10 Obras Fundamentais de Caravaggio e sua Biografia


Escrito por Carolina Marcello

Caravaggio, o nome pelo qual Michelangelo Merisi (1571 — 1610) assinava suas obras, é a inspiração de uma cidade italiana onde ele nasceu.

O artista foi destaque como pioneiro da pintura barroca, tornando-se o maior expoente deste movimento. Suas obras possuem características peculiares deste período, como, por exemplo, temas de cunho religioso e uma forte presença dramática.

Retrato de Caravaggio por Ottavio Leoni.

Com seus trabalhos de grande sucesso entre os mecenas, Caravaggio também foi conhecido por criar telas consideradas chocantes e às vezes violentas. Seu realismo ao retratar a imensidão das emoções e expressões humanas lhe garantiu fama e admiração.

Caravaggio é conhecido principalmente por sua obra artística, mas também é lembrado pela sua conturbada vida pessoal, marcada por brigas e mistérios.

Explorando as Obras de Caravaggio

Ao pintar obras de forte pendor religioso, o artista optava por retratar pessoas reais ao invés de figuras idealizadas ou celestiais. Seu principal objetivo era capturar a essência da população italiana, observando e trazendo à tona o que via em pessoas comuns com quem se cruzava diariamente.

Telas que foram desenhadas com figuras inspiradas em homens e mulheres da classe marginal geraram grande escândalo pois trouxeram à tona o universo de prostitutas e marinheiros.

Caravaggio misturou o divino com o mundano em suas obras, representando cenas impactantes e rostos carregados de emoção. Seus quadros refletem sentimentos conhecidos por todos nós, como o medo, a raiva e a dor.

Entre os anos de 1593 e 1610, o artista pintou em Roma, Nápoles, Malta e Sicília. Seus trabalhos compreendiam desde passagens bíblicas até temas ligados à natureza, à mitologia e à rotina das pessoas.

Caravaggio, pintor barroco, usava os tradicionais jogos de luz e sombra para criar um tom dramático em seus quadros.

Caravaggio, um artista italiano, foi o responsável pela criação do tenebrismo. Esta técnica consiste em combinar um fundo escuro com pontos de luz estrategicamente colocados, destacando, principalmente, os rostos.

1. Cesta de Frutas

Quadro Cesto de frutas.

Apesar de não se conhecer o exato ano em que o quadro foi pintado, acredita-se que tenha sido em 1599. Esta obra, de acordo com os especialistas, pode ser considerada como uma contestação à escola maneirista, que determinava padrões de proporções e de harmonia. Por isso, o pintor buscou produzir uma atmosfera etérea.

Dedicando-se a pintar uma natureza morta, Caravaggio coloca o cesto na beira de uma mesa, criando assim uma tensão visual. Ainda assim, ao olharmos mais atentamente para a obra, somos impressionados por ela.

Alguns dos frutos e das folhas estão marcados, cheios de buracos ou estão apodrecendo, o que nos leva a acreditar que este é um comentário sobre a fragilidade da beleza e da vida.

2. A Auto-Obsessão de Narciso

Quadro Narciso.

Inspirada em um episódio da mitologia grega, a obra Narciso foi criada entre os anos de 1597 e 1599. O mito de Narciso, narrado por Ovídio em sua obra Metamorfoses, serviu de inspiração para a pintura.

O jovem exibia grande beleza, porém foi advertido por um oráculo para jamais contemplar a imagem do seu próprio rosto. Ao desdenhar o amor das ninfas, elas o puniram e o mostraram reflectido na superfície de um lago.

Narciso apaixonou-se por seu reflexo no espelho d'água e esvaneceu-se ao admirar seu belo rosto. Esta obra-prima de arte, com sua marca de contrastes de luz e sombra, encontra-se na Galeria Nacional de Arte Antiga, Roma. Nela podemos ver o momento exato em que ele vê seu reflexo pela primeira vez.

3. A Face Terrível da Medusa

Quadro Medusa.

A obra de Caravaggio, "uma imagem emocionante e perturbadora", é uma verdadeira obra-prima, bastante presente na cultura moderna. Uma versão menor da obra foi criada em 1596 e atualmente pertence a uma coleção particular.

Em 1602, Caravaggio produziu a sua segunda versão da Medusa para a Galeria de Uffizi, em Florença. Esta obra consiste em uma tela circular sobre madeira, na qual ele retrata uma das mais assustadoras e enigmáticas figuras da mitologia grega - a Medusa.

A bela e temível Medusa, uma das três Górgonas, era conhecida por suas serpentes que se erguiam como cabelos. Conta-se que qualquer um que a olhasse diretamente seria instantaneamente transformado em pedra. Perseu, o herói, conseguiu vencê-la usando o seu próprio reflexo na armadura.

