Análise e Resumo do Filme "Cidade de Deus"


Escrito por Sónia Cunha

O longa-metragem Cidade de Deus, dirigido pelos brasileiros Fernando Meirelles e Kátia Lund, foi lançado em agosto de 2002. O filme de ação foi adaptado do livro homônimo de Paulo Lins, de 1997, e contou com o roteiro de Bráulio Mantovani.

O longa, que provocou uma grande reverberação internacional, tornou-se um ícone do cinema brasileiro e foi indicado ao Oscar nas categorias de melhor diretor, melhor roteiro adaptado, melhor fotografia e melhor edição.

Cidade de Deus é um filme que não se limita aos aspectos visuais e técnicos, mas também alcança o público com sua mensagem social. Ele traz uma realidade brasileira que nem todos conhecem e que muitos não querem ver, tornando-se, portanto, indispensável.

“toda mudança é o começo de algo novo”. Segundo Zuenir Ventura, jornalista e escritor brasileiro de renome, toda alteração é o início de algo novo.

Assistir Cidade de Deus é um dever cívico.

Resumo

Vivendo na Cidade de Deus, o protagonista Buscapé enfrenta desafios diariamente, pois o lugar é cenário de um crime organizado e violência policial. Ainda assim, ele segue seu sonho de se tornar um fotógrafo, mesmo sendo desafiado por trágicas histórias de outros moradores da comunidade.

Alerta: a partir deste ponto, este artigo contém informações que podem revelar detalhes importantes do enredo!

Principais Pontos do Resumo

Uma Visão Geral

Buscapé é o protagonista e narrador deste filme sobre a vida na Cidade de Deus, localizada no Rio de Janeiro. Acompanhando sua perspectiva desde sua infância, o filme conta a história de vários personagens da comunidade.

O protagonista fugia da violência, acompanhado por garotos da sua idade como Dadinho e Bené. Esses, porém, acompanhavam os assaltantes da região em seus crimes. Dadinho acabou se tornando Zé Pequeno, um perigoso bandido que tomaria todas as "bocas" de tráfico e viraria o dono da região.

Explorando o Desenvolvimento

Pequeno é um homem violento e obcecado pelo controle. A morte de Bené, seu aliado na manutenção da ordem entre os criminosos, o deixa desorientado e desesperado. Ele então tenta flertar com a companheira de Mané Galinha, porém é recusado. Solitário, Pequeno se vê cada vez mais impotente.

Zé Pequeno comete uma atrocidade ao estuprar a mulher na frente de Mané Galinha. Galinha, antigo atirador do exército, não fica parado e começa a se vingar: mata 12 homens da gangue inimiga. Para se salvaguardar, ele se une a Cenoura, um traficante das redondezas, o que desencadeia uma batalha entre as diferentes facções.

Durante mais de 12 meses, homens, jovens e crianças foram forçados a pegar armas e se tornar parte das batalhas nas ruas da Cidade de Deus. Buscapé, protagonista da história, luta pela sua sobrevivência neste ambiente caótico, trabalhando como entregador de jornais e sonhando com o sonho de se tornar um fotógrafo.

Quando Mané Galinha aparece preso na televisão, Zé Pequeno decide que é hora de sua gangue aparecer e chama Buscapé para fotografar armas. O protagonista leva as imagens para revelar e elas acabam na capa do jornal. É então que Zé Pequeno encontra sua chance de ganhar fama: se conseguir mais fotos do bandido, tem um emprego garantido no jornal.

Avaliação Final

O número de membros do grupo de Pequeno diminui ao longo do tempo; o traficante passa a recrutar crianças cada vez mais jovens para lutar ao seu lado. Sem dinheiro, ele rouba seu traficante de armas, Tio Sam, que trabalhava para um policial corrupto. Infelizmente, Mané Galinha acaba morrendo diante do tiro de uma criança já ferida e caída no chão.

A polícia adentra a comunidade para localizar o dinheiro. Zé Pequeno acerta a sua dívida, e Buscapé consegue registrar o ocorrido. Infelizmente, o traficante acaba sendo morto pelos membros de sua gangue, que assumem o controle da "boca de fumo".

