Análise Detalhada da Obra "Odisseia" de Homero


Escrito por Carolina Marcello

Considerada a segunda obra da literatura ocidental, a Odisseia, poema épico escrito por Homero, narra o percurso atribulado do herói Ulisses para voltar para casa depois da Guerra de Troia. Esta obra marca o início do cânone literário da região.

A Ilíada e a Odisseia, obras atribuídas a Homero, são essenciais para entendermos a cultura da Grécia Antiga. Seu legado é tão profundo que ainda influencia as narrativas e o imaginário coletivo de hoje. Aproveite para embarcar nessa incrível jornada de Ulisses e admirar sua astúcia incomparável!

Introdução à História Explorando a História: Uma Introdução

O herói grego Ulisses, dotado de grandes dotes de raciocínio e discurso, partiu da vitória na guerra de Troia na tentativa de navegar de volta para casa. Conhecido como alvo da ira de Poseidon, deus dos mares, ele foi protegido por Atena durante toda a jornada. Enfrentando vários desafios e perigos, ele retornou a Ítaca, onde foi recompensado com o abraço de seu amor, Penélope.

Aviso: a partir daqui, o texto contém detalhes que podem afetar a experiência com a história.

Análise da Estrutura da Obra

A Odisseia é um poema épico, um gênero literário recitado oralmente e que narra a história de um povo, valorizando o seus feitos. Estes textos eram criados com o propósito de captar a atenção dos ouvintes e provocar emoções.

A Odisseia é uma obra escrita com a intenção de ser interpretada em público, por isso seu foco maior era o ritmo. Ela é composta por 12 mil versos hexâmetros, variando entre 13 e 17 sílabas na língua grega, e se divide em 24 cantos.

Considerada como sendo uma das primeiras obras épicas, este poema narra as heroicas aventuras de um herói ou de um povo ao qual são atribuídas as lendas da tradição oral. O narrador desta obra exalta as conquistas e os atos de bravura deste herói ou povo.

A Telemaquia - compreendida entre os cantos I a IV - demonstra as interações entre a deusa Atena e o jovem Telémaco enquanto o orienta durante a ausência de seu pai. A passagem se inicia com uma descrição do palácio onde Penélope resiste aos ataques dos pretendentes.

A segunda parte da Odisseia é dedicada à narrativa dos obstáculos encontrados por Ulisses durante sua viagem, que são contados ao rei dos Feaces (cantos IX a XII). A terceira passagem, a maior de todas, aborda a vingança de Ulisses sobre aqueles que tentaram tomar seu lar, Ítaca (cantos XIII até XXIV), quando ele finalmente consegue regressar.

Personagens Centrais na Odisseia

Seres Humanos

  • Ulisses: herói pouco convencional que tenta solucionar problemas através da lógica e da retórica; espírito resiliente que busca reencontrar a sua família;
  • Penélope: esposa de Ulisses que governa Ítaca e cria Telémaco durante a ausência do marido; cria um esquema para enganar os seus pretendentes e manter a fidelidade ao marido;
  • Telémaco: filho de Penélope e Ulisses; parte em busca de notícias do pai e amadurece ao longo da narrativa;
  • Nausícaa: princesa dos Feaces que encontra Ulisses e decide ajudá-lo;
  • Alcínoo: rei dos Feaces que presta auxílio, enviando Ulisses em uma nau até Ítaca.

Divinos e Fantásticos

  • Zeus, na mitologia grega, é o deus supremo, pai de todos os deuses e chefe do Olimpo. Na obra, procura manter a paz entre as divindades que lutam para determinar o destino de Ulisses.
  • Atena, na mitologia, é filha de Zeus, deusa da sabedoria, da justiça e da estratégia. Defensora de Ulisses até o final, acha que ele merece regressar a Ítaca e ajuda o herói e seu filho durante toda a aventura.
  • Poseidon, irmão de Zeus, é o deus dos mares que declara guerra a Ulisses quando ele cega o seu filho, Polifemo, o ciclope. Através de tempestades, naufrágios e criaturas monstruosas, dificulta cada passo da sua jornada.
  • Hermes é o mensageiro dos deuses, que desce ao mundo dos humanos várias vezes para anunciar a vontade dos céus. É ele que resgata Ulisses da ilha de Calipso e que o ensina a se livrar do encantamento de Circe.
  • Calipso é uma ninfa que vive solitária em uma ilha onde Ulisses vai parar depois do naufrágio. Com o guerreiro como refém, faz de tudo para conquistar o seu amor, chegando mesmo a prometer a imortalidade, mas nada funciona.
  • Circe é uma feiticeira, filha do Sol, que vive na ilha de Eana. Conhecida por seus encantamentos e poções, ela transforma os homens da tripulação de Ulisses em porcos, mas acaba ajudando o herói.

