Os 10 Melhores Trabalhos de Aleijadinho


Escrito por Sónia Cunha

Um dos maiores nomes das artes plásticas brasileiras, Aleijadinho (1738-1814) foi um extraordinário escultor e arquiteto que representou o grande artista do nosso Barroco.

O criador, especialista em esculturas feitas principalmente em pedra sabão, também possuía grande habilidade trabalhando com madeira. Seu trabalho tinha um alto valor artístico e era dedicado ao sagrado. Ele foi responsável por muitos altares de igrejas, esculturas, chafarizes, portadas, retábulos e projetos arquitetônicos.

1. Congonhas: Santuário do Bom Jesus de Matosinhos

Santuário do Bom Jesus de Matosinhos (em Congonhas)

No Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, localizado no morro do Maranhão, em Congonhas, as famosas esculturas em pedra-sabão de Aleijadinho, criadas no século XVIII, são a estrela principal. Ele foi pioneiro na utilização deste material, naquela época chamado de "pedra de panela" ou "pedra-panela", que era tradicionalmente usado para substituir a cerâmica, como para peças simples. Aleijadinho se destacava no uso deste material, pois trabalhava a anatomia de forma almejando a perfeição. Além disso, era conhecido por fazer deformações intencionais para enfatizar determinados movimentos e expressões. Essa precisão foi um dos principais elementos da sua obra.

Santuário do Bom Jesus de Matosinhos

Em 1796, Aleijadinho foi encomendado para criar esculturas da Via Sacra e profetas para o Santuário. Estas, realizadas com a colaboração dos seus assistentes, são consideradas até hoje o seu maior trabalho.

os doze profetas

As 12 esculturas dos profetas criadas entre 1796 e 1805, que formam parte do complexo, são caracterizadas pelos cabelos cacheados envolvidos por turbantes e feições orientais com olhos puxados. O Santuário do Bom Jesus de Matosinhos é reconhecido pela Unesco como patrimônio mundial. Esta grande obra arquitetônica inclui as 12 esculturas dos profetas, criadas entre 1796 e 1805. Estas estátuas, com suas características marcantes, tais como cabelos cacheados envolvidos por turbantes, e feições orientais com olhos puxados, constituem um importante elemento desta obra.

2. A Sagrada Senhora do Rosário do Altar

Altar Nossa Senhora do Rosário

Em Mariana, no distrito de Santa Rita Durão, Aleijadinho esculpiu o seu primeiro altar em homenagem à Nossa Senhora do Rosário.

Sendo extremamente exigente quanto ao seu trabalho, Aleijadinho aceitou a encomenda para a Capela de Nossa Senhora do Rosário, apesar da fraca quantia oferecida pela irmandade. Nunca baixando seu padrão de qualidade, o artista conseguiu produzir uma obra rica em detalhes, mesmo com o orçamento limitado.

O primeiro altar desta região de Minas Gerais encanta com sua riqueza impressionante. O estilo rococó exalta detalhes dourados, que retratam a sociedade próspera que vivia por lá no passado.

Após inúmeros anos esquecido e sem o devido reconhecimento, o trabalho de Aleijadinho, um gênio das artes plásticas brasileiras, foi relembrado e verdadeiramente homenageado pelos modernistas já no século XX. Como exemplo, Mário de Andrade escreveu, em 1928, um texto intitulado "Aleijadinho" para celebrar a produção original do artista.

3. São Francisco de Assis: Uma Igreja

Igreja de São Francisco de Assis

Inscrita como Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO, a Igreja de São Francisco de Assis em Ouro Preto foi projetada pelo famoso artista barroco brasileiro, Aleijadinho. Esta obra-prima, considerada uma das mais importantes criações do autor, é parte integrante do fundo histórico do Brasil.

Em 1766, Aleijadinho recebeu uma encomenda logo após a morte de seu pai. O projeto foi construído até a metade do século XIX.

O artista foi o responsável por construir a igreja, desde o projeto arquitetônico até a ornamentação interna. Ele assinou o projeto da igreja, além do altar-mor, retábulo e fonte. Essa é uma única ocasião onde um único artista esteve envolvido tanto nas partes externas como na ornamentação interna de uma igreja católica.

O retábulo, projetado em 1778-1779, é marcado por um estilo rococó distinto, decorado com anjos, fitas, guirlandas e ornamentos feitos em pedra-sabão. As torres também são arredondadas e caracterizam-se por um estilo único.

