Bela Canção "Bella Ciao"


Escrito por Laura Aidar

Acredita-se que Bella Ciao, música tradicional italiana, tenha surgido nas plantações de arroz no final do século XIX.

A canção de trabalho rural teve sua origem, mas hoje é mais conhecida como uma canção de resistência ao fascismo durante a Segunda Guerra Mundial.

A Casa de Papel, série espanhola recém-lançada, trouxe o tema de volta às atenções e ganhou ainda mais destaque, com sua trilha sonora que alcançou grandes índices de audiência.

Letra e Música de Bella Ciao

Apesar de ter sido cantada e gravada durante diferentes eras, com letras variadas, uma das versões tornou-se conhecida em todos os cantos do mundo: a que abordava o tema do fascismo italiano.

Em virtude de seu significado histórico e beleza, vamos analisar a gravação da Banda Bassotti, uma das mais famosas.

Una mattina mi son' svegliato

O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao

Una mattina mi son' svegliato

E ho trovato l'invasor

O partigiano, portami via

O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao

O partigiano, portami via

Ché mi sento di morir

E se io muoio da partigiano

O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao

E se io muoio da partigiano

Tu mi devi seppellir

E seppellire lassù in montagna

O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao

E seppellire lassù in montagna

Sotto l'ombra di un bel fior

Tutte le genti che passeranno

O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao

Tuttle le genti che passeranno

Mi diranno: Che bel fior

E quest' è il fiore del partigiano

O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao

E quest'è il fiore del partigiano

Morto per la libertà

E quest'è il fiore del partigiano

Morto per la libertà

Análise e Tradução da Música Bella Ciao

Introdução à Primeira Estrofe

Uma manhã, eu acordei

Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!

Uma manhã, eu acordei

E encontrei um invasor

O sujeito lírico dirige-se carinhosamente à sua "querida", contando que deu de caras com um "invasor" assim que acordou. Esta cena leva-nos a um cenário de guerra, deixando-nos com a sensação de que o personagem está em perigo.

Ele começou sua despedida, que durou até o término da melodia. Não apenas estava dizendo adeus à outra pessoa, mas também se despedindo de sua própria existência.

Estrofe Nº2

Oh, membro da Resistência, leve-me embora

Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!

Oh, membro da Resistência, leve-me embora

Porque sinto que vou morrer

Solicite auxílio à Resistência, um movimento de guerrilha que busca lutar contra as forças nazistas e o ditatorial regime de Mussolini.

Apenas com as palavras do sujeito já seria possível sentir a atmosfera de medo e opressão que foi gerada na Itália durante o domínio de Hitler e Mussolini.

Ele não mais precisa esconder a ameaça iminente, pois sente que a morte está chegando. Apesar de consciente de que pedir ajuda é inútil, ele ainda faz isso.

Estrofe 3

E se eu morrer como um membro da Resistência

Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!

E se eu morrer como um membro da Resistência

Você deve me enterrar

Mesmo com a consciência de que a morte pode ser inevitável, o eu-lírico assume seu lugar como "membro da Resistência". Engajado na luta antifascista, ele compreende que pode custar caro. Assim, antes que seja tarde demais, ele despede-se da sua amada.

Como um membro da Resistência, o destino mais provável deles é a morte. Ele pede à sua amada para ser forte e encarar o que está por vir, como se estivesse preparando-a para o inevitável.

Apesar de ter um ritmo alegre e animado, a mensagem da música é extremamente triste: a violência é retratada como parte natural da vida.

Estrofe Quarto

E me enterre no alto das montanhas

Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!

E me enterre no alto das montanhas

Sob a sombra de uma bela flor

Encarando a morte como uma inevitabilidade, ele pediu à sua companheira que o enterrasse no topo de uma montanha, em um lugar visível para os demais.

O guerrilheiro anônimo deseja ser enterrado ao lado de uma "bela flor", um gesto que contradiz a situação de terror na qual se encontra.

No meio de uma narrativa tão triste, tão desalentadora, de repente surge algo delicado e alegre como uma flor, trazendo uma nova inspiração para a canção.

Estrofe Cinco

Todas as pessoas que passarem

Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!

Todas as pessoas que passarem

Me dirão: Que bela flor!

No quinto verso, este sujeito prossegue sua despedida para alguém que ele ama. Seus raciocínios seguem a partir da passagem anterior, explicando o motivo de desejar ser enterrado nesse lugar.

Ele deseja que a flor que cresce sobre a sua sepultura seja uma mensagem de força e esperança para aqueles que ficam. Embora seu destino esteja selado, ele quer que sua história seja lembrada e possa servir de inspiração para outros.

Estrofe Sexta

E essa será a flor da Resistência

Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!

E essa será a flor da Resistência

Daquele que morreu pela liberdade

É como se fosse um ciclo: desse guerrilheiro, que foi forte e corajoso, vai surgir a "flor da Resistência", um emblema de ousadia e desobediência.

Ele se despede pela última vez daquela pessoa, tentando lhe oferecer consolo, pois entende que sua morte não foi em vão. Ele acredita que a partir dela algo novo pode surgir.

Apesar de toda a tragédia que cerca, o sujeito acredita que seu exemplo pode gerar mudanças positivas na sociedade e que há ainda motivos para esperar.

O Sétimo Verso

E essa será a flor da Resistência

Daquele que morreu pela liberdade

A última estrofe relembra os dois versos finais da passagem anterior. O eu-lírico olha para trás, recordando que partiu desta vida em nome da liberdade.

