11 Livros Brasileiros Imperdíveis que Você Precisa Conhecer


Escrito por Carolina Marcello

Com um oceano de obras-primas, a literatura brasileira nos traz inúmeras possibilidades. Por isso, selecionamos as 11 melhores leituras que você não pode deixar passar.

A seguir, encontra-se uma lista de grandes nomes da literatura brasileira, desde o século XIX até os dias atuais, dispostos em ordem cronológica.

1. Aluísio Azevedo e seu Romance 'O Cortiço' (1890)

O cortiço

Aluísio Azevedo ambienta seu romance no cortiço São Romão, situado no Rio de Janeiro no século XIX. O proprietário do local é João Romão, um português que decidiu mudar-se para o Brasil com o objetivo de melhorar seu destino. Graças a isso, ele conseguiu montar seu próprio estabelecimento.

O proprietário começou com apenas três casas, mas a partir daí, foi adquirindo diversas outras propriedades ao lado. Assim, pouco a pouco ele foi construindo mais e mais habitações.

Nada lhes escapava, nem mesmo as escadas dos pedreiros, os cavalos de pau, o banco ou a ferramenta dos marceneiros. E o fato é que aquelas três casinhas, tão engenhosamente construídas, foram o ponto de partida do grande cortiço de São Romão. Hoje quatro braças de terra, amanhã seis, depois mais outras, ia o vendeiro conquistando todo o terreno que se estendia pelos fundos da sua bodega; e, à proporção que o conquistava, reproduziam-se os quartos e o número de moradores.

João Romão e Bertoleza, fugitivos, uniram forças para expandir seus negócios, enterrando a hatchet com o vizinho Miranda. Para selar a aliança, Romão propôs o casamento de Zulmira, filha de seu sócio, ao seu lado.

No romance de Aluísio Azevedo, "O Cortiço", João Romão, sem saber o que fazer com a companheira Bertoleza, considera a possibilidade de denunciá-la como escrava fugida. O livro traz em detalhes o cotidiano doloroso daqueles que vivem na miséria.

2. O Romance de Dom Casmurro de Machado de Assis (1899)

Dom Casmurro

Até o momento, a questão sem resposta de Dom Casmurro, de Machado de Assis, continua a intrigar os leitores: Capitu traiu ou não o narrador Bento Santiago? O romance acompanha a história de um triângulo amoroso formado por Bento, Capitu e Escobar, melhor amigo deste.

Bentinho, ciumento ao extremo, vê indícios de traição por parte de sua esposa em relação ao seu amigo de infância, mesmo após a morte deste. No velório, a desconfiança se intensifica ao interpretar o olhar de Capitu para o corpo do amigo como um olhar de paixão.

Enfim, chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha quis despedirse do marido, e o desespero daquele lance consternou a todos. Muitos homens choravam também, as mulheres todas. Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si mesma. Consolava a outra, queria arrancá-la dali. A confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas...

A suspeita de traição se intensifica quando Ezequiel é gerado, pois o narrador percebe que a criança possui traços semelhantes aos do melhor amigo e não ao dele.

3. Fim Trágico de Policarpo Quaresma - Uma Obra de Lima Barreto (1915)

Triste fim de Policarpo Quaresma

O romance de Lima Barreto, ambientado no Rio de Janeiro no final do século XIX, é protagonizado por Policarpo Quaresma. Considerada uma obra pré-modernista, a história destaca o patriotismo do personagem, que representa um elogio às coisas nacionais.

Ocupando o cargo de subsecretário do Arsenal de Guerra, Policarpo adota posturas cada vez mais radicais para demonstrar seu amor pelo Brasil: passa a se alimentar exclusivamente de alimentos típicos do país, aprende as modinhas tradicionais no violão e opta por se comunicar em tupi-guarani.

Havia um ano a esta parte que se dedicava ao tupi-guarani. Todas as manhãs, antes que a "Aurora, com seus dedos rosados abrisse caminho ao louro Febo", ele se atracava até ao almoço com o Montoya, Arte y diccionario de la lengua guaraní ó más bien tupí, e estudava o jargão caboclo com afinco e paixão. Na repartição, os pequenos empregados, amanuenses e escreventes, tendo notícia desse seu estudo do idioma tupiniquim, deram não se sabe por que em chamá-lo — Ubirajara.

Policarpo decide mudar-se para o campo, juntamente com sua irmã, a fim de escapar dos problemas causados pelo extremismo. Porém, as tensões entre os moradores rurais apenas aumentam, trazendo à tona novas questões.

