Interpretação do Quadro "O Grito" de Edvard Munch


Escrito por Rebeca Fuks

A obra-prima de Edvard Munch, intitulada "O Grito", foi pintada pela primeira vez em 1893. Ao longo do tempo, três novas versões foram criadas a partir desta tela.

Munch é visto como um precursor do expressionismo, um importante movimento modernista da primeira parte do século XX. Suas obras são consideradas extremamente significativas para a arte deste período.

A obra de Edvard Munch, O Grito, é densa e aborda temas complexos e emoções conflitantes. Está representada através de um grito de solidão, melancolia, ansiedade e medo.

O grito

Esta obra de arte tornou-se a pintura mais popular de todos os tempos e destaca a força expressiva das linhas de Munch, a simplificação das formas e o significado simbólico do uso da cor.

Munch registrou em seu diário, de 22 de janeiro de 1892, que ele estava passeando com dois amigos em Oslo e, enquanto passavam por uma ponte, ele sentiu um misto de melancolia e ansiedade. Acredita-se que este foi o episódio que o inspirou a criar sua famosa obra de arte.

Em 1908, o artista vivenciou uma crise nervosa e, como consequência, escolheu retornar à Noruega, seu lugar de origem. Durante os próximos 20 anos, ele viveu em reclusão, nesse país.

O quadro "O Grito" de Edvard Munch serviu como inspiração para outras obras de arte, inclusive a saga de filmes "Scream" (Pânico, no Brasil). Nesta, o personagem principal usa uma máscara que se remete à expressão retratada na pintura.

Explorando o Significado de 'O Grito' de Edvard Munch

Nesta pintura, três pessoas estão presentes. Uma delas está em destaque, com uma expressão de ansiedade, enquanto as outras duas estão ao fundo de uma ponte. Os tons acolhedores do céu, juntamente com o lago, conferem um ar de tranquilidade à cena.

A cena evoca o desespero do artista, que experimentou várias dificuldades psicológicas e de família durante a sua vida.

No canto superior esquerdo da tela, quase não notável, está escrita à lápis uma frase cuja tradução é "Somente um louco pode ter pintado isso".

No final de 2020, os exames realizados confirmaram que Munch era, afinal, o autor da frase presente em sua obra.

quadro O grito, de Munch, com destaques para análise

1. A Personagem Principal do Enredo

A expressão do personagem, retratada em formas distorcidas, desperta o sentimento de dor e dificuldade na vida, culminando em um grito que manifesta essas emoções.

A figura não possui características específicas que a identifiquem como um homem ou uma mulher, transmitindo a ideia de que é representativa de qualquer pessoa.

2. Barcos no Lago

O cenário mostra um lago, com o desenho de dois barcos ao fundo através de somente três linhas finas. É fascinante como tão pouco é suficiente para evidenciar a presença destes barcos.

Com tons cintilantes que se misturam com o cenário, a água se apresenta como uma grande e fluida onda.

3. A Ponte e suas Figuras

As duas pessoas vistas à esquerda na tela têm formas retas e esticadas, que se assemelham à da própria ponte. Ao exibir essa forma de representação, o contraste se destaca em relação à paisagem e ao personagem principal, que é desenhado com linhas tortuosas.

4. O Azul do Céu

Os tons vermelho, laranja e amarelo do céu dão uma impressão aterrorizante, como se estivesse sufocando alguém. As cores são fortes e contribuem para essa sensação de desconforto.

As sinuosas pinceladas deste céu lembram as obras de Van Gogh, um artista que abordou a angústia em seus trabalhos.

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Explorando as Quatro Variações de 'O Grito'

Edvard Munch pintou quatro versões de O grito, sendo que três delas estão atualmente em museus e a outra na posse de um empresário estadunidense.

