Explorando as 15 Obras-primas de Van Gogh


Escrito por Sónia Cunha

Apesar de só ter vendido um quadro em sua vida, Vincent van Gogh (1853-1890) é considerado hoje um gênio do pós-impressionismo.

Uma das figuras mais importantes da pintura ocidental, obras-primas de um dos seus mais celebrados criadores fazem parte do nosso imaginário coletivo. Descubra mais sobre as telas clássicas do pintor holandês e conheça melhor a sua biografia.

O Céu Estrelado de 1889

A noite estrelada

Van Gogh, um pintor holandês, produziu seu trabalho mais conhecido enquanto internado num hospital psiquiátrico em Saint-Rémy-de-Provence em 1889.

Após uma série de surtos psicóticos, Vincent solicitou à seu irmão, Theo, que o internasse. O diagnóstico oficial ainda não foi confirmado, contudo, há fortes indícios de que o artista padecia de bipolaridade e depressão severa.

Ao olharmos para esta maravilhosa obra de Van Gogh, vemos o nascer do sol visto da janela do quarto onde o artista dormia. Os elementos peculiares dessa pintura, como as espirais do céu, proporcionam uma sensação de profundidade e movimento. Embora o céu possa causar agitação, o vilarejo que aparece tem um ar tranquilizador e distante de tudo isso.

Girassóis (1889)

" "O papel da tecnologia na educação

A célebre obra de arte do pintor holandês, protagonizada por um vaso de girassóis, conta com dez versões.

A pintura holandesa apresenta um visual caótico, com predominância de amarelo. As flores estão organizadas de maneira nada convencional, criando uma beleza perturbadora. O destaque vai para os girassóis retorcidos, que dão o toque final à composição.

Ao visitar Arles e ver as pinturas de Vincent, Paul Gauguin (1848-1903) saudou seu amigo holandês ao elogiar suas imagens de girassóis, afirmando que eram mais bonitos do que as vitórias-régias de Monet.

A assinatura do pintor Vincent Van Gogh aparece de maneira diferente em seus quadros. Em Os girassóis, a assinatura, escrita como "Vincent", está inserida dentro do vaso, no meio do quadro. Segundo uma carta escrita pelo próprio Van Gogh para seu irmão Theo, ele optou por assinar apenas "Vincent" pois era mais fácil de ser pronunciado do que seu nome completo.

Comendo Batatas em 1885

" "Benefícios da Prática de Exercícios Físicos

No Os comedores de batata, a hora do jantar é representada às sete da noite, destacada pelo relógio de ponteiro preso na parede à esquerda do quadro. Adicionalmente, uma figura religiosa na mesma parede da sala indica mais sobre a família retratada.

Nesta tela pintada por Van Gogh, homens e mulheres trabalhadores da terra são o foco principal. As mãos fortes e ossudas e os rostos cansados e calejados pela fadiga, retratam a vida cotidiana destas pessoas de forma realista. O artista quis capturar a verdade destas vidas difíceis e brutais.

No centro da tela, podemos ver o jantar: batatas. O tom da cor escolhida para pintar o quadro é o da terra, criando um contraste entre o claro e o escuro. Por exemplo, a luz no primeiro plano destaca a mesa de refeição, enquanto o fundo fica mais sombrio.

Muitos consideram a pintura de Van Gogh como seu primeiro grande trabalho. Ele teria produzido a obra enquanto ainda morava com seus pais, e teria sido inspirado nos trabalhos de Rembrandt, um dos maiores artistas holandeses.

O Quarto de 1888

"Aumentando seu Nível de Conhecimento

Van Gogh capturou a vida no seu quarto alugado em Arles, na pintura acima. O retrato conta vários detalhes da moradia do artista, como os móveis de madeira e as telas avistadas nas paredes.

Na obra de Van Gogh, as cores fortes e contrastantes nos dão uma noção de sua vida cotidiana. É interessante notar que há duas cadeiras e dois travesseiros, mesmo que ele tivesse vivido sozinho.

Há rumores de que o quadro tenha sido feito para o irmão de Van Gogh, Theo, como uma forma de tranquilizá-lo e deixar claro que o pintor estava bem.