Buscapé tem que tomar uma decisão difícil entre revelar a corrupção da polícia ou vender a foto que tirou do bandido morto para o jornal. Ele decide que a melhor opção é a segunda e, com isso, ele tem o pontapé inicial para uma carreira de sucesso na fotografia.

Atores e Personagens Principais

Alexandre Rodrigues do Buscapé

Buscapé

Vivendo no meio da violência, Buscapé tinha o desejo de encontrar uma vida melhor e pacífica. A Cidade de Deus foi testemunha do seu sonho de se tornar um fotógrafo, criando uma oportunidade a partir da guerra entre facções.

Leandro Firmino como Zé Pequeno

Zé Pequeno

A infância de Dadinho foi marcada por viver sem família. Admirando os bandidos, ele aprendeu com eles, sonhando ser o dono da Cidade de Deus. Quando adulto, Dadinho se transformou em Zé Pequeno, um criminoso extremamente violento, disposto a tudo para obter o sucesso.

Phellipe Haagensen - Bené

Bené

Bené é a figura mais querida da Cidade e o melhor amigo de Zé Pequeno, atuando como seu braço direito, responsável por evitar conflitos e garantir a estabilidade na região. Todavia, sua missão foi interrompida prematuramente, pois, em sua festa de despedida, foi atingido por uma bala perdida, resultando em sua morte.

Sandro Cenoura interpretado por Matheus Nachtergaele

Cenoura

Apesar de menos violento do que Zé Pequeno, Cenoura é, ainda assim, um bandido. Ele consegue resistir ao domínio de seu rival e manter sua própria "boca de fumo". Porém, aproveita a situação de Mané Galinha para desencadear uma guerra entre facções.

Seu Jorge - Mané Galinha

Mané Galinha

Mané Galinha, antigo atirador do exército, mora na Cidade de Deus e trabalha como cobrador de ônibus. Uma vida honesta até que Zé Pequeno desencadeia uma obsessão sobre sua companheira. Após testemunhar o estupro dela pelo traficante, Galinha se aventura em uma jornada de vingança. Mesmo se declarando que não é bandido, a guerra o transforma em um assassino.

Avaliação do Filme

Não Dê Uma Chance para o Bicho Te Pegar!

Cidade de Deus inicia-se com a técnica literária in media res, expressão do latim que significa "no meio das coisas". A narrativa dá o pontapé inicial no meio da história, mostrando os eventos anteriores por meio de memórias e flashbacks.

No início do filme, vemos facas sendo afiadas e uma galinha tentando desesperadamente fugir de seu destino fatal, durante um churrasco.

A alegria da festa é inesperadamente interrompida com a fuga da galinha. Zé Pequeno lidera um pequeno grupo de crianças correndo e atirando ao ar em busca de deter o animal. A imagem da galinha tentando escapar simboliza o desespero dos moradores da Cidade de Deus, que esforçam-se para evitar a aproximação da morte.

Buscapé de frente com o gangue

Neste momento, vemos Buscapé, nosso narrador-protagonista, encarando a galinha e o bando de Zé Pequeno. Ele também mora na Cidade, mas foge da criminalidade e tem medo pela própria vida. O jovem carrega uma máquina fotográfica no ombro, enquanto todas as armas apontam para ele. Ainda assim, ele mantém a esperança de mudar o seu destino.

Uma foto podia mudar a minha vida mas, na Cidade de Deus, se correr o bicho pega e se ficar o bicho come.

Narrativa da Cidade de Deus

Desde os anos 60, a história da Cidade de Deus se iniciou com a construção do local. Após incêndios e enchentes que resultaram na perda de lares, muitas famílias foram deslocadas para lá. Buscapé reflete sobre o surgimento deste lugar marcante.

Os moradores chegaram com a esperança de encontrar um paraíso, contudo a realidade era bem diferente. Não havia condições básicas como água, luz e asfalto, mas a quantidade de habitantes continuava a aumentar.

A Prefeitura não se dava conta da situação na Cidade de Deus, afastada do que se conhece como "cartão postal do Rio de Janeiro".

