Análise e Significado do Poema "O Tempo" de Mario Quintana


Escrito por Carolina Marcello

Popularmente conhecido como "O Tempo", o poema de Mario Quintana foi publicado pela primeira vez na obra Esconderijos do Tempo, em 1980, com o título original de "Seiscentos e Sessenta e Seis".

Ao escrever a obra aos setenta e quatro anos, o autor expressou sua perspectiva mais experiente e sábia sobre a vida. Aborda temas como a passagem do tempo, a memória, a existência, a velhice e a morte.

SEISCENTOS E SESSENTA E SEIS

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…

Quando se vê, já é 6ª-feira…

Quando se vê, passaram 60 anos!

Agora, é tarde demais para ser reprovado…

E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,

eu nem olhava o relógio

seguia sempre em frente…

E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.

Com o passar dos tempos, o poema ganhou muitas releituras e adaptações, graças à sua mensagem inspiradora. Tornou-se popular em uma versão mais longa, cujos versos não foram escritos originalmente por Mario Quintana.

Embora existam diversas interpretações do poema e os problemas de autoria possam ser motivo de discussão, as mensagens do poeta são sempre relevantes para quem lê.

Explorando o Significado do Poema

"Seiscentos e sessenta e seis" é uma pequena obra poética, em versos livres, que aborda a reflexão sobre a condição humana e a marcha inexorável do tempo.

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.

O verso inicial sugere que a vida é uma responsabilidade que devemos cumprir. É possível interpretar isso como se os seres humanos viessem ao mundo com uma missão particular a desempenhar, mas muitas vezes é como se adiassem essa tarefa.

Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…

Quando se vê, já é 6ª-feira…

Quando se vê, passaram 60 anos!

Os versos expressam como o tempo passa quando nos distraímos. Em poucos segundos, o momento parece ser “6 horas” e ainda “há tempo”. Porém, quando nos afastamos, já passaram dias e até mesmo décadas ("60 anos"). Como resultado, adiamos nossas vidas.

Esta passagem se refere ao número Seiscentos e sessenta e seis, que é usado como título do poema. Esta escolha é símbolo da conotação bíblica do Mal e da destruição. Ao usar este número, o poema destaca a efemeridade da vida e o curso inevitável do tempo, que é uma sentença para o sujeito poético e toda a Humanidade.

Agora, é tarde demais para ser reprovado…

Ao percebermos a rapidez com que o tempo se esvai, é tarde demais para recuar. O sujeito tem que realizar sua tarefa e cumprir seus deveres sem demora.

Quintana nos encoraja a não adiar a própria vida e a viver com urgência. Sua composição expressa este sentimento com força e insiste que não devemos adiar aquilo que queremos ou precisamos.

E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,

eu nem olhava o relógio

seguia sempre em frente…

O sujeito poético anseia por uma segunda chance de viver de modo distinto, tornando explícito esse desejo após o que declarou anteriormente. Ele deseja poder voltar no tempo para ter "uma outra oportunidade".

Dizendo que já está no ápice da sua vida, ele expressa que se pudesse voltar atrás, não se preocuparia em monitorar o tempo. Ao invés disso, aproveitaria cada momento, não adiando nem desperdiçando nada - apenas vivendo "sempre em frente".

E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.

O último verso do poema sugere que devemos aproveitar ao máximo cada segundo de nossas vidas. É uma lembrança de que não devemos desperdiçar esta preciosa oportunidade que nos é dada para vivermos plenamente.

A vida é fugaz e, portanto, inútil a tentativa de controlar o tempo. Assim, o melhor a fazer é seguir em frente, aproveitando cada momento para espalhar "a casca dourada e inútil das horas" ao longo do nosso percurso. É isso que nos dará o significado que procuramos na vida.

A escassez de tempo que temos aqui na Terra é que lhe confere beleza e valor. As horas são preciosas, pois são passageiras. Isso é o que as torna tão especiais.

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Interpretação do poema

Em "Seiscentos e Sessenta e Seis" e "O Tempo", Mario Quintana apresenta ao leitor sua produção poética, ligada a uma profunda reflexão existencial, baseada na sua experiência e conhecimentos.

Aos setenta e quatro anos, ao escrever Esconderijos do Tempo, ele refletiu sobre sua jornada. Percebeu que aproveitar a vida é uma urgência, é realmente o que temos que fazer.

A frase de Horácio "Carpe Diem" ou "Aproveite o dia presente" é um princípio conhecido por todos há séculos. Quintana, por meio de seu poema, nos lembra que a nossa passagem neste mundo é curta e, portanto, devemos vivê-la da forma mais intensa e honesta possível.

O Autor Mario Quintana

Retrato de Mario Quintana.

30 de julho de 1906 foi o dia de nascimento de Mario Quintana, renomado escritor, poeta, jornalista e tradutor. Seu legado de obras foi reconhecido com a conquista de numerosos prêmios, entre eles o Prêmio Jabuti e o Prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras.

Mario viveu uma vida solitária, nunca tendo se casado nem formado uma família. Mesmo assim, ele se dedicou à escrita até um avançado idade. Em 5 de maio de 1994, ele faleceu em Porto Alegre, deixando um abrangente legado literário com poesias, livros infantis e traduções.

Carolina Marcello
Escrito por Carolina Marcello

Formou-se em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e possui mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes pela mesma instituição. Durante os estudos universitários, foi co-fundadora do Grupo de Estudos Lusófonos da faculdade e uma das editoras da revista da mesma, que se dedica às literaturas de língua portuguesa.