Retrato Autorreflexivo com a Orelha Mutilada (1889)

"Descobrindo o significado da criatividade

Ainda hoje, o motivo exato da discussão que levou à amputação da orelha direita de Van Gogh permanece misterioso. O único fato comprovado é que, em 1888, Paul Gauguin se mudou para a residência artística do amigo, a convite deste. No entanto, a briga violenta que se seguiu resultou na perda da orelha do pintor.

Há muita controvérsia sobre se Van Gogh cortou a própria orelha direita durante um episódio de automutilação, ou se foi acidentalmente atingido com uma navalha por Paul durante uma discussão.

Após o ocorrido, foi dito que o pintor guardou a orelha decepada e mostrou para Rachel, uma prostituta de um bordel na região. Vincent, então, se dirigiu para o seu quarto, onde foi para a cama, que estava coberta de sangue.

Nocturno no Terraço do Café (1888)

Terraço do café à noite

Depois de chegar a Arles para dedicar-se à pintura, Van Gogh decidiu recriar a paisagem de um café localizado na Place du Fórum. Essa inspiração teria surgido após ele ler um romance de Guy Maupassant.

“Eu tentei desenvolver uma cor tão escura que pudesse dar a imersão da noite sem usar a tinta preta”. Van Gogh surpreendeu ao retratar uma paisagem noturna, mas ao invés de usar a tinta preta, optou por tons mais escuros. Em uma carta para seu irmão, o pintor comentou sobre sua decisão: “Eu tentei alcançar uma cor tão intensa que pudesse expressar a solidão da noite, sem o uso da tinta preta”.

Aqui está um quadro noturno sem ter usado tinta preta, somente maravilhosos azuis, violetas e verdes

Na tela, observamos o primeiro experimento de Van Gogh com a pintura do céu estrelado de estilo pós-impressionista.

Embora a pintura não esteja assinada pelo pintor, não há nenhuma dúvida de que a obra é de Van Gogh, pois seu estilo é inconfundível e ele já havia mencionado a pintura em suas cartas.

Corvos Sobre o Campo de Trigo (1890)

Campo de trigo com corvos (1890)

A tela Campo de trigo com corvos foi pintada pouco antes do falecimento de Van Gogh, no dia 10 de julho de 1890, sendo que ele faleceu em 29 de julho do mesmo ano.

Pesquisadores do Museu do Pintor, em Amsterdã, acabaram por descobrir um quadro posterior ao considerado como final do artista. Raízes de Árvores, infelizmente, nunca chegou a ser completado.

O ambiente de depressão e solidão retratado na tela Campo de trigo com corvos foi algo muito familiar para o pintor holandês, que sofreu com distúrbios mentais durante toda a vida. Teóricos leem nessa obra sinais desse estado.

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A Beleza da Amendoeira em Flor (1890)

"Os efeitos da ausência de educação na comunidade

Van Gogh era muito ligado ao irmão mais novo, Theo, que se casou com Johanna em 1890. Para comemorar o nascimento do primeiro filho do casal, o artista lhes ofereceu o quadro Amendoeira em flor. Pensava que o presente deveria ficar pendurado no berço do bebê, mas Johanna acabou por gostar tanto dele que decidiu pendurá-lo na sala.

A tela é pintada com suaves tonalidades pastéis, apresentando um ângulo intrigante, que sugere que o observador está olhando para a amendoeira de cima para baixo. Sua florada representa a nova Vida, o renascimento.

Vincent, nome dado ao bebê que nasceu no dia 31 de janeiro de 1890, foi em homenagem ao tio pintor. Ele foi o único sobrinho que contribuiu para a fundação do Museu Van Gogh, em 1973, em parceria com o governo holandês, localizado em Amsterdam.

Van Gogh's Chair with Pipe (1888)

A cadeira de Van Gogh com Cachimbo (1888)

A obra de Van Gogh, intitulada 'Cadeira com Cachimbo', foi produzida durante sua estadia em Arles. A pintura mostra uma cadeira humilde, constituída por madeira e revestida em palha, pousada em um chão simples.