Fotografia da Cidade de Deus - Arquivo Nacional

O governo planejou construir um abrigo para funcionários públicos, mas devido a uma grande enchente, antigos habitantes de comunidades da zona sul foram forçados a ocupar o local.

Durante os anos 80, cerca de 20 anos depois, o crime organizado aumentou de forma significativa, tornando a comunidade um dos lugares mais temidos da cidade.

Ascendendo Acima da Violência

A infância de Buscapé é retratada entre a violência que cerca a Cidade de Deus. Enquanto alguns meninos jogam bola, ele está ali com Dadinho e Bené, que mais tarde se tornariam traficantes. De acordo com essa narrativa, Buscapé se revela como herdeiro de uma história coletiva.

Durante o jogo, Buscapé e Dadinho se conhecem. Ao longo da narrativa, eles se encontram diversas vezes, com Buscapé sempre encarando Dadinho com medo, mas sendo ignorado. Desde a infância, essas personagens são muito diferentes, como se seus destinos estivessem predeterminados: um é a paz, o outro é a guerra.

No passado, o Trio Ternura, formado por Cabeleira, Alicate e Marreco, era famoso por seus assaltos na Cidade de Deus. Bené e Dadinho, dois jovens ladrões, frequentemente se juntavam a eles em suas aventuras.

Trio Ternura, Cidade de Deus

Bené era o irmão mais novo de Alicate e parecia que estava entrando em uma "escola do crime". Ele estava aprendendo com Alicate e seu melhor amigo Dadinho, que era órfão, sempre estava ao lado dele. Dadinho era o mais animado de todos e a cada dia essa escola parecia atrair mais crianças.

Buscapé, o mais jovem dos irmãos Marreco, buscava se afastar de todo o tipo de violência que crescera com medo. Ele não queria se tornar um policial ou um ladrão. No entanto, quando os irmãos decidem roubar um caminhão de gás, a agressividade de Dadinho toma forma pela primeira vez. Eles levam o dinheiro e deixam que as pessoas da comunidade peguem as botijas de gás, como o lendário Robin Hood, roubando dos ricos para dar aos pobres.

Ao ser assaltado, o motorista não oferece nenhum tipo de resistência e se deita no chão. Aproveitando a fraqueza da vítima, Dadinho começa a agredi-lo com chutes e expressando prazer com a violência desnecessária. Ao ver aquela cena, ficou claro que algo estava mudando naquele menino, que se tornava cada vez mais um predador. Embora fosse ainda um garoto, Dadinho já consumia maconha, cometia pequenos delitos e planejava golpes mais arriscados, anunciando para todos a sua nova condição: "eu sou bicho solto".

Dadinho atirando e rindo

Dadinho sugere o assalto ao motel, mas por ser criança acaba ficando de vigia. Ele fica encarregado de atirar em um vidro para avisar se a polícia se aproxima. Os assaltantes saem correndo quando escutam o barulho, e quando a polícia chega ao local, encontra-o cheio de corpos; todos os hóspedes foram mortos.

Dadinho surpreendeu a todos dando um falso alerta. Ele entrou no edifício e começou a atirar, sem escrúpulos. De acordo com o narrador-protagonista, naquela noite "Dadinho matou a vontade de matar". No entanto, isso significava que a sua história mal acabara de começar.

Dadinho e Bené

Após o roubo, Dadinho fugiu da Cidade de Deus com o dinheiro. Não foi visto por algum tempo, mas ele conseguia se virar sozinho, trabalhando como engraxador de sapatos. Finalmente, voltou para criar um grupo criminoso, com Bené ao lado como seu principal aliado.

Para ser bandido mesmo não basta ter arma na mão, precisa uma ideia na cabeça e isso o Dadinho tinha.

Ao crescer, Zé Pequeno se tornou um dos mais temidos criminosos do Rio de Janeiro. A mesma trajetória parece se repetir com Filé, um garoto que trabalha para Zé Pequeno no tráfico de drogas. Aos 18 anos, Filé já enfrenta os perigos do mundo do crime.

