Qual é o Significado de Uma Fábula?


Escrito por Carolina Marcello

O gênero literário conhecido como fábula possui uma linguagem simples, está estruturado de maneira curta e suas histórias são repletas de animais que exercem o papel de personagens principais. Por meio destas aventuras, é possível encontrar uma mensagem ou moral.

Muito presentes no universo da literatura infantil, as fábulas possuem função didática, o que as torna extremamente relevantes.

Esopo e La Fontaine são considerados os autores mais influentes de fábulas. No Brasil, Monteiro Lobato é a figura mais destacada desse gênero.

As fábulas são textos curtos, objetivos, leves e, frequentemente, divertidos. O seu propósito é entreter o leitor, mas também transmitir uma mensagem, assumindo assim uma função educativa.

Ao ler uma fábula, o leitor é estimulado a refletir sobre comportamentos humanos e sociais. Os animais presentes nela são usados para simbolizar características e defeitos típicos da espécie humana, destacando-se de forma lúdica e alegórica.

As Fábulas: Uma Análise das suas Características

  • Os animais são os protagonistas principais das histórias, com uma linguagem simples e entendível. Estas contam sempre com uma moral, que pode ser implícita ou explícita no final. Estas histórias podem ser escritas tanto em verso quanto em prosa.

Animais: Personagens Principais

Os animais são usados ​​na fábula como símbolos para representar atitudes e características que comumente vemos em seres humanos.

Os animais são extremamente úteis para os autores de fábulas, pois permitem uma economia no texto. Estão intrinsecamente ligados ao imaginário coletivo, sendo que cada espécie é associada a um simbolismo específico (como é o caso da cobra, que costuma ser associada à traição).

Os escritores podem diminuir significativamente a descrição quando usam animais como personagens. Um exemplo disso é a fábula O Leão, a Vaca, a Cabra e a Ovelha, onde o Leão é o símbolo de poder e domínio.

Um Leão, uma Vaca, uma Cabra e uma Ovelha combinaram caçar juntos e repartirem o ganho. Acharam então um Veado, e depois de terem andado e trabalhado muito, conseguiram matá-lo.

Chegaram todos cansados e, cobiçosos da presa, dividiram-na em quatro partes igual. O Leão tomou uma, e disse:

- Esta parte é minha conforme o combinado.

A seguir pegou noutra e acrescentou:

- Esta pertence-me por ser o mais valente de todos.

Pegou numa terceira e disse:

- Esta também é para mim pois sou o rei de todos os animais, e quem na quarta mexer, considere-se por mim desafiado.

Assim levou todas as partes, e os companheiros acharam-se enganados e afrontados; mas sujeitaram-se por não terem tanta força como o Leão.

Moral da história: Parceria e amizade quer-se entre iguais, e o casamento também, porque quem trava amizade com maior, torna-se seu escravo e tem de lhe obedecer ou perder pelo menos a amizade, na qual o trabalho é sempre do mais fraco, e a honra e proveito do mais poderoso.

A Simplicidade das Fábulas

As fábulas possuem um estilo de linguagem simples, objetiva e fácil de entender. Usam um texto cotidiano e são bastante acessíveis.

As fábulas apresentam-se de modo curto e objetivo, podendo ser facilmente compreendidas por qualquer leitor, independentemente da faixa etária.

Procurando comida, um Cão encontrou a máscara de um homem muito bem-feita de papelão com cores vivas. Chegou-se então a ela e começou a cheirá-la para ver se era um homem que dormia. Depois empurrou-a com o focinho e viu que rebolava, e como não quisesse ficar quieta nem tomar assento, disse o Cão:

- É verdade que a cabeça é linda, mas não tem miolo.

Moral da história: A máscara representa o homem ou mulher que só se preocupa com o aspecto exterior e não procura cultivar a alma, que é muito mais preciosa. Notam-se nesta Fábula as pessoas que têm todo o cuidado com enfeites e cores supérfluas, bonitas por fora, mas cuja cabeça falta miolo.

A Moral das Fábulas

A moral de uma fábula pode estar presente de forma explícita ou implícita. Se for explícita, ela é revelada ao final da narrativa, após a história já ter sido contada.

Numerosos escritores, contudo, preferem não explicitar a moral, deixando para que o leitor chegue às suas próprias conclusões a partir da história.