Explorando a Odisseia de Homero: Uma Análise e Interpretação

No século VIII a.C., Homero escreveu duas obras-primas fundamentais para a literatura ocidental. A primeira delas, a Ilíada, contava a história da Guerra de Troia. Já a segunda, a Odisseia, tratava do que aconteceu depois da batalha e da jornada de Ulisses para voltar para casa.

A data exata do poema é incerta, mas estima-se que ele seja do início do século VII a.C. Há muitas discussões sobre quem o escreveu, pois, embora Homero seja considerado o autor desde a Grécia Antiga, as obras reúnem elementos da tradição oral, provenientes de eras anteriores.

A Odisseia é uma obra de incalculável influência na literatura ocidental. Diversos escritores foram inspirados por ela, tais como Virgílio, que compôs a Eneida, e Luís Vaz de Camões, autor de Os Lusíadas. Uma das marcas mais marcantes da Odisseia é o seu início in media res, que se tornou referência em inúmeras obras posteriormente.

A Flashback é uma técnica literária que nos revela acontecimentos passados através de memórias. Com ela, temos a oportunidade de mergulhar no meio da história, descobrindo o que aconteceu antes.

No início da narrativa, vemos os deuses reunidos no Olimpo debatendo o destino de Ulisses. A história de seu sofrimento na ilha de Calipso é contada aos leitores através da narrativa, permitindo que entendamos o que o levou até aquele ponto.

Qual é o Motivo da Viagem de Ulisses?

O rei Menelau de Esparta, tendo sua mulher (Helena) sequestrada pelo príncipe de Troia, Páris, reuniu uma força militar (os aqueus) em busca de vingança e resgate. Assim, partiu rumo à Troia para recuperar a honra e sua esposa.

Ulisses é obrigado a deixar sua família - Penélope e Telémaco - para lutar ao lado de seu amigo. A guerra se estende por uma década, até que a sagacidade de Ulisses permite a vitória com a ideia do "Cavalo de Troia". Esta história é contada na Ilíada.

Após muita luta, ele desejava ardente e pungente desespero retornar para casa, mas foi forçado a percorrer os mares por 10 anos, e mesmo atravessar "o reino dos mortos" (Hades). No nono canto, manifesta esse desejo com tristeza profunda:

Nada vejo de mais doce do que a vista da nossa terra.

Mesmo cansado, ele não desistiu e, no final, alcançou o sucesso que buscava.

Explorando as Ligacões entre o Homem e os Deuses

Na mitologia grega, as divindades não eram absolutamente perfeitas. As suas paixões, fúrias e defeitos eram semelhantes aos humanos, demonstrando nossas imperfeições. Por isso, vários eventos nos contos mitológicos mostram como os destinos dos mortais eram usados como brinquedos para os deuses.

Durante o concílio no Olimpo, Atena chamou atenção para a tristeza de Ulisses, preso na ilha de Calipso. O Grego estava sendo forçado a viver ali por causa do amor que a ninfa tinha por ele e que ele não correspondia. Então, a mando de Zeus, Hermes foi desceu à terra e libertou Ulisses e, para que ele pudesse navegar em segurança, avisou sobre os perigos de Circe.

No canto V, quando ele parte da ilha, ele já está ciente dos desafios que estão por vir. É nessa parte do poema que ele se demonstra forte, mesmo diante de todos os obstáculos.

E se algum deus me ferir no mar cor de vinho aguentarei: pois tenho no peito um coração que aguenta a dor.

A raiva de Poseidon, rei dos mares, contra Ulisses era tanta que ele queria acabar com a vida do herói usando as águas. Isso porque Ulisses havia cegado seu filho, o ciclope Polifemo. Esta sede de vingança dos deuses se tornava um martírio para os humanos.

A deusa Atena surge em diversas formas para proteger o herói ao longo da obra. Ela se manifesta como defensora do personagem, afirmando que ele merece voltar a Ítaca. Atena também aparece como inúmeras pessoas e em sonhos para conversar com outros personagens, servindo de guia para todos. É possível perceber que há uma conexão especial entre ela e o seu protetor humano.