Ao enfrentar os meninos da Caixa Baixa, grupo de crianças desamparadas que perpetram roubos na Cidade de Deus, Pequeno obriga Filé a atirar em um deles.

Filé dispara

No desfecho, Mané Galinha afirma: "Você entrou p'ra irmandade". Esta cena, repleta de violência e impactante, mostra o terror e a ingenuidade das crianças que vivem sob o ameaça da morte desde o seu nascimento. Quando Mané encontra com Filé, ele o incentiva a abandonar o crime, lembrando-lhe que ainda é uma criança.

A resposta dele evidenciou uma realidade na qual a infância é ignorada e os meninos são forçados a crescer e a se tornarem cruéis antes da hora certa.

Que criança? Eu fumo, eu cheiro, já matei e já roubei. Sou sujeito homem!

Os efeitos do Crime Organizado na Proliferação do Tráfico

A Cidade de Deus é palco de mudanças e a chegada do crime organizado, mais especificamente o tráfico de drogas. No filme, a explicação é clara: trata-se de um lucrativo e atraente "negócio" para os indivíduos, que possui fornecedores, linha de produção e até "plano de carreira".

Após a conversa com Exu Sete Caldeiras, Dadinho tomou a decisão de abandonar o mundo do crime. Seu guia espiritual, que lhe deu uma nova identidade, Zé Pequeno, previu seu sucesso profetizando: "vai ser grande". Com essa motivação, ele resolveu, na manhã seguinte, assumir o controle de todos os pontos de tráfico da região.

O destino de Buscapé se encontra novamente com a história da Boca dos Apês. Ele foi à "boca" de um ex-colega de escola para comprar maconha para Angélica, a menina de quem gostava. Esta boca foi fundada por uma viúva que precisava sustentar suas filhas, e foi sendo assumida por várias gerações de bandidos. É fascinante ver como essa tradição foi passada de geração para geração.

Evidências apontam para a polícia estar envolvida no esquema, dando seu aval para a corrupção. O sucesso de Pequeno no mercado negro foi tão significativo que, se fosse legal, ele seria reconhecido como o "Homem do Ano". Como Pequeno não hesitava em punir os que o desafiavam, a taxa de crimes na favela caía significativamente, o que atraiu muitos consumidores de cocaína de outras áreas.

Bené se torna amigo de Tiago quando Zé Pequeno o recruta para trabalhar para ele. O traficante oferece uma grande quantia para que Tiago compre roupas mais modernas e se renove visualmente. Enquanto vestia suas novas roupas, Tiago comenta "Virei playboy!" e, desse momento em diante, Bené e Tiago se tornam amigos.

Bené e Zé Pequeno

Bené, Zé Pequeno's melhor amigo e braço direito desde a infância, era sua calmaria, a única pessoa capaz de acalmá-lo e dissuadi-lo da agressividade. Por muito tempo, foi ele quem impediu a guerra de gangues, não permitindo que seu amigo invadisse o território de Cenoura.

Existia um grande contraste entre os parceiros Bené e Pequeno. Enquanto Bené era conhecido por ser simpático, generoso, divertido e o ”bandido mais responsável” da Cidade de Deus, Pequeno só queria dinheiro e poder e vivia trabalhando.

Ele detestava a violência, mas usava o tráfico como uma oportunidade de acumular riqueza para conseguir uma vida melhor.

Tragédia Amorosa e Dor Feminina

No meio de tanta tragédia, o amor também floresce na Cidade de Deus. Após o assalto do Trio Ternura ao motel, os criminosos se separam na fuga, despedindo-se com a expressão "Fé em Deus!". Alicate se refugia na religião, Marreco volta para ajudar o pai no trabalho e Cabeleira vaga sem destino, à procura de alguma forma de salvação. É aí que ele conhece Berenice.

Cabeleira e Berenice

A moça rejeitou o namorado ao saber de sua vida de crime, afirmando que "malandro não ama". Porém, ao final, ela convenceu-o a abandonar a malandragem. Alvorada de Cartola tocou ao fundo e os dois decidiram fugir juntos.

