Análise e Resumo de I-Juca Pirama, de Gonçalves Dias


Escrito por Rebeca Fuks

I-Juca Pirama, poema de Gonçalves Dias, é um símbolo do romantismo brasileiro. Particiona-se em dez cantos, sendo publicado em 1851, no livro Últimos cantos. Possui 484 versos e gira em torno dos índios tupis e timbiras.

Breve Análise

Um velho timbira narra a história dos fatos que presenciou. A floresta brasileira é o cenário escolhido por Gonçalves Dias para a composição de seu poema, que nos situa desde os primeiros versos em meio a um esplêndido ambiente natural: "no meio tabas de amenos verdores, Cercadas de troncos — cobertos de flores".

Os Índios Timbiras, considerados valentes guerreiros, foram as primeiras criaturas a serem apresentadas. Anos atrás, capturaram um prisioneiro de guerra tupi, que deveria ser morto. Porém, ao final do terceiro canto, um dos índios lhe perguntou para contar um pouco de sua história. O prisioneiro assim respondeu: "Eu sou um guerreiro tupi..."

Meu canto de morte,

Guerreiros, ouvi:

Sou filho das selvas,

Nas selvas cresci;

Guerreiros, descendo

Da tribo Tupi.

Ao longo do quarto canto, conhecemos a História do Índio Tupi; suas diversas guerras, os lugares que visitou, a família que lhe rodeava. Seu pai, um velho cego e cansado, sempre a seu lado. Seu filho, como um guia, o acompanhava continuamente.

O índio tupi, apesar de possuir um pai completamente dependente, demonstra sua honra se oferecendo para servir como escravo à tribo timbira.

O chefe da tribo timbira, após ouvir a história do prisioneiro, ordena sua libertação imediata, declarando que ele era um guerreiro de grande valor. O prisioneiro, em agradecimento, diz que partiria, mas que, quando seu pai falecesse, retornaria para servi-lo.

O guerreiro encontrou o seu pai moribundo e contou-lhe o que tinha acontecido. O velho decidiu regressar com o filho à tribo Timbira e agradeceu ao chefe pela sua generosidade ao libertá-lo. Apesar disso, pediu que o ritual fosse cumprido e que o seu filho fosse punido.

O chefe da tribo se recusou a avançar com o plano de comer a carne do prisioneiro devido às suas suspeitas de que o cativo era um covarde, pois havia chorado diante dos inimigos e da morte. Ele temia que, se os seus índios seguissem o exemplo do tupi capturado, eles também se tornariam covardes.

O pai ficou surpreso ao ouvir o que o cacique tinha a dizer, pois os tupis não costumam chorar, ainda mais na presença de outras pessoas. Furioso, ele amaldiçoou o seu filho.

Não encontres amor nas mulheres,

Teus amigos, se amigos tiveres,

Tenham alma inconstante e falaz!

Não encontres doçura no dia,

Nem as cores da aurora te ameiguem,

E entre as larvas da noite sombria

Nunca possas descanso gozar:

Não encontres um tronco, uma pedra,

Posta ao sol, posta às chuvas e aos ventos,

Padecendo os maiores tormentos,

Onde possas a fronte pousar.

Por último, negou-se a reconhecer o filho: "Você não é meu filho, covarde!".

O pai escuta, da batalha, a bravura do filho e, para que a honra do rapaz seja preservada, intervém, pondo fim ao conflito. A reconciliação entre pai e filho, por fim, é alcançada, comprovando a força, coragem e honra do filho.

I-Juca Pirama

Mais sobre o assunto

A Vida e Obra de Gonçalves Dias

Nascido em 1823, no interior do Maranhão, Antônio Gonçalves Dias tinha em sua ascendência um comerciante português e uma mestiça brasileira. Graças à educação proporcionada por sua família, ele foi enviado a Portugal para se graduar em Direito na Universidade de Coimbra.

Durante a sua estadia no exterior, teve a oportunidade de conhecer alguns dos mais importantes escritores portugueses, como Almeida Garrett e Alexandre Herculano. Foi durante este tempo longe de Portugal que produziu a sua obra mais celebrada, a Canção do exílio.

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá;

As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,

Que tais não encontro eu cá;

Em cismar — sozinho, à noite —

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,

Sem que eu volte para lá;

Sem que desfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu'inda aviste as palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

Ao retornar ao Brasil, ele assumiu diversos cargos públicos e, em 1848, mudou-se para o Rio de Janeiro. Lá, exerceu a função de docente de latim e história do Brasil no Colégio Pedro II.

O escritor faleceu em 1864, quando voltava ao Brasil após uma temporada na Europa. Infelizmente, o navio em que estava encalhou e naufragou, levando consigo suas obras poéticas e teatrais.

Retrato de Gonçalves Dias.

A Obra de Juca Pirama e a Contribuição do Romantismo Brasileiro

Acredita-se que o poema I-Juca Pirama tenha sido criado entre 1848 e 1851. Esta obra foi incluída em Últimos cantos (1851) e considerada parte da primeira fase da literatura romântica brasileira.

O significado do título do poema é: "O que merece ser morto e o que deve ser morto".

No Brasil, o Romantismo se desenvolveu a partir da primeira metade do século XIX, dividindo-se em três gerações. Gonçalves Dias faz parte da primeira, cujo principal objetivo foi promover o que havia de brasileiro. O índio foi o grande protagonista do movimento, sendo exaltado em suas obras. Além disso, o autor buscava transmitir o tom sentimental próprio do Romantismo através da descrição das belezas naturais do país.

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Audiobook de I-Juca Pirama

Rebeca Fuks
Escrito por Rebeca Fuks

É graduada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), possui mestrado em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutorado em Estudos de Cultura pelas Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).