Através dos cantos conhecidos como "Telemaquia", Atena mantém a proteção de Telémaco, o jovem príncipe de Ítaca. Aquilo se asemelha a uma espécie de romance de formação, na qual a deusa auxilia Telémaco a se tornar independente e a lidar com outras pessoas. Dessa forma, prepara-o para a vida adulta.

No canto XVI, quando pai e filho se reencontram, Telémaco ouve as desventuras de Ulisses e reconhece a interferência divina.

Não há homem mortal que consiga tal proeza pela sua inteligência, a não ser que um deus viesse ao seu auxílio...

A epopeia coloca diante de nós o antigo quebra-cabeça: destino ou livre-arbítrio? Embora os deuses possam influenciar, há escolhas e atos dos personagens que determinam seu destino.

O exemplo da palavra de Circe para Ulisses, no canto XII, evidencia os perigos que o esperam. Ela avisa-o dizendo:

(...) já não te passarei a contar de modo contínuo como será a direção do teu caminho, mas tu próprio terás de decidir (...)

Penélope Usa Enganação para Desencorajar os Pretendentes

No primeiro canto da obra, o narrador menciona o palácio de Ítaca, que estava sendo invadido por pretendentes que desejavam casar-se com Penélope. Esta mulher, que muitos acreditavam já ser viúva, ainda mantinha a esperança de que Ulisses retornasse e recusava a escolher outro marido.

A ausência prolongada do marido de Penélope na cultura da Grécia Antiga reflete o papel da mulher. Com seu filho ainda jovem, ela não poderia governar Ítaca e foi pressionada a se casar.

Penélope enfrenta uma escolha difícil: voltar para casa do pai ou escolher um novo marido entre sua vasta lista de pretendentes. Apesar disso, ela, descrita como "sensata" e dotada de "bom senso", encontra uma maneira de escapar ao seu destino.

Assim, usando uma tarefa comumente associada às mulheres, ela planejou enganar aqueles homens. Disse que estava tecendo um pano destinado ao caixão do sogro e que tomaria a decisão quando o trabalho estivesse concluído.

Durante o dia, Penélope passa horas no tear, mas, à noite, ela desfaz todo o trabalho que tenha sido feito anteriormente, como se não quisesse que o tecido ficasse pronto. Desta forma, ela resiste ao destino que lhe foi dado pelos deuses, deixando claro que é o paralelo feminino de Ulisses.

Durante os vinte anos de separação, Penélope e Ulisses mantiveram a esperança de se reencontrarem. Apesar dos desafios que tiveram que enfrentar e das tentações ao longo da obra, o amor deles continuou inabalável. Com muita determinação, eles alcançaram o desfecho feliz que tanto desejavam.

A Jornada de Ulisses

A aventura de Ulisses tem se tornado cada vez mais popular ao longo dos séculos e alguns dos seus episódios, como o ciclope, as sereias e Circe, fazem parte da cultura ocidental e estão presentes no nosso imaginário.

Depois de naufragar devido a Poseidon, Ulisses acabou parando em uma terra desconhecida. Lá ele encontrava-se nu e exausto, quando avistou um grupo de mulheres se aproximando. Sabendo que precisava esconder-se, ele se escondeu justamente naquele lugar, que era Nausícaa, a princesa dos Feaces, que na ocasião estava passando com suas aias para lavar roupa. Estes são também os cantos onde existem mais elementos fantásticos, narrados na primeira pessoa.

Jacob Jordaens, 'O encontro de Ulisses e Nausícaa'

Ulisses foi à frente da princesa Nausícaa com suas habilidades retóricas para pedir ajuda para que ele pudesse entrar na cidade e falar com o rei. Ela o ajudou, explicando que deveria pedir auxílio para a rainha Arete. Por isso, quando chegou ao palácio, Ulisses se ajoelhou diante da rainha e suplicou para que ele tivesse permissão para voltar para Ítaca.

Durante o jantar, Ulisses contou ao rei Alcínoo, dos Feaces, sua longa viagem, destacando os episódios mais marcantes. O herói narrou como havia enfrentado inúmeros desafios em seu percurso atribulado.

V, o canto passado na ilha de Calipso, é um grande marco literário que inspirou, por exemplo, a "Ilha dos Amores" em Os Lusíadas e o conto A perfeição de Eça de Queiroz. Esta ilha é descrita como um paraíso: em que a natureza está em seu ápice, nada morre, o clima é sempre agradável e a comida abunda.

