Análise do Mito de Sísifo: Resumo e Significado


Escrito por Laura Aidar

Sísifo, do mito da mitologia grega, era considerado o mais esperto e inteligente dos mortais. Sua história é caracterizada pela astúcia e habilidade para contornar todas as provações que lhe foram impostas.

Ele desafiou os deuses e foi corajoso o suficiente para tentar enganá-los. Por causa de sua ousadia, recebeu um castigo eterno: carregar uma grande rocha montanha acima para sempre.

Albert Camus usou a história do ser humano como exemplo da inutilidade de se lidar com um mundo sufocante e absurdo.

Resumo do Mito de Sísifo

A lenda de Sísifo remonta ao reino de Corinto, situado na região do Peloponeso. Seus pais eram Éolo e Enarete e sua esposa, Mérope. Foi como governante desta região que Sísifo entrou para a mitologia grega.

Sísifo olhou horrorizado quando viu Egina sendo carregada por uma águia - um sinal de que Zeus a havia sequestrado.

Aflito, Asopo, deus dos rios, não conseguia acalmar-se com a desaparição de Egina, sua filha.

Quando Asopo demonstrou o seu desespero, Sísifo viu a oportunidade de tirar proveito da informação que detinha e resolveu revelar que Zeus havia raptado a jovem.

Asopo foi requisitado para criar uma nascente no reino de Admeto, e isso foi realizado de modo rápido.

Quando Zeus descobriu que Sísifo o havia entregado, ele ficou extremamente zangado e mandou o deus da morte, Tânatos, para o levar ao mundo subterrâneo.

Sísifo era muito esperto e conseguiu enganar Tânatos dizendo que lhe ofereceria um colar como presente. Na realidade, o presente era uma corrente que o mantinha preso e lhe permitiu fugir.

Com o deus da morte preso, um período de tempo se passou em que nenhum ser humano morria.

A ira de Ares, o deus da guerra, foi despertada por causa da necessidade de mortos para a guerra. Por isso, ele foi até Corinto e soltou Tânatos para que realizasse sua tarefa e levasse Sísifo ao mundo dos mortos.

Sísifo, sabendo que poderia acontecer, deu instruções para sua esposa Mérope de não lhe oferecer homenagens fúnebres, se ele morresse. O que foi cumprido.

Ao chegar ao mundo subterrâneo, Sísifo teve a oportunidade de conhecer Hades, o deus dos mortos. Ele relata que sua esposa não havia lhe oferecido um enterro apropriado.

Ele pede a Hades que volte ao mundo dos vivos, a fim de repreender sua esposa. Após muita insistência, Hades concede ao pedido, permitindo uma visita rápida.

Ao chegar no mundo dos vivos, Sísifo não voltou como o esperado e, mais uma vez, enganou os deuses.

Sísifo e sua esposa viveram por muitos anos, até que a velhice a alcançou. Embora fossem mortais, infelizmente chegou o momento em que eles precisaram regressar ao mundo dos mortos.

Ao chegar lá, foi enfrentado pelos deuses que havia enganado e, como consequência, recebeu uma punição ainda pior do que a morte.

Ele foi condenado a realizar uma tarefa exaustiva e desprovida de sentido. Tinha que arrastar uma gigantesca pedra até a cima da montanha.

Todos os dias, para toda eternidade, Sísifo deveria trabalhar empurrando a enorme pedra até o topo da montanha. No entanto, quando chegasse ao cume, o esforço feito o deixava exausto, e a pedra rolava morro abaixo. Assim, ele precisava repetir o mesmo trabalho inúmeras vezes.

Pintura de Tiziano representando Sísifo empurrando uma pedra montanha acima.

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Interpretação Atual do Mito: Uma Visão Moderna

Desde tempos antigos, a história de Sísifo tem sido usada como recurso para a reflexão de questões contemporâneas. Ela é um relato perene, remontando às origens da antiguidade, trazendo muitos elementos que nos permitem refletir.

Albert Camus (1913-1960), um escritor e filósofo francês, reconheceu o valor simbólico da mitologia e o incluiu em seu trabalho através do mito de Sísifo.

Ele criou uma obra literária com o objetivo de trazer a liberdade para as pessoas e questionar as relações sociais problemáticas do século XX (e que ainda são relevantes nos dias atuais).

Em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, Albert Camus publicou a obra O mito de Sísifo, que se tornou uma de suas mais famosas.

No ensaio, o filósofo usa Sísifo como representação de problemas existenciais, como o intuito de viver, a insuficiência, a inutilidade e a irracionalidade da guerra e das interações de trabalho.

Camus estabelece uma ligação entre a mitologia e o mundo atual, demonstrando que a situação de Sísifo pode ser comparada à de muitos trabalhadores e trabalhadoras que desempenham suas tarefas diariamente, sem encontrar nenhuma satisfação ou proveito, mas que precisam continuar para sobreviver.

Ao comparar o terrível castigo do personagem mitológico ao trabalho exercido por grande parte da classe trabalhadora, Camus, com suas ideias de esquerda, evidenciou a condenação destes à realização de tarefas semelhantes diariamente, sem consciência de sua condição absurda.

Esse mito só é trágico porque seu herói é consciente. O que seria sua pena se a esperança de triunfar o sustentasse a cada passo? O operário de hoje trabalha todos os dias de sua vida nas mesmas tarefas, e esse destino não é menos absurdo.

Mas só é trágico nos raros momentos em que se torna consciente. Sísifo, proletário dos deuses, impotente e revoltado, conhece toda a extensão de sua miserável condição: pensa nela durante a descida. A clarividência que deveria ser o seu tormento consuma, ao mesmo tempo, sua vitória. Não há destino que não possa ser superado com o desprezo.

(Albert Camus, O mito de Sísifo)

Laura Aidar
Escrito por Laura Aidar

É arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Possui licenciatura em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e formação em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.