Platão: A Lenda da Caverna


Escrito por Rebeca Fuks

Platão, o antigo filósofo grego, escreveu a conhecida Alegoria da Caverna, também conhecida como Mito da Caverna.

Esta é uma metáfora com fins filosófico-pedagógicos que mostra um diálogo entre Sócrates, mestre de Platão, e Glauco, um jovem estudante.

Platão examina a busca pelo conhecimento e sua conexão com a ignorância e manipulação por meio de simbologia contida em um conto. Ele nos apresenta ideias e cenas que contrastam o conhecimento com a ignorância e a manipulação.

No Livro VII de A República, obra escrita por Platão no século IV a.C., o autor discute a vida política ateniense. Nesta parte da obra, Platão apresenta uma história que reflete a realidade do seu tempo.

Análise do Mito da Caverna

Imagine uma situação hipotética: várias pessoas estão acorrentadas no fundo de uma escura caverna subterrânea. Conforme descreve Sócrates, elas estão lá há tanto tempo que estão acostumadas com a escuridão e não notam quando algo muda.

ilustração de Mito da caverna

Apenas uma parede estava diante dos prisioneiros, e nela eram projetadas sombras de várias figuras, entre elas, seres humanos, animais e outros elementos.

As pessoas que faziam essas projeções eram conhecidas como "amos da caverna". Elas usavam a luz de uma fogueira, localizada atrás das pessoas presas por correntes, para criar essas projeções.

Desde o nascimento, as pessoas foram acorrentadas por aqueles que governavam a caverna, enganadas com a falsa promessa de liberdade. Em seguida, elas eram estimuladas a trocar ideias e até mesmo escolher um líder.

Os prisioneiros, presos dentro da caverna, acreditavam que a única realidade que conheciam era aquela representada pelas sombras projetadas nas paredes. Devido a isto, eles se contentavam com o espetáculo ali apresentado e não tinham quaisquer outras aspirações.

Contrariando o que estava previsto, um dos prisioneiros começou a pensar sobre sua situação e entendeu que algo estava muito errado. Com isso, conseguiu libertar-se e caminhar até a caverna, onde viu a fogueira, os amos e as silhuetas projetadas nas paredes.

mito da caverna

Quando ele olhou para a luz da fogueira, ele foi ofuscado, pois nunca tinha visto algo tão lúmino. Ele caminhou com esforço e, ao chegar à saída da caverna, encontrou uma luz ainda mais forte: a luz do sol.

Ao ser libertado, o homem sente um grande desconforto, pois a vida inteira estava presa e seus olhos não estão acostumados com a luminosidade. No entanto, gradativamente, adquire uma visão que lhe permite lidar com seu novo ambiente.

Depois disso, começou a perceber a verdadeira natureza das coisas, tendo a oportunidade de experimentar outras situações que não seriam possíveis dentro da escuridão da caverna.

Depois de alguma exploração do novo mundo, o homem teve a necessidade de compartilhar suas descobertas com outras pessoas.

No diálogo proposto por Platão, Sócrates pergunta a Glauco o que aconteceria se um homem saísse da caverna e voltasse para "abrir os olhos" de seus irmãos.

Chegam à conclusão de que o homem seria rejeitado por grande parte dos prisioneiros, que não o acreditariam e o rotulariam como louco.

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Analisando o Mito: Uma Perspectiva Interpretativa

No conto, a simbologia desempenha um papel relevante. A caverna é usada para simbolizar nossa vida interior, nossas restrições e nosso "estado de conforto". Os prisioneiros são uma metáfora para representar as pessoas que vivem em uma espécie de "escravidão mental". A história contém lições que nos ajudam a entender melhor a nossa realidade.

As projeções ou sombras são usadas por Platão como metáforas para representar as limitações dos seres humanos. Estas limitações, para Platão, são as ilusões criadas pelo mundo material, devido ao fato de que na antiguidade era mais valorizado o que era eterno. Elas também podem ser interpretadas como as crenças e atitudes erradas e preconceituosas que adquirimos ao longo da nossa vida.

A fogueira é conhecida como o "fogo dos desejos" devido à luminosidade que ela produz, que permite que as silhuetas sejam exibidas nas paredes. Essa característica entra no mito para retratar a vontade humana de ter aquilo que deseja, sejam objetos materiais ou experiências superficiais.

