileira. Letrista, poeta, diplomata, dramaturgo e crítico de cinema, o seu legado foi de grande importância. Até a sua morte, em 1980, Vinicius de Moraes deixou um legado inestimável.

A produção poética dele era principalmente sobre o amor, mas também há passagens em suas obras que abordam temas políticos e sociais de forma meta-escrita ou engajada.

Ao longo de muitas gerações, Vinicius de Moraes tem cativado leitores com sua expressão acessível, encantadora e cotidiana.

Veja os seus catorze maiores poemas, com comentários e análises.

1. A Fidelidade em um Soneto

De tudo ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.

Considerado o poema de amor mais famoso de Vinicius de Moraes, o Soneto de Fidelidade tem como tema central o amor. O poeta optou pela forma clássica do soneto para manifestar seus sentimentos a sua primeira mulher. O soneto é dividido em quatro estrofes, com duas possuindo quatro versos cada uma, e as últimas com três. Mesmo passado tanto tempo, o tema abordado, o amor, não perde a validade.

Desde 1939, o Soneto de fidelidade vem embalando as declarações de amor de muitos casais. Escrito em São Paulo quando o autor tinha 26 anos, o poema retrata o sentimento de amor de maneira tão profunda e lírica que encanta quem o lê. Por isso, os versos do soneto vêm ultrapassando a realidade particular do autor, tornando-se a voz de vários apaixonados por todo o mundo.

Os poemas de amor geralmente se comprometem ao amor eterno, mas nestes versos temos uma promessa de devoção total e incondicional enquanto o amor estiver presente.

Apesar de Vinicius de Moraes compreender o quanto o tempo e o afeto são eternos, ele também sabe que a maioria das relações acabam em fracasso. Por isso, ante a presença da amada, ele se compromete a dedicar-lhe toda a sua força enquanto houver afeto.

2. A Tragédia de Hiroshima: A Rosa da Cidade

Pensem nas crianças

Mudas telepáticas

Pensem nas meninas

Cegas inexatas

Pensem nas mulheres

Rotas alteradas

Pensem nas feridas

Como rosas cálidas

Mas oh não se esqueçam

Da rosa da rosa

Da rosa de Hiroxima

A rosa hereditária

A rosa radioativa

Estúpida e inválida.

A rosa com cirrose

A antirrosa atômica

Sem cor sem perfume

Sem rosa sem nada.

Vinicius de Moraes ficou famoso por sua poesia romântica, mas também escreveu versos sobre outros assuntos. Um exemplo de poema consciente e inquietante é "A Rosa de Hiroshima", que reflete sobre o destino da humanidade e da sociedade.

Lembrar de Vinicius de Moraes é relembrar que ele desempenhou um papel profissional como diplomata, tendo, portanto, conhecimento dos difíceis problemas políticos e sociais presentes na época em que viveu.

Em 1973, o poeta fez uma condenação enfática da Segunda Guerra Mundial, especialmente no que diz respeito às explosões das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, no Japão.

"Gerson Conrad musicou o poema 'A Rosa de Hiroshima', o qual foi posteriormente tocado pela banda Secos e Molhados em seu disco de estreia. Confira abaixo o vídeo desta performance incrível."

3. Soneto do Amor Absoluto

Amo-te tanto, meu amor… não cante

O humano coração com mais verdade…

Amo-te como amigo e como amante

Numa sempre diversa realidade

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,

E te amo além, presente na saudade.

Amo-te, enfim, com grande liberdade

Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,

De um amor sem mistério e sem virtude

Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim muito e amiúde,

É que um dia em teu corpo de repente

Hei de morrer de amar mais do que pude.

Criado em 1951, o Soneto do amor total é uma das mais lindas declarações de amor que a poesia brasileira já tem. Em seus catorze versos, o eu-lírico consegue dar vida a complexidade de suas emoções. Esta poesia mistura carinhos de amigo com a paixão de um amante, ora se preocupando em cuidar, ora com o desejo de possessão.

Em seus versos, o poeta conseguiu traduzir as várias faces do amor romântico, as vezes contraditórias, de forma precisa.

Ouça a bela voz de Maria Bethânia recitando esta poesia:

4. Soneto de Arrependimento

Eu te amo, Maria, eu te amo tanto

Que o meu peito me dói como em doença

E quanto mais me seja a dor intensa

Mais cresce na minha alma teu encanto.

