Vida, Obra e Características do Escritor Machado de Assis


Escrito por Rebeca Fuks

Quando se fala em literatura brasileira, é inevitável mencionar o maior autor do país: Machado de Assis (1839-1908).

Muitos consideram Machado de Assis um gênio da literatura ocidental. Suas obras-primas incluem os clássicos Dom Casmurro, O Alienista e Memórias Póstumas de Brás Cubas.

Machado de Assis

A Vida de Machado de Asis

A Origem

Nascido no Rio de Janeiro no dia 21 de junho de 1839, Joaquim Maria Machado de Assis é um dos principais expoentes da literatura brasileira.

Filho de pais de origem humilde, Francisco José de Assis, pintor e dourador, e Maria Leopoldina Machado de Assis, açoriana, Machado de Assis cresceu órfão de mãe, tendo perdido a sua ainda muito criança.

O menino cresceu no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, sem muitas oportunidades para se dedicar aos estudos. Logo, precisou trabalhar para contribuir com as finanças da família.

Morro do Livramento

Começo da Jornada Literária

Em 3 de outubro de 1854, aos 15 anos, Machado foi publicado pela primeira vez no Periódico dos Pobres com seu soneto intitulado À Ilma. Sra. D.P.J.A., iniciando sua jornada no meio literário.

Dois anos após isso, ele foi trabalhar como estagiário em uma tipografia da Imprensa Nacional, onde conheceu o escritor Manuel Antônio de Almeida, que se tornou seu mentor profissional.

Em 1858, foi contratado como revisor e colaborador do Correio Mercantil. Dois anos depois, mudou-se para a redação do Diário do Rio de Janeiro.

Em 1861, Lev Tolstói traduziu Queda que as mulheres têm para os tolos, que foi a sua primeira publicação (sem a assinatura como autor). Seu primeiro romance, Ressurreição, foi lançado em 1872.

Explorando a Obra de Machado de Assis

Em 1862, como entusiasta do teatro, ele começou a atuar como censor teatral sem receber qualquer pagamento, apenas para ter acesso aos espetáculos. Posteriormente, publicava suas críticas teatrais na revista O Espelho.

Machado foi autor de peças teatrais, uma das mais famosas delas foi Tu, só tu, puro amor. Esta peça foi apresentada no Imperial Teatro Dom Pedro II no mês de junho de 1880.

Machado de Assis

Machado de Assis produzia contos com frequência para a Semana Ilustrada e para o Jornal das Famílias.

Aventurando-se nos mais diversos gêneros, também se dedicou à lírica. Seu primeiro livro de poesias, intitulado "Crisálidas", teve seu lançamento em 1864.

Machado de Assis produziu uma série de folhetins e crônicas para o jornal Gazeta de Notícias.

O Funcionário Burocrático

Na época de Machado de Assis, era difícil manter-se vivendo apenas da literatura no Brasil, assim, ele chegou a suportar-se praticamente durante toda a vida mediante a sua função pública burocrática.

Machado foi nomeado como primeiro oficial da Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Pública e desempenhou tarefas burocráticas até o seu último dia.

Celebrando o Casamento de Carolina Augusta Xavier de Novais

Machado trabalhou com Faustino Xavier de Novais, que mais tarde se tornaria seu cunhado, no O Futuro, que era dirigido por ele.

Em agosto de 1869, o antigo chefe de Machado, Faustino, faleceu. Três meses depois, em novembro, o amor da sua vida, Carolina Augusta Xavier de Novais, tornou-se sua esposa. Juntos, eles viveram por 35 anos.

Machado de Assis e Carolina

"Carolina foi tudo para mim". Após a morte de Carolina, Machado sofreu profundamente. Em uma carta para o seu amigo Joaquim Nabuco, datada de 20 de novembro de 1904, ele escreveu: "Carolina era tudo para mim".

Foi-se a melhor parte da minha vida, e aqui estou só no mundo. Note que a solidão não me é enfadonha, antes me é grata, porque é um modo de viver com ela, ouvi-la, as- sistir aos mil cuidados que essa companheira de 35 anos de casados tinha comigo; mas não há imaginação que não acorde, e a vigília aumenta a falta da pessoa amada.

Combate ao Preconceito Racial

Apesar de Machado de Assis ser negro, há uma série de imagens que o retratam como branco - o que leva ao imaginário coletivo a figura do autor como sendo um homem de pele clara.

Em 2018, uma descoberta feita por um pesquisador provocou um intenso debate sobre o preconceito social. Essa descoberta consistia na localização de uma foto da revista Caras Y Caretas (de 1908) que evidenciava os traços negros do autor.

Machado de Assis

A Faculdade Zumbi de Palmares lançou a campanha Machado de Assis Real com o intuito de conscientizar a população sobre a verdadeira aparência do célebre escritor brasileiro.

