12 Obras-Primas de Marina Abramović


Escrito por Sónia Cunha

A Marina Abramović (1946) é reconhecida como um dos principais artistas da Performance Art (ou arte performática) a nível global. Iniciou a sua carreira na década de 70, alcançando nesse período notável reconhecimento e consagração.

Ela é conhecida como uma das performers pioneiras e controverso, sendo uma das mais influentes e famosas até agora. Seu trabalho chamou a atenção do grande público para uma forma de arte que, até então, ainda não era muito conhecida.

O seu papel no mundo da performance e a imensa influência que teve no uso da linguagem são incalculáveis. Algumas das suas obras tornaram-se verdadeiras referências e são usadas como modelo para muitos outros artistas.

1. Ritmo 10 (1973)

Rhythm 10 (1973)

A primeira performance da série Rhythms foi, sem dúvida, uma das mais conhecidas de sua carreira. Em Edimburgo, ela desafiou a si mesma com um jogo usando facas: a artista colocou diversas facas na frente e desempenhou o espetáculo.

Marina pega uma faca de cada vez e desliza a lâmina entre o seu dedos com rapidez. Se ela falha e se corta, ela troca de faca e começa de novo, tentando cometer o mesmo erro.

A performer usou a ritualização e a repetição para criar uma situação de risco diante da plateia. A sua performance foi repetida diversas vezes, sempre colocando o seu corpo em risco.

2. Ritmo 5 (1974)

Rhythm 5 (1974)

A performer estava testando mais uma vez seus limites físicos e mentais, e lançou mão do seu corpo para criar arte. No Centro do Estudante de Belgrado, ela organizou no chão uma grande estrela de madeira em chamas, com um vazio no meio.

Marina cortou seus cabelos e unhas, simbolizando assim a purificação e a libertação do seu passado, e se posicionou no centro da estrela. Após isso, jogou os itens cortados no fogo.

Devido à inalação dos fumos, a artista perdeu a consciência e precisou ser retirada do palco, o que interrompeu sua apresentação.

3. Ritmo 0 (1974)

Rhythm 0 (1974).

Com certeza, a performance "Rhythm 0" é um marco na obra da artista. Na Galleria Studio Morra, em Nápoles, ela expôs 72 objetos em uma mesa e ficou à disposição do público por 6 horas.

Ao longo dessa hora, ela segurava uma variedade de objetos: flores, canetas, facas, tintas, correntes e mesmo uma arma de fogo carregada. Ela deu a entender que a plateia podia fazer o que quisesse com ela durante esse período.

Marina foi submetida a humilhações, pintada, machucada e, ainda por cima, teve uma arma apontada para a cabeça. Esta performance exigiu que ela ultrapassasse os límites do seu corpo, fazendo com que refletíssemos sobre a psicologia humana e o poder. A mensagem passada é arrepiante e nos faz ponderar acerca da forma como nos relacionamos.

4. A BELEZA DEVE ESTAR PRESENTE NA ARTE, O ARTISTA TAMBÉM DEVE SER BELO (1975)

ART MUST BE BEAUTIFUL, ARTIST MUST BE BEAUTIFUL (1975)

Ocorrida em Copenhague, na Dinamarca, a performance em vídeo da artista Marina caracterizou-se por uma longa duração de quase uma hora. Durante esse tempo, a artista mostrava expressão e entonação crescentes de dor enquanto escovava os seus cabelos com violência e repetia o título da obra: "A Arte deve ser linda, o artista deve ser lindo".

Uma mulher na década de 70 deu início ao trabalho transgressor, revelando um cariz feminista que questionava a forte objetificação do corpo feminino naquela época.

Abramović reflete sobre a dor e o que significa ser belo na nossa cultura, questionando os padrões estéticos estabelecidos.

5. Relação no Tempo (1977)

In Relation in Time (1977).

No início da parceria com o performer alemão Ulay, Marina Abramovic compartilhou tanto um relacionamento amoroso quanto criações artísticas ao longo de 12 anos.

A performance de arte de Marina Abramovic e Ulay 'The Great Wall Walk', foi exibida no Studio G7 em Bolonha, na Itália. Os artistas se sentaram de costas voltadas por 17 horas, amarrados por seus cabelos.

Este teste busca o equilíbrio e a harmonia entre tempo, dor e cansaço, trazendo assim resistência física e mental.

6. Inalar/Exalar (1977)

Breathing In/ Breathing Out (1977).

A obra inicialmente apresentada em Belgrado mostrava Marina e Ulay de joelhos no chão. Com seus narizes tapados por filtros de cigarros e bocas coladas, os dois conseguiam respirar o mesmo ar, que passava de um para o outro.

Ao cabo de 19 minutos, o casal exauriu o oxigênio e estava quase desmaiando. Esta performance evocou emoções como ansiedade e sufoco e parece explorar tópicos ligados a relacionamentos amorosos e à interdependência.

7. AAA-AAA: Ano de 1978

AAA-AAA (1978).

Ficando de joelhos, Ulay e Marina se fitavam, cada um tentando ser mais alto do que o outro com seus gritos.

Durante os 15 minutos, a performance foi um reflexo dos desafios e dificuldades de um relacionamento conturbado. Ela terminou com os dois praticamente gritando dentro da boca um do outro, o que parece ser uma metáfora sobre o assunto.

8. Energia Residual (1980)

Rest Energy (1980).

Marina e Ulay, ao unirem seus esforços, realizaram uma apresentação que durou 4 minutos em Amsterdã, na Alemanha. Eles se equilibraram ao usar o peso de seus corpos para segurar uma flecha direcionada ao coração de Marina.

