Explorando as Vanguardas Europeias


Escrito por Sónia Cunha

Ao mencionarmos as vanguardas europeias, estamos nos referindo a vários movimentos artísticos que iniciaram no início do século XX em diferentes países do Velho Continente.

Diversas linguagens, com destaque para a pintura, foram apoiadas como parte de um movimento que buscava renovar a cultura.

O expressionismo, o fauvismo, o cubismo, o futurismo, o dadaísmo e o surrealismo são vanguardas responsáveis por marcar um momento cultural e influenciar a arte que viria a seguir, inclusive no Brasil.

Análise das Vanguardas Européias: História, Objetivos e Traços Comuns

Nos primórdios do século XX, as novas tendências artísticas refletiam o espírito da época, caracterizado por profundas transformações ao redor.

Durante o contexto histórico, a Europa foi abalada por transformações industriais, tecnológicas e científicas, enquanto que movimentos autoritários, como o fascismo na Itália e o nazismo na Alemanha, vieram à tona, acompanhados pela Revolução Russa e a Primeira Guerra Mundial.

Durante essa fase, a estrutura do capitalismo se desenvolveu rapidamente, aumentando ainda mais a diferença entre a burguesia e o proletariado. Dessa forma, motivou a formação de movimentos sociais que buscavam trabalhar pela melhoria das condições de vida dos trabalhadores, como, por exemplo, as organizações sindicais.

Os artistas estão imersos em um cenário de contrapontos e antíteses. Assim, a arte que eles produzem é afetada por todas as ansiedades e questões do período.

Utilizando recursos estéticos inovadores, eles conseguiram expressar ideias novas e refletir sobre a complexidade da sociedade atual.

Propostas pelas vanguardas, a fragmentação das formas, o uso arbitrário de cores, o exagero e o absurdo foram meios de refletir o novo mundo que estava surgindo.

Esses artistas trouxeram uma atitude rebelde ao quebrar as regras da arte tradicional e trazer uma visão radicalmente nova sobre a arte e sobre o ser humano.

Vanguardas Artísticas da Europa

Explorando o Expressionismo: A Representação da Angústia

Em 1905, em Dresden, Alemanha, o movimento expressionista foi estabelecido com a criação do coletivo intitulado Die Brücke. Ele foi idealizado por três artistas: Ernst Kirchner (1880-1938), Erich Heckel (1883-1970) e Karl Schmidt-Rottluff (1884-1976).

expressionismo

O objetivo principal do grupo expressionista era amplificar sentimentos intensos, como o medo, a angústia, a ansiedade, a solidão e o desamparo. Por isso, as obras do movimento trazem um tom pessimista, às vezes agressivo e exagerado, através de cores contrastantes e de pinceladas vigorosas.

O expressionismo surge como contraponto ao estilo impressionista, que é positivo e "luminoso". Ele surgiu antes.

Edvard Munch e Vincent Van Gogh são reconhecidos como artistas fundamentais para o surgimento da corrente artística. Munch é visto como o precursor desta vertente.

A Arbitrariedade Cromática no Fauvismo

André Derain (1880-1954), Maurice de Vlaminck (1876-1958), Othon Friesz (1879-1949) e Henri Matisse (1869-1954) são os representantes do movimento conhecido como Fauvismo, sendo o último o mais célebre do grupo.

Nessa técnica de pintura, os artistas procuravam liberdade na representação de formas e em seu uso de cores. As imagens apresentadas eram figuras simplificadas, não havendo necessidade de se seguir a realidade.

matisse fauvismo

O uso da cor era direto, normalmente com cores puras e sem misturas de pigmentos e degradês. Estas cores, intensas e vivas, eram aplicadas de forma puramente aleatória.

O nome "fauvismo" foi criado pelo crítico de arte Louis Vauxcelles, que, em 1905, visitou o "Salão de Outono", em Paris. Ao ver as obras dos artistas presentes, ele os descreveu como "selvagens" (em francês, "les fauves"), num sentido pejorativo.

Matisse foi um dos mais importantes fauvistas, com seu trabalho influenciando a moda e o design mundiais.

Geometrização e Fragmentação das Figuras no Cubismo

O Cubismo foi considerada a vanguarda artística mais significativa do século XX. Foi inspirada na obra de Paul Cézzane (1838-1906), que se aventurou a explorar formas cilíndricas, esféricas e cônicas.

Os expoentes do movimento, Pablo Picasso (1881-1973) e Georges Braque (1882-1963), tinham como objetivo desconstruir as figuras, abri-las em um único plano, sem compromisso com a representação real.

vanguardas europeias cubismo

A intenção de geometrizar e fragmentar as figuras para exibir vários ângulos dentro de um mesmo plano deu origem à representação tridimensional tão desejada pelos artistas do período Renascentista.

O Cubismo teve desenvolvimento em duas vertentes: a analítica e a sintética. Entre 1908 e 1911, Picasso e Braque adotaram uma paleta de cores sombrias, como preto, cinza, marrom e ocre, para destacar as formas. Nesta linha, a desagregação das figuras foi levada ao extremo, tornando-as quase indiscerníveis.

A partir da criação do cubismo sintético, uma arte mais compreensível e figurativa foi restabelecida. Esta abordagem incluiu ainda a inclusão de objetos reais como madeiras, vidro e letras e números. Devido a isso, o estilo também é conhecido como Colagem.

O Futurismo: Aceleração e Violência como Objetivos

O movimento futurista se distinguiu das outras vanguardas e defendeu uma filosofia baseada na agressividade, tecnologia avançada, indústria e ação rápida.