A sensação que fica é de que alguém está prestes a fazer um sacrifício: caminhar para a morte, sabendo o que o espera. Contudo, o indivíduo não desiste, lutando até o fim, mesmo que isso signifique deixar a vida nessa jornada.

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Explorando as Origens da Canção

É impossível descobrir quem foi o responsável pela criação das músicas ou letras que são parte da tradição popular transmitida de forma oral.

É comum o pensamento de que a música tenha surgido nas regiões norte e nordeste da Itália, trabalhada por Mondinas - trabalhadoras rurais que só eram necessárias em alguns meses do ano.

A letra denunciava a exploração, ameaça e as condições de trabalho desumanas que as mulheres sofriam nas plantações de arroz. Apesar do sol abrasador, elas eram forçadas a trabalhar sob pressão e com poucas condições.

Trabalho infame, por pouco dinheiro.

Em 1962, Giovanna Daffini, uma ex-mondina que havia se tornado cantora, gravou e divulgou a versão que conhecemos atualmente.

Bella Ciao possui algumas similitudes com uma canção Klezmer judaica chamada Oi Oi di Koilen, criada pelo compositor ucraniano Mishka Ziganoff.

Cantando a Resiliência Italiana

Ao revisarmos alguns acontecimentos internacionais que estavam influenciando o destino do mundo, conseguimos ter uma melhor compreensão da mensagem desta versão e o seu legado histórico.

Em 1939, o que se vislumbrava era o início de um dos mais cruéis conflitos da história humana: a Segunda Guerra Mundial. Estes longos seis anos de guerra terminaram em 1945.

Retrato do ditador Benito Mussolini em 1930.

Em 1922, Benito Mussolini, líder do Partido Nacional Fascista, foi nomeado primeiro-ministro da Itália. Em 1925, ele assumiu o título de "Duce" - líder da nação - e estabeleceu um regime totalitário.

Em 1940, o ditador assinou um tratado com Hitler, conhecido como Eixo Roma-Berlim. Ao entrar na guerra ao lado da Alemanha, a Itália entrou em luta contra os Aliados (França, Reino Unido, Estados Unidos e União Soviética).

Em 1943, os soldados nazistas controlavam as ruas e as tropas aliadas marchavam em direção ao território. O povo sofria com as consequências da guerra, e a raiva e a miséria tomavam conta do país. A fome se alastrava cada vez mais.

Retrato dos partigiani em Veneza, abril de 1945.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Partigiani, formado por soldados e civis italianos, lutou bravamente contra as forças fascistas. A Resistência Italiana foi um dos maiores movimentos de resistência ao regime nazista na Europa.

Os guerrilheiros italianos lutaram com bravura contra a ditadura de Mussolini e a ocupação alemã, culminando na execução do ditador italiano e na rendição dos nazistas na Itália.

Esta canção foi ouvida em todos os cantos do mundo e se tornou um símbolo de poder e militância. Ela foi transformada em uma verdadeira proclamação de luta.

Promovendo a Música

Giovanna Daffini contribuiu para o registro do canto das mondinas, o que contribuiu para que ele se tornasse mais conhecido e popular.

Na década de 60, o sucesso não foi fruto do acaso: isso se deu devido às diversas lutas sociais ocorridas nessa época, como as pela conquista de direitos trabalhistas e estudantis.

Os Festivais da Juventude Comunista foram locais ideais para a transmissão do "Cântico da Garagem", pois nesses eventos se multiplicavam os militantes italianos que ensinavam a música aos seus companheiros.

O hino à Resistência tornou-se com o passar do tempo uma importante canção contra o autoritarismo e a opressão.

Com o tempo, Bella Ciao tornou-se conhecido globalmente, sendo entoado em manifestações e protestos ao redor do mundo. Diversos artistas gravaram versões em variados ritmos, indo desde o ska punk até o funk paulista.

Explicando o Significado de Bella Ciao

Com um ritmo alegre e enérgico, Bella Ciao esconde uma mensagem profunda e sombria. Originalmente uma marcha ou um coro de celebração popular, é um hino à resistência e à liberdade, usado por camponeses italianos em sua luta contra o fascismo.

A música transmite a ideia de um clima contínuo de opressão e perigo, presente em uma sociedade controlada por um governo autoritário e policiada pelos nazistas.

Apesar de saber que está próximo do fim, ele incentiva sua companheira a não desistir da liberdade e a lutar por ela.

Esta canção é repleta de sentimentos intensos e tenciona uma atmosfera de esperança. O guerrilheiro descrito nela apesar do sofrimento e dos desafios, ainda acredita na "flor da resistência" e que, no final, a vitória será alcançada.

A Canção Bella Ciao na Série A Casa de Papel

Nos últimos tempos, Bella Ciao obteve um grande aumento de popularidade devido à série espanhola A Casa de Papel.

A música surge como um toque importante na narrativa, acompanhando o grupo de bandidos enquanto eles planejam um grande assalto. Em várias passagens determinantes, ela une a história e ajuda a reforçar a tensão e a emoção do enredo.

A quadrilha entoava a canção, que se tornou um hino para o grupo, transmitido pelo líder. O Professor, como muitos da sua geração, teve conhecimento do tema através do avô, que foi parte da resistência antifascista italiana.

Laura Aidar
Escrito por Laura Aidar

É arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Possui licenciatura em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e formação em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.