5 Livros para Conhecer Euclides da Cunha


Escrito por Carolina Marcello

Euclides da Cunha é um dos maiores expoentes da literatura brasileira, tendo marcado o século XIX com seu trabalho entre os anos de 1866 e 1909.

Embora Os sertões seja a obra mais famosa de Euclides da Cunha, o escritor carioca tem outros títulos importantes que contribuíram para a literatura brasileira.

Explorando os Sertões

Os sertões

A obra Os sertões, do escritor Euclides da Cunha, lançada em 1902, foi a responsável por consagrá-lo como um dos mais importantes autores da literatura brasileira.

O livro foi essencial para mostrar ao Brasil urbano o que se passava na área rural, pouco compreendida até então. Nela, havia um sofrimento que ocorria em segredo.

Nesta obra, temos a oportunidade de conhecer o que ocorreu nos bastidores da Guerra de Canudos, que aconteceu na região interior da Bahia entre 1896 e 1897. Esta é uma história liderada por Antônio Conselheiro.

Na juventude de Euclides da Cunha, um episódio ocorreu que o inspirou a escrever Os sertões: ele foi expulso da Escola do Exército na Urca, Rio de Janeiro, devido à sua posição antimonarquista. Após isso, ele passou a escrever para um jornal, pois era republicano.

Convite à Canudos, Bahia, devido às suas convicções políticas, permitiu ao jornalista testemunhar o embate violento entre militares e a população local. Assim, decidiu escrever sobre o conflito.

Ao chegar à comunidade religiosa liderada por Antônio Conselheiro, Euclides se deparou com um verdadeiro massacre. Apesar de se alegar que aquela região estava revoltada a favor da monarquia, na verdade, os militares haviam tomado a iniciativa de exterminar a população local no sertão brasileiro.

Enviadas pelo exército, quatro expedições foram a Canudos para enfrentar os 20 mil habitantes armados apenas com armas rústicas (pedras e paus). Já os militares tinham a vantagem do número e do arsenal, que incluía granadas e armas de fogo. O embate desigual, que resultou no maior derramamento de sangue da nossa história, gerou várias injustiças. A obra Os sertões, de Euclides da Cunha, nos ajuda a entender melhor o que aconteceu na região.

Ao ser convidado pelo jornal O Estado de São Paulo, Euclides da Cunha aceitou a incumbência para fazer uma série de reportagens sobre o ocorrido. Ele anotou tudo o que observou em uma caderneta, para posteriormente servir de base para a escrita de Os Sertões, um dos seus mais famosos livros.

O livro está dividido em três partes: A Terra é a primeira, onde se narra a realidade árida e agreste do sertão. Há aqui uma descrição detalhada das plantas típicas, do clima e de assuntos relativos ao meio sertanejo.

nesse meio. No segundo capítulo ("O Homem"), Euclides da Cunha cita sua famosa frase "O sertanejo é, antes de tudo, um forte" para destacar a força e a resiliência do povo que habita o sertão. O autor narra as peculiaridades e as expressões culturais desses seres humanos que enfrentam grandes desafios.

A obra intitulada A Luta é considerada particularmente significativa, pois nela o autor detalha o massacre de Canudos presenciado por ele. A violência brutal do ocorrido é descrita com todas as nuances.

O empreendimento corajoso de Euclides da Cunha, ao cobrir a guerra de Canudos e divulgar as reportagens e o livro Os sertões, lhe rendeu imensa fama e honra pública na época.

Após seu lançamento, a obra foi adaptada para diferentes meios, incluindo cinema, televisão e teatro.

Aprenda mais

A Amazônia: Uma Jóia Perdida

Amazônia

Ao mudar-se para o Norte brasileiro em 1907-1908, Euclides da Cunha produziu uma das obras mais marcantes da história literária brasileira: Amazônia. A partir dessa viagem, o escritor foi capaz de produzir uma obra tão influente.