Quando a polícia invadiu a favela em busca do Trio, Cabeleira teve que empurrar a viatura para que ela arranque. Infelizmente, Berenice viu o seu amor serem baleado até à morte enquanto tentavam fugir no carro.

Angélica e Bené desafiaram o destino ao deixarem a Cidade de Deus e decidirem comprar um sítio para viverem como hippies. Infelizmente, o destino trágico acabou se repetindo na vida da jovem casal.

Na festa de despedida, tudo parecia perfeito, e Bené estava pronto para começar sua nova vida. Infelizmente, no entanto, uma bala perdida acabou por fazer dele uma vítima trágica e ele perdeu a vida.

O destino parece ter escrito um trágico final para aqueles homens, não há nada que possam fazer para evitá-lo, como se estivessem destinados à desgraça e suas esposas à dor.

A trama mostra um clima extremamente opressivo e machista para essas mulheres. Um exemplo claro é a relação entre Paraíba, dono do boteco e informante da polícia, e sua esposa. No filme, a mulher jovem conversa sobre sexo com uma mulher mais velha, revelando que sua vida íntima com o marido não é satisfatória e que ele é ciumento e agressivo.

Paraíba cometeu um delito inimaginável ao surpreender a mulher na cama com Marreco, irmão de Buscapé, e a enterrar viva. Logo depois, o próximo alvo foi a amiga de Mané Galinha, que recusou as investidas de Zé Pequeno, mas ainda assim foi violentada por ele.

Esse evento trágico muda o curso da história e desencadeia a guerra na Cidade de Deus. No entanto, a mulher se torna invisível, e nunca mais a vemos novamente.

Viver como um Líder de Favela ou como um Otário?

Ao amanhecer, Alicate teve um momento de clareza. Após o infame assalto ao motel, ele e Marreco passaram a noite se escondendo da polícia em uma árvore. Então, decidiu que era hora de mudar de vida e voltar para a igreja. O Trio Ternura nunca mais foi o mesmo.

Essa vida de bicho solto é para maluco.

Quando Marreco foi obrigado a trabalhar com o pai, Buscapé o acompanhou entendendo que ter um irmão "bandido" não era algo positivo. O protagonista prometeu para o irmão mais velho que nunca tocaria uma arma e cumpriu a palavra. No entanto, quando Cabeleira foi assassinado pela polícia, Buscapé descobriu a sua vocação ao ver pela primeira vez uma máquina fotográfica.

Angélica e Buscapé

O garoto evita os conflitos da Cidade de Deus desde a adolescência. Ele tem um grupo de amigos composto por pessoas que não moram na favela. Dentre eles está Angélica, a garota de quem é apaixonado. Quando o leva para um baile, ela conhece Bené e é amor à primeira vista. Isso mostra que o protagonista está em desvantagem em relação aos bandidos e o faz se questionar se sempre será assim.

Zé Pequeno, com o objetivo de conquistar a Cidade de Deus, trabalhava num supermercado para angariar recursos para comprar uma máquina e tornar-se fotógrafo.

O protagonista é demitido quando os moleques da Caixa Baixa tentam assaltar seu local de trabalho. Por um momento, ele pensa em abandonar a "vida de otário" e aderir ao crime, imaginando possíveis golpes.

Se liga aí, mané, honestidade não compensa!

Mané Galinha, um antigo atirador do exército e morador da Cidade de Deus, considerou assaltar o cobrador de ônibus, quando o veículo estava vazio. Porém, acabou sendo reconhecido. Na festa de Bené, Zé Pequeno foi rejeitado pela sua companheira e ele resolveu retaliar por meio de humilhação pública.

mané galinha

A rivalidade entre Pequeno e Galinha chega a um clímax quando o primeiro estupra a mulher do segundo na sua presença. Em seguida, Pequeno faz com que sua gangue atire contra a casa de Galinha, causando a morte do seu irmão e do seu tio. O ex-atirador decide revidar e avança sobre a gangue, matando 12 homens.

No dia seguinte, todos já haviam ouvido sobre o feito do cobrador e lhe deram as congratulações, declarando que ele "fez um ótimo trabalho".

