Acredita-se que Bella Ciao, música tradicional italiana, tenha surgido nas plantações de arroz no final do século XIX.
A canção de trabalho rural teve sua origem, mas hoje é mais conhecida como uma canção de resistência ao fascismo durante a Segunda Guerra Mundial.
A Casa de Papel, série espanhola recém-lançada, trouxe o tema de volta às atenções e ganhou ainda mais destaque, com sua trilha sonora que alcançou grandes índices de audiência.
Letra e Música de Bella Ciao
Apesar de ter sido cantada e gravada durante diferentes eras, com letras variadas, uma das versões tornou-se conhecida em todos os cantos do mundo: a que abordava o tema do fascismo italiano.
Em virtude de seu significado histórico e beleza, vamos analisar a gravação da Banda Bassotti, uma das mais famosas.
Una mattina mi son' svegliato
O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao
Una mattina mi son' svegliato
E ho trovato l'invasor
O partigiano, portami via
O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao
O partigiano, portami via
Ché mi sento di morir
E se io muoio da partigiano
O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao
E se io muoio da partigiano
Tu mi devi seppellir
E seppellire lassù in montagna
O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao
E seppellire lassù in montagna
Sotto l'ombra di un bel fior
Tutte le genti che passeranno
O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao
Tuttle le genti che passeranno
Mi diranno: Che bel fior
E quest' è il fiore del partigiano
O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao
E quest'è il fiore del partigiano
Morto per la libertà
E quest'è il fiore del partigiano
Morto per la libertà
Análise e Tradução da Música Bella Ciao
Introdução à Primeira Estrofe
Uma manhã, eu acordei
Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!
Uma manhã, eu acordei
E encontrei um invasor
O sujeito lírico dirige-se carinhosamente à sua "querida", contando que deu de caras com um "invasor" assim que acordou. Esta cena leva-nos a um cenário de guerra, deixando-nos com a sensação de que o personagem está em perigo.
Ele começou sua despedida, que durou até o término da melodia. Não apenas estava dizendo adeus à outra pessoa, mas também se despedindo de sua própria existência.
Estrofe Nº2
Oh, membro da Resistência, leve-me embora
Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!
Oh, membro da Resistência, leve-me embora
Porque sinto que vou morrer
Solicite auxílio à Resistência, um movimento de guerrilha que busca lutar contra as forças nazistas e o ditatorial regime de Mussolini.
Apenas com as palavras do sujeito já seria possível sentir a atmosfera de medo e opressão que foi gerada na Itália durante o domínio de Hitler e Mussolini.
Ele não mais precisa esconder a ameaça iminente, pois sente que a morte está chegando. Apesar de consciente de que pedir ajuda é inútil, ele ainda faz isso.
Estrofe 3
E se eu morrer como um membro da Resistência
Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!
E se eu morrer como um membro da Resistência
Você deve me enterrar
Mesmo com a consciência de que a morte pode ser inevitável, o eu-lírico assume seu lugar como "membro da Resistência". Engajado na luta antifascista, ele compreende que pode custar caro. Assim, antes que seja tarde demais, ele despede-se da sua amada.
Como um membro da Resistência, o destino mais provável deles é a morte. Ele pede à sua amada para ser forte e encarar o que está por vir, como se estivesse preparando-a para o inevitável.
Apesar de ter um ritmo alegre e animado, a mensagem da música é extremamente triste: a violência é retratada como parte natural da vida.
Estrofe Quarto
E me enterre no alto das montanhas
Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!
E me enterre no alto das montanhas
Sob a sombra de uma bela flor
Encarando a morte como uma inevitabilidade, ele pediu à sua companheira que o enterrasse no topo de uma montanha, em um lugar visível para os demais.
O guerrilheiro anônimo deseja ser enterrado ao lado de uma "bela flor", um gesto que contradiz a situação de terror na qual se encontra.
No meio de uma narrativa tão triste, tão desalentadora, de repente surge algo delicado e alegre como uma flor, trazendo uma nova inspiração para a canção.
Estrofe Cinco
Todas as pessoas que passarem
Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!
Todas as pessoas que passarem
Me dirão: Que bela flor!
No quinto verso, este sujeito prossegue sua despedida para alguém que ele ama. Seus raciocínios seguem a partir da passagem anterior, explicando o motivo de desejar ser enterrado nesse lugar.
Ele deseja que a flor que cresce sobre a sua sepultura seja uma mensagem de força e esperança para aqueles que ficam. Embora seu destino esteja selado, ele quer que sua história seja lembrada e possa servir de inspiração para outros.
Estrofe Sexta
E essa será a flor da Resistência
Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!
E essa será a flor da Resistência
Daquele que morreu pela liberdade
É como se fosse um ciclo: desse guerrilheiro, que foi forte e corajoso, vai surgir a "flor da Resistência", um emblema de ousadia e desobediência.
Ele se despede pela última vez daquela pessoa, tentando lhe oferecer consolo, pois entende que sua morte não foi em vão. Ele acredita que a partir dela algo novo pode surgir.
Apesar de toda a tragédia que cerca, o sujeito acredita que seu exemplo pode gerar mudanças positivas na sociedade e que há ainda motivos para esperar.