A imagem à direita resultou da campanha.

Machado de Assis

Principais Livros

Machado de Assis pertence ao hall dos grandes nomes da literatura mundial, pois é autor de uma série de clássicos que marcaram a história da literatura brasileira.

a Ponte de Rialto, o Duomo de Florença e o Coliseu de Roma. Algumas das obras de arte mais conhecidas são: a Ponte de Rialto, o Duomo de Florença e o Coliseu de Roma.

Recordações Póstumas de Brás Cubas (1881)

Publicada em 1880 em diversos episódios na Revista Brasileira, a obra de Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, foi posteriormente reunida e publicada como livro.

Memorias postumas de bras cubas

O personagem principal da narrativa é Brás Cubas, já falecido, que usa as páginas do livro para compartilhar suas lembranças.

Com a premissa original, o narrador tem oportunidade de expressar livremente o que lhe vem à mente, sem precisar passar por algum tipo de censura.

O livro foi um verdadeiro marco na história, pois representou uma revolução tanto em termos ideológicos quanto formais. Sua inovação foi de extrema relevância.

O Domínio de Casmurro

O triângulo romântico mais conhecido da literatura brasileira é protagonizado por Bentinho, Capitu e Ezequiel. Bentinho e Capitu, amigos desde a infância, se casam e têm um filho, Ezequiel.

Apesar de tudo parecer perfeito, a presença de Escobar, grande amigo de Bentinho, e a suspeita que ele tinha em relação ao adultério de Capitu, acabavam por obscurecer o ambiente.

A partir da narrativa em primeira pessoa de Bentinho, Machado nos faz cavar fundo nas dúvidas do protagonista: Capitu foi, afinal, infiel? Essa sua descrição parcial e subjetiva consegue deixar nosso entendimento instável, fazendo vacilar nossas certezas.

O romance Dom Casmurro é o retrato perfeito da complexidade das relações entre as pessoas, mostrando de forma notável como a verdade e a imaginação se encontram na linha tênue que os separa. É uma obra que merece ser lida.

A História de Quincas Borba

Em 1891, Quincas Borba foi publicado originalmente sob a forma de folhetim. Mais tarde, o mesmo foi transformado em um livro.

Quincas Borba

Rubião, o professor primário, é o personagem principal dessa história. Ele se torna enfermeiro e amigo do milionário Quincas Borba, com quem cria um forte laço de amizade.

Ao herdar uma grande fortuna com a morte de seu amigo, Rubião passou a chamar o cachorro de Quincas Borba em homenagem ao falecido. Sua vida experimentou uma reviravolta e ele decidiu abandonar o interior de Minas Gerais para mudar-se para a Corte.

Explorado por diversos interesseiros que tomaram conhecimento de sua ingenuidade e riqueza, Rubião começa a ser vítima de exploração e a perder seu patrimônio.

Machado de Assis em Quincas Borba nos apresenta, sem subterfúgios, as contradições e fragilidades da psiquê humana. O narrador onisciente nos dá a oportunidade de entrar no subconsciente e conhecer a criatura em seu pior estado.

O Psiquiatra

O Dr. Simão Bacamarte, protagonista da narrativa de Machado de Assis, publicada em 1882, busca uma permissão da Câmara para a construção de um hospício. Ele é um médico conhecido por seu interesse pela pesquisa.

Aos poucos, vai diagnosticando os habitantes da pequena cidade onde vive como se estivessem loucos e os internando na Casa Verde - nome dado ao hospício.

A situação se agrava exponencialmente e, por fim, só o Dr.Bacamarte fica de fora. Quando se dá conta, porém, ele compreende que lhe cabe trancar-se voluntariamente no espaço que criou.

Machado de Assis nos presenteia com uma obra-prima que nos faz refletir sobre os limites entre a saúde e a doença mental. O leitor é encantado por essa obra, pois ela nos coloca diante da grande questão: quem realmente é são?

A História de Helena

Helena, publicado em 1876 e pertencente à primeira fase de trabalhos do autor, é uma forte crítica à sociedade preconceituosa carioca do século XIX.

Helena

Contada por um onisciente narrador, a história se desenrola no bairro do Andaraí. Nele, um amor proibido é presenciado por esse contador de histórias. Escrita em formato folhetim, essa narrativa nos traz um relacionamento cheio de dramas e intrigas.

Ao ser aberto, o testamento do falecido Conselheiro Vale revelou a existência de uma menina chamada Helena, a qual era desconhecida pela sua família. Ela vivia em um internato em Botafogo e era a filha legítima do falecido.

A obra Helena aborda os preconceitos existentes em uma sociedade fechada e conservadora. A história gira em torno da chegada de uma nova figura que abala a estrutura social, que é a protagonista, que é levada para viver com uma família que até então ela não conhecia (o irmão e a tia).

