Iracema, de José de Alencar


Escrito por Carolina Marcello

A obra literária "Iracema", de autoria de José de Alencar, foi publicada em 1865.

O Indianismo, que é parte da primeira fase do romantismo brasileiro, celebra elementos históricos, nacionalistas e indígenas.

Este romance apresenta uma visão idealizada da união entre os portugueses e os diversos povos originários. Além disso, faz uso da ficção e dos fatos históricos para contar a história.

Um Breve Olhar à Obra

A protagonista Iracema, uma mulher indígena, tem um romance com Martim, um português. Seu amor resulta no nascimento de Moacir, considerado o primeiro brasileiro, algo que retrata o amor entre uma colonizada e um colonizador.

A Reunião de Iracema com Martim

Ao vigiar as florestas dos Tabajara, Iracema, filha do pajé Araquém, se deparou com um suposto invasor. Nascida e criada na tribo, a jovem não titubeou antes de atacar.

Martim, um aventureiro português, foi o destinatário da flechada.

Diante dela e todo a contemplá-la, está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar; nos olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo. Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embebida no arco partiu. Gotas de sangue borbulham na face do desconhecido.

Iracema foi responsabilizada pelo lançamento precipitado da flecha, mas não demorou para ajudar Martim. Ela o conduziu à tribo dela a fim de que pudesse receber tratamento para as feridas.

Martim Conhece a Tribo de Iracema

Martim e Araquém estabelecem uma relação de confiança quando o primeiro oferece ajuda para defender a tribo. Em troca, o pajé oferece mulheres e hospedagem a Martim.

Quando o guerreiro terminou a refeição, o velho pajé apagou o cachimbo e falou:

— Vieste?

— Vim, respondeu o desconhecido.

— Bem vieste. O estrangeiro é senhor na cabana de Araquém. Os tabajaras têm mil guerreiros para defendê-lo, e mulheres sem conta para servi-lo. Dize, e todos te obedecerão.

Martim não dá atenção a nenhuma outra mulher que não seja Iracema. Ele só tem olhos para ela.

Teoricamente, nada impedia que o casal formado por Iracema, uma índia, e Jurema, um português, ficasse juntos, exceto o segredo de Iracema, que impedia a ela de ser desonrada. Por isso, ela precisava se manter virgem.

Uma Paixão Inesquecível entre Iracema e Martim

Depois de se apaixonarem, Martim e Iracema se mudaram para uma cabana distante da tribo. Após alguns meses, o resultado desse amor proibido entre eles se revelou: Moacir nasceu longe da aldeia.

A jovem mãe, orgulhosa de tanta ventura, tomou o tenro filho nos braços e com ele arrojou-se às águas límpidas do rio. Depois suspendeu-o à teta mimosa; seus olhos então o envolviam de tristeza e amor.

— Tu és Moacir, o nascido de meu sofrimento.

O romance entre o casal, porém, não se manteve por muito tempo. Martim começa a demonstrar sua saudade de sua terra natal, enquanto Iracema compreende que ainda sente pela sua gente.

No final do romance, Iracema desaparece e Martim leva Moacir para Portugal, onde este passará a viver.

Iracema, pintura de José Maria de Medeiros representando mulher indígena

Significados dos Personagens Principais

A Lenda de Iracema

Iracema, filha do pajé Araquém, nasceu e foi criada nos campos dos Tabajaras. Descrição física da personagem: ela tinha lábios de mel, cabelos tão negros quanto a asa da graúna e mais longos do que a altura de uma palmeira.

O nome Iracema é formado pelas mesmas letras de América, simbolizando assim os nativos que habitavam o Brasil antes da colonização. É uma homenagem aos habitantes originais do país.

Aventuras de Martim

Martim Soares Moreno, o aventureiro português, é um nome pouco conhecido, que veio ao Brasil quando o país ainda estava quase intocado, habitado apenas por algumas tribos indígenas.

Iracema se apaixona instantaneamente pela Índia. O nome do protagonista faz uma alusão a um personagem histórico real, aquele que seria responsável pela criação do Estado do Ceará.

Martim representa os portugueses que emigraram para a colônia em busca de oportunidades de exploração.

Um Homem Chamado Moacir

Moacir é o filho de Iracema e Martim. Quando Iracema deu à luz Moacir, Poti e Martim saíram para a batalha. Após a morte de Iracema, o pai de Moacir o levou para Portugal para viver.

O nome Moacir é uma referência à origem do povo brasileiro, resultante da mistura entre um nativo e um europeu.

Potencializando o seu Futuro

Poti, o guerreiro, é um amigo leal de Martim. Sua amizade é tão forte que ele deixou sua tribo para se mudar para a cabana distante ao lado do casal, a fim de viver com eles e oferecer toda a ajuda possível ao seu amigo.

Poti simboliza a dependência dos indígenas em relação aos europeus, assim como Iracema.

Examinando Iracema: Uma Revisão do Livro

Celebração do Povo Indígena e da Terra

No magnífico romance de José de Alencar, a protagonista, Iracema, é idealizada. Ela representa o romantismo do seu povo, tendo características como coragem, integridade, altruísmo, encanto, beleza, castidade e pureza. É um símbolo de amor e maternidade, sem perceber a maldade ao seu redor.