O Sétimo Verso
E essa será a flor da Resistência
Daquele que morreu pela liberdade
A última estrofe relembra os dois versos finais da passagem anterior. O eu-lírico olha para trás, recordando que partiu desta vida em nome da liberdade.
A sensação que fica é de que alguém está prestes a fazer um sacrifício: caminhar para a morte, sabendo o que o espera. Contudo, o indivíduo não desiste, lutando até o fim, mesmo que isso signifique deixar a vida nessa jornada.
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Bella Ciao
Explorando as Origens da Canção
É impossível descobrir quem foi o responsável pela criação das músicas ou letras que são parte da tradição popular transmitida de forma oral.
É comum o pensamento de que a música tenha surgido nas regiões norte e nordeste da Itália, trabalhada por Mondinas - trabalhadoras rurais que só eram necessárias em alguns meses do ano.
A letra denunciava a exploração, ameaça e as condições de trabalho desumanas que as mulheres sofriam nas plantações de arroz. Apesar do sol abrasador, elas eram forçadas a trabalhar sob pressão e com poucas condições.
Trabalho infame, por pouco dinheiro.
Em 1962, Giovanna Daffini, uma ex-mondina que havia se tornado cantora, gravou e divulgou a versão que conhecemos atualmente.
Bella Ciao possui algumas similitudes com uma canção Klezmer judaica chamada Oi Oi di Koilen, criada pelo compositor ucraniano Mishka Ziganoff.
Cantando a Resiliência Italiana
Ao revisarmos alguns acontecimentos internacionais que estavam influenciando o destino do mundo, conseguimos ter uma melhor compreensão da mensagem desta versão e o seu legado histórico.
Em 1939, o que se vislumbrava era o início de um dos mais cruéis conflitos da história humana: a Segunda Guerra Mundial. Estes longos seis anos de guerra terminaram em 1945.
Em 1922, Benito Mussolini, líder do Partido Nacional Fascista, foi nomeado primeiro-ministro da Itália. Em 1925, ele assumiu o título de "Duce" - líder da nação - e estabeleceu um regime totalitário.
Em 1940, o ditador assinou um tratado com Hitler, conhecido como Eixo Roma-Berlim. Ao entrar na guerra ao lado da Alemanha, a Itália entrou em luta contra os Aliados (França, Reino Unido, Estados Unidos e União Soviética).
Em 1943, os soldados nazistas controlavam as ruas e as tropas aliadas marchavam em direção ao território. O povo sofria com as consequências da guerra, e a raiva e a miséria tomavam conta do país. A fome se alastrava cada vez mais.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Partigiani, formado por soldados e civis italianos, lutou bravamente contra as forças fascistas. A Resistência Italiana foi um dos maiores movimentos de resistência ao regime nazista na Europa.
Os guerrilheiros italianos lutaram com bravura contra a ditadura de Mussolini e a ocupação alemã, culminando na execução do ditador italiano e na rendição dos nazistas na Itália.
Esta canção foi ouvida em todos os cantos do mundo e se tornou um símbolo de poder e militância. Ela foi transformada em uma verdadeira proclamação de luta.
Promovendo a Música
Giovanna Daffini contribuiu para o registro do canto das mondinas, o que contribuiu para que ele se tornasse mais conhecido e popular.
Na década de 60, o sucesso não foi fruto do acaso: isso se deu devido às diversas lutas sociais ocorridas nessa época, como as pela conquista de direitos trabalhistas e estudantis.
Os Festivais da Juventude Comunista foram locais ideais para a transmissão do "Cântico da Garagem", pois nesses eventos se multiplicavam os militantes italianos que ensinavam a música aos seus companheiros.
O hino à Resistência tornou-se com o passar do tempo uma importante canção contra o autoritarismo e a opressão.
Com o tempo, Bella Ciao tornou-se conhecido globalmente, sendo entoado em manifestações e protestos ao redor do mundo. Diversos artistas gravaram versões em variados ritmos, indo desde o ska punk até o funk paulista.
Explicando o Significado de Bella Ciao
Com um ritmo alegre e enérgico, Bella Ciao esconde uma mensagem profunda e sombria. Originalmente uma marcha ou um coro de celebração popular, é um hino à resistência e à liberdade, usado por camponeses italianos em sua luta contra o fascismo.
A música transmite a ideia de um clima contínuo de opressão e perigo, presente em uma sociedade controlada por um governo autoritário e policiada pelos nazistas.
Apesar de saber que está próximo do fim, ele incentiva sua companheira a não desistir da liberdade e a lutar por ela.
Esta canção é repleta de sentimentos intensos e tenciona uma atmosfera de esperança. O guerrilheiro descrito nela apesar do sofrimento e dos desafios, ainda acredita na "flor da resistência" e que, no final, a vitória será alcançada.
A Canção Bella Ciao na Série A Casa de Papel
Nos últimos tempos, Bella Ciao obteve um grande aumento de popularidade devido à série espanhola A Casa de Papel.
A música surge como um toque importante na narrativa, acompanhando o grupo de bandidos enquanto eles planejam um grande assalto. Em várias passagens determinantes, ela une a história e ajuda a reforçar a tensão e a emoção do enredo.
A quadrilha entoava a canção, que se tornou um hino para o grupo, transmitido pelo líder. O Professor, como muitos da sua geração, teve conhecimento do tema através do avô, que foi parte da resistência antifascista italiana.