Análise e Interpretação do Poema Soneto de Fidelidade, de Vinicius de Moraes


Escrito por Carolina Marcello

Vinicius de Moraes criou o poema Soneto de Fidelidade para expressar sentimentos de amor e lealdade em relacionamentos. O texto fala sobre o compromisso de ambas as partes para manter o relacionamento firme e deixar que o sentimento de amor continue a crescer.

Em outubro de 1939, no Estoril, foram escritos os versos que mais tarde entrariam para a obra Poemas, Sonetos e Baladas (1946). Desde então, os versos passaram a embalar casais apaixonados e se tornaram famosos. Até hoje, são lembrados por muitos.

Abaixo está o poema na íntegra. Analise-o e descubra mais sobre esse grande poeta brasileiro.

Fidelidade em Soneto

De tudo, ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento

E em louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.

Veja também

Explorando a Fidelidade no Soneto de Fidelidade

Início da Estrofe

De tudo, ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.

O amor e o zelo têm um papel fundamental nos cuidados dedicados à pessoa amada. É preciso cultivar o amor para torná-lo cada vez mais presente. É importante sempre manter este zelo e cuidado, não importa o quão intenso ou duradouro seja.

É possível experimentar um sentimento de entrega ao ser amado, ignorando outros tipos de relacionamentos amorosos e qualquer outra circunstância.

Estrofe Dois

Quero vivê-lo em cada vão momento

E em louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento.

Neste trecho, são evidenciados sentimentos opostos: alegria (riso) e tristeza (pranto). A antítese, aqui, está presente nas manifestações contrastantes.

O autor sugere que o amor é o que mantém os relacionamentos, mesmo diante dos desafios e das dificuldades. Nem sempre tudo será fácil, mas, independentemente da situação, o amor é o que continua a unir e a ser o foco principal.

Estrofe 3

E assim, quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama

O autor aborda neste terceto o inevitável fim das coisas, destacando que a morte pode ser um fim para um amor. Ao mesmo tempo, expressa o desejo de que a morte e a solidão não se apresentem precipitadamente para que possa desfrutar ao máximo desse amor.

Estrofe Quarta

Eu possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.

A metáfora utilizada pelo autor para se referir ao amor é a de uma chama, com um início e um fim. Com isso, ele exprime o desejo de aproveitar o amor ao máximo, enquanto ele durar.

A palavra 'infinito' é paradoxalmente usada para descrever algo que não é eterno. Nesse sentido, a fidelidade é a completa dedicação ao amor enquanto ele existe e a chama é mantida acesa.

A Estrutura do Poema

Este poema é típico de um soneto, com 14 versos divididos em 2 quartetos e 2 tercetos. Os versos são decassílabos, isto é, têm 10 sílabas cada. As duas primeiras estrofes (quartetos) apresentam rima cruzada, enquanto nos tercetos a rima se mistura.

Apesar de estarem separados, os dois tercetos apresentam rima como se fossem um sexteto. As palavras do primeiro terceto rimam com as palavras do segundo, tais como: procure/dure, vive/tive, ama/chama.

Publicação do Poema 'Soneto de Fidelidade'

O livro Poemas, Sonetos e Baladas, também conhecido como O Encontro do Cotidiano, foi publicado pela Editora Gaveta, no Brasil, em 1946. Nele, encontramos o Soneto de Fidelidade, escrito no Estoril, em outubro de 1939.

Capa da primeira edição de Poemas, Sonetos e Baladas (lançada em 1946), que contém o Soneto de fidelidade.

Com a nomeação para o seu primeiro cargo diplomático internacional, Vinicius de Moraes teve de mudar para os Estados Unidos juntamente com a esposa Tati, e os filhos Susana e Pedro. Foi lá, em Los Angeles, que o "poetinha" lançou Poemas, Sonetos e Baladas.

Carlos Leão, artista plástico e arquiteto consagrado, foi quem apresentou o poeta à Tati. Além disso, suas ilustrações estão presentes na edição do livro.