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Citações

Eu gosto de catar o mínimo e o escondido. Onde ninguém mete o nariz, aí entra o meu, com a curiosidade estreita e aguda que descobre o encoberto.

Eu amo os meus defeitos, são talvez as minhas virtudes.

Eu, posto creia no bem, não sou dos que negam o mal, nem me deixo levar por aparências que podem ser falazes. As aparências enganam; foi a primeira banalidade que aprendi na vida, e nunca me dei mal com ela.

Não se importe de não ser alegre; também eu o não sou, ainda que pareça menos triste. Mas há em tudo um limite. Sacuda de si esse mal. A arte é um bom refúgio; perdoe a banalidade do dito em favor da verdade eterna.

Eu não sou homem que recuse elogios. Amo-os; eles fa- zem bem à alma e até ao corpo. As melhores digestões da minha vida são as dos jantares em que sou brindado.

Escrevendo Poesia

Em 1864, o livro de estréia de Machado na poesia foi Crisálidas.

Crisálidas

Ao longo dos anos, foram lançados alguns livros: Falenas (1870), Americanas (1875), com seu tom indianista, e Ocidentais (1901), que se aproximava da estética parnasiana.

Contos e Crônicas

Publicadas entre 1881 e 1897 no jornal Gazeta de Notícias, as crônicas de Machado de Assis ficaram celebradas pelos seus retratos dos acontecimentos do dia a dia, abordando aspectos do cotidiano e destacando características da sociedade à sua volta.

Machado de Assis foi responsável por cerca de duzentos contos escritos, dos quais os principais foram os Contos fluminenses (1870) e Histórias da meia-noite (1873). Seu estilo único, caracterizado por uma acidez peculiar, pode ser encontrado nas "pílulas machadianas", isto é, narrativas curtas e bem concentradas.

A Beleza das Características

Mesmo produzindo obras que variam em gênero ao longo de sua carreira, Machado apresenta alguns traços que são transversais em sua escrita, tornando-se bastante perceptíveis em sua obra.

a utilização de recursos narrativos como o monólogo interior e a descrição objetiva; a valorização da individualidade e a necessidade de autoconhecimento; o uso do ceticismo para representar o desencanto da modernidade; e o emprego de banais cenários rurais para fazer a crítica social. A Literatura Machadiana se destaca por recursos narrativos tais como o monólogo interior e a descrição objetiva; pela valorização da individualidade e pela busca de autoconhecimento; pelo ceticismo para representar o desencanto da modernidade; e pela crítica social realizada por meio de cenários rurais banais.

  • Machado de Assis usa diversas estratégias para criar a sua obra, como: crítica social, criação de uma relação de proximidade com o leitor, uso de humor ácido e ironia, emprego de metalinguagem, criação de personagens com densidade psicológica, pessimismo, ceticismo e descrença na humanidade.

Assista aos Melhores Filmes

Uma grande quantidade de adaptações para o audiovisual foi feita a partir das obras de Machado de Assis. Veja algumas delas:

  • de Machado de Assis
  • Capitu (1968) e Dom (2003) inspirados no romance Dom Casmurro; Azyllo muito louco (1970) inspirado no romance O Alienista; Quincas Borba (1987) inspirado no romance Quincas Borba; Memórias póstumas (2001) e Viagem ao fim do mundo (1967) inspirados no romance Memórias Póstumas de Brás Cubas; A erva do rato (2008) inspirado nos contos Um esqueleto e A causa secreta; A cartomante (1974 e 2004) baseada no conto homônimo de Machado de Assis.

Todas as Obras Publicadas por Machado de Assis

  • Desencantos (1861)
  • Teatro (1863)
  • Quase ministro (1864)
  • Crisálidas (1864)
  • Os deuses de casaca (1866)
  • Falenas (1870)
  • Contos fluminenses (1870)
  • Ressurreição (1872)
  • Histórias da meia-noite (1873)
  • A mão e a luva (1874)
  • Americanas (1875)
  • Helena (1876)
  • Iaiá Garcia (1878)
  • Memórias póstumas de Brás Cubas (1881)
  • Tu, só tu, puro amor (1881)
  • Papéis avulsos (1882)
  • Histórias sem data (1884)
  • Quincas Borba (1891)
  • Várias histórias (1896)
  • Páginas recolhidas (1899)
  • Dom Casmurro (1899)
  • Poesias completas (1901)
  • Esaú e Jacó (1904)
  • Relíquias de casa velha (1906)
  • Memorial de Aires (1908)
  • Crítica (1910)
  • Outras relíquias (1910)
  • Correspondência (1932)
  • Crônicas, 4 volumes (1937)
  • Crítica literária (1937)
  • Casa velha (1944)
Rebeca Fuks
Escrito por Rebeca Fuks

É graduada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), possui mestrado em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutorado em Estudos de Cultura pelas Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).