Dois púlpitos esculpidos em pedra sabão, remontando a 1771 e representando os quatro Evangelistas (São João, São Mateus, São Lucas e São Marcos), podem ser encontrados na igreja.

4. A Igreja N

Igreja N.Sra. das Mercês e Perdões

Em 1742, começou a construção da Igreja N. Sra. das Mercês e Perdões.

Em 1775, Aleijadinho foi contratado para executar trabalhos na capela-mor e para realizar esculturas. De acordo com os registros, ele recebeu a quantia de seis oitavas de ouro como pagamento pela encomenda.

Duas importantes esculturas de pedra-sabão, criadas por Aleijadinho, podem ser encontradas dentro da capela-mor: São Pedro Nolasco e São Raimundo Donato.

Aleijadinho se destacava dos outros artesãos da época, pois adicionava a suas obras detalhes como querubins, flores e ornamentos em rococó. Além disso, quando possível, dava um toque a mais às suas criações, utilizando tintas e o dourado.

5. Fonte de Bem-Estar para o Hospício da Terra Santa

Em 1752, Aleijadinho fez o seu primeiro trabalho individual. Ele foi contratado para criar um chafariz para o pátio do Palácio dos Governadores, em Ouro Preto. Este palácio foi construído no lugar onde funcionava a Casa de Fundição e Moeda.

Ao assinarem o contrato, Aleijadinho, com apenas 14 anos, começou seu primeiro trabalho. Nesta obra, já é possível identificar os traços da estética que o tornariam conhecido durante o resto de sua carreira, como a preocupação com o detalhamento.

Embora Aleijadinho tenha feito trabalhos significativos ao longo de sua carreira, praticamente não existem registros dos mesmos.

6. Chafariz do Topo da Cruz de Vila Rica

Chafariz do Alto da Cruz de Vila Rica

Em 1757, um processo de concorrência pública foi aberto pelo Senado da Câmara de Vila Rica para a construção de um chafariz na região onde hoje é a cidade de Ouro Preto. O responsável por essa obra foi Antônio Francisco, pai de Aleijadinho, e ela apresenta um diferencial em relação ao Chafariz do Palácio dos Governadores de Ouro Preto, também projetado por ele.

Em 1761, Aleijadinho esculpiu no topo do chafariz um busto feminino pagão - sendo a primeira escultura do gênero realizada naquela época. Em vez da tradicional cruz, que era usualmente posicionada nessa parte do monumento, o artista optou por colocar o busto.

O busto de Aleijadinho era influenciado pelo pensamento iluminista europeu, e demonstrava características humanistas. Essa obra foi uma antecipação do movimento rococó, mostrando que o artista já tinha um traço inovador.

Este foi um dos pioneiros projetos da região que contou com a pedra-sabão como material utilizado.

Os chafarizes públicos daquela ocasião possuíam uma função tanto artística quanto social. A falta de água corrente em casa era um problema da época, e os chafarizes eram uma solução para abastecer a cidade. Assim, eles serviam de espaço para se expor arte pública e também como fontes para fornecer água para a população.

7. Um Chafariz para o Hospício da Terra Santa

Chafariz para o Hospício da Terra Santa

Durante sua permanência no Seminário dos Franciscanos Donatos do Hospício da Terra Santa entre 1750 e 1759, o artista recebeu lições de latim, religião, gramática e matemática. Em 1758, ele esculpiu o Chafariz para o Hospício da Terra Santa, que é considerada a primeira obra do estilo barroco tardio até hoje.

Aleijadinho passou a exercer sua atividade profissional com maior frequência, mas sem revelar sua identidade, pois era mulato. Devido à impossibilidade de fornecer provas escritas de autoria, muitas de suas obras são postas em dúvida.

8. O Chafariz da Samaritana

Chafariz da Samaritana

A Fonte do Aleijadinho, situada na cidade de Mariana, é atribuída ao artista famoso por seu trabalho no século XVIII. Embora a data de produção não seja precisamente conhecida, ela é caracterizada por suas formas peculiares. Localizada em uma das áreas mais importantes da cidade, a peça foi instalada diante do Palácio Episcopal recém-construído.

No baixo-relevo podemos ver Jesus sentado e uma Samaritana segurando um cântaro com a intenção de oferecer água ao Cristo. O decote da personagem transmite certa sensualidade, característica típica do barroco que está presente nas obras de Aleijadinho.