A ninfa, com sua beleza típica de uma divindade, estava completamente apaixonada por Ulisses. Ela estava disposta a tudo para conquistá-lo, até mesmo oferecer-lhe a juventude eterna. Entretanto, mesmo com essas tentativas, o herói permanecia melancólico, olhando o mar e sonhando com sua terra natal, Ítaca.

William Flint Russel, 'Ulisses e Calipso'

Hermes, mensageiro dos deuses, chegou à ilha de Penélope com tristeza e revolta. Estava cercada de perfeição, mas sozinha. Ela se revoltou com os deuses por condenar o amor de uma divindade feminina por um homem mortal, quando eles próprios cometeram os mesmos atos.

Apesar disso, Circe concordou em permitir que Ulisses partisse e forneceu os materiais necessários para a construção de uma jangada, para que ele pudesse voltar ao mar.

No canto IX, Ulisses encontra Polifemo, um de seus maiores rivais. Ele deseja conhecer a cultura e os costumes dos ciclopes, e segue os costumes da Grécia Antiga ao visitar Polifemo trazendo presentes, com a intenção de ser acolhido com hospitalidade.

Pellegrino Tibaldi, teto do Palazzo Poggi.

Ulisses estava furioso com as ações do ciclope, Polifemo. Ele preparou uma lança para se vingar e, ao mesmo tempo, seguiu falando com o seu inimigo, fazendo-o beber vinho. Com inteligência, Ulisses anunciou que o seu nome era "Ninguém", enquanto o ciclope dormia. Aproveitando a oportunidade, Ulisses enterrou a lança no olho do ciclope.

Ninguém está me cegando!

Quando Ulisses pede ajuda, seus amigos acham que é apenas uma brincadeira. No entanto, a inteligência do herói o ajuda a escapar com seus homens. Infelizmente, o ciclope implora a Poseidon que penalize o grupo e evite que eles retornem a Ítaca.

Na décima passagem, o navio de Ulisses chega à terra desconhecida, onde os animais têm duas patas inferiores e parecem acenar para a tripulação. Os homens de Ulisses saem para explorar o local, enquanto ele fica no navio. A feiticeira Circe os recebe em seu palácio e serve uma bebida com uma substância química, que logo faz com que a tripulação comece a se transformar em porcos.

Circe por Wright Barker (1889)

Um deles, que estava com medo e ficou do lado de fora, observou tudo e correu para contar. Hermes, o mensageiro, apareceu e aconselhou o herói a não aceitar nada da figura misteriosa e firmar um acordo com ela. Nesta cena, é claro que a figura feminina é quem controla a situação; ao contrário de Penélope, que é representada como "boa", a personagem Circe é caracterizada como implacável e intransigente.

Ao enfrentar Circe, Penélope viu a coragem do marido, e a divindade sugeriu que fizessem amor. Ele aceitou, desde que ela desfizesse o feitiço e os libertasse. Depois de cumprir a sua parte, Circe ofereceu instruções para que eles encontrassem caminho seguro, além de recomendar preces, súplicas e sacrifícios.

Mais à frente, no Canto XII, Circe reaparece para aconselhar e orientar a tripulação. Seus avisos anunciam desastres, porém preveem que Ulisses sobreviverá. Entre as ameaças fantásticas que vão cruzar o seu caminho, Circe o alerta sobre as sereias.

Os navegadores eram atraídos pelo canto das figuras monstruosas, que eram imaginadas como uma fusão de mulher e pássaro. Infelizmente, essas criaturas os devoravam.

Quem delas se acercar, insciente, e a voz ouvir das Sereias / ao lado desse homem nunca a mulher e os filhos estarão / para se regozijarem com o seu regresso; / mas as Sereias o enfeitiçam com seu límpido canto / sentadas num prado, e à sua volta estão amontoadas / ossadas de homens decompostos...

Ulisses, cheio de curiosidade e desejo de conhecimento, foi aconselhado pela divindade a mandar seus homens colocarem cera nos ouvidos para não escutar nada. Mais tarde, ele pediu que o amarrassem ao mastro da embarcação e não o soltassem, mesmo que implorasse.

Ilustração de Ulisses e as sereias em um vaso da Grécia Antiga.

Mais uma vez, o herói da Odisseia conseguiu o inimaginável: ouviu o canto das sereias e viveu para contar a história.