Euclides da Cunha pretendia que sua obra Amazônia fosse intitulada "Um paraíso perdido", mas devido a sua morte inesperada, aquela que idealmente seria uma obra concluída, consistia apenas de fragmentos e escritos inacabados.

O escritor trabalhou pela primeira vez com a temática da Amazônia quando, no dia 14 de novembro de 1898, escreveu um artigo intitulado “Fronteira Sul do Amazonas: questão de limites” para o jornal O Estado de S.Paulo onde trabalhava.

. Em Amazônia, Euclides da Cunha concentrou-se na tragédia das fronteiras, nas disputas externas entre o Brasil e o Peru para estabelecer a linha de separação entre as nações. Ao contrário de Os sertões, o autor desta obra focou em questões externas.

No Estado de S.Paulo, Euclides publicou uma série de artigos que abordavam a questão amazônica, denunciando os conflitos de interesses na área e destacando a necessidade do governo brasileiro tomar uma posição para que não se perca a floresta para o país vizinho.

Intimamente relacionada à triste realidade vivida por Euclides da Cunha, a obra Amazônia tem como pano de fundo o afastamento do escritor de seu lar e de sua esposa, Ana Emília Ribeiro da Cunha. Enquanto Euclides esteve ausente, viajando por dois anos por toda a Amazônia, Ana Emília, de volta no Rio de Janeiro, teve vários relacionamentos extraconjugais, se apaixonando inclusive por um militar, o cadete Dilermando de Assis, com quem teve um filho.

Depois que Euclides da Cunha retornou de sua viagem, ficou alarmado com a constatação do que aconteceu. Com desespero, procurou por Dilermando de Assis, amante de Ana Emília, e acabou sendo alvejado por tiros. O escritor faleceu em 15 de agosto de 1909 vítima de um assassinato.

No trágico dia 4 de julho de 1916, Dilermando de Assis foi atacado por Euclides da Cunha Filho, filho do autor já assassinado por ele, enquanto estava num cartório. Na tentativa de vingar a morte do pai, Euclides atirou em Dilermando, mas não logrou êxito. No entanto, Dilermando teve que se defender e disparou de volta, matando Euclides da Cunha Filho.

O Tempo de Castro Alves

Em 1907, o Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, convidou o já consagrado escritor Euclides da Cunha a dar uma conferência sobre a obra do poeta romântico Castro Alves. Esta conferência acabou se tornando a mais importante publicação de ensaio do autor, tornando-se uma obra literária de grande relevância.

Meus jovens compatriotas. No cativante ofício que me dirigistes convidando-me a realizar esta conferência sobre Castro Alves, trai-se afeição preeminente do vosso culto pelo poeta.

O escritor aceitou o convite dos alunos, e como resultado fez uma palestra. Essa apresentação foi transcrita e transformada em um livro, que contou com contribuições de Castro Alves (conhecido como o poeta dos escravos) e de Euclides da Cunha.

O livro tem como objetivo estabelecer as ligações entre as vidas e as obras de dois renomados escritores brasileiros: Castro Alves e Euclides da Cunha. As semelhanças entre eles são notáveis: ambos eram republicanos e abolicionistas, escreviam de modo engajado, estavam ligados à Cadeira nº7 da Academia Brasileira de Letras (Castro Alves foi seu patrono e Euclides o segundo ocupante). À luz desses fatos, o livro busca aproximar esses dois autores.

Os dois escritores, Castro Alves e Euclides da Cunha, tinham algumas semelhanças na vida pessoal. Ambos sofriam de fragilidade de saúde e foram acometidos pela tuberculose. Viviam experiências amorosas trágicas: o primeiro teve com a Eugênia, enquanto o segundo com Ana. Ademais, tiveram destinos tristes: Castro Alves veio a óbito com um tiro acidental acontecendo a si mesmo, já Euclides foi vítima de um assassinato. Morreram jovens e os seus finais foram relacionados a arma de fogo.

Como parte do projeto, o ciclo de palestras estava programado para arrecadar fundos para erigir estátuas dos três poetas românticos Álvares de Azevedo, Castro Alves e Fagundes Varela, ex-alunos da Faculdade de Direito, tendo o renomado Euclides da Cunha como convidado especial.