O quadro retrata o instante em que Medusa foi decapitada, e o seu sangue ainda jorrava. A expressão facial da personagem desse trabalho é absolutamente realista, transmitindo os sentimentos de terror e aflição. Diz-se que o pintor se serviu de um espelho para captar o seu próprio rosto e retratar o de Medusa.

4. A Celebração de Baco

Quadro Baco.

A Galeria de Uffizi, em Florença, abriga um quadro de temática profana, pintado em 1595, inspirado no deus romano do vinho. Na época, a obra era considerada bastante controvertida.

Nosso jovem protagonista oferece uma taça de vinho ao espectador, como se o convidasse para um brinde. Sua presença na tela conclama o observador a se juntar a ele em uma celebração.

Ao observarmos as faces rosadas de Baco, podemos perceber que ele já havia bebido. A obra de Caravaggio parece ser uma piada carinhosa sobre o estilo de vida alegre que ele levava. Na verdade, especialistas demonstraram que existe um pequeno autorretrato do pintor, com seu cavalete, refletido na taça que o deus segura.

5. A História de Judite e Holofernes

Quadro Judite e Holofernes.

Uma obra muito conhecida de Caravaggio é Judite e Holofernes, criada entre 1598 e 1599. A pintura retrata um episódio do Antigo Testamento, em que a viúva engana e mata o general.

A imagem que mostra a vingança protagonizada por uma mulher que tinha como objetivo a libertação do seu povo é perturbadora e chocante para o público. O momento é eternizado e a brutalidade com que foi capturado é um testemunho da luta que ela enfrentou.

Ottavio Costa, um dos mais influentes banqueiros de Roma, encomendou o quadro que atualmente é exposto na Galeria Nacional de Arte Antiga da cidade.

6. A Visita de Emaús à Ceia

Quadro A Ceia em Emaús.

A obra de arte intitulada “Ceia em Emaús”, pintada em 1606, retrata um episódio bíblico descrito no Evangelho de S. Lucas. Nesta passagem, que aconteceu logo após a ressurreição de Jesus Cristo, dois discípulos caminham para Emaús. A temática religiosa presente nesta obra retrata, de forma poética, este episódio.

Jesus Cristo é o foco desta obra-prima de Caravaggio, sentado à mesa a abençoar alimentos para quatro pessoas. A escuridão do fundo realça os pontos de luz que se destacam nos rostos presentes, dando destaque aos seus expressivos olhares.

A figura de Jesus é destacada como sendo humana, não uma entidade celestial. O quadro chama a atenção do observador para dentro da cena, parecendo convidá-lo a se aproximar e fazer parte dela.

7. A Fraude dos Trapaceiros

Quadro Os Trapaceiros.

Em 1594, pela primeira vez, Caravaggio abraçou a carreira como pintor independente. A obra desse momento agora icônico captura o ponto de viragem de sua carreira, destacando um novo momento em sua jornada artística.

Enquanto um dos rapazes jovem observa seu jogo, concentrado, o outro está trapaceando e segurando cartas atrás das costas. Esta cena é característica na vida boêmia das tavernas italianas, retratada na obra.

De pé, havia um homem mais velho, um companheiro de jogatina que acenava ao jogador. Ele, por sua vez, ostentava um punhal na cintura, um sinal ameaçador de perigo e violência.

8. A Vitória de Davi sobre Golias

Quadro Davi com a cabeça de Golias.

A obra de 1610 de Caravaggio, Davi com a cabeça de Golias, retrata a história bíblica de quando o pastor Davi subestimou por seu tamanho, enfrentou o gigante Golias em batalha.

Usando apenas um cajado e algumas pedras, Davi conseguiu derrotar o gigante. Este feito é contado como um conto de vitória do débil sobre o forte, mas também pode representar a vitória do bem sobre o mal. Davi decapitou o gigante com sua própria espada para finalizar o combate.

O pintor parece ter usado seu próprio semblante como modelo para representar Golias, sugerindo uma metáfora para a sua tendência à violência. É interessante notar que ele se inspirou em si mesmo.

9. A Flagelação de Jesus Cristo

Quadro Flagelação de Cristo.

A pintura de 1607, atualmente no Museu de Belas Artes de Ruão na França, retrata um dos episódios mais marcantes da Bíblia - a crucificação de Cristo. A tela, que é considerada um dos mais notáveis trabalhos de arte, mostra a figura de Cristo antes da sua execução.

O quadro mostra os elementos fundamentais: Jesus amarrado enquanto os carrascos o prendem, segurando o chicote que será usado para torturá-lo.