A Vingança de Ulisses

Com a ajuda dos Feaces, Ulisses finalmente chega a Ítaca onde se reúne com Atena novamente. Conversando, ela confessa que o tem ajudado durante todo o percurso. Juntos, elaboram um plano para eliminar os pretendentes e se proteger, Ulisses decide se disfarçar como um mendigo e se esconder na casa de Eumeu, um velho criador de porcos.

Atena busca Telémaco no palácio de Menelau e lhe avisa que os pretendentes armaram uma armadilha para tirar sua vida. Ela ordena que o jovem volte para casa durante a noite e revele sua verdadeira identidade para o seu pai, Eumeu. Telémaco deve tratá-lo como um suplicante no palácio e guardar o segredo acerca de seu verdadeiro nome.

Gradualmente, a raiva de Ulisses cresce por passar tanto tempo com os pretendentes disfarçado de mendigo. Ele escuta todos falando mal dele, sofre humilhações e agressões. Quando a antiga aia o reconhece por causa de uma cicatriz, ela mantém segredo mas deixa claro que algumas criadas do palácio eram traidoras.

Penélope insistia em conversar com o mendigo, na esperança de obter notícias seu marido. Ele era habilmente retórico, conseguindo narrar o sofrimento pelo qual passara nos últimos anos, sem revelar a sua identidade. A mulher ficou impressionada com a história contada, e também compartilhou o que vinha guardando dentro de si.

Os pretendentes insistem nas bodas mas eu ato um fio de mentiras.

Inspirada por Atena, a mulher levou o arco de Ulisses para o jantar. Telémaco, obedecendo ao seu pai, retirou todas as armas e escudos da sala, aparentando evitar conflitos entre aqueles homens. Quando Penélope viu o arco, todos começaram a falar de suas habilidades guerreiras na tentativa de impressioná-la e diminuir a reputação de Ulisses.

Com a atenção dos inimigos distraída, o herói preparou seu arco e abriu a porta, revelando sua identidade. Quando os adversários se aproximaram para atacar, ele disparou flechas em todas as direções, defendendo-se dos ataques.

Durante a chacina, Telémaco usando uma espada, ajudou o seu pai, Ulisses. Atena participou do conflito também. Todos os pretendentes foram mortos e Ulisses enforcou as empregadas que ele não confiava.

Gravura Ulisses mata pretendentes, 1880.

O leitor não esperava que o ato final de Ulisses fosse a surpresa que se revelou. Apesar de ser inteligente e frequentemente racional em relação aos desafios, ele é um herói falível, que comete erros e não consegue controlar a sua fúria.

Após sofrer por tantos anos, Ulisses foi humilhado e expulso de seu próprio palácio. Quando finalmente recuperou o seu poder, mostrou a todos que não aceitaria resistência. Aqueles que planejaram sua derrocada e que viviam de sua comida e vinho tiveram que lidar com a vingança de Ulisses.

Ao ser avisada que seu marido regressara, Penélope não sabia ao certo se se tratava de um impostor ou um deus disfarçado. Uma das empregadas do palácio tinha a tarefa de acordá-la e anunciar a notícia. Apesar de toda a emoção, ela controlou seu entusiasmo.

Ulisses chegou, está em casa, depois de tanto tempo!

Ulisses e Penélope se abraçaram ao testar a lealdade um do outro. Penélope colocou a questão: se ele era realmente leal, teria mudado a cama de lugar. Mas Ulisses explicou que não era possível, já que a cama estava presa a uma árvore grande no quarto. Em resposta, os dois abraçaram-se e aproveitaram a noite juntos, recontando todas as aventuras que viveram e trocando juras de amor.

Ulisses e Telémaco reuniram suas armas e, acompanhados por Penélope, partiram para visitar o pai de Ulisses, Laertes. Enquanto isso, as famílias dos pretendentes se reuniram na entrada da casa, prontas para buscar vingança.

Fim dos Enredos

Mais uma vez, Atena pede auxílio a Zeus, seu pai, para proteger Ulisses. Ela se disfarça de Mentor para se juntar ao exército do herói e, com um grito divino intimidante, afugenta os inimigos.

Quando os pretendentes de Penélope fugiam, Ulisses tentou atacá-los, porém foi impedido por Zeus, que lançou um raio para deter a ação. No entanto, mesmo tendo vencido, Ulisses foi lembrado de sua vulnerabilidade como humano, já que sempre estava sujeito às vontades dos deuses.

Explorando o Significado da Obra

A Odisseia encanta o leitor com seu protagonista, mesmo em meio a monstros, deuses e lugares fantásticos.