O Manifesto Futurista foi criado por Filippo Tommaso Marinetti (1876-1944) como uma diretriz para a literatura.

vanguardas europeias futurismo

Após algum tempo, as artes visuais também faziam parte do movimento futurista. Artistas influentes da época, como Umberto Boccioni, Carlos Carrà, Luigi Russolo e Giacomo Balla, contribuíram para essa integração.

Esses artistas tentaram retratar a dinâmica do mundo moderno, abraçando princípios fascistas e exaltando a violência. Alguns membros da vertente, inclusive, se tornaram membros do Partido Fascista Italiano posteriormente.

O Dadaísmo como uma Forma de "Anti-Arte

Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), intelectuais e artistas que se opunham ao horror do conflito, e não aceitavam a atuação dos seus países no mesmo, passaram a procurar o exílio em Zurique, na Suíça.

dadaísmo a fonte

No contexto atual, carregando profunda descrença do mundo em que viviam, diversos indivíduos se uniram para formar um movimento com a intenção de expor a confusão e a incongruência de sua época.

Tristan Tzara (1896-1963), poeta responsável pelo surgimento da corrente literária Dadá, optou pela palavra ao acaso, quando abriu um dicionário e deixou o dedo pousado sobre "cavalinho", em francês.

O Dadaísmo nasceu como uma maneira de produzir arte a partir de um pensamento desprendido e natural. Acreditava-se que o acaso poderia desempenhar um papel importante no processo de criação.

Esses artistas tinham como objetivo principal criticar e satirizar a norma vigente que havia conduzido a Europa para o caminho da guerra e destruição. Esta corrente artística foi além das artes e propôs uma mudança cultural e ideológica, dando-se a ela o nome de "anti-arte".

Marcel Duchamp (1887-1868) se destacou de maneira incomparável nas artes visuais. Seu trabalho em "Ready-mades" gerou alvoroço na época ao apresentar objetos prontos como peças de arte. Sua obra mais famosa, Fonte (1917), é um mictório assinado com um pseudônimo e exibido em um salão de arte.

Explorando o Universo do Surrealismo Onírico

O surrealismo surgiu como uma extensão da corrente dadaísta, buscando também se opor ao materialismo e racionalismo vigentes na época.

surrealismo vanguardas europeias

André Breton, em 1924, lançou um manifesto para defender o uso do automatismo psíquico como ferramenta de criação. Esta vertente artística incentivava a produção de obras calcadas no mundo dos sonhos, metáforas e absurdo, dando a elas um carácter onírico.

Apesar de Salvador Dalí ser o artista mais proeminente nessa vertente, Marc Chagall (1887-1985), Joan Miró (1893-1983) e Max Ernst (1891-1976) também tiveram grande influência.

Saiba mais

A Literatura e as Vanguardas Europeias

As artes visuais foram o foco principal das vanguardas europeias, mas algumas também impactaram a literatura. Manifestos literários até desencadearam o surgimento de algumas correntes.

O Futurismo empregava substantivos aleatórios, verbos no infinitivo e onomatopeias, sem usar pontuação.

O dadaísmo encontrou expressão na linguagem escrita, tendo o poeta Tristan Tzara ensinado que para criar um texto dadá era necessário "deixar o pensamento fluir".

A obra de André Breton é o principal exemplo da Literatura Surrealista, que, tal como ocorre com a pintura, revela o mundo do inconsciente.

Influência das Vanguardas Europeias na Arte Brasileira

Desde os anos 20, as vanguardas europeias influenciam consideravelmente o panorama das artes e da cultura no Brasil. No entanto, muitos anos antes disso, o artista Lasar Segall (1891-1957) já apresentava obras com traços expressionistas.

lasar segall bananal

Em 1913, o pintor nascido na Lituânia teve oportunidade de trazer o modernismo para o Brasil ao realizar aqui uma exposição. Ele vivia e estudava na Alemanha antes da viagem. Esse evento foi marcante para a história da arte nacional.

Em 1924, Segall mudou-se para o Brasil e começou a criar telas com temas relacionados àquele país. Ele foi a primeira pessoa a trazer a visão moderna e crítica das vanguardas. Apesar de ser um olhar externo, não foi rejeitado de forma muito intensa.

Anita Malfatti (1896-1964), uma pintora brasileira, teve um caminho diferente. Ela estudou arte na Europa e foi influenciada pelas vanguardas. Em 1914 e 1917, ela realizou exposições, mas a última recebeu uma crítica dura de Monteiro Lobato.

Tropical , 1917 , Anita Malfatti

Após a reação contrária a alguns artistas, outros intelectuais passaram a pesquisar novas propostas artísticas externas.

Em 1922, criou-se a Semana de Arte Moderna, um evento para exibir obras inspiradas em correntes estrangeiras, porém com foco em temas brasileiros. As artes visuais, a literatura e até a música eram abarcadas pelas produções.

Entre aqueles que se destacaram durante este e demais períodos, estão: Oswald de Andrade, Mario de Andrade, Di Cavalcante, Tarsila do Amaral, Vicente do Rego Monteiro, Menotti del Picchia e muitos outros.

Sónia Cunha
Escrito por Sónia Cunha

É licenciada em História, variante História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (2003) e em Conservação e Restauro pelo Instituto Politécnico de Tomar (2006). Ao longo da carreira profissional, exerceu vários cargos em diferentes áreas, como técnico superior de Conservação e Restauro, assistente a tempo parcial na UPT e professora de História do 3º ciclo e ensino secundário. A arte e as letras sempre foram a sua grande paixão.