Análise Completa do Soneto "As Pombas" de Raimundo Correia


Escrito por Rebeca Fuks

Um dos poemas mais significativos do movimento Parnasiano brasileiro é o soneto As pombas, escrito por Raimundo Correia.

O poema é considerado pela crítica especializada como a obra-prima do autor. Nele, é possível identificar os principais elementos que caracterizam o grupo de autores parnasianos.

Uma Análise Completa do Poema As Pombas

Vai-se a primeira pomba despertada...

Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas

Das pombas vão-se dos pombais, apenas

Raia sanguínea e fresca a madrugada.

E à tarde, quando a rígida nortada

Sopra, aos pombais, de novo elas, serenas,

Ruflando as asas, sacudindo as penas,

Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam

Os sonhos, um a um, céleres voam,

Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,

Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,

E eles aos corações não voltam mais.

O tema deste soneto é o revoar das pombas, o qual é usado para formar uma comparação com as fases da vida humana.

Raimundo Correia escolheu a pomba para ser o protagonista de seu soneto, pois ela simboliza a pureza, a tranquilidade e a elevação espiritual.

A pomba é um símbolo de liberdade e de união entre o céu e a terra, pois elas frequentemente alternam entre esses dois ambientes. Ela é um dos muitos pássaros que têm essa característica.

Nos versos parnasianos, as pombas nos alertam para a efemeridade da vida e o sentimento de transitoriedade do tempo.

Descrevendo a rotina dos pássaros, os dois primeiros quartetos são só o início.

Vai-se a primeira pomba despertada...

Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas

Das pombas vão-se dos pombais, apenas

Raia sanguínea e fresca a madrugada.

E à tarde, quando a rígida nortada

Sopra, aos pombais, de novo elas, serenas,

Ruflando as asas, sacudindo as penas,

Voltam todas em bando e em revoada...

No início dos oito primeiros versos, há uma descrição da atividade das pombas: esses se despertam, voam juntas para o exterior e voltam ao ninho em grupo.

Já os dois tercetos finais se voltam para um tema diferente.

Também dos corações onde abotoam

Os sonhos, um a um, céleres voam,

Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,

Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,

E eles aos corações não voltam mais.

No final dos seis versos, a relação entre a maturidade humana e o voo das pombas é feita: o crescimento das pessoas é comparado ao movimento de vai e vem das aves. A imagem criada é a de que o desenvolvimento do ser humano tem o mesmo ritmo que o voo das pombas, indo e voltando.

O soneto evoca uma profunda angústia existencial, e expõe versos brotados de uma análise psicológica. É nítido que o viés literário é densamente pessimista (enquanto as pombas realmente regressam para os seus pombais, os corações humanos parecem não ter para onde voltar).

Raimundo Correia escolheu o soneto como forma de composição devido à sua conexão com o movimento ao qual pertencia. O soneto, de origem italiana, é uma forma fixa com estrutura imutável, que se compõe de quatro estrofes: as duas primeiras contêm quatro versos, conhecidos como quartetos, e as duas últimas três, chamados de tercetos.

A sintaxe do poema é construída por meio do encavalgamento (também conhecido como enjambement). Isso significa que os versos não possuem uma pausa no final de cada um. Esta forma de expressão é frequentemente usada por poetas parnasianos.

A Significância da Pomba

A pomba é um símbolo muito importante no cristianismo, pois ela representa a Virgem Maria e também o Espírito Santo na arte cristã. O seu significado é tão profundo e significativo que tornou-se um símbolo sagrado para muitas religiões.

A Bíblia também destaca a importância das pombas. Após o grande dilúvio, Noé soltou três delas. Uma delas voltou trazendo uma ramificação de um oliveira, que indicava a reconciliação entre Deus e os homens. Dessa forma, a pomba simboliza a paz e a esperança.

A pomba é um pássaro com forte associação religiosa. O Cristianismo a vê como um símbolo de Deus e do Espírito Santo, mas não foi o primeiro a considerá-la especial. Na Ásia Menor, ela estava ligada à deusa da fertilidade Ichtar, na Fenícia era parte do culto a Astarte e na Grécia era consagrada a Afrodite. O Islã também vê na pomba um animal sagrado, pois supostamente teria protegido Maomé durante a sua fuga.

Quer saber mais? Veja

A presença do parnasianismo no Brasil

No ano de 1882, Teófilo Dias deu início ao estilo Parnasiano com a publicação de sua obra Fanfarras.

A Escola Parnasiana teve origem na revista francesa Le Parnase Contemporain, responsável por reunir os ideais desta corrente literária. Esta publicação serviu de inspiração para muitos poetas brasileiros.

Le Parnase Contemporain

"O progresso é o resultado do esforço". O lema do grupo brasileiro, inspirado nos autores franceses, era: "O empenho conduz ao avanço".

A Arte pela Arte.

O grupo enfatizava a ideia de que a arte era um fim por si só, e não dependia de nenhum princípio moral, religioso ou qualquer outro valor externo.

Os escritores do movimento literário Parnasiano buscavam o ideal da perfeição com o emprego de versos estruturados em métrica e rima. Um estilo formal predominava na produção poética, que priorizava a ordem indireta. Os versos dezassílabos eram preferidos, e dentre as formas poéticas destacava-se o soneto, cuja estrutura possuía contornos rígidos.

O perfeccionismo foi essencial para o êxito da poesia, enquanto a abundância de vocabulário busca representar a beleza, a sublimidade e a natureza.

Os poetas prezavam pela precisão, clareza e objetividade, bem como pelo distanciamento das emoções. Esta postura contrastava com o romantismo, movimento literário que os antecedeu. A contenção emocional era então a característica mais marcante dessa nova abordagem.

A poesia descritiva do real era o que os proponentes do lirismo objetivo pregavam, em vez de uma abordagem analítica.

A Vida e a Obra de Raimundo Correia

Raimundo Correia, como era conhecido no meio literário, nasceu no dia 13 de maio de 1859 a bordo do navio brasileiro São Luís, no Maranhão. Seu falecimento ocorreu em 13 de setembro de 1911, na cidade de Paris, França.

Filho de um desembargador, tendo tido a oportunidade de frequentar as melhores escolas, ele se casou com Mariana Sodré em 1884.

Retrato de Raimundo Correia.

O Cabeleira, Os Fidalgos da Casa Mourisca e Tristes Trópicos. Entre as suas obras mais notáveis estão As Pombas, A Cavalgada e Mal Secreto. Seus principais trabalhos de literatura são: O Cabeleira, Os Fidalgos da Casa Mourisca e Tristes Trópicos.

  • Primeiros Sonhos (1879);

  • Versos e Versões (1887);
  • Sinfonias (1883).

Sonhos de Primeira Viagem (1879)

Sinfonias de 1883

Foi um dos primeiros livros de poesia de Torquato Neto. Em 1887, Torquato Neto publicou um dos seus primeiros livros de poesia, intitulado Versos e Versões.

Raimundo Correia tornou-se conhecido como "O poeta das pombas" devido ao grande sucesso que obteve com seu poema intitulado As pombas.

Raimundo Correia desempenhou diversos cargos administrativos: escritor literário, colaborador de jornais e revistas, promotor de justiça, juiz, secretário da presidência da Província do Rio de Janeiro e diretor da Secretaria de Finanças de Ouro Preto. Após a proclamação da República, Correia foi preso, porém logo obteve a liberdade.

Leia As Pombas

Rebeca Fuks
Escrito por Rebeca Fuks

É graduada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), possui mestrado em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutorado em Estudos de Cultura pelas Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).