1. A Versão de 1893

Munch criou a sua obra-prima em 1893, que foi pintada a óleo e pastel sobre cartão. Esta é a versão mais conhecida e hoje pertence ao acervo da Galeria Nacional de Oslo.

o grito 1893

2. 1893 - Revisão Número Dois

Munch produziu uma versão da imagem com lápis de cor no mesmo ano, e esta obra se encontra na Galeria Nacional de Oslo.

Alguns historiadores da arte consideram este trabalho menos refinado que os outros, notando que as cores estão desbotadas.

O grito

3. Versão Número Três, 1895

Dois anos depois, uma nova versão foi criada: feita em pastel sobre cartão, possui cores mais vibrantes. O céu, nessa versão, é uma explosão de tons laranja, azul e amarelo.

Em maio de 2002, o Grito, versão de 1895, foi arrematado por um colecionador particular em um leilão, acabando por ser vendido por 119,9 milhões de dólares. Desde então, a obra pertence a esse colecionador.

The scream

4. Versão Quarta, 1910

Muitos historiadores acreditam que Munch tenha criado esta obra como uma versão de sua pintura de 1893, após ter vendido a original.

Segundo especialistas, a figura fantasmagórica desta vez parece ainda mais intimidante, pois seus globos oculares se destacam sem apresentar a exata marcação que teriam os olhos.

A obra, criada em têmpera sobre cartão, acabou vítima de um trágico destino após ter sido roubada da Galeria Nacional de Oslo em 2004. Contudo, foi recuperada dois anos depois, mas apresentava danos irreparáveis em um canto inferior causados pela água.

O grito 1910

A Vida de Edvard Munch

Edvard Munch nasceu em 1863 na localidade de Løten, uma pequena aldeia situada ao norte de Oslo (Noruega). Quando ainda era uma criança, mudou-se com a sua família para Kristiania.

Retrato de Edvard Munch.

Munch ficou órfão de mãe aos cinco anos de idade, devido a tuberculose. Sua irmã mais velha, Sophie, também faleceu por causa da mesma doença com 14 anos. Seu pai, sofrendo de uma doença mental, acabou por criar o pintor.

Em Kristiania, Edvard decidiu seguir a carreira de artista e aprofundar seus conhecimentos no campo da educação artística.

Munch já possuía membros de sua própria família famosos no meio artístico, como o pintor Jacob Munch e o historiador Peter Munch.

Em 1880, Munch, um jovem artista, decidiu expressar seus sentimentos em sua obra, desviando-se da abordagem naturalista predominante, que sugeria que a arte deveria ser interpretada de forma objetiva a partir da observação.

O artista norueguês começou seu trabalho inspirado nos trabalhos de Vincent Van Gogh e Paul Gauguin.

Munch foi um precursor do Expressionismo alemão ao desbravar o caminho da arte em direção à subjetividade e à introspecção. Sua obra abordou temas difíceis como a ansiedade, a melancolia, o medo e a morte, o que o tornou inovador para a época.

Munch, que já ficou famoso por seus trabalhos artísticos, também deu seus passos na área de fotografia, cinema e mídias modernas.

Depois de sua partida, suas obras não foram passadas à família, mas sim, doadas ao governo norueguês, a fim de serem exibidas em museus e vários prédios públicos dentro da Noruega.

Foram doados um total de 15.400 impressões, 4.500 desenhos, aquarelas, seis esculturas e também objetos pessoais, como livros e cadernos de anotações.

Com a intenção de conservar as obras do excelente artista, o governo da Noruega construiu o Museu de Arte Munch, em Oslo, com o projeto arquitetônico dos profissionais Gunnar Fougner e Einar Myklebust.

Em 1963, vinte e três anos após o falecimento de Edvard, o museu foi aberto oficialmente. Contudo, em 2004, as telas O grito e Madonna foram roubadas, o que exigiu a realização de reformas.

Museu de Arte Munch.

Rebeca Fuks
Escrito por Rebeca Fuks

É graduada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), possui mestrado em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutorado em Estudos de Cultura pelas Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).