Embora Ulisses não seja tão forte ou belo quanto Aquiles, ele é dotado de outros atributos que tornam-no valorizado na cultura grega da época. Ele possui reflexão, diplomacia, retórica, espírito inquisitivo e criador que o qualificam como um homem singularmente dotado.

Embora não tenha poderes especiais ou qualquer qualidade física fora do comum, ele consegue sobreviver devido à sua inteligência e criatividade para encontrar soluções aos problemas que se colocam. É uma jornada de superação que não aceita o fracasso ou a desilusão, e luta até ao fim.

Ao seguir o herói durante a epopeia, é impossível não torcer por ele. Admiramos a sua desenvoltura, o seu jeito com as palavras e a sua capacidade de encontrar soluções nos momentos mais difíceis. A obra destaca o sofrimento humano, ao mostrar o contraste entre o destino ditado pelos deuses e o livre-arbítrio dos personagens.

A palavra que inicia a obra de Ulisses é "homem", na antiga versão grega. É claro que a humanidade é o que mais importa na narrativa. Quando Calipso oferece a Ulisses a vida eterna, ele escolhe envelhecer e morrer junto de sua família, mostrando assim quanto aquilo que é humano significa para ele.

Ulisses tem se tornado um protótipo na cultura ocidental: um ser humano que experimenta fracassos, tem fraquezas, é derrotado muitas vezes, mas, com sua inteligência e determinação, consegue sobreviver e ter sucesso.

Princípios Fundamentais da Grécia Antiga

A Odisseia, que é um ícone da literatura grega, é uma preciosa peça histórica, pois descreve os costumes e as formas de vida da Grécia Antiga, ainda que tenha sido escrita há muito tempo. É, portanto, um documento de incalculável valor histórico.

A honra, a coragem, a lealdade, a fé e o valor da palavra dada são alguns dos aspectos fundamentais desta cultura. Além disso, a solidariedade e a hospitalidade eram também muito importantes. Pode parecer estranho para alguém que não esteja familiarizado com a cultura, o modo como os personagens abriam suas casas para desconhecidos, mas isso fazia parte daquela época.

Graças à ajuda dos Feaces, Ulisses conseguiu voltar para Ítaca. No canto VIII, quando contava suas desventuras para o rei, Alcínoo resume essa oferta de auxílio em sua resposta.

Um estrangeiro e um suplicante é como um irmão para o homem que atinja o mínimo de bom senso.

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A Odisséia na Era Atual

O mito de Ulisses e seus incríveis adversários (ciclopes, sereias etc) vem sendo contado desde há séculos, encontrando representação literária, escultórica e pictórica. Foi no cinema, em 1997, que a aventura ganhou vida, com o filme dirigido por Andrey Konchalovsky.

Em 2018, uma equipe de arqueólogos descobriu, na península do Peloponeso, o que parece ser o manuscrito mais antigo da famosa obra de Homero, o "Odisseia". A placa de argila continha 13 versos do canto XIV, que descrevem a história de Eumeu, criador de porcos, e seu papel como aliado de Ulisses em Ítaca. Esta descoberta marca mais de uma década desde a última descoberta relacionada à obra.

Painel encontrado em Olimpia

Resumo da Odisseia por Cantos Épicos

Cantos I ao V

O poema épico começa com a narrador solicitando inspiração para a musa de contar a história de Ulisses. O grande herói luta para voltar para casa após a Guerra de Troia. No Olimpo, os deuses se reúnem para discutir o destino de Ulisses. Atena se destaca, pedindo para falar e defendendo o herói, alegando que ele é atormentado por Poseidon, o deus dos mares.

A deusa conta que Ulisses está preso na ilha de Calipso, que insiste em conquistar seu amor. Hermes, o mensageiro dos deuses, equipa suas sandálias douradas com asas e voa até lá para libertar o mortal. Enquanto isso, Atena resolve visitar a família de Ulisses em Ítaca.

Telémaco estava triste quando viu o palácio invadido por centenas de arrogantes pretendentes desejosos de se casar com sua mãe. Então, Atena, disfarçada como um homem desconhecido, conversou com o jovem e lhe deu notícias de seu pai, informando que ele ainda estava vivo.