A Cidade de Deus tinha encontrado um herói.

Conflito entre Facções, Policiamento Corrupto e Morte

Mané Galinha queria vingança e estava decidido a eliminar seu inimigo. Ao planejar sua reviravolta, ele se deu conta de que Deus tinha outras intenções. Após o ataque, ele se escondeu na "boca" de Cenoura e percebeu que precisava de um grupo de fora-da-lei para se defender.

Mané Galinha disparando

Mané resistiu à ideia de participar de assaltos com o grupo, mas acabou por se acostumar com a vida do crime. A partir daí, a vingança se transformou em guerra, e Mané se tornou uma parte fundamental dela, ajudando a financiá-la.

A cidade se dividiu em dois, cada um lutando para liderar. A violência então foi usada como desculpa para tudo, e a polícia tratou todos os habitantes como se fossem marginais.

A vida na favela já era um purgatório e virou um inferno.

Durante toda a duração do filme, a postura dos policiais é claramente corrupta e imoral. Na noite do assalto ao motel, dois deles trocam algumas palavras e deixam claro o que pretendiam: um desejava se apropriar do dinheiro, e o outro, simplesmente matar os criminosos.

Sem dinheiro para adquirir armas, Pequeno decidiu assaltar o seu traficante, Tio Sam. Estranhamente, a mesma autoridade policial que tentava suprimir a violência na comunidade era responsável pelo fornecimento de armas ao tráfico.

Zé Pequeno

Ao chegar ao final da história, a polícia recua diante de Zé e seu exército de crianças armadas. Galinha aproveita a ocasião e realiza uma emboscada, derrubando vários oponentes. Entretanto, ao presenciar uma menina baleada, ele tenta ajudá-la. No entanto, ela se lembra de que o homem diante dela era o assassino de seu pai e atira nele pelas costas.

Buscapé, escondido, fotografou a polícia invadindo a Cidade de Deus e acertando as contas com Pequeno. Eles levaram o último dinheiro e os pertences valiosos de Pequeno como suborno.

No lugar abandonado, o delinquente lamenta a disputa que iniciou e avisa a quadrilha que eles terão que fazer assaltos para manter os negócios.

Ao final, não restava ninguém para obedecer a Zé Pequeno, pois todos os seus soldados tinham morrido. Os moleques da Caixa Baixa recusaram-se a fazer o que lhes era ordenado e decidiram vingar o menino morto a mando de Filé, atirando contra o traficante. "Pelo nosso amigo" foi o grito de guerra que ecoou naquele momento.

Ao fotografar o cadáver de Pequeno, o protagonista sabia que aquela imagem garantiria um emprego no jornal para ele.

Embora com provas de corrupção policial, Buscapé opta por esconder tais provas e entregar somente aquelas que mostram o bandido morto. Como única alternativa possível, visto o sistema que estimula a violência que afirma condenar, Buscapé busca sair da Cidade de Deus.

Descobrindo o Significado

Sem dúvida, Cidade de Deus é um filme que ficará gravado na memória. Para alguns dos habitantes da cidade, a narrativa pode ter reforçado a ideia de que eles são todos violentos e envolvidos em atividades criminosas.

Analisando a película, é possível perceber que ela busca denunciar vários problemas sociais graves: a falta de meios, o escasso acesso a recursos e oportunidades que muitos brasileiros enfrentam, bem como a pobreza.

O filme de Fernando Meirelles e Kátia Lund reflete o ciclo de violência e morte difícil de escapar. Além de mostrar o mundo do crime, os diretores nos dão uma visão do passado e dos motivos que levam os personagens a agirem da forma como o fazem.

Várias crianças começam suas vidas sem a ajuda de famílias presentes, frequentando a escola ou com perspectivas para o futuro. Infelizmente, elas vivem com a necessidade de se alimentar, expostas à violência diariamente, o que as conduz a considerar esta situação como algo normal.

Moleques da caixa baixa

Os jovens da comunidade são atraídos para o crime e o tráfico de drogas, pois os bandidos que têm dinheiro são idolatrados. Eles são vistos como uma forma de "assistência" para aqueles que desejam ganhar algum dinheiro e sobreviver. Assim, o crime e o tráfico são encarados como possíveis carreiras.