O quadro A cadeira de Gauguin, um importante pintor da época, serve como contraponto ao quadro da tela de Van Gogh. O quadro da cadeira estava localizado no Museu Van Gogh e deveria estar ao lado do outro, com uma cadeira virada para a direita e outra para a esquerda. Esta simetria dava ao quadro um sentido de equilíbrio e importância.

A tela de Van Gogh em tons amarelados retrata sua simplicidade, enquanto a de Gauguin apresenta uma atmosfera bem mais sofisticada. Ambos pintaram suas próprias cadeiras, contudo, cada um deles expressou sua personalidade de forma única.

Vincent assinou no meio do fundo do quadro, num espaço incomum.

Joseph Roulin: O Carteiro (1888)

" "Desenvolvendo Hábitos Saudáveis

O carteiro local Joseph Roulin foi um dos melhores amigos do pintor Van Gogh em Arles.

Durante o tempo em que viveu em Arles, Van Gogh e Joseph se tornaram amigos, a partir de seus recorrentes encontros na estação dos correios de uma pequena cidade. Como prova de amizade, o pintor fez uma série de retratos do amigo e de sua família. Joseph, por sua vez, ajudava o artista a enviar telas e cartas ao irmão Theo.

Cerca de 20 retratos foram tirados do carteiro, Augustine, sua esposa, e dos três filhos do casal: Armand, Camille e Marcelle.

Ao escrever para Theo, registramos o momento de criação desta tela específica.

Eu estou agora trabalhando com um outro modelo, um carteiro com uniforme azul, com detalhes dourados, uma grande barba no rosto, parecido com Sócrates.

O Dr. A Obra de Gachet de 1890

O Dr. Gachet, tela de Van Gogh

A obra de 68 x 57 cm que retrata Paul Gauchet, o médico que cuidou do pintor Vincent Van Gogh após sua chegada em Auvers, pode ser vista hoje no Museu de Orsay, em Paris.

"Adeus e que Deus me salve daquele homem." O doutor apreciava muito as artes e adquiria obras e tinha um bom relacionamento com artistas. No início, a ligação entre os dois foi muito próxima. Porém, algum problema acabou afastando-os e Vincent escreveu para o irmão: "Adeus e que Deus me salve desta pessoa."

Creio que não devo mais contar com Dr. Gachet. Em primeiro lugar, ele está mais doente do que eu, ou pelo menos, tanto quanto eu. de modo que não há mais o que falar. Quando um cego conduz outro cego, os dois não caem no buraco?"

Depois de duas semanas de conhecerem-se, o médico e o paciente deram origem a uma tela. O artista, ao descrevê-la, declarou representar "a aflitiva expressão da nossa época".

O Velho no Portão da Eternidade (1890)

Homem Velho com a cabeça em suas mãos, tela de Van Gogh

Partindo de um desenho e litografias feitos pelo artista em 1882, essa pintura ilustra um homem em grande angústia, com as mãos erguidas ao rosto.

Poucos meses antes de sua morte, Vincent Van Gogh finalizou sua obra, intitulada "Portal da Eternidade", um indício de seus conflitos internos e do sofrimento psíquico que experimentava. Entretanto, ainda assim, mantinha a sua crença em Deus.

"Acho que isso vai me ajudar a contar uma história para as pessoas." Ele pensava que seus desenhos e litografias sobre aquele tema o ajudariam a contar uma história para as pessoas na época.

Hoje e ontem desenhei duas figuras de um velho com os cotovelos sobre os joelhos e a cabeça entre as mãos. (...) Que bela visão faz um velho trabalhador, em seu terno de bombazina remendado com a cabeça careca.

Retrato Autorreferencial com Chapéu de Palha (1887)

Autorretrato com chapéu de palha, de Van Gogh

A obra Autorretrato com chapéu de palha, feita em óleo sobre tela, tem dimensões pequenas, com 35 cm de largura e 27 cm de comprimento.

Na obra, o artista escolheu tons de amarelo para se retratar com um olhar decidido, porém de certa forma, ansioso. Isso porque ele logo se mudaria para o sul da França onde passaria um tempo.

"Autorretratar-se é a minha forma de resistência, de exaltar a minha existência". O pintor produziu 27 autorretratos e afirmou que "autorretratar-se é sua forma de resistência, exaltando assim sua existência".