Penélope estava destruída com a saudade do marido e cansada dos pretendentes, que ela tinha enganado por mais de três anos. Ela pediu que eles esperassem que ela tivesse terminado de tecer uma mortalha para o sogro, mas ela desfazia o tecido durante a noite. Quando os homens descobriram o seu truque, eles exigiram que ela tomasse uma decisão. O próprio povo pressionou Penélope a casar ou regressar para casa de seu pai.

Telémaco segue em uma jornada com uma pequena tripulação para obter notícias do seu pai. Atena o acompanha disfarçada de Mentor, para incentivar o jovem e ensiná-lo a lidar com as pessoas. Primeiro, eles vão à casa de Nestor, e depois se dirigem a Esparta. Durante a viagem, Atena auxilia Telémaco na educação, ensinando-lhe como se portar e conversar com outras pessoas.

Menelau e Helena conversam no local. Ela, misteriosa, envenena as bebidas para aliviar seu sofrimento. Helena é testemunha da força da paixão que motivou a guerra. Longe dali, em Ítaca, os pretendentes descobrem que Telémaco se foi e tramam uma armadilha.

Penélope descobriu o plano e rezou a Atena, que entrou em seu quarto enquanto ela dormia para oferecer consolo e avisar que seu filho estava seguro. Hermes chegou à ilha de Calipso, onde encontrou Ulisses na praia, contemplando o mar e chorando por sua saudade.

Após Calipso tentar convencer Ulisses a ficar, oferecendo-lhe a imortalidade, ele recusa. Em seguida, com os materiais fornecidos pela deusa, ele constrói uma jangada e parte sem destino, enfrentando a ânsia de Poseidon por matá-lo. Contudo, é salvo por Leucótea, uma divindade aquática, que o aconselha a nadar até o reino dos Feaces. Para finalizar, Atena também contribui para a sua jornada, mandando parar os ventos.

Cantos Sexto a Décimo

Durante a noite, Atena entrou no palácio dos Feaces onde encontrou Nausícaa, a princesa, para convencê-la a lavar as roupas para o seu casamento no rio. Ao chegar lá, Ulisses estava sujo e nu, depois do naufrágio, assustando Nausícaa e suas aias. Ele, então, resolveu suplicar ajuda de longe, por meio de um discurso cuidadosamente construído e cheio de elogios.

Ao ouvir o pedido de Ulisses, Nausícaa concordou em ajudá-lo, mas sugeriu que ele não chegasse ao palácio junto com ela, já que ela tinha um prometido. Ela recomendou também que ele se ajoelhasse diante da rainha Arete e implorasse por ajuda. Assim que chegou ao palácio, Ulisses se ajoelhou diante da rainha e pediu para ser transportado de volta para casa.

Durante a conversa com Alcínoo, o rei dos Feaces, Ulisses narra suas aventuras. Entre elas, o fato de ter sido refém de Calipso e de ter Poseidon como inimigo. Os Feaces decidem então enviar uma tripulação de 52 homens para levar o herói de volta a Ítaca. O jantar é ainda comentado com relatos da guerra de Troia e histórias da mitologia, como a infidelidade de Afrodite a Hefesto e sua consequente vingança.

Ulisses prossegue sua narrativa, falando sobre como desafiou Poseidon ao cegar o ciclope, filho do deus do mar. Isto resultou em uma terrível maldição, desejando o fracasso de sua viagem de volta para Ítaca. Ele prossegue descrevendo a sua estadia na ilha de Circe, onde a feiticeira envenenou a tripulação e transformou seus homens em porcos. Mas Ulisses foi inteligente o suficiente para consertar um acordo com ela, com a ajuda de Hermes.

Cantos de Onze a Quinze

Ulisses saiu da ilha de Circe para o reino dos mortos, o Hades. Lá, sua mãe lhe contou sobre a lealdade de Penélope durante seu sofrimento e teve o prazer de assistir a um desfile de filhas e esposas de heróis que haviam falecido devido aos conflitos. Além disso, Ulisses teve a oportunidade de conversar com Agamémnon, ex-guerreiro que morrera por conta da traição de Clitemnestra.

Circe reaparece para guiar a tripulação, alertando-os sobre os perigos que eles corriam. Apesar de amarrado ao mastro, Ulisses consegue resistir ao canto sedutor das sereias. Mais tarde, ele derrota Cila, uma criatura marinha que tinha devorado alguns dos seus companheiros.

Após Poseidon planejar o naufrágio dos Feaces, Alcínoo descobre uma antiga profecia e consegue guiar os navios para a segurança. A chegada de Ulisses em Ítaca é marcada pelo reconhecimento da deusa Atena, a qual ele agradece por sua proteção. Os dois combinam a morte dos pretendentes e Atena vai até o palácio de Menelau para buscar Telémaco.