Todos os autores têm estilos diferentes, uns deixando a moral mais evidente e outros menos, mas todos partilham o mesmo objetivo de que o texto possa servir como um ensinamento.

Andava um Galo a esgravatar no chão, para achar migalhas ou bichos para comer, quando encontrou uma pérola. Exclamou:

- Ah, se te achasse um joalheiro! A mim porém de que vales? Antes uma migalha ou alguns grãos de cevada.

Dito isto, foi-se embora em busca de alimento.

Moral da história: Os ignorantes fazem o que fez este Galo; buscam coisas sem valor, cevada e migalhinhas.

Escrevendo Fábulas em Verso e Prosa

A fábula pode se apresentar tanto em prosa quanto em poesia, podendo ter um formato em versos.

A partir do século XVII, as fábulas passaram a ser escritas tanto em versos quanto em prosa, de forma que o texto fosse corrido sem rimas. Até então, eram exclusivamente compostas em versos.

Atualmente, é possível encontrar fábulas em duas formas: algumas estão estruturadas como poemas e outras são escritas em parágrafos.

de Machado de Assis, conta a história de duas cadelas que lutam por um osso. Nesta fábula de Machado de Assis, dois cachorros se disputam por um osso. A história é contada por duas Cadelas que lutam por essa preciosidade.

Estava uma cadela com as dores de parto, e não tendo lugar onde pudesse parir, suplicou a outra que lhe cedesse a sua cama, que era num palheiro, dizendo que assim que parisse se iria embora com os filhos.

Tendo pena dela, a outra cadela cedeu-lhe o lugar, mas depois do parto pediu-lhe que se fosse embora. Porém a hóspede mostrou-lhe os dentes e não a quis deixar entrar, dizendo que estava de posse do lugar, e que não a tirariam dali a não ser por guerra ou às dentadas.

Moral da história: A fábula mostra ser verdadeiro o ditado que diz: “Queres inimigo? Dá o teu e pede-o de volta.”. Porque, sem dúvida, há muitos homens como esta cadela parida, que pedem humildemente, mostrando a sua necessidade, e depois de terem o alheio em seu poder, arreganham os dentes a quem lho pede, e se são poderosos ficam com ele.

, é uma narrativa muito famosa. A famosa narrativa de "O Corvo e a Raposa", escrita em verso, é conhecida por muitos.

O corvo e a raposa

Mestre corvo, numa árvore pousado,

No bico segurava um belo queijo.

Mestra raposa, atraída pelo cheiro,

Assim lhe diz, em tom entusiasmado:

Olá, bom dia tenha o Senhor Corvo,

Tão lindo é, uma beleza alada!

Fora de brincadeiras, se o seu canto

Tiver das suas penas o encanto

é de certeza o rei da Bicharada!

Ouvindo tais palavras, que feliz

O corvo fica; e a voz quer mostrar:

Abre o bico e lá vai o queijo pelo ar!

A raposa o agarra e diz: _ Senhor,

Aprenda que o vaidoso se rebaixa

Face a quem o resolve bajular.

Esta lição vale um queijo não acha?

O corvo, envergonhado, vendo o queijo fugir,

Jurou, tarde demais, noutra igual não cair.

Origem das Fábulas

Desde 2000 a.C., as fábulas têm suas raízes na tradição oral popular. Elas foram difundidas amplamente graças aos escritos dos autores Esopo e La Fontaine.

Esopo, que viveu no século VI a.C., é considerado o pai da fábula moderna. Seus textos, ainda que reescritos ou reinterpretados por outros autores, continuam sendo amplamente conhecidos e usados até os dias de hoje. Ele foi o maior fabulista da Grécia antiga, tendo deixado uma importante herança para o gênero.

Jean de La Fontaine foi uma importante figura na divulgação das fábulas. Ele começou a escrever as suas primeiras obras para o filho de Luís XIV e, com isso, conseguiu uma pensão anual. Seu primeiro volume de fábulas, intitulado Fábulas escolhidas postas em versos, foi publicado em 1668. A partir de então La Fontaine passou a difundir as narrativas que possuem os animais como personagens principais.

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Carolina Marcello
Escrito por Carolina Marcello

Formou-se em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e possui mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes pela mesma instituição. Durante os estudos universitários, foi co-fundadora do Grupo de Estudos Lusófonos da faculdade e uma das editoras da revista da mesma, que se dedica às literaturas de língua portuguesa.