Grandes Poemas de Castro Alves - 12 Obras-Primas


Escrito por Sónia Cunha

Integrante da última geração romântica, Castro Alves é conhecido como o Poeta dos Escravos por sua defesa incondicional do abolicionismo. O principal nome do Condoreirismo, ele nasceu em 1847 no estado da Bahia e faleceu em 1871.

Motivado por seus ideais de justiça e liberdade, Castro Alves foi um escritor extremamente engajado. Embora sua vida tenha sido curta, ele deixou uma ampla obra que deve ser amplamente estudada. Aos 24 anos, infelizmente, deixou esta terra.

Abolição dos Poemas

Muitos dos poemas de Castro Alves se tornaram conhecidos em todo o país por retratar o tema do abolicionismo. Com um discurso vigoroso e incisivo, o poeta recitava essas obras em encontros, comícios e eventos.

Castro Alves defendia com veemência temas políticos e sociais. Seu tom era firme ao cantar ideais liberais, abraçando a República e lutando contra a escravidão.

Em 1866, Castro Alves, que estudava Direito na Faculdade de Direito, fundou, ao lado de Rui Barbosa e de seus colegas, uma sociedade abolicionista.

Várias músicas foram inspiradas na poesia do poeta francês Vitor Hugo (1802-1885). Suas letras carregadas de sentimento e engajamento tiveram grande impacto na produção artística dos últimos séculos.

1. A Escravidão no Navio Negreiro

'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço

Brinca o luar — dourada borboleta;

E as vagas após ele correm... cansam

Como turba de infantes inquieta.

'Stamos em pleno mar... Do firmamento

Os astros saltam como espumas de ouro...

O mar em troca acende as ardentias,

— Constelações do líquido tesouro...

'Stamos em pleno mar... Dois infinitos

Ali se estreitam num abraço insano,

Azuis, dourados, plácidos, sublimes...

Qual dos dois é o céu? qual o oceano?...

2. Ode ao Dia 2 de Julho

, o espetáculo contou com a presença de grandes atores Grandes atores estiveram presentes no Teatro de S.Paulo para a apresentação de um espetáculo.

Não! Não eram dois povos, que abalavam

Naquele instante o solo ensangüentado...

Era o porvir—em frente do passado,

A Liberdade—em frente à Escravidão,

Era a luta das águias — e do abutre,

A revolta do pulso—contra os ferros,

O pugilato da razão — com os erros,

O duelo da treva—e do clarão!...

No entanto a luta recrescia indômita...

As bandeiras — como águias eriçadas —

Se abismavam com as asas desdobradas

Na selva escura da fumaça atroz...

Tonto de espanto, cego de metralha,

O arcanjo do triunfo vacilava...

E a glória desgrenhada acalentava

O cadáver sangrento dos heróis!...

3. Trecho da Canção do Africano

Lá na úmida senzala,

Sentado na estreita sala,

Junto ao braseiro, no chão,

Entoa o escravo o seu canto,

E ao cantar correm-lhe em pranto

Saudades do seu torrão ...

De um lado, uma negra escrava

Os olhos no filho crava,

Que tem no colo a embalar...

E à meia voz lá responde

Ao canto, e o filhinho esconde,

Talvez pra não o escutar!

"Minha terra é lá bem longe,

Das bandas de onde o sol vem;

Esta terra é mais bonita,

Mas à outra eu quero bem!

Poesia sobre Assuntos Sociais

Nos poemas de Castro Alves, o eu-lírico se mostra preocupado em descobrir o seu lugar no mundo e em promover mudanças sociais. É diferente da geração romântica anterior, que se concentrava nos dramas pessoais, pois o sujeito poético aqui olha para além de si mesmo, buscando fazer a diferença.

O eu-lírico questiona a justiça e procura cantar a liberdade de imprensa. Esta poética marcada por um discurso político era normalmente declamada em salões, fazendo uso de uma linguagem retórica para abordar o assunto. Com isso, busca-se defender a liberdade de expressão e, mais geralmente, um pensamento livre.

A poesia era repleta de hipérboles, antíteses e metáforas. Seu estilo era muito floreado, carregando um excesso de palavras e imagens.

Buscando influenciar o leitor, esta poesia comprometida com o projeto condoreirista procurava mobiliza-lo a tomar ações reais no mundo.

Durante a faculdade, Castro Alves passou a se dedicar ao ativismo, escrevendo artigos para jornais e revistas universitárias. Em 1864, ele participou de um comício republicano que foi suprimido pela polícia.

4. A América no Livro (Trecho)

Talhado para as grandezas,

P'ra crescer, criar, subir,

O Novo Mundo nos músculos

Sente a seiva do porvir.