Tratados como homens, mesmo sendo meninos, esses jovens são enviados para lutar e possivelmente morrer por aquilo em que sua facção acredita, sem compreender o motivo real por trás da guerra. Agindo como pequenos soldados, eles são forçados a sangrar em nome dos seus líderes.

Cidade de Deus não se esquiva da realidade trágica de crianças que não têm outra opção a não ser o crime. Esta tristeza é confirmada nos momentos finais da película, quando os rapazes da Caixa Baixa querem registrar sua lista de inimigos, mas não podem devido a sua falta de alfabetização.

Começando a vida como Dadinho, um menino órfão, pobre e solitário, Zé Pequeno acabou por se tornar o maior bandido da região. Seus sonhos de riquezas e poder eram inspirados pelo Trio Ternura, que eram ídolos do seu bairro.

Cidade de Deus assinala os responsáveis pela situação atual: o governo, que age com indiferença; a polícia, pervertida pela corrupção; e a mídia, interessada de forma mórbida.

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Inspirado em Histórias Reais

Baseado em fatos reais, o filme narra a história de Zé Pequeno - o famoso bandido carioca dos anos 70 e 80. José Eduardo Barreto Conceição ficou conhecido por ser o chefe de uma quadrilha de ladrões que operou no Rio de Janeiro.

A disputa entre Mané Galinha e Manoel Machado Rocha gerou uma guerra. Durante a juventude, o último realizou alguns assaltos, porém, aos 18 anos, ele ingressou no Exército, servindo na Infantaria.

Manoel cometeu o crime de financiar armas e, como consequência, foi assassinado pela gangue rival na frente de seus pais e de seus irmãos menores. A família dele entrou com um processo contra aqueles responsáveis pela representação de Manoel em um filme, no entanto, o caso foi perdido em 2010.

Bené foi um grande amigo de Pequeno desde criança. Ele trabalhava em uma padaria, mas também era criminoso e praticava assaltos com seu parceiro. No entanto, muitas pessoas o descrevem como um homem simpático e generoso que não costumava ser violento e raramente andava armado.

Ailton Batata, retratado como Sandro Cenoura, é o único da história a ter sobrevivido ao tiro direcionado ao comparsa de Pequeno durante uma festa de carnaval. Enquanto estava na prisão, descobriu a existência do filme Cidade de Deus, relata essa história, e lançou um livro com esse mesmo título, em 2017, contando sua experiência pessoal como sobrevivente.

Inspirado na vida de José Wilson dos Santos - um fotógrafo que residia na Cidade de Deus e cresceu entre os "donos da favela" - Paulo Lins criou o protagonista Buscapé. A história foi resultado da combinação entre a realidade vivida por José Wilson e a imaginação do autor do livro.

Produção Explorada

O diretor Fernando Meirelles recebeu de um amigo, Heitor Dhalia, um livro de presente, que o incentivou a adaptar para o cinema. Apesar de não se sentir familiarizado com aquela realidade, ele ficou interessado e, por isso, procurou Paulo Lins para adquirir os direitos do filme.

A fim de buscar representatividade, Meirelles e Lund montaram uma oficina de teatro para jovens da periferia. Desejando trabalhar com pessoas que transmitissem autenticidade e tivessem experiência comprovada naquele ambiente, eles analisaram centenas de alunos que se inscreveram para as aulas e provas, escolhendo, por fim, o elenco para o filme.

Detalhes Técnicos e Anúncio Visual

Poster do filme Cidade de Deus

Sónia Cunha
Escrito por Sónia Cunha

É licenciada em História, variante História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (2003) e em Conservação e Restauro pelo Instituto Politécnico de Tomar (2006). Ao longo da carreira profissional, exerceu vários cargos em diferentes áreas, como técnico superior de Conservação e Restauro, assistente a tempo parcial na UPT e professora de História do 3º ciclo e ensino secundário. A arte e as letras sempre foram a sua grande paixão.