Explicando o Filme Mother!


Escrito por Rebeca Fuks

Dirigido por Darren Aronofsky, Mãe! (Mother!, no original) foi lançado em setembro de 2017. Trata-se de um suspense e terror psicológico.

A história gira em torno de um poeta e sua companheira, que vivem em uma casa arruinada pelo fogo. O silêncio tranquilo é interrompido inesperadamente com a chegada de um visitante inoportuno.

Aviso: a partir daqui, poderão conter spoilers!

Análise e Compreensão do Filme

Ao exibir o filme Mãe!, o público demonstrou reações diversificadas: enquanto alguns se sentiram intrigados com o enigma proposto, outros não se mostraram satisfeitos, sendo bastante críticos.

O filme apresenta um ritmo acelerado e metáforas complexas, o que levanta várias questões. Isso nos deixa com muitas dúvidas sobre o que vimos.

Apesar de Aronofsky oferecer muitas pistas que nos ajudam a prosseguir na história, não são todas facilmente compreendíveis. A complexidade aumenta quando entendemos que a realidade se mistura com alucinação e sonho.

Deus é o Poeta e o Paraíso é a Casa

O princípio desta história envolve uma casa em chamas. O que parece um milagre ocorre quando um homem coloca um cristal sobre uma estante e tudo volta ao normal. Esta ação sugere que existe alguma força sobrenatural por trás de tudo.

O Poeta, dono da casa, tenta passar os dias escrevendo, enquanto sua esposa se dedica à reforma de todos os detalhes do local.

Ele é distante como marido, mas procura constantemente a inspiração para criar. É aí que reside o seu objetivo.

Poeta observa tudo de cima

Com a chegada de Adão, o silêncio e a tranquilidade do Paraíso foram interrompidos. Logo em seguida, Eva e seus filhos chegaram, trazendo alegria e alegrando o lar. Assim, o cenário de tranquilidade ao qual o Paraíso estava acostumado foi substituído por um novo ambiente, marcado por alegria e diversão.

Eva e os seus filhos Abel e Caim chegaram em seguida. Embora o casal tivesse sido banido do Paraíso, sua casa foi sendo gradualmente preenchida por pessoas que se declaravam admiradoras do Poeta. Ele, por sua vez, era visto como uma representação simbólica de Deus, que se preocupa com a criação e o amor dos seres humanos.

Casal e os seus seguidores

Na manhã seguinte à concepção, a protagonista acorda consciente de que está grávida, sendo que o bebê que carrega é Jesus. Ela assume o papel de Virgem Maria e faz de tudo para salvar o seu filho, mesmo diante das inúmeras ameaças que se apresentam.

Em vista de cenas de degradação cada vez mais aterradoras que representam a queda da humanidade, a casa está sendo saqueada e a mulher tem que se ocultar para dar à luz.

Mesmo depois de tudo que ela havia feito, ela ainda tinha de presenciar o sacrifício do seu filho para salvar os humanos de seus pecados.

Incêndio no final do filme

Enfurecida, ela desceu até a garagem e causou uma explosão que destruiu a casa inteira. No entanto, o Poeta permaneceu incólume às chamas. Carregando sua esposa, que estava em estado crítico, nos braços, ele disse que iria levá-la até o início.

Ao arrancar o coração de uma mulher, ele encontrou um cristal. Declarando necessitar "tentar de novo", o cristal foi devolvido à sua posição original, restaurando tudo o que havia sido destruído. Este ato simboliza claramente o ciclo de criação e destruição da humanidade que este Deus estava preso.

Impactos da Exploração Humana na Natureza

O filme não só traz uma leitura religiosa, mas também uma mensagem fundamental sobre a ecologia e preservação do nosso meio ambiente.

A protagonista possui uma relação muito forte com a casa. Isso é notado quando ela toca as paredes, quase como se pudesse sentir a pulsação do lugar. É como se a casa e a protagonista estivessem ligadas de alguma forma.

Filme Mãe: parede

A ideia de uma casa pulsando como um símbolo para o nosso planeta é abordada nestas passagens. Inicialmente, ela é vivida como um lugar tranquilo e harmônico, mas a partir da chegada de novas pessoas, é possível perceber a invasão de diversos cantos.

A esposa do Poeta vai ficando cada vez mais desesperada, tentando impedir os atos de vandalismo e gritando: "Eles estão destruindo a casa!". O lugar é saqueado completamente e a população se transforma num curioso culto religioso.

Como se numa procissão de horror, a protagonista começa a enfrentar repórteres e fotógrafos, atos sinistros, conflitos. Logo adiante, a situação se torna ainda mais trágica: ações policiais, tiroteios, execuções, tráfico de pessoas.

Mancha de sangue no chão da casa

Com um ar assustador, o telespectador é exposto ao que há de mais horrível na atualidade. Após a primeira fatalidade no lugar, uma mancha de sangue teimou em manter-se, e ecoou os acontecimentos.

Os atos de algumas pessoas têm provocado um aumento na dor, como se o lugar estivesse sofrendo. Que forma cruel os seres humanos temos adotado para com o nosso lar! Uma maneira de expor essa crueldade é imaginar a terra como se estivesse sangrando.

“No meu imaginário, a destruição está relacionada à crise climática e ao fogo. Toda história é uma alegoria para o que estamos enfrentando agora”. Darren Aronofsky confirmou a teoria de que a destruição retratada no seu imaginário está relacionada à crise climática e ao fogo como consequência dos atos da humanidade. Ele explicou que “toda história é uma alegoria para o que estamos enfrentando agora”.

A alegoria é: aqui estão esses recursos incríveis e infinitos que nos foram dados e nós abusamos de todos eles. Não seguimos o que aprendemos na creche sobre limpar a bagunça que fazemos. Estamos criando empatia com a Mãe Natureza, sentindo sua dor e sua ira.

Explorando os Temas e Simbologias do Filme Mãe!

Inúmeras referências bíblicas captam a atenção, evidenciando uma interpretação religiosa da obra. Além disso, há símbolos que evocam outros significados e jamais se esgotam por completo.

Ao assistir ao longa-metragem, o espectador é desafiado a se envolver na trama e a refletir sobre diversos temas relacionados à organização da sociedade e à realidade do mundo. Ao montar as peças do quebra-cabeça, o espectador é provocado a desenvolver seu próprio raciocínio, o que torna o filme ainda mais intrigante.

Egoísmo Divino: um Retrato

A partir do começo, ela acordou sozinha neste lugar idílico e passou a procurar o Deus, que se manifestava como um escritor, por todos os cômodos. Ele vivia distante dela e de sua casa.

Quando ele regressa, não fornece muitas informações sobre onde esteve. Segundo seu próprio relato, procurava apenas inspiração para suas obras. É evidente que este autor tem como prioridade principal seu trabalho, se comportando de maneira distante e insensível com a companheira.

A protagonista acorda sozinha em casa

O Poeta relata que tudo o que possuía foi perdido em um incêndio, mas que isso o motivou a recomeçar. Por meio dessa força, conheceu sua mulher. Ela, por sua vez, dedicou-se a restaurar a casa por completo, enquanto ele se esforçava para compor suas poesias.

Apesar disso, o marido se comporta com arrogância e egoísmo, como se ela não reconhecesse o que ele faz. É interessante observar que a personalidade da divindade aqui é muito semelhante à dos humanos, com todos os erros inerentes.

Deus e a Virgem Maria

Deliciado com a atenção de seus convidados, ele ignora os apelos da mulher, que fica nervosa com a chegada das visitas. Apesar desse sentimento desagradável, ele permite que eles fiquem o tempo que quiserem.

A protagonista entrou em desespero ao observar seu lar sendo destruído, pois o Poeta afirmou que tudo era "para partilhar" e "de todos". Ainda assim, seu marido a trocou pelo carinho da multidão, que, segundo ele, "nunca é suficiente".

Mesmo após o assassinato de seu filho por humanos, o Poeta ainda perdoou seus atos desprezíveis, ignorando a dor da Mãe em nome dos seres que criou.

A Proibição de Adão e Eva

Adão é o homem identificado na cena em que ele está vomitando no banheiro. Ele possui a marca da ferida na caixa torácica, que foi deixado quando Deus retirou a sua costela para criar a mulher.

No dia seguinte, quando Eva adentrou pela porta, ela e seu amor exalavam a felicidade. Porém, a atitude da visita instigava a desordem, sempre proferindo interrogatórias inconvenientes que arruinavam a tranqüilidade.

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O cristal guardado no escritório do Poeta era considerado o fruto proibido que não deveria ser tocado. No entanto, Eva não seguiu as admoestações e, infelizmente, acabou quebrando-o em mil pedaços.

Adão e Eva fazem algo que desagrada a Deus, o que leva a um castigo de Sua parte: são expulsos do Paraíso, com Deus trancando a entrada com tábuas.

O Caim, Abel e o Dilúvio

Após a transgressão descrita no Gênesis, Adão e Eva geraram dois filhos: Caim e Abel. Esses são retratados pelos dois filhos dos visitantes, provocando uma mudança na trama.

Os dois jovens invadiram a casa do Poeta, em uma cena frenética, brigando por causa de um testamento e competindo pela afeição dos pais. Caim cedeu ao ciúme e cometeu o primeiro assassinato da história da humanidade, matando o irmão.

Abel e Caim

O acontecimento deixa uma marca indelével nas vidas de todos, bem como um trauma profundo na protagonista, que é representado pela mancha de sangue no chão. Após isso, a tensão no velório vai aumentando gradualmente, com pessoas bebendo, quebrando objetos e causando caos aonde quer que estejam.

Quando uma mulher não segue as recomendações e opta por sentar na banca da cozinha, que acaba quebrando, a festa termina subitamente com uma inundação. Esta é uma alusão ao dilúvio provocado por Deus, como consequência de ter percebido a maldade do homem.

Dis­se o Se­nhor: "Farei desaparecer da face da terra o homem que criei, os homens e também os ani­mais, grandes e pequenos, e as aves do céu. Arrependo-me de havê-los feito".

Vida e Obra de Jesus Cristo

No final da noite, após a inundação, o casal resolveu suas diferenças. O Poeta tentou justificar que eles estavam "apenas comemorando a vida" e, consequentemente, se envolveram novamente. Pela manhã, quando o sol entrava pela janela, ela disse: "Estou grávida".

Nesta parte do filme, houve uma grande mudança: os personagens estavam radiantes de felicidade e tudo se tornou calmo e iluminado. Era como se tivesse havido um salto no tempo, pois a barriga da esposa já estava bem grande e o Poeta tinha concluído finalmente o seu livro.

Ela está em desespero, pois sabe que vai perder o marido. A casa é invadida por uma multidão que não para de crescer. Grávida, ela precisa fugir e se esconder para dar à luz a Jesus, enquanto a confusão aumenta.

Parto

O Poeta barrou a porta enquanto a Mãe trazia seu filho ao mundo, sozinha. Ela pediu para que eles saíssem, mas os invasores não se iam: eles deixaram presentes para o bebê e queriam conhecê-lo.

Apesar de todos os seus esforços, a Mãe não conseguia evitar que a multidão encarasse seu filho como o anunciador da promessa de redenção de seus pecados.

Maria testemunha a morte de seu filho, que é devorado. Uma tragédia que lembra o calvário de Jesus. Por fim, Deus diz que ela precisa perdoar a barbárie.

Qual era o efeito do remédio amarelo?

Todos estavam curiosos em relação ao medicamento peculiar que a protagonista tomava a todo o momento quando se deparava com sinais de ansiedade e ataques de pânico.

É evidente para o espectador que ela sofre de alguma perturbação na sua saúde mental, porém não está claro até que ponto está sendo afetada. Quando ela descobre que está grávida, decide suspender a medicação, o que pode acarretar uma agravação de sua doença.

Remédio amarelo

O frasco da substância não estava rotulado, nos levando a concluir que não foi obtido por meio de uma prescrição médica. É possível que este seja um produto natural, criado a partir de plantas ou raízes.

Algumas teorias sugerem que se trata da Kava-kava, uma folha que é usada para preparar um chá que ajuda a combater o estresse. Por outro lado, há também a hipótese de que esse elemento seja capaz de mudar a percepção da realidade. Assim, o que vemos torna-se ainda mais duvidoso, pois dependerá do ponto de vista da personagem principal.

A Dor da Mãe

A hipótese de que o remédio amarelo seja uma referência ao conto O Papel de Parede Amarelo (1892), de Charlotte Perkins Gilman, também pode ser considerada.

Esta obra narrativa é considerada o início da literatura feminista. A protagonista é oprimida por seu marido, tendo sua liberdade negada de deixar a casa. Em vez disso, ela é constantemente encontrada caminhando pelos cômodos, enquanto é obrigada a ficar trancada em seu quarto, resultando em sua insanidade.

Ela deixa claro que não quer receber os convidados, mas as suas vontades não são levadas em consideração. Ela fica isolada e ignorada, mas continua calada: limpando, preparando comidas e servindo a todos.

Mãe durante o parto

Todos se dirigiram para o hospital, mas ela suplicava para não ser deixada para trás. Infelizmente, seu pedido foi ignorado e ela acabou ficando sozinha, encarregada de limpar o sangue do chão, após o violento crime que havia acabado de presenciar.

Sendo o marido "o Poeta", ela não tem nome nem título, sendo conhecida apenas como "a casa". A cena serve como um retrato grotesco e alegórico desta estrutura patriarcal. Algo que escuta nos seus últimos momentos de vida.

Ela é uma mulher, esposa e mãe dedicada que encara incansavelmente os seus deveres, mas de alguma forma os seus esforços são constantemente ignorados e nunca recebem o devido reconhecimento.

No seu discurso conclusivo, ela expressou seus sentimentos sobre a relação unilateral que havia exaurido toda a sua energia.

Você nunca me amou. Você só amava o quanto eu amava você. Eu te dei tudo e você jogou fora.

Quando ela morre e seu coração se transforma em cristal, ela se torna literalmente um objeto. Mas, graças ao seu amor, cuidado e trabalho emocional, ela é capaz de se levantar das cinzas e renascer.

Ao rir, o Poeta não demonstra nenhum arrependimento. Em seguida, a cena muda, e vemos outra jovem despertar na cama. É aqui que constatamos que esta é uma sequência que se repete, pois as mulheres são exploradas até que não possam mais aguentar, sendo então substituídas.

Dados técnicos do filme

Mãe! (em brasileiro) é o título original em inglês Mother!.

Terror, Mistério e Drama

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Rebeca Fuks
Escrito por Rebeca Fuks

É graduada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), possui mestrado em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutorado em Estudos de Cultura pelas Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).