—Estatuário de colossos —

Cansado doutros esboços

Disse um dia Jeová:

"Vai, Colombo, abre a cortina

"Da minha eterna oficina...

"Tira a América de lá".

Molhado inda do dilúvio,

Qual Tritão descomunal,

O continente desperta

No concerto universal.

5. Trecho da Vida de Pedro Ivo

República!... Vôo ousado

Do homem feito condor!

Raio de aurora inda oculta

Que beija a fronte ao Tabor!

Deus! Por qu'enquanto que o monte

Bebe a luz desse horizonte,

Deixas vagar tanta fronte,

No vale envolto em negror?!...

Inda me lembro... Era, há pouco,

A luta!... Horror!... Confusão!...

A morte voa rugindo

Da garganta do canhão!..

O bravo a fileira cerra!...

Em sangue ensopa-se a terra!...

E o fumo — o corvo da guerra —

Com as asas cobre a amplidão...

Poesia de Amor

O amor é o tema central da obra de Castro Alves. Ao longo de suas composições, o eu-lírico revela o poder irresistível da paixão que nutre a sua escrita e a força do afeto que sente. Os versos retratam sua adoração à pessoa amada, tanto no âmbito físico quanto intelectual.

Ao contrário da postura assumida por seus coetâneos, o poeta romântico aqui tratado evidencia uma inclinação pela materialização do amor. Assim, ao ler seus versos, é possível perceber o teor sensual e sensorial de sua obra, em que o amor não se limita ao ideal, mas sim é concretizado.

Nos poemas de Antônio Gonçalves Dias é perceptível uma forte influência autobiográfica. Em homenagem a Eugênia Câmara, a atriz portuguesa dez anos mais velha que ele, os versos de louvação à sua amada foram escritos, sendo ela o seu primeiro e grande amor.

6. A Gôndola do Amor

Teus olhos são negros, negros,

Como as noites sem luar...

São ardentes, são profundos,

Como o negrume do mar;

Sobre o barco dos amores,

Da vida boiando à flor,

Douram teus olhos a fronte

Do Gondoleiro do amor.

Tua voz é cavatina

Dos palácios de Sorrento,

Quando a praia beija a vaga,

Quando a vaga beija o vento.

E como em noites de Itália

Ama um canto o pescador,

Bebe a harmonia em teus cantos

O Gondoleiro do amor.

7. Sonhando Acordada (trecho)

Uma noite eu me lembro... Ela dormia

Numa rede encostada molemente...

Quase aberto o roupão... solto o cabelo

E o pé descalço do tapete rente.

'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste

Exalavam as silvas da campina...

E ao longe, num pedaço do horizonte

Via-se a noite plácida e divina.

De um jasmineiro os galhos encurvados,

Indiscretos entravam pela sala,

E de leve oscilando ao tom das auras

Iam na face trêmulos — beijá-la.

8. Onde Estás Agora?

É meia-noite. . . e rugindo

Passa triste a ventania,

Como um verbo de desgraça,

Como um grito de agonia.

E eu digo ao vento, que passa

Por meus cabelos fugaz:

"Vento frio do deserto,

Onde ela está? Longe ou perto? "

Mas, como um hálito incerto,

Responde-me o eco ao longe:

"Oh! minh'amante, onde estás?...

Vem! É tarde! Por que tardas?

São horas de brando sono,

Vem reclinar-te em meu peito

Com teu lânguido abandono!...

'Stá vazio nosso leito...

9. A Viagem do Gênio (Trecho)

A ATRIZ EUGÊNIA CÂMARA

Um dia em que na terra a sós vagava

Pela estrada sombria da existência,

Sem rosas—nos vergéis da adolescência,

Sem luz d'estrela—pelo céu do amor;

Senti as asas de um arcanjo errante

Roçar-me brandamente pela fronte,

Como o cisne, que adeja sobre a fonte,

As vezes toca a solitária flor.

Poesia Autorreflexiva

A obra lírica de Castro Alves afunda profundamente em sua experiência de vida. O poeta foi órfão de mãe aos 12 anos e testemunhou o suicídio de seu irmão enquanto ainda era jovem. Essa dor é transmitida de forma poética em seus poemas mais autobiográficos, que revelando suas próprias realidades de vida.

Nos versos de sua obra, encontramos um eu-lírico solitário, desiludido, quase desesperançado, especialmente quando as coisas não corriam bem no campo amoroso.

Em seus poemas, Castro Alves retratou seu lado ativista e político. Ele foi um homem à frente de seu tempo, lutando pela abolição e abraçando a liberdade como um valor primordial.