A tela está recheada de tensão e dramatismo, com o tenebrismo dando ênfase nas expressões humanas dos personagens retratados.

10. Garoto Carregando Cesta de Frutas

Quadro Rapaz com Cesto de Frutas.

A data de pintura do Rapaz com Cesto de Frutas é incerta, mas estima-se que tenha sido entre 1593 e os anos subseqüentes.

Mario Minniti foi retratado por Caravaggio no início da carreira do jovem artista da Sicília. Os dois eram companheiros de ofício.

O italiano impressiona com sua habilidade de retratar diversos elementos com grande precisão: a aparência do rapaz, as diversas frutas e folhas do cesto, bem como a textura de sua roupa.

Ainda antes de criar suas obras-primas, já era possível perceber a genialidade do pintor barroco na tela exposta na Galeria Borghese de Roma.

Biografia do Pintor Caravaggio

A Infância e Juventude Iniciais

No dia 29 de setembro de 1571, Michelangelo Merisi nasceu no Ducado de Milão. Infelizmente, ele teve uma infância trágica: quando tinha apenas seis anos, seu pai Fermo Merisi faleceu devido à peste bubônica, assim como grande parte de sua família.

Aos doze anos, Michelangelo já mostrava sinais de rebeldia e agressividade. Ao mesmo tempo, ele demonstrava amor pela arte, e foi trabalhar como aprendiz no ateliê de Simone Pertezano.

Aos 18 anos, o rapaz foi privado da presença de sua mãe e necessitou procurar um meio de se sustentar por meio da pintura.

Direcionando sua Carreira na Pintura

Antes de 1600, Caravaggio se mudou para Roma com a intenção de se tornar um pintor profissional. Apesar de viver em condições precárias, conseguiu trabalho em alguns ateliês, sendo destaque o de Giuseppe Cesari.

Desde a sua mocidade, o artista causava estranheza devido à qualidade, originalidade e estilo das suas obras. Com o intuito de subsistir por conta própria, ele passou a vender seus quadros nas ruas da Itália.

Caravaggio foi um grande sucesso ao pouco tempo de sua carreira artística, tendo inúmeros patronos que lhe encomendaram trabalhos. Destaque para o Cardeal Del Monte, que financiou a maioria das obras de natureza religiosa da obra do artista.

Violência e Comportamento Controverso

Embora tenha tido avanços importantes na carreira, o pintor vivia de forma instável, alternando períodos intensos de trabalho com longos momentos dedicados ao estilo de vida libertino, repleto de exageros.

Caravaggio ficou famoso não só por sua arte, mas também pelo seu comportamento turbulento. Ele teve muitos conflitos com a polícia, dívidas e brigas com desfecho violento. Em 1606, sua conduta fora dos padrões gerou uma tragédia: ele matou um jovem nobre, Ranuccio Tommasoni, após uma discussão por causa de um jogo de cartas.

Fugindo da cidade de Roma, Caravaggio trocou a localização e passou por Nápoles, Malta e Sicília, onde novamente encontrou polêmicas. Em 1609, ainda segundo algumas informações, sofreu uma tentativa de assassinato em Nápoles.

Ele conquistou notoriedade na sociedade italiana moderna, não só por conta de seus talentos profissionais, mas também por causa de sua personalidade controversa e carismática.

Investigação de Morte Suspeita

A carreira artística de Caravaggio, considerado um dos maiores pintores da História, durou apenas mais de dez anos. No dia 18 de julho de 1610, ele faleceu em Porto Ercole, e suas últimas horas ainda são um mistério.

Durante muito tempo, o corpo dele permaneceu desaparecido até que, em 2010, foi identificado por um grupo de cientistas italianos, usando testes de DNA.

Depois de uma profunda investigação, a equipe de cientistas descobriu a causa da morte do artista barroco, ocorrida oito anos antes. Investigando mais a fundo, descobriram que, pouco antes de falecer, ele sofrera um ferimento grave com uma espada em uma briga.

A infeção letal que resultou na morte de Caavaggio provocou uma série de cortes.

Caravaggio: A Alma e o Sangue no Cenário Cinematográfico

Caravaggio - A alma e o sangue (2018), um filme documental italiano dirigido por Jesus Garces Lambert, é apontado como o longa-metragem mais visto na Itália sobre arte. O filme descreve a trajetória do artista.

Assista ao trailer, legendado, abaixo:

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Carolina Marcello
Escrito por Carolina Marcello

Formou-se em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e possui mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes pela mesma instituição. Durante os estudos universitários, foi co-fundadora do Grupo de Estudos Lusófonos da faculdade e uma das editoras da revista da mesma, que se dedica às literaturas de língua portuguesa.