Euclides da Cunha: Uma Correspondência

Euclides da Cunha correspondeu-se com os seus amigos por meio de diversas cartas, algumas delas escritas enquanto se encontrava em uma de suas intermináveis viagens.

Machado de Assis, grande mestre e amigo, dirigiu-se por carta a Euclides da Cunha para felicitá-lo pela sua eleição na Academia Brasileira de Letras. Esta correspondência entre os dois foi marcada por grande afeto.

Não é mister dizer-lhe o prazer que tivemos na sua eleição para a Academia, e pela alta votação que lhe coube, tão merecida. Os poucos que, por anteriores obrigações, não lhe deram o voto, estou certo de que ficaram igualmente satisfeitos.

A vida pessoal do autor é revelada, em parte, pela sua correspondência. Cartas trocadas com a mulher Ana Ribeiro, o pai e o cunhado são exemplos que testemunham não apenas a sua carreira profissional no meio literário, mas também dão informações sobre sua vida íntima.

Nascido no Rio de Janeiro em 1866, Euclides da Cunha foi órfão de mãe precocemente. Ingressou na Escola Militar da Praia Vermelha aos 17 anos, momento em que começou a escrever poemas e artigos para jornais. Contudo, pela falta de recursos financeiros, optou por uma carreira militar.

Euclides da Cunha, abolicionista e republicano, foi expulso da escola militar e foi trabalhar em um jornal. Lá, ele se aproximou ainda mais do mundo da escrita.

O escritor idealista tinha o desejo de ver o Brasil renascer, livre da escravidão. Seus desejos, bem como detalhes de sua história pessoal, podem ser descobertos por meio de suas cartas.

O autor Euclides de Cunha deixou cerca de 400 correspondências escritas ao longo de sua vida, 107 delas ainda inéditas. A publicação dessas cartas oferece ao leitor uma visão do que vivenciou antes e depois de sua fama literária.

Durante 17 anos, Euclides manteve correspondência com diversos indivíduos, tais como Joaquim Nabuco, Coelho Neto, Machado de Assis, amigos próximos e familiares. Estas trocas revelam suas ideologias políticas e literárias, além dos seus dramas íntimos.

Fora da História

À margem da história

À margem da história, obra publicada postumamente, é o resultado do empenho de Euclides da Cunha na região norte do Brasil.

Em 1904, o Barão do Rio Branco nomeou Euclides da Cunha como chefe da Comissão Brasileira de Reconhecimento do Alto Purus para auxiliar a diplomacia dos dois países. Essa experiência de campo permitiu ao autor conhecer a região da amazônia, desconhecida para a maioria dos brasileiros.

À margem da história, este livro reúne reportagens e artigos que não são tão amplamente conhecidos. Estes textos foram publicados em jornais e revistas na época, e agora são reunidos em uma publicação póstuma.

Em À margem da história, Euclides da Cunha viveu na região por muito tempo e obteve um conhecimento profundo das questões políticas presentes, especialmente as relacionadas às fronteiras com o Peru. É um relato perfeito para descrever a época em que ele esteve lá. Infelizmente, ele só conseguiu regressar ao Rio de Janeiro em 1906 por conta da malária.

À margem da história, há um registro entre o literário e o não literário que abrange não somente questões políticas, mas também a natureza, os habitantes, e a cultura da região norte do país.

A impressão dominante que tive, e talvez correspondente a uma verdade positiva, é esta: o homem, ali, é ainda um intruso impertinente. Chegou sem ser esperado nem querido - quando a natureza ainda estava arrumando o seu mais vasto e luxuoso salão.

Carolina Marcello
Escrito por Carolina Marcello

Formou-se em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e possui mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes pela mesma instituição. Durante os estudos universitários, foi co-fundadora do Grupo de Estudos Lusófonos da faculdade e uma das editoras da revista da mesma, que se dedica às literaturas de língua portuguesa.