Resumo e Análise da Obra "O Banquete", de Platão


Escrito por Sónia Cunha

O diálogo "Banquete", também conhecido pelo seu nome em grego Sympósion, é um trabalho escrito por Platão entre os anos 385 a.C. e 380 a.C. O tema central desta obra é o amor e a amizade.

Devido ao fato de Platão não ter estado presente no banquete, é possível que algumas partes do diálogo tenham sido alteradas ou mesmo criadas. As informações que chegaram até ele foram obtidas de terceiros que testemunharam o evento.

Análise e Resumo da Obra

Apolodoro e um companheiro estavam curiosos para saber o que ocorreu na casa de Ágaton. O banquete tinha reunido algumas das mais influentes figuras da sociedade grega, e essa reunião despertou interesse entre os dois.

Celebrando o grande feito de vencer o concurso de tragédias, Ágaton decidiu realizar uma festa na noite seguinte. Para isso, ele reuniu os mais próximos e ofereceu um jantar para celebrar a ocasião, que causou grande emoção na multidão presente na entrega do resultado.

"O banquete", escrito por Platão, se torna uma competição entre os intelectuais presentes, cada um proferindo discursos que louvam o amor. Este é também um tributo à filosofia em geral e ao próprio Sócrates, mestre e inspiração de Platão.

Durante a noite, seis discursos que definem o amor serão apresentados. Estes são:

1. Fedro Falando em Público

Fedro aponta Eros como o mais antigo dos deuses e insiste que o amor é a fonte de bênçãos. Segundo ele, Eros tem um lugar de destaque entre as forças divinas, sendo a causa de muitos dos bens que vemos na Terra. Para Fedro, o amor é a realidade mais importante, dando a ele protagonismo absoluto.

O intelectual elogia o amor, destacando que é um sentimento que ativa os melhores traços da condição humana. Ao falar sobre esse assunto, ele diz: “O amor é a força mais poderosa que há, capaz de despertar a verdadeira natureza humana em sua plenitude”.

"eu afirmo que o Amor é dos deuses o mais antigo, o mais honrado e o mais poderoso para a aquisição da virtude e da felicidade entre os homens, tanto em sua vida como após sua morte"

2. Pausânias Profere Discurso

Pausânias, o amante de Ágaton, acredita que a fala de Fedro foi uma recomendação para elogiar o Amor. Por meio do seu discurso, ele tenta compensar a ausência de seu companheiro.

Pausânias acreditava que existiam dois tipos de amor: o etéreo e o carnal. O etéreo era aquele que conduzia as ideias e, para ele, era a forma mais bela de amar. Já o amor carnal representava a paixão física. Segundo Pausânias, que era amante de Ágaton, esses dois tipos de amor eram distintos entre si.

Se portanto uma só fosse esta, um só seria o Amor; como porém são duas, é forçoso que dois sejam também os Amores. E como não são duas deusas? Uma, a mais velha sem dúvida, não tem mãe e é filha de Urano, e a ela é que chamamos de Urânia, a Celestial; a mais nova, filha de Zeus e de Dione, chamamo-la de Pandêmia, a Popular. É forçoso então que também o Amor, coadjuvante de uma, se chame corretamente Pandêmio, o Popular, e o outro Urânio, o Celestial.

3. Erixímaco Proferindo um Discurso

o amor deve seguir uma natureza saudável, equilibrada e moderada. Erixímaco, médico por profissão, defende o amor saudável com equilíbrio e moderação. Ele concorda com as ideias de Pausânias sobre a dualidade do amor, mas acredita que Pausânias não conseguiu transmitir essa ideia de forma adequada. Por isso, Erixímaco oferece a sua própria visão para encerrar o assunto: o amor deve seguir uma natureza saudável, equilibrada e moderada.

Ora, eu começarei pela medicina a minha fala, a fim de que também homenageemos a arte. A natureza dos corpos, com efeito, comporta esse duplo Amor; o sadio e o mórbido são cada um reconhecidamente um estado diverso e dessemelhante, e o dessemelhante deseja e ama o dessemelhante. Um portanto é o amor no que é sadio, e outro no que é mórbido.

Erixímaco afirma que a arte do amor se trata de encontrar um equilíbrio entre as forças do bem e do mau, garantindo assim uma saúde vigorosa.

4. Aristófanes Profere Discurso

Após o médico, quem faz uso da palavra é o dramaturgo Aristófanes.

“Que assim seja, seres andróginos, enquanto a terra existir, lutareis para encontrar a outra metade que foi separada de vocês”. De acordo com o relato do escritor, havia três gêneros na humanidade: masculino, feminino e andrógino. Estes seres eram auto-suficientes, contudo, os deuses os separaram para que vivessem em infelicidade eterna. Zeus proferiu então que, enquanto a Terra existisse, eles lutariam para reencontrar o outro lado que foi separado deles.

“Acho que tenho um meio de fazer com que os homens possam existir, mas parem com a intemperança, tornados mais fracos. Agora com efeito, continuou, eu os cortarei a cada um em dois, e ao mesmo tempo eles serão mais fracos e também mais úteis para nós, pelo fato de se terem tomado mais numerosos; e andarão eretos, sobre duas pernas. Se ainda pensarem em arrogância e não quiserem acomodar-se, de novo, disse ele, eu os cortarei em dois, e assim sobre uma só perna eles andarão, saltitando.”

A tragédia foi o seu resultado: desde a condenação, nossa natureza foi mutilada e almejava ansiosamente pela sua outra metade.

5. Ágaton Fala: um Discurso

Ágaton, o poeta trágico e vencedor do concurso, apresentou o quinto discurso, desenvolvido de maneira lúdica através de lindos jogos de palavras. De acordo com o poeta, Eros, o amor, é o mais jovem entre os deuses e é reconhecido por sua beleza, virtude e supremacia em relação aos outros.