Como a criança que vagueia o canto

Ante o mistério da amplidão suspensa

Meu coração é um vago de acalanto

Berçando versos de saudade imensa.

Não é maior o coração que a alma

Nem melhor a presença que a saudade

Só te amar é divino, e sentir calma…

E é uma calma tão feita de humildade

Que tão mais te soubesse pertencida

Menos seria eterno em tua vida.

O Soneto de contrição foi escrito em 1938 e é um dos poucos poemas que se dirigem diretamente a alguém com nome: Maria. Infelizmente, não temos mais informações sobre ela, mas sentimos que o eu-lírico tem um grande afeto por ela.

No início do poema, os versos fazem um paralelo entre o amor e a dor de uma enfermidade ou a solidão sentida por uma criança que anda desacompanhada.

Embora a primeira impressão seja de tormento, o narrador logo demonstra que o afeição da amada é algo sublime que lhe dá uma calma e serenidade sem igual.

5. A Doçura da Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente

Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos

Das horas que passei à sombra dos teus gestos

Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos

Das noites que vivi acalentado

Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo

Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.

E posso te dizer que o grande afeto que te deixo

Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas

Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...

É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias

E só te pede que te repouses quieta, muito quieta

E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora.

No ano de 1938, surge Ternura, poema cujo tema são as consequências do amor romântico, assim como o Soneto de Contrição, produzido na mesma época.

O poetinha expressa aqui um grande amor pela sua amada. Ele pede desculpas por tão repentino sentimento, que parece estar fora de seu controle. Ele coloca-se inteiramente à disposição do sentimento que o domina.

O querer é intenso, mas o amor sentido é uma calma inusual em meio ao caos. O eu-lírico garante isso.

Ouça a recitação do poema "Ternura": Aqui está uma bela poesia para aquecer seu coração. Entoa as palavras de "Ternura" com sentimento: "Lá fora, a chuva cai voraz e rapaz. A ternura chega como bem vindo abrigo. Refresca meu coração e me traz esperança. A saudade é recuperada. A vida é amada."

6. Amor Eterno por Você

Eu sei que vou te amar

Por toda a minha vida eu vou te amar

Em cada despedida eu vou te amar

Desesperadamente

Eu sei que vou te amar

E cada verso meu será pra te dizer

Que eu sei que vou te amar

Por toda a minha vida

Eu sei que vou chorar

A cada ausência tua eu vou chorar,

Mas cada volta tua há de apagar

O que essa ausência tua me causou

Eu sei que vou sofrer

A eterna desventura de viver a espera

De viver ao lado teu

Por toda a minha vida.

O eu-lírico de Eu sei que vou te amar confirma, com suas palavras, que estará dedicado à amada até o fim de sua vida. A música descreve essa relação como uma força constante dentro das mudanças do tempo, assegurando que, até mesmo no seu último suspiro, ainda dirá o quanto a ama.

No momento de tristeza, o sujeito dá a entender que sentirá saudades de sua amada quando ela não estiver presente. Ainda assim, ele busca consolar-se afirmando que ela permanecerá dentro de si, mesmo que fisicamente ausente. É uma canção carregada de sentimento, pois o autor oferece todo o seu amor e sua alma para a relação, mostrando uma devoção incondicional à amada.

A música "Eu sei que vou te amar" foi criada em parceria com Tom Jobim.

7. Experimentando a Felicidade

Tristeza não tem fim

Felicidade sim…

A felicidade é como a pluma

Que o vento vai levando pelo ar

Voa tão leve

Mas tem a vida breve

Precisa que haja vento sem parar.

A felicidade do pobre parece

A grande ilusão do carnaval

A gente trabalha o ano inteiro

Por um momento de sonho

Pra fazer a fantasia

De rei, ou de pirata, ou da jardineira

E tudo se acabar na quarta-feira.

Tristeza não tem fim

Felicidade sim…

A felicidade é como a gota

De orvalho numa pétala de flor

Brilha tranquila

Depois de leve oscila

E cai como uma lágrima de amor.

A felicidade é um coisa louca

Mas tão delicada, também

Tem flores e amores de todas as cores

Tem ninhos de passarinhos

Tudo isso ela tem

E é por ela ser assim tão delicada

Que eu trato sempre dela muito bem.