O livro, impresso em edição limitada com apenas 372 exemplares, apresenta 47 poemas e 22 ilustrações. O poema Soneto de Fidelidade abre a obra e Soneto de Separação fecha-a.

Primeira edição de Poemas, Sonetos e Baladas (lançada em 1946), que contém o Soneto de fidelidade.

A Importância da Divulgação de um Poema

O soneto tornou-se muito famoso devido ao fato de ser declamado juntamente com a música "Eu sei que vou te amar", criada em parceria com Tom Jobim no ano de 1972.

O poeta e cantor foi capaz de perceber que os versos se conectavam de alguma forma, permitindo assim a criação da primeira versão da canção.

é a versão de Edith Piaf e de Jean-Claude Brialy. A versão de Edith Piaf e Jean-Claude Brialy do soneto encontra-se acessível na internet. Esta é uma das primeiras gravações da canção.

A junção foi um sucesso imediato e continua sendo popular até os dias de hoje, como comprovado pela regravação feita por Roberto Carlos.

Maria Bethânia frequentemente recita os versos famosos do Soneto de Fidelidade depois de cantar a canção Âmbar.

A Vida e a Obra de Vinicius de Moraes

Vinicius de Moraes, nascido no Rio de Janeiro no dia 19 de outubro de 1913, foi um dos grandes nomes da cultura brasileira. Seus pais eram um funcionário público e poeta, e uma poetisa, o que influenciou grandemente sua obra.

Vinicius de Moraes, além de ter sido poeta e compositor, também exerceu a função de dramaturgo e diplomata. Formado em Direito, ele conseguiu aprovação em 1943, no concurso de diplomata, o que lhe possibilitou conciliar sua carreira artística com o seu trabalho oficial.

Retrato de Vinicius de Moraes.

O compositor estabeleceu parcerias fundamentais com Tom Jobim, Toquinho, Baden Powel, Paulinho Tapajós, Edu Lobo e Chico Buarque no campo da música. Além disso, ele também teve sucesso no teatro, sendo autor da obra Orfeu da Conceição (1956), que foi amplamente elogiada.

Vinicius de Moraes foi colocado na segunda fase do modernismo na literatura. Seus poemas mais prolíficos refletem a lírica amorosa, mas ele também foi pioneiro na abordagem de problemas sociais e dramas cotidianos através de versos, sendo conhecido carinhosamente como "o poetinha" entre seus amigos.

Vinicius de Moraes teve uma vida pessoal bastante agitada, se casando nove vezes e deixando, ao falecer em 9 de julho de 1980, vítima de uma isquemia cerebral, cinco filhos.

Publicações poéticas

  • O Caminho para a Distância, Rio de Janeiro, Schmidt Editora, 1933;
  • Forma e Exegese, Rio de Janeiro, Pongetti, 1935;
  • Ariana, a Mulher, Rio de Janeiro, Pongetti, 1936;
  • Novos Poemas, Rio de Janeiro, José Olympio, 1938;
  • 5 Elegias, Rio de Janeiro, Pongetti, 1943;
  • Poemas, Sonetos e Baladas, São Paulo, Edições Gavetas, 1946;
  • Pátria Minha, Barcelona, O Livro Inconsútil, 1949;
  • Antologia Poética, Rio de Janeiro, A Noite, 1954;
  • Livro de Soneto, Rio de Janeiro, Livros de Portugal, 1957;
  • O Mergulhador, Rio de Janeiro, Atelier de Arte, 1968;
  • A Arca de Noé, Rio de Janeiro, Sabiá, 1970;
  • Poemas Esparsos, São Paulo, Companhia das Letras, 2008.
Carolina Marcello
Escrito por Carolina Marcello

Formou-se em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e possui mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes pela mesma instituição. Durante os estudos universitários, foi co-fundadora do Grupo de Estudos Lusófonos da faculdade e uma das editoras da revista da mesma, que se dedica às literaturas de língua portuguesa.