Digo eu então que de todos os deuses, que são felizes, é o Amor, se é lícito dizê-lo sem incorrer em vingança, o mais feliz, porque é o mais belo deles e o melhor. Ora, ele é o mais belo por ser tal como se segue. Primeiramente, é o mais jovem dos deuses, ó Fedro.

5. Sócrates Discursando

A noite inteira estava ansiosa pelo discurso de Sócrates, que era considerado o homem mais sábio. Ele começa com uma afirmação que supera todos os que falaram antes dele: na sua perspectiva, o amor é desejo, pois só desejamos aquilo que não temos.

Observa bem, continuou Sócrates, se em vez de uma probabilidade não é uma necessidade que seja assim, o que deseja deseja aquilo de que é carente, sem o que não deseja, se não for carente. É espantoso como me parece, Agatão, ser uma necessidade; e a ti?

O amor é, acima de tudo, necessidade e desejo. É uma busca por aquilo que não temos. Ao contrário daqueles que se recusaram a dar sua opinião antes, Sócrates não considerava o amor como um deus, mas como uma entidade intermediária entre o homem e os deuses.

5. Alcibíades Fala: Um Discurso

Por fim, Alcibíades entra na discussão para efetuar elogios a Sócrates e ao seu discurso prévio.

"Tu porém dele diferes apenas nesse pequeno ponto, que sem instrumentos, com simples palavras, fazes o mesmo. Nós pelo menos, quando algum outro ouvimos mesmo que seja um perfeito orador, a falar de outros assuntos, absolutamente por assim dizer ninguém se interessa; quando porém é a ti que alguém ouve, ou palavras tuas referidas por outro, ainda que seja inteiramente vulgar o que está falando, mulher, homem ou adolescente, ficamos aturdidos e somos empolgados. Eu pelo menos, senhores, se não fosse de todo parecer que estou embriagado, eu vos contaria, sob juramento, o que é que eu sofri sob o efeito dos discursos deste homem, e sofro ainda agora. Quando com efeito os escuto, muito mais do que aos coribantes em seus transportes bate-me o coração, e lágrimas me escorrem sob o efeito dos seus discursos, enquanto que outros muitíssimos eu vejo que experimentam o mesmo sentimento; ao ouvir Péricles porém, e outros bons oradores, eu achava que falavam bem sem dúvida, mas nada de semelhante eu sentia"

Ao término da palavra de Alcibíades, o diálogo presente no O banquete, que traz consigo seis visões completamente diferentes a respeito das propriedades e características do amor, se encerrou.

Fundo do Banquete

Sete intelectuais se reuniram na casa de Ágaton, um discípulo de Sócrates, para celebrar sua vitória em um concurso de tragédias. Eles eram: Fedro, Pausânias (amante de Ágaton), Erixímaco, o médico, Aristófanes, o comediógrafo, Alcibíades, o político, Aristodemo e, o mais importante deles, Sócrates.

Enquanto reunidos, exagerando na alimentação e bebida, abordam-se os assuntos relacionados ao amor e à amizade (philia). Cada um dos presentes apresenta então a sua própria opinião a respeito.

Apolodoro, que não esteve presente no encontro na casa de Ágaton, narra o que aconteceu por meio do clássico estilo de diálogo de Platão. Assim, ficamos a conhecer os detalhes que se passaram durante aquele encontro.

primeiro, o diagnóstico; segundo, a definição de objetivos; terceiro, a execução; e, por último, a avaliação. A seqüência de trabalho é a seguinte: diagnóstico, estabelecimento de metas, execução e avaliação.

Pintura O Banquete de Platão, de Anselm Feuerbach.

No ano de 387 a.C., Platão fundou a sua própria academia em Atenas. Esta instituição de ensino se tornou um marco na cultura ocidental e diversos intelectuais famosos frequentaram-na. Nessa época, a academia recebia todo tipo de aspirantes à filosofia.

Platão defendia que a melhor forma de adquirir conhecimento era através da sua metodologia de ensino, pois era diferente de outros métodos de aprendizagem.

A didática de Platão acreditava que o conhecimento devia ser adquirido através da compreensão, e não pela simples memorização. Ele considerava que o conhecimento era uma entidade viva e em constante mudança. Assim, os ensinamentos de Platão incentivavam o aluno a absorver o conteúdo de forma eficaz e duradoura.

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Qual foi a vida e obra de Platão?

Arístocles, mais conhecido como Platão, nasceu cerca de 427 a.C.

Possivelmente em referência a uma característica física, Platão foi o apelido dado ao filósofo devido à sua fronte larga.

Platão, o intelectual, nasceu em meio a uma época marcada pela democracia e em conflito. Filho de uma família nobre de Atenas, Aríston, ele deixou registrado em sua Carta Sete que veio ao mundo para ser um político.

Na juventude, Platão foi discípulo de Sócrates. Profundamente abalado com a morte do seu mestre, resolveu homenagear e perpetuar os ensinamentos que havia adquirido. Dedicou-se ao seu estudo e à prática de diálogos, tornando-se assim um grande intelectual.

Platão

Leia o Banquete de Delícias

Sónia Cunha
Escrito por Sónia Cunha

É licenciada em História, variante História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (2003) e em Conservação e Restauro pelo Instituto Politécnico de Tomar (2006). Ao longo da carreira profissional, exerceu vários cargos em diferentes áreas, como técnico superior de Conservação e Restauro, assistente a tempo parcial na UPT e professora de História do 3º ciclo e ensino secundário. A arte e as letras sempre foram a sua grande paixão.