4. Graciliano Ramos e o Romance "São Bernardo

São Bernardo

Paulo Honório é o protagonista do romance modernista de Graciliano Ramos, através do qual somos apresentados à difícil realidade do Nordeste brasileiro. Criado sem pais e sem afeto, o jovem se envolve em uma briga pelo amor de uma garota e termina na prisão onde passa três anos, emergindo ainda mais sombrio e agressivo.

Após traçar um plano para adquirir as terras de São Bernardo, que Paulo Honório havia trabalhado anteriormente, o seu desejo se tornou realidade e ele se tornou um proprietário de latifúndio.

Mendonça, o vizinho com quem havia problemas de relacionamento, foi morto por João com o intuito de ampliar ainda mais o território da fazenda.

Domingo à tarde, de volta da eleição, Mendonça recebeu um tiro na costela mindinha e bateu as botas ali mesmo na estrada, perto de BomSucesso. No lugar há hoje uma cruz com um braço de menos. Na hora do crime eu estava na cidade, conversando com o vigário a respeito da igreja que pretendia levantar em São Bernardo. Para o futuro, se os negócios corressem bem.

- Que horror! exclamou Padre Silvestre quando chegou a notícia. Ele tinha inimigos?

- Se tinha! Ora se tinha! Inimigo como carrapato. Vamos ao resto, Padre Silvestre. Quanto custa um sino?

Após um casamento infeliz com Madalena, que acabou com o suicídio dela, Paulo Honório ficou solitário e decidiu escrever um livro para contar a história de sua vida.

5. João Cabral de Melo Neto: 'Morte e Vida Severina' (1944)”

Morte e vida severina

Entre as obras da lista, João Cabral de Melo Neto é o primeiro autor a escrever exclusivamente em versos. Esta obra regionalista e modernista foi muito elogiada pela crítica, contando a história de um retirante nordestino chamado Severino.

O meu nome é Severino,

como não tenho outro de pia.

Como há muitos Severinos,

que é santo de romaria,

deram então de me chamar

Severino de Maria;

como há muitos Severinos

com mães chamadas Maria,

fiquei sendo o da Maria

do finado Zacarias.

Depois de sofrer com fome, solidão, miséria e preconceito, Severino resolveu partir em uma jornada rumo à vida nova para escapar da seca. Contudo, foi o nascimento de uma criança o que o desviou da sua severa decisão de suicídio, mostrando-lhe que ainda havia motivos para viver. Os versos dramáticos contam essa jornada de Severino.

A poesia de João Cabral é uma poderosa crítica social que permaneceu relevante ao longo dos anos.

6. O Grande Sertão de Guimarães Rosa: Veredas (1956)

Capa da primeira edição de Grande sertão: Veredas

Riobaldo, um jagunço de um bando do interior do nordeste, é o narrador da história. Ele desenvolve uma profunda paixão por Diadorim, um dos membros do grupo, mas sofre em silêncio pois acredita estar encantado por um homem. O bando luta pelo sertão, e Riobaldo acompanha-o com seus sentimentos vivos e intensos.

O nome de Diadorim, que eu tinha falado, permaneceu em mim. Me abracei com ele. Mel se sente é todo lambente – “Diadorim, meu amor…” Como era que eu podia dizer aquilo? E como é que o amor desponta?

O jagunço reprimido pelo amor que sente por aquele a quem acredita ser um homem reflete, ao longo das seiscentas páginas do livro, sobre a vida, o encantamento, a solidão e a guerra.

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7. Clarice Lispector e a Hora da Estrela (1977)

A hora da estrela.

A obra-prima de Clarice Lispector, A Hora da Estrela, conta a história de Macabéa, uma alagoana de 19 anos que mora sozinha no Rio de Janeiro. Embora não seja bonita e não tenha competências especiais, Macabéa vive de maneira despretensiosa, passando quase despercebida. O narrador Rodrigo S.M. fornece detalhes sobre a triste existência desta jovem.

Ela trabalhava como datilógrafa no Rio de Janeiro. Sua rotina se limitava ao quarto onde morava, ao almoço de cachorro-quente com Coca-Cola e a horas ouvindo rádio. Até que, em um belo dia, ela conheceu outro imigrante chamado Olímpico. Os dois se apaixonaram e começaram a namorar, mas o rapaz metalúrgico a tratava muito mal. Por fim, ele a trocou por uma de suas colegas, chamada Glória.