No Museu Arquidiocesano se encontra uma gravura com a ilustração de uma árvore no fundo. A moldura é em estilo rococó, com diversos detalhes e forma irregular.

A Samaritana de Aleijadinho foi representada em pelo menos outros três de seus trabalhos: uma fonte de rua em Ouro Preto, uma estátua de jardim residencial na mesma cidade e um púlpito na Capela de Nossa Senhora do Carmo de Sabará.

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9. Nossa Senhora do Carmo: Uma Igreja

Igreja da Nossa Senhora do Carmo

O artista teve a incumbência de desenhar e esculpir vários elementos da Igreja da Nossa Senhora do Carmo, dentre eles o frontispício, os púlpitos, o coro e a decoração da portada.

Na obra, Aleijadinho criou dois anjos com musculatura destacada para sustentar os coros. Esses anjos são coloridos e simbolicamente fazem força para carregarem o coro, representando os querubins.

O escultor dava grande importância ao diálogo estabelecido entre suas criações e o significado simbólico presente no local onde elas se encontravam.

10. A Cidade de São Joaquim

São Joaquim

No início do século XIX, Aleijadinho esculpiu a figura de São Joaquim em madeira, escolhendo retratar um instante significativo da vida do santo.

Graças a interferência divina, São Joaquim foi abençoado com a notícia de ser pai, o que lhe trouxe alegria incontida. Foi desta felicidade que Aleijadinho resolveu se inspirar para retratar o momento. Apesar de seu casamento com Ana ser estéril, o milagre do céu o dotou de paternidade.

Atualmente, a peça está hospedada no Museu Arquidiocesano de Arte Sacra de Mariana.

A Vida de Aleijadinho

Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido como Aleijadinho, nasceu na cidade de Ouro Preto, Minas Gerais, em 1730. Filho de uma escrava, Isabel, e de um português, Manoel Francisco Lisboa, que havia se mudado para o Brasil em 1728 em busca de melhores condições de vida, foi um importante artista, sendo considerado o maior escultor e arquiteto do Barroco Mineiro.

Aleijadinho

Aleijadinho, socialmente tratado como um filho bastardo, foi fruto do casamento entre o arquiteto e mestre de carpintaria Antônio Francisco Lisboa e a açoriana Maria Antônia de São Pedro, em 1738. Juntos, tiveram quatro filhos, sendo que Aleijadinho aprendeu todos os ofícios com o seu pai.

O mestiço Aleijadinho foi vítima de preconceito na sua sociedade, não tendo direito à herança do seu pai e nem ao reconhecimento público por seus trabalhos. Por isso, muitas de suas obras e registros de pagamentos não podiam ser assinados.

Em meados do século XVIII, o criador abriu sua oficina em 1770 e rapidamente se tornou famoso por ter vivido numa época de ouro da região, tendo recebido diversas encomendas. Suas obras se concentraram na criação de arte sacra para a igreja e ficaram profundamente influenciadas pelo estilo rococó. Ele produziu peças para as cidades de Ouro Preto, Tiradentes, Mariana, Congonhas do Campo, Barão de Cocais, Sabará, Felixlândia, Matosinhos, Caeté e São João del Rei.

Qual foi o motivo para Aleijadinho receber esse nome?

Desde 1777, Aleijadinho começou a sofrer de uma doença crônica que, segundo biógrafos, acredita-se que tenha sido sífilis ou lepra. A doença causou deformações nas mãos e nos pés, o que significou uma mudança radical na sua vida e no trabalho na oficina. Como resultado desse problema de saúde, ele ganhou o apelido pelo qual é conhecido até hoje.

Devido à sua doença, Aleijadinho foi obrigado a encontrar novas maneiras de trabalhar. Entre 1807 e 1809, a sua oficina teve que ser encerrada em razão de sua saúde debilitada. Após perder os dedos dos pés, a sua mobilidade foi significativamente prejudicada, e ele passou a trabalhar no chão, de joelhos.

Sónia Cunha
Escrito por Sónia Cunha

É licenciada em História, variante História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (2003) e em Conservação e Restauro pelo Instituto Politécnico de Tomar (2006). Ao longo da carreira profissional, exerceu vários cargos em diferentes áreas, como técnico superior de Conservação e Restauro, assistente a tempo parcial na UPT e professora de História do 3º ciclo e ensino secundário. A arte e as letras sempre foram a sua grande paixão.