A deusa Atena procurou Telémaco para lhe dizer que os pretendentes planeavam uma armadilha e o incentivou a voltar para Ítaca. Telémaco, então, retornou durante a noite e foi para casa de Eumeu, que era um criador de porcos, conforme a deusa havia lhe ordenado.

Cantos XVI ao XX

Após o encontro com Eumeu, Telémaco conversou com Ulisses sem que inicialmente o reconhecesse. Porém, Atena mudou as suas vestes, ordenando que Ulisses se revelasse para o seu filho. Telémaco inicialmente achou que se tratava de um deus disfarçado, mas rapidamente percebeu que tudo era "obra de Atena", que lhes protegeria. Depois de estabelecerem os procedimentos a seguir para derrotar os pretendentes, Telémaco voltou para casa, onde Ulisses disfarçado de mendigo aguardava. O seu verdadeiro eu deveria ser mantido em segredo até o momento certo.

No palácio, Penélope encontra-se com o mendigo. Os pretendentes humilham-no e um deles agride-o. Após Telémaco contar sobre a sua viagem e notícias de Ulisses, sem revelar a verdade, Penélope fica curiosa sobre a identidade do mendigo, desejando conversar com ele para saber se conhece o seu marido. Ela partilha consigo os seus sentimentos acerca da "teia de enganos" e admite que Ulisses recomendou novas bodas, caso não voltasse, mas ainda mantinha a esperança de o ver regressar.

Quando Telémaco foi pressionado para remover todas as armas dos pretendentes do local, Ulisses disse que queria impedir que houvesse conflitos entre eles. Porém, quando uma velha serva foi lavar os pés do forasteiro, ela reconheceu uma cicatriz feita por um javali e percebeu que era Ulisses. A serva prometeu manter o segredo e avisou que, entre as criadas, muitas desejavam o mal para o rei.

O herói ficou deitado no chão do seu próprio palácio com ansiedade por enfrentar o seu destino. Atena apareceu para tranquilizá-lo, assegurando-lhe que nunca o abandonaria. Como um último ato antes de adormecer, ele rezou para Zeus e imediatamente um trovão ecoou, como se fosse um sinal afirmativo.

Cânticos 21 a 24

Após a exibição das armas de Ulisses por Atena durante o jantar, Penélope se tornou o centro das atenções. Todos os convidados criticavam o marido da rainha e elogiavam suas habilidades guerreiras. Contudo, em meio às discussões, Penélope acabou se retirando.

Ulisses aproveita o momento de distração para agarrar o arco e o seu filho, Telémaco, repara e pega a sua espada. Eles se preparam e posicionam-se à porta, frente aos pretendentes avançados. Ulisses revela a sua identidade e, com a ajuda de Telémaco e Atena, mata todos os seus oponentes. Para prevenir a traição, ele manda enforcar todas as empregadas que não lhe eram de confiança.

Penélope foi despertada com a notícia de que o marido estava de volta, no entanto, incrédula, decidiu testá-lo. Ela o interrogou sobre a posição da sua cama, que havia sido construída ao redor de um tronco preso ao chão, e, quando ele concordou, ela soube que era ele. Abraçaram-se e passaram a noite juntos, desfrutando de seu amor e contando as histórias de suas aventuras.

Enquanto isso, Hermes leva as almas dos pretendentes para o Hades, onde eles descrevem o massacre que sofreram. Quando Ulisses volta a Ítaca, ele encontra seu pai, Laertes, e juntos eles formam um exército para se defenderem dos vingativos. Para garantir a segurança deles, Atena pede auxílio a Zeus para protegê-los novamente, que aceita, desde que Ulisses não vá longe demais.

Ao se juntar aos companheiros na batalha final, Atena disfarçada de Mentor dá um grito tão poderoso que eles percebem que estão diante de uma divindade e recuam. Ulisses ainda tenta avançar para atacar, porém é impedido por um raio de Zeus. Assim, a paz e a união familiar são restauradas em Ítaca.

Carolina Marcello
Escrito por Carolina Marcello

Formou-se em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e possui mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes pela mesma instituição. Durante os estudos universitários, foi co-fundadora do Grupo de Estudos Lusófonos da faculdade e uma das editoras da revista da mesma, que se dedica às literaturas de língua portuguesa.