Principais Exemplos de Poema Visual


Escrito por Rebeca Fuks

A poesia visual é a fusão de literatura e artes visuais. Ela consiste basicamente na criação de imagens através de palavras, resultando num poema que é tanto lido quanto visto. Assim, ao ler o poema visual, o leitor terá uma experiência mais completa, ao visualizar a imagem contida nele.

A poesia visual é baseada na interação entre as palavras e a aparência de sua composição. A organização das letras e palavras é elemento primordial para comunicar uma ideia, pