Origem, Características e Literatura do Simbolismo


Escrito por Sónia Cunha

Na Europa do século XIX, o simbolismo foi um movimento artístico de grande importância.

A poesia foi o gênero da literatura mais destacado na vertente, que incluiu também outras linguagens artísticas.

Ao contrário do parnasianismo, bem como dos ideais do cientificismo e do materialismo, essa tendência tinha como base uma postura de rejeição à objetividade.

A simbologia é uma forma de expressão fundada na subjetividade, fantasia, enigma e evasão da realidade.

Explorando a História do Simbolismo

A partir de 1880, o simbolismo começou a florescer na Europa, especialmente na França, durante a segunda metade do século XIX.

Naquela época, o planeta estava enfrentando significativas transformações nos campos sociais, econômicos e culturais.

A Revolução Industrial, o aumento da riqueza das classes burguesas e as disputas por mercados e novas áreas de exploração, como o continente africano, resultou em mudanças profundas na sociedade. Infelizmente, tudo isso desencadeou eventos trágicos, como a Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

Durante esta época, o cientificismo positivista predominava como forma de pensamento. Esta filosofia foi fortemente baseada na racionalidade, buscando compreender e explicar a realidade de uma perspectiva objetiva. Isso significa que a ciência foi priorizada, enquanto a espiritualidade e as teorias metafísicas foram relegadas à segundo plano.

Um grande número de pessoas não aceitou essa maneira de pensar, principalmente aquelas que não usufruíram das vantagens do capitalismo. Estas mesmas pessoas acreditavam até que este sistema trouxe uma desarmonia espiritual.

O simbolismo surge como contraposição à visão de mundo, sendo a poesia seu principal meio de desenvolvimento.

O surgimento deste movimento é uma afirmação de princípios espirituais, com o objetivo de promover a conexão entre o ser humano e o divino, o infinito e o inexplicável.

O movimento simbolista, embora não tivesse uma duração muito longa, conseguiu alcançar outros países, como Portugal e o Brasil.

Explorando o Simbolismo: Uma Análise das Características do Movimento

a busca da alma humana, o foco no inconsciente e a valorização da individualidade. O movimento simbolista tem como principais três características: a busca da alma humana, o foco no inconsciente e a valorização da individualidade. Estes três elementos visam exaltar o caráter místico e etérico do ser humano, demonstrando o cuidado e o respeito que devemos ter em relação à alma, ao inconsciente e ao indivíduo.

  • Uso de linguagem subjetiva e vaga;
  • Incorporação de figuras de linguagem;
  • Exploração de temas místicos e fantásticos;
  • Aposta na criatividade;
  • Incorporação de temas sombrios, enigmáticos e esotéricos;
  • Busca do inconsciente;
  • Enfatização do "eu";
  • Exploração de sinestesia;
  • Exploração da musicalidade.

Explorando o Simbolismo na Literatura

O simbolismo, que pode ser encontrado também nas artes visuais, como na pintura, tem seu auge na linguagem escrita. Dessa forma, a literatura simbolista é bastante fluida e se destaca ao atribuir valor ao universo imaginário, sensorial e criativo.

Muitos autores recorrem a aliterações, metáforas, onomatopeias e sinestesias para dar expressividade à linguagem empregada.

O primeiro livro a iniciar esse movimento foi Flores do Mal (1857), escrito pelo francês Charles Baudelaire (1821-1867). Baudelaire, fã de Edgar Allan Poe, toma referências e inspirações do escritor americano.

Charles Baudelaire simbolismo

Nessa corrente, abordam-se questões sobre o amor, a finitude da existência, o sofrimento, os sonhos, a psique humana e outros temas. A literatura simbolista, nesse sentido, se relaciona com a visão romântica.

Significado Simbólico em Portugal

A obra Oaristos, de Eugênio de Castro, publicada em 1890, inaugurou o simbolismo em Portugal. Nessa época, a vertente contava com influência no país, evidenciada pelas revistas "Boemia Nova" e "Os Insubmissos".

Antônio Nobre (1867-1900) e Camilo Pessanha (1867-1926) são nomes importantes dentro do movimento.

A portuguesa Florbela Espanca (1894-1930) é uma poetisa que chama a atenção. Embora não seja estritamente simbolista, ela absorveu influências da corrente literária simbolista.

A Poesia Simbolista em Portugal

Esgotei-me tentando desvendar o teu segredo. O meu olhar se despedaçou a tentar decifrá-lo, como a onda quebra na crista de um rochedo. Esse segredo se tornou minha obsessão, então me aproximei do teu lábio para beijá-lo, num pesadelo aterrorizante. O meu beijo, alucinado, gelou sobre o mármore frio do teu lábio entreaberto. Esse lábio de mármore, severo como um túmulo fechado, e sereno como um pélago tranquilo, havia desvendado o meu destino.

O poema trata de temas como o amor, a tristeza por perder o ser amado e o desgosto que a morte causa.

O poeta expressa sua frustração por não ter conseguido obter um olhar carinhoso e uma atitude recíproca ao buscar o amor, usando metáforas de caráter lúgubre.

O poema reflete o abismo existente entre as pessoas, especialmente entre amantes, pois é impossível conhecer de forma completa a alma do outro.

Além disso, confira o vídeo com a recitação do poema Ódio?, de Florbela Espanca, feita pela atriz Clara Troccoli.

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Explorando o Simbolismo no Brasil

A partir de 1893, o movimento simbolista chega ao Brasil com a publicação dos livros Missal e Broquéis pelo poeta Cruz e Sousa (1861-1898).

Cruz e Sousa poeta simbolista

Alguns dos principais representantes da poesia simbolista no Brasil incluem Alphonsus de Guimarães (1870-1921) e Augusto dos Anjos (1884-1914), que também possuíam elementos do pré-modernismo.

A Poesia Simbólica Brasileira

Quando Ismália entrou em um estado de desequilíbrio mental, Ela subiu na torre e começou a sonhar. Elas viu uma lua no céu, E outra lua no mar.

Lá no sonho em que se perdeu A lua banhou-a de luz E ela quis subir ao céu E descer ao mar também.

Ele começou a cantar loucamente, De sua torre alta e estreita. Viu-se perto do céu E distante do mar.

Assim como um anjo estendeu suas asas para voar,

Desejava a lua que estava no céu, Ansiava por aquela que estava no mar...

Ao ouvir o rufar das asas que Deus lhe dera, a alma de Ismália alçou-se ao céu, enquanto seu corpo desceu ao mar. Ismália é uma das obras mais renomadas do período simbolista brasileiro, contando a história de uma mulher que, ao sucumbir à loucura, decide se suicidar.

O autor nos conta, de maneira suave e tênue, a trágica história de um momento de desespero, loucura e insanidade. A descrição detalhada do texto nos dá a sensação de estarmos presentes nas cenas.

Sónia Cunha
Escrito por Sónia Cunha

É licenciada em História, variante História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (2003) e em Conservação e Restauro pelo Instituto Politécnico de Tomar (2006). Ao longo da carreira profissional, exerceu vários cargos em diferentes áreas, como técnico superior de Conservação e Restauro, assistente a tempo parcial na UPT e professora de História do 3º ciclo e ensino secundário. A arte e as letras sempre foram a sua grande paixão.