Aqueles que controlam e oprimem o povo, pensando que assim obterão benefícios, são conhecidos como “Amos da Caverna”. Estes indivíduos manipulam e alienam suas vítimas, mantendo-as presas a um mundo contido dentro da caverna.

Apesar de não serem acorrentados, eles estão presos no interior da caverna, uma vez que temem que, caso saiam para o mundo externo, não tenham os mesmos poderes e privilégios que desfrutam ao manter a população em estado de cegueira.

O último elemento no mito é a luz solar, que remete à "Noção do Bem" de Platão. Esta luz é emblemática da sabedoria, conhecimento e verdade.

A luz natural da consciência nos guia para posicionamentos que visam o bem-estar coletivo, e nos impede de explorar ou tirar vantagem de outros indivíduos ou circunstâncias.

Explorando a Relevância da Alegoria da Caverna na Atualidade

Cerca de 400 anos antes do nascimento de Cristo, Platão propôs um diálogo que, apesar de antigo, continua nos fornecendo conceitos preciosos para compreender os desejos e a conduta dos seres humanos até os dias de hoje.

Ao compararmos nossa realidade atual com a alegoria, vemos que muitas pessoas procuram preencher um vazio existencial adquirindo bens de consumo. No entanto, tal esforço nem sempre é suficiente para satisfazer as necessidades existenciais.

Atualmente, os políticos e grandes empresários podem ser comparados aos amos da caverna. Estes, com seu grande poder econômico, manipulam as pessoas para obter lucro mediante a venda de produtos. A publicidade e as tendências atuais podem ser vistas como as sombras que são projetadas dentro da caverna.

O conhecimento é essencial para que os seres humanos alcancem a verdade e a liberdade. A busca por esse conhecimento, portanto, é uma jornada que deve continuar.

Explorando o Mito da Caverna

A famosa fábula de Platão, "A Caverna", serviu de inspiração para várias produções artísticas. Dois destes trabalhos que obtiveram grande destaque são os filmes que foram lançados com base na história.

A Produção Cinematográfica 'The Matrix' das Irmãs Wachowski

Lançado em 1999, The Matrix tornou-se um dos maiores ícones do cinema de ficção científica.

Matrix e mito da caverna

Dirigido pelas irmãs Lilly e Lana Wachowski, o enredo do filme conta a história de Neo (Keanu Reaves), que é convidado a descobrir os "mistérios" do mundo, revelando que a realidade material que vivenciamos é, na verdade, uma ilusão.

O protagonista começa uma batalha com as máquinas que controlam os seres humanos.

A Farsa de Truman

O protagonista do filme lançado em 1998, O show de Truman, dirigido por Peter Weir, é Truman Burbank, vivido por Jim Carrey.

show de truman mito da caverna

Desde o nascimento, sua vida foi transmitida para a Televisão, controle e gravada, permitindo que milhares de espectadores acompanhassem sua rotina.

Sem desconfiar de nada, Truman cresceu até se tornar adulto, mas certo dia ele percebeu que sua vida era uma grande mentira. Ao descobrir isso, começou a busca por conhecer a verdade.

Qual foi a Contribuição de Platão?

Platão é um dos mais notáveis filósofos da filosofia ocidental clássica. Teve vida entre 427-347 a.C., sendo discípulo de Sócrates, outro grande nome da filosofia.

Ele acreditava que a vida baseada em experiências sensoriais e materiais era falsa, e que a verdadeira busca de conhecimento estava na procura da verdade e da razão.

escultura Platão

Arístocles, mais conhecido como Platão, nasceu em uma família abastada de Atenas. O nome do pensador foi inspirado em seu tipo físico, pois a palavra Platão significa "ombros largos".

Aos 40 anos, criou a Academia, uma escola dedicada à educação e ao conhecimento. Esta se tornou o centro de reunião de vários intelectuais.

Aprendendo com Sócrates, Platão desenvolveu suas próprias teorias. Além disso, produziu um conjunto significativo de textos que possuíam diálogos entre ele e seu mestre. Dessa maneira, o pensamento de Sócrates foi divulgado para o mundo.

Vivendo por 80 anos, Platão faleceu em 347 a.C., considerando seu período histórico.

Rebeca Fuks
Escrito por Rebeca Fuks

É graduada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), possui mestrado em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutorado em Estudos de Cultura pelas Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).