A personagem feminina principal se destaca por ser objeto de uma profunda idealização romântica. Além disso, o próprio cenário do romance se apresenta como um paraíso, sendo o Ceará retratado como um ambiente idílico que reflete a intensidade de uma paixão proibida e avassaladora.

Explorando o Simbolismo de Moacir

Moacir, o pequeno cearense, representa simbolicamente a mistura de culturas de todo o país. É o primeiro mestiço, o resultado da relação de uma índia com um homem branco, tornando-o tanto o primeiro indígena quanto o primeiro não indígena do Brasil.

O rapaz é a materialização de uma dor profunda, um símbolo de um sentimento que vai do encontro ao desencontro. Ele é a prova de uma paixão ardente, mas, ao mesmo tempo, a expressão de um amor que não pode ser possuído.

Moacir é obrigado a aceitar o fato de que a mãe, Iracema, precisa morrer para que ele possa viver. Após o parto, o bebê é levado para a Europa, onde recebe uma educação.

A partir do sacrifício infligido aos índios, nasce o primeiro brasileiro. Essa obra sublinha a submissão e a entrega dos povos indígenas aos colonizadores, como se essa fosse uma qualidade a ser destacada. Essa visão é ponto de vista de Alfredo Bosi, o intelectual brasileiro.

Nas histórias de Peri e de Iracema a entrega do índio ao branco é incondicional, faz-se de corpo e alma, implicando sacrifício e abandono da sua pertença à tribo de origem. Uma partida sem retorno. Da virgem dos lábios de mel disse Machado de Assis em artigo que escreveu logo que saiu o romance: "Não resiste, nem indaga: desde que o olhos de Martim se trocaram com os seus, a moça curvou a cabeça àquela doce escravidão".

O risco de sofrimento e morte é aceito pelo selvagem sem qualquer hesitação, como se a sua atitude devota para com o branco representasse o cumprimento de um destino, que Alencar apresenta em termos heroicos ou idílicos.

O Valor da Publicação

Publicado em 1865, o romance Iracema possuía o subtítulo "Lenda do Ceará".

O romance foi uma obra marcante para a história do Ceará. Seu nome foi usado como inspiração para uma série de monumentos na região e também para nomear a sede do governo e um trecho da orla de Fortaleza. Isso mostra a importância da obra para todo o país.

Iracema, obra literária de José de Alencar, busca tecer uma construção de identidade nacional e racial. A obra é uma tentativa do autor de criar uma ficção de fundação que tenha como objetivo retratar e celebrar a cultura brasileira.

Preocupado com a política do país, José de Alencar usou o romance como uma forma de contribuir para o estabelecimento de um mito idealizado que excluía a dominação, extermínio e escravização dos povos originários.

Indianismo: uma Corrente Literária

No Indianismo, período do Romantismo, buscou-se resgatar o passado, enaltecendo a origem do brasileiro, valorizando o nacionalismo e destacando a grandiosidade da natureza do Brasil.

O movimento romântico propunha que, diante da realidade considerada sem graça e entediante, dever-se-ia procurar meios de se alcançar a felicidade. Por isso, decidiu-se idealizar uma figura nacional, o indígena, transformando-o em herói. Assim, passou a ser uma solução para fugir da realidade.

A trilogia indianista de José de Alencar consiste em Iracema (1865), O Guarani (1857) e Ubirajara (1874).

Assistindo Iracema no Cinema

Em 1979, Carlos Coimbra adaptou para o cinema a obra de José de Alencar, intitulada Iracema, a virgem dos lábios de mel.

A produção dos anos 70, "Iracema", protagonizada por Helena Ramos, foi vista como um símbolo sexual daquela década. Com classificação etária de 16 anos, oferece entretenimento para todos os públicos.

Baseado na obra de mesmo nome, o filme de 1974 Iracema - Uma transa Amazônica trata da questão da prostituição de garotas indígenas, trabalho escravo e devastação da floresta amazônica. O filme mostra como essas questões afetam a cultura indígena e impactam sua forma de vida.

A Vida de José de Alencar

José Martiniano de Alencar nasceu em Mecejana, pertencente atualmente ao município de Fortaleza (Ceará), no dia 1º de maio de 1829. Após sua formação em Direito em São Paulo, voltou à sua região natal, onde se inspirou para escrever Iracema. Durante sua infância, realizou seus estudos elementares e secundários no Rio de Janeiro.

Embora tendo se tornado mais conhecido como advogado, Rui Barbosa também desempenhou outras importantes funções: jornalista, orador, crítico teatral, escritor e político. Além disso, atingiu posições de destaque ao ser eleito deputado e ministro da Justiça.

Ele foi nomeado para ocupar a cadeira número 23 da Academia Brasileira de Letras.

Ele morreu precocemente, aos 48 anos, vítima de tuberculose, em 12 de dezembro de 1877.

José de Alencar

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Carolina Marcello
Escrito por Carolina Marcello

Formou-se em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e possui mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes pela mesma instituição. Durante os estudos universitários, foi co-fundadora do Grupo de Estudos Lusófonos da faculdade e uma das editoras da revista da mesma, que se dedica às literaturas de língua portuguesa.