Eles usavam microfones de peito que transmitiam os seus batimentos cardíacos, que aumentavam rapidamente por causa da ansiedade. Esta obra fue uma das mais desafiantes da carreira de Abramović, pois exigia confiança mútua.

9. Os Amantes (1988)

The Lovers (1988).

The Lovers é uma obra que marca o término de um relacionamento amoroso e artístico entre duas pessoas. Após 12 anos juntos, os amantes decidiram que era hora de se separar, e, como uma forma de homenagear sua união, criaram esta obra simbólica e tocante.

Eles se encontraram na parte central da Grande Muralha da China. A despedida marcou o fim de um capítulo da jornada deles. Então, cada um partiu para seguir seu próprio caminho.

10. Cozinha Espiritual (1996)”

Spirit Cooking (1996).

A obra de arte de dimensões reduzidas, intitulada "Spirit Cooking", continua causando polêmica até os dias atuais. Criada por Marina Abramović, a obra combina performance artística, poesia e livros de culinária para criar "receitas" escritas com sangue de porco nas paredes de uma galeria italiana.

Em 2016, durante as eleições para a presidência dos Estados Unidos da América, o livro de Marina Abramovic voltou a ter destaque devido a um boato que surgira a partir de uma suposta troca de e-mails entre ela e alguém trabalhando na campanha de Hillary Clinton. Dessa forma, surgia a ideia de que elas eram satanistas e realizavam rituais seguindo as instruções do livro. O trabalho havia sido editado em formato de livro anteriormente.

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11. Sete Peças Fáceis (2005)

Seven Easy Pieces (2005).

No Guggenheim Museum de Nova Iorque, Marina foi apresentada com a série Seven Easy Pieces, marcando ou influenciando seu percurso como artista. Décadas depois, ela optou por recriar essas performances.

A artista Marina Abramović não se limitou às suas duas obras, também ela reproduziu e reinventou trabalhos dos demais artistas como Bruce Nauman, Vito Acconci, Valie Export, Gina Pane e Joseph Beuys.

12. A Presença do Artista (2010)

Marina e Ulay em 2010.

No MoMA de Nova Iorque, foi realizada uma performance de longa duração intitulada The Artist is Present ou A Artista está Presente.

Durante os três meses que a exposição retrospectiva do trabalho de Marina ocupou todo o museu, ela passou 700 horas interagindo com os visitantes. Sentada em uma cadeira, ela se colocava à disposição dos observadores, que podiam aproveitar um momento de silêncio ao seu lado, um de cada vez.

O retrato acima retrata um momento inesquecível. A artista Marina Abramović ficou completamente surpresa ao ver Ulay, seu antigo companheiro, aparecer. Os dois se emocionaram ao se reencontrar e abraçaram-se com força, soluçando juntos após tantos anos separados.

As expressões faciais e os gestos usados pela dupla são impressionantes, pois eles parecem se comunicar sem trocar palavras. Um episódio arrepiante foi gravado em vídeo e se popularizou na internet. Veja abaixo:

Conhecendo Marina Abramović: Uma Breve Biografia

Dia 30 de novembro de 1946 foi o dia em que a autodenominada "avó da performance" nasceu em Belgrado, capital da Sérvia e que na época era a antiga Iugoslávia. Seus pais eram de ideologia comunista e foram reconhecidos como heróis durante a Segunda Guerra Mundial, após a qual assumiram cargos governamentais.

Criada pela avó, extremamente religiosa, até os seis anos, Marina demonstrava desde cedo um forte interesse pelas artes. Porém, a educação rigorosa, quase militar, dos seus pais parece ter influenciado a artista a buscar constantemente vias de libertação ao longo da vida.

Durante 1965 a 1970, Abramović realizou seus estudos na Academia de Belas Artes de Belgrado, e posteriormente realizou a pós-graduação na Croácia. Em 1971, ela se casou com Neša Paripović, um artista conceitual, com quem permaneceu casada por 5 anos.

Retrato de Marina Abramović em 2010.

A artista mudou-se para a Holanda após apresentar seus primeiros trabalhos em seu lugar de nascimento e se divorciar. Na Holanda, ela conheceu Uwe Laysiepen, mais conhecido como Ulay, um criador alemão. Eles começaram a se relacionar tanto no amor quanto na arte, e essa relação durou mais de uma década.

Abramović percorreu um extenso caminho na sua carreira como performer, acompanhando-o a dar aulas em numerosas universidades, tais como Sérvia, Holanda, Alemanha e França. Além disso, ela também teve a oportunidade de desenvolver trabalhos como filantropa e diretora de cinema.

Marina, criadora de body art, explorou e superou seus limites ao usar o corpo como veículo ou suporte. Ocasionalmente, ela convidava o espectador a se envolver nas performances, questionando a interação entre a artista e o público.

A artista se tornou cada vez mais conhecida a nível mundial, sendo considerada a "encarnação da performance" para grande parte do público. Após a retrospectiva realizada no MoMA, de 2010, a sua fama aumentou ainda mais, culminando em um documentário dirigido por Matthew Akers.

Assista ao trailer abaixo:

Sónia Cunha
Escrito por Sónia Cunha

É licenciada em História, variante História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (2003) e em Conservação e Restauro pelo Instituto Politécnico de Tomar (2006). Ao longo da carreira profissional, exerceu vários cargos em diferentes áreas, como técnico superior de Conservação e Restauro, assistente a tempo parcial na UPT e professora de História do 3º ciclo e ensino secundário. A arte e as letras sempre foram a sua grande paixão.