Gostaria de pintar retratos que daqui a cem anos aparecessem como uma revelação (...) não por fidelidade fotográfica, mas antes (...) pela valorização dos nossos conhecimentos e do nosso gosto presente na cor, como meio de expressão e exaltação do caráter.

Ciprestes em um Campo de Trigo (1889)

Campo de trigo com ciprestes, de Van Gogh

Vincent van Gogh tinha uma predileção por retratar ciprestes. Estas árvores tortuosas, que tinham um aspecto de chamas ao cair da noite, despertaram o interesse do artista, o que o levou a criar obras de arte vibrantes e coloridas.

Quisera eu fazer os ciprestes como as telas dos girassóis, porque me surpreende que ninguém os tenha feito como os vejo.

Esta obra de arte em óleo sobre tela, medindo 75,5 x 91,5 cm, está hoje em exibição em uma galeria na Grã-Bretanha.

A Amarela Casa (1888)

Em setembro de 1888, o pintor alugou um quarto na casa amarela, situada próxima à praça Lamartine, em Arles. O quadro que ele criou retrata essa residência onde viveu até maio do mesmo ano.

Van Gogh vivia e criava sua arte junto a outros artistas. Juntos, eles formavam uma comunidade que permitia experiências compartilhadas, mas, ainda assim, cada um tinha seu próprio espaço.

Ao pintar, o artista selecionou uma cidade localizada a 16 horas de viagem de trem de Paris. No lado direito da tela, ele incorporou um elemento que simboliza a possibilidade de evasão - um viaduto com um trem passando por cima.

A casa amarela é marcada por suas pinceladas soltas, um contraste entre a cor azul do céu e o amarelo que envolve a casa. Esta obra destaca não só a moradia onde viveu o pintor, mas também o bairro e o clima da cidade.

Vida e Obra de Vincent van Gogh

Em 30 de março de 1853, um pintor veio ao mundo em Zundert, uma pacata vila situada ao sul da Holanda.

Theodorus van Gogh, o pai de Vincent, era um pastor calvinista. Vincent tentou seguir o mesmo caminho religioso do pai, contudo sem êxito.

Anna Carbentus era uma dona de casa que havia perdido seu filho ainda bebê, Vincent. Ao ficar grávida de novo, ela decidiu dar o nome de seu filho falecido ao seu próximo filho. Por uma curiosa coincidência, o novo bebê, também chamado Vincent, nasceu no mesmo dia do ano seguinte.

Autorretrato Van Gogh

Aos 14 ou 15 anos, Vincent deixou a escola e conseguiu o seu primeiro emprego na empresa de seu tio, que era marchand. Mais tarde, ele foi para Londres onde trabalhou como professor numa escola dominical, tentando tornar-se pregador.

Depois de sua volta à Holanda, tentando seguir a teologia com dificuldades, ele acabou assumindo o cargo de pastor de uma pequena comunidade pobre na Bélgica. Contudo, após algum tempo no cargo, decidiu deixar a comunidade para se dedicar completamente à arte.

Quando sinto uma terrível necessidade de religião, saio à noite para pintar as estrelas.

Theo, o irmão mais novo de Van Gogh, foi um grande amigo e apoiador ao longo da vida do pintor. Por meio das cartas trocadas entre os dois, temos a oportunidade de conhecer melhor como era a vida de Van Gogh.

Vincent van Gogh, que se tornou um dos principais nomes do pós-impressionismo, teve uma vida curta. Ele morreu aos 37 anos (suspeita-se de suicídio) e produziu cerca de 900 quadros, mas infelizmente, teve apenas um deles vendido durante sua vida.

Sónia Cunha
Escrito por Sónia Cunha

É licenciada em História, variante História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (2003) e em Conservação e Restauro pelo Instituto Politécnico de Tomar (2006). Ao longo da carreira profissional, exerceu vários cargos em diferentes áreas, como técnico superior de Conservação e Restauro, assistente a tempo parcial na UPT e professora de História do 3º ciclo e ensino secundário. A arte e as letras sempre foram a sua grande paixão.