Tristeza não tem fim

Felicidade sim…

Vinicius de Moraes aborda o ideal supremo do ser humano: conseguir a felicidade. Através de sua poesia, o poeta desenvolve uma comparação entre alegria e tristeza, ao passo que compara a felicidade a elementos reais e comuns da vida diária (tal como a pluma ou a gota de orvalho).

A poesia é admirável por não ser capaz de nomear a felicidade, mas oferecer inúmeras possibilidades de como descrevê-la.

A letra do tema “Felicidade”, letra composta pelo parceiro de Tom Jobim, Miúcha, e originalmente interpretada por ela, é uma canção que celebra a alegria de viver. A letra diz que a felicidade é algo que deve ser buscado dentro de nós mesmos e que devemos compartilhar com os demais. Por meio de suas versos, concluímos que a felicidade é algo que se constrói dentro de si.

8. Para Uma Mulher

Quando a madrugada entrou eu estendi o meu peito nu sobre o teu peito

Estavas trêmula e teu rosto pálido e tuas mãos frias

E a angústia do regresso morava já nos teus olhos.

Tive piedade do teu destino que era morrer no meu destino

Quis afastar por um segundo de ti o fardo da carne

Quis beijar-te num vago carinho agradecido.

Mas quando meus lábios tocaram teus lábios

Eu compreendi que a morte já estava no teu corpo

E que era preciso fugir para não perder o único instante

Em que foste realmente a ausência de sofrimento

Em que realmente foste a serenidade.

Um poema composto em 1933, intitulado A uma mulher, narra uma trágica história de despedida entre um casal. O título é uma dedicatória dirigida a uma pessoa desconhecida. Os onze versos retratam o desfecho do relacionamento entre dois apaixonados que, infelizmente, se separam definitivamente.

O eu-lírico se aproxima da amada, mas ela está fria e distante. Tentando transmitir carinho e gentileza, ele percebe que qualquer investida será ineficaz. A finitude já tomou conta do corpo dela, e o sofrimento se faz presente no cenário.

Contrariando os poemas românticos e paixões retratadas comumente pelo poeta, em A uma mulher temos uma narrativa sem final feliz.

9. O Poema de Natal

Para isso fomos feitos:

Para lembrar e ser lembrados

Para chorar e fazer chorar

Para enterrar os nossos mortos —

Por isso temos braços longos para os adeuses

Mãos para colher o que foi dado

Dedos para cavar a terra.

Assim será nossa vida:

Uma tarde sempre a esquecer

Uma estrela a se apagar na treva

Um caminho entre dois túmulos —

Por isso precisamos velar

Falar baixo, pisar leve, ver

A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer:

Uma canção sobre um berço

Um verso, talvez de amor

Uma prece por quem se vai —

Mas que essa hora não esqueça

E por ela os nossos corações

Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:

Para a esperança no milagre

Para a participação da poesia

Para ver a face da morte —

De repente nunca mais esperaremos…

Hoje a noite é jovem; da morte, apenas

Nascemos, imensamente.

O poema intitulado "Final do Ano" remete ao momento de reflexão que é comum nesta época. Seus versos permitem uma análise do que já foi vivido, a fim de descobrir o que realmente importa. O eu-lírico se volta para as lembranças para tomar consciência do que tem significado em sua vida.

O eu-lírico chega à conclusão de como o destino deverá ser desde agora, enfatizando a importância de ser suave e gentil no nosso dia a dia (a fala suave, o passo leve).

10. Separação em Soneto

De repente do riso fez-se o pranto

Silencioso e branco como a bruma

E das bocas unidas fez-se a espuma

E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento

Que dos olhos desfez a última chama

E da paixão fez-se o pressentimento

E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente

Fez-se de triste o que se fez amante

E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante

Fez-se da vida uma aventura errante

De repente, não mais que de repente.

O Soneto de separação é uma trágica poesia que retrata um dos mais dolorosos momentos da vida humana: o fim de um relacionamento amoroso. Não sabemos o que levou à despedida, mas o eu-lírico expressa em seus versos a dor e o sofrimento da separação.

O poema é composto por pares contraditórios: riso e pranto, calma e vento, momento imóvel e drama, próximo e distante.

O ritmo da vida é vertiginoso, tudo parece perdido em um piscar de olhos. Mas o que pode parecer fugaz é, na realidade, perene: afetos, sentimentos e vínculos cultivados com o passar dos dias são eternos mesmo quando não mais presentes.