Macabéa, desesperada, decide procurar uma cartomante. A senhora lhe revela que o destino da jovem poderia mudar ao conhecer um estrangeiro rico. Cheia de esperança, Macabéa sai da cartomante para atravessar a rua e, inesperadamente, é atropelada por uma Mercedes-Benz. Infelizmente, ninguém para ajudá-la e a moça perde a vida na hora, na calçada.

Então ao dar o passo de descida da calçada para atravessar a rua, o Destino (explosão) sussurrou veloz e guloso: é agora é já, chegou a minha vez!

E enorme como um transatlântico o Mercedes amarelo pegou-a — e neste mesmo instante em algum único lugar do mundo um cavalo como resposta empinou-se em gargalhada de relincho.

8. A História de Lori Lamby e Seu Caderno Rosa

O caderno rosa de Lori Lamby.

O polêmico romance de Hilda Hilst, publicado no começo da década de noventa, "Caderno Rosa de Lori Lamby" é a obra mais controvertida da lista. A trama gira em torno de uma criança de 8 anos que se prostitui e sente prazer com suas ações.

Ao ler o diário de Lori Lamby, o leitor tem acesso a detalhes sombrios de seus encontros com os clientes, bem como às negociações que a levaram a se prostituir. É dito que seus pais a agenciaram para tal atividade.

Eu tenho oito anos. Eu vou contar tudo do jeito que eu sei por-que mamãe e papai me falaram para eu contar do jeito que eu sei. E depois eu falo do começo da história. Agora eu quero falar do moço que veio aqui e que mami me disse agora que não é tão moço, e então eu me deitei na minha caminha que é muito bonita, toda cor de rosa. E mami só pôde comprar essa caminha depois que eu comecei a fazer isso que eu vou contar.

9. O Romance de Paulo Lins 'Cidade de Deus' (1997)

Paulo Lins lançou seu primeiro romance, Cidade de Deus, que se passa na favela homônima, um dos maiores conjuntos habitacionais do Rio de Janeiro. A história contada neste livro apresenta a realidade vivida por esses moradores.

Ao longo de toda a história, a violência é uma presença assustadora, com os moradores no meio de uma guerra entre facções criminosas e a polícia.

Em 2002, o cineasta Fernando Meirelles adaptou o romance para o cinema e obteve sucesso tanto da crítica quanto do público.

10. Numerosos Cavalos, por Luiz Ruffato (2001)

Eles eram muitos cavalos.

Livro de Luiz Ruffato, ambientado em São Paulo no dia 9 de maio de 2000, traça um retrato das classes sociais da megalópole através de micro relatos.

Há sessenta e nove maneiras únicas de contar a mesma história: sessenta e nove perspectivas diferentes do mesmo dia e do mesmo lugar.

Ajeitando no nariz os óculos de massa preta, a haste esquerda colada com esparadrapo, as lentes de vidro arranhadas, a mulher penetra com vagar na pequena cozinha, dirige-se à pia, destorce com dificuldade a torneira atipoiada com elástico e barbante entrelaçados e lava um copo-de-requeijão, Frajola persegue o Piu-Piu no decalque. O marido, que sentado à mesa levava à boca uma xícara de café com a mão direita, enquanto a esquerda segurava aberto um livro, ligeiramente inclinado para proporcionar foco à vista astigmatizada, assusta-se, eleva os olhos, Aconteceu alguma coisa?

11. A Casa Chave de Tatiana Salem Levy (2007)

A chave de casa.

A protagonista do primeiro livro de Tatiana Salem Levy recebe de seu avô uma chave para a antiga casa de sua família na cidade de Esmirna, na Turquia. Esta é a trama que leva a personagem a deixar o Rio de Janeiro para descobrir o passado de seus ancestrais.

O romance apresenta um forte componente autobiográfico, acompanhando a jornada da protagonista, tanto física quanto emocionalmente, em busca das suas origens e da sua árvore genealógica.

A essa altura já deveriam por certo ter mudado, se não a porta, certamente a fechadura. [...] Por que essa chave, essa missão descabida?

Carolina Marcello
Escrito por Carolina Marcello

Formou-se em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e possui mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes pela mesma instituição. Durante os estudos universitários, foi co-fundadora do Grupo de Estudos Lusófonos da faculdade e uma das editoras da revista da mesma, que se dedica às literaturas de língua portuguesa.