A doença e a morte foram presenças fortes na poética de Fernando Pessoa desde sua infância. Ele teve de enfrentar a doença desde muito cedo e com a perda da mãe, a imagem da morte passou a acompanhá-lo.

10. Refletindo Sobre a Morte: Quando Eu Me For

Quando eu morrer... não lancem meu cadáver

No fosso de um sombrio cemitério...

Odeio o mausoléu que espera o morto

Como o viajante desse hotel funéreo.

Corre nas veias negras desse mármore

Não sei que sangue vil de messalina,

A cova, num bocejo indiferente,

Abre ao primeiro o boca libertina.

Ei-la a nau do sepulcro—o cemitério...

Que povo estranho no porão profundo!

Emigrantes sombrios que se embarcam

Para as plagas sem fim do outro mundo.

11. Trecho da Canção do Boêmio

Que noite fria! Na deserta rua

Tremem de medo os lampiões sombrios.

Densa garoa faz fumar a lua,

Ladram de tédio vinte cães vadios.

Nini formosa! por que assim fugiste?

Embalde o tempo à tua espera conto.

Não vês, não vós?... Meu coração é triste

Como um calouro quando leva ponto.

A passos largos eu percorro a sala

Fumo um cigarro, que filei na escola...

Tudo no quarto de Nini me fala

Embalde fumo... tudo aqui me amola.

Diz-me o relógio cinicando a um canto

"Onde está ela que não veio ainda?"

Diz-me a poltrona "por que tardas tanto?

Quero aquecer-te rapariga linda."

12. Juventude e Morte (Trecho)

Oh! Eu quero viver, beber perfumes

Na flor silvestre, que embalsama os ares;

Ver minh'alma adejar pelo infinito,

Qual branca vela n'amplidão dos mares.

No seio da mulher há tanto aroma...

Nos seus beijos de fogo há tanta vida...

Árabe errante, vou dormir à tarde

A sombra fresca da palmeira erguida.

Mas uma vez responde-me sombria:

Terás o sono sob a lájea fria.

Morrer... quando este mundo é um paraíso,

E a alma um cisne de douradas plumas:

Não! o seio da amante é um lago virgem...

Quero boiar à tona das espumas.

Vem! formosa mulher—camélia pálida,

Que banharam de pranto as alvoradas.

Minh'alma é a borboleta, que espaneja

O pó das asas lúcidas, douradas...

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A Vida de Castro Alves (1847-1871)

No dia 14 de março de 1847, Antônio de Castro Alves nasceu na Fazenda Cabaçeiras, localizada na cidade de Curralinho, na Bahia.

Antônio José Alves era o pai de um jovem que ficou órfão de mãe aos 12 anos. A mãe, Clélia Brasília da Silva Castro, já não estava mais presente na vida dele.

Após a morte de Clélia, a família se transferiu para Salvador. Além disso, Castro Alves residiu tanto no Rio de Janeiro quanto no Recife e em São Paulo.

Castro Alves

A família do poeta tinha uma tradição de envolvimento político e contribuiu com combatentes para o processo de independência da Bahia em 1823 e para a Sabinada em 1837. Em 1865, o poeta publicou seu primeiro poema abolicionista, intitulado A canção do africano.

No ano seguinte, Castro Alves, que estudava Direito na Faculdade de Recife, escreveu para o jornal O Futuro. Durante esse tempo, declamou diversos poemas escritos por ele mesmo e estimulou os jovens a tomar uma posição política.

Castro Alves se tornou uma figura conhecida ao defender o fim da escravidão com suas poesias. Juntamente com alguns amigos, ele fundou uma sociedade abolicionista, comprometido com a liberdade e a República. Assim, ganhou o título de poeta dos escravos.

O poeta se apaixonou pela atriz portuguesa Eugênia Câmara, que era dez anos mais velha. Esse breve romance resultou na composição de vários poemas de amor. O escritor viveu uma relação complicada, marcada pela insegurança, que teve início em 1866 e terminou dois anos depois.

O trágico falecimento de Castro Alves ocorreu em 6 de julho de 1871, aos apenas 24 anos, devido a uma tuberculose. O escritor foi homenageado como patrono da cadeira número 7 da Academia Brasileira de Letras.

Sónia Cunha
Escrito por Sónia Cunha

É licenciada em História, variante História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (2003) e em Conservação e Restauro pelo Instituto Politécnico de Tomar (2006). Ao longo da carreira profissional, exerceu vários cargos em diferentes áreas, como técnico superior de Conservação e Restauro, assistente a tempo parcial na UPT e professora de História do 3º ciclo e ensino secundário. A arte e as letras sempre foram a sua grande paixão.