Ouça a recitação do poema "Soneto de Separação", de autoria de Vinicius de Moraes, que está disponível para o público. Aproveite para se deleitar com a obra de um dos poetas mais importantes da nossa literatura!

11. Olhos da Amada: Um Poema

Ó minha amada

Que olhos os teus

São cais noturnos

Cheios de adeus

São docas mansas

Trilhando luzes

Que brilham longe

Longe nos breus...

Ó minha amada

Que olhos os teus

Quanto mistério

Nos olhos teus

Quantos saveiros

Quantos navios

Quantos naufrágios

Nos olhos teus...

Ó minha amada

Que olhos os teus

Se Deus houvera

Fizera-os Deus

Pois não os fizera

Quem não soubera

Que há muitas eras

Nos olhos teus.

Ah, minha amada

De olhos ateus

Cria a esperança

Nos olhos meus

De verem um dia

O olhar mendigo

Da poesia

Nos olhos teus.

Nos versos de Vinicius de Moraes dedicados ao amor, a mulher amada é comparada ao universo náutico. A presença de termos como docas, cais, naufrágios, navios e saveiros reforça essa homenagem, que exalta especialmente os olhos da musa que inspirou o compositor.

Neste segundo momento da poesia, o eu-lírico se pergunta se Deus teria algo a ver com a criação dos olhos da amada. Se existisse, ele seria o responsável por essa obra prima. No entanto, se a resposta para essa questão fosse negativa, o elogio daria um rumo diferente e seria direcionado ao olhar da amada, que acumula séculos de história.

Ao observar a amada, que não acredita na existência de Deus, o poeta desperta nos sentimentos de amor e esperança. A beleza que ela transmite é grande e criativa, ao contrário do olhar do poeta, que é descrito como "mendigo".

O poeta declama o poema que foi musicado.

12. Eu Queria!

Tomara

Que você volte depressa

Que você não se despeça

Nunca mais do meu carinho

E chore, se arrependa

E pense muito

Que é melhor se sofrer junto

Que viver feliz sozinho

Tomara

Que a tristeza te convença

Que a saudade não compensa

E que a ausência não dá paz

E o verdadeiro amor de quem se ama

Tece a mesma antiga trama

Que não se desfaz

E a coisa mais divina

Que há no mundo

É viver cada segundo

Como nunca mais

A canção "Tomara" se tornou uma das mais reverenciadas da MPB. Por ela, o narrador se vê sozinho após a amada partir, deixando um sentimento de tristeza.

O sujeito aspira que a amada volte e que a decisão de partir nunca mais se repita. Ele acha que é preferível estar juntos mesmo que isso cause algum sofrimento, em vez de seguir em frente sem a companhia dela. Portanto, resiste à tentação de adotar uma postura vingativa ou raivosa.

O apaixonado deseja fervorosamente que a saudade o aperta com força e que a tristeza o faça lamentar sua decisão.

Marilia Medalha e Toquinho & Trio Mocotó eternizaram a canção com sua parceria.

13. Brilhando no Teu Olhar

Quando a luz dos olhos meus

E a luz dos olhos teus

Resolvem se encontrar

Ai que bom que isso é meu Deus

Que frio que me dá o encontro desse olhar

Mas se a luz dos olhos teus

Resiste aos olhos meus só p'ra me provocar

Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar

Meu amor, juro por Deus

Que a luz dos olhos meus já não pode esperar

Quero a luz dos olhos meus

Na luz dos olhos teus sem mais lará-lará

Pela luz dos olhos teus

Eu acho meu amor que só se pode achar

Que a luz dos olhos meus precisa se casar.

Vinicius de Moraes escreveu uma série de poemas apaixonados sobre os olhos da sua amada. No poema em questão, ele expressa a comunhão entre ele e a sua parceira por meio do olhar de ambos.

Ao unir-se com aquela que amamos, sentimos uma satisfação e plenitude como nunca antes. Esta sensação de contentamento se manifesta desde o início da relação.

A amada possui uns olhos que, ao longo dos versos, emitem uma variedade de sentimentos. Em primeiro lugar, o poeta experimenta a sensação de paz e tranquilidade. Logo depois, esses mesmos olhos o seduzem, provocando-lhe uma profunda euforia.

Em parceria com o grande amigo Tom Jobim, o poeta interpretou a canção, que fala acima de tudo sobre um encontro amoroso feliz, em encontros com Miúcha.

A música ganhou grande notoriedade durante o ano de 2003, pois foi escolhida para ser a trilha sonora da abertura da novela Mulheres Apaixonadas, exibida pela Globo.

14. Soneto para o Amigo

Enfim, depois de tanto erro passado

Tantas retaliações, tanto perigo

Eis que ressurge noutro o velho amigo

Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado

Com olhos que contêm o olhar antigo

Sempre comigo um pouco atribulado

E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano

Sabendo se mover e comover

E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica

Que só se vai ao ver outro nascer

E o espelho de minha alma multiplica...

O Soneto do Amigo, criado em 1946, enquanto seu autor estava exilado em Los Angeles, aborda a temática da amizade duradoura, que consegue vencer o tempo e a distância.

Pode-se notar, nos versos, que a amizade não é mais como antes, o que impede que os encontros sejam tão frequentes. No entanto, o carinho, a fé e o amor entre as pessoas se mantêm os mesmos.

O vínculo de amizade descrito é sempre marcado por um encontro renovado e de proximidade, com a consciência de que, por tratar-se de um relacionamento prolongado, existe uma confiança entre os envolvidos, graças à profunda compreensão mútua.

Vida e Obra de...

Nascido no Rio de Janeiro em 19 de outubro de 1913, Marcus Vinicius de Mello Moraes, mais conhecido como Vinicius de Moraes, possuía a arte em seu sangue, pois era filho dos poetas Clodoaldo Pereira da Silva Moraes e Lydia Cruz de Moraes, ambos músicos.

Além de embaixador, Vinicius desempenhou diversos papéis ao longo de sua vida, e foi um renomado escritor, compositor, crítico literário e cinematográfico, bem como cantor. Com seu talento, ele redigiu poemas, prosa e teatro.

O poeta, graduado em Direito, nutria um amor profundo pela música e pela literatura, o que permitiu que combinasse essas carreiras tão peculiarmente diferentes.

A obra teatral Orfeu da Conceição foi encenada em 1956 no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, tendo tido grande sucesso. Mais tarde, Gilberto Freyre também compôs outras peças, como As Feras, Cordélia e o Peregrino Malvado e Procura-se uma Rosa, mas que não tiveram o mesmo êxito.

Vinicius de Moraes embarcou para os Estados Unidos em 1943 para servir o seu país como vice-cônsul em Los Angeles. Depois, imigrou para Paris e Montevidéu, e, em 1964, voltou definitivamente ao Brasil. No entanto, em 1968, foi aposentado compulsoriamente pelo Ato Institucional Número Cinco.

Assinatura de Vinícius de Moraes.

Em 1933, o "poetinha", apelido dado a ele pelos amigos, publicou seu primeiro livro, intitulado O caminho para a distância. Interessantemente, esse foi também o ano de sua formatura na faculdade de Direito.

Vinicius de Moraes não foi um estranho ao amor. Ele lidou com o tema de uma forma muito própria, casando-se nove vezes ao longo da sua vida. Assim, sua vida particular foi agitada, mantendo-se eternamente apaixonado.

Faleceu o poeta no Rio de Janeiro, sua terra natal, em 9 de julho de 1980, devido a um isquemia cerebral.

Retrato de Vinícius de Moraes.

Quer saber mais? Veja

Publicação de obras literárias

Prosas Literárias

  • 1. Viver um Grande Amor (1962)
  • 2. Uma Menina com uma Flor (1966)

Poesias em Livros

  • O Caminho para a Distância (1933)
  • Forma e Exegese (1935)
  • Ariana, a Mulher (1936)
  • Novos Poemas (1938)
  • Cinco Elegias (1943)
  • Poemas, Sonetos e Baladas (1946)
  • Pátria Minha (1949)
  • Antologia Poética (1954)
  • Livro de Sonetos (1957)
  • Novos Poemas II (1959)
  • O Mergulhador (1968)
  • A Arca de Noé (1970)
  • Poemas Esparsos (2008)
Sónia Cunha
Escrito por Sónia Cunha

É licenciada em História, variante História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (2003) e em Conservação e Restauro pelo Instituto Politécnico de Tomar (2006). Ao longo da carreira profissional, exerceu vários cargos em diferentes áreas, como técnico superior de Conservação e Restauro, assistente a tempo parcial na UPT e professora de História do 3º ciclo e ensino secundário. A arte e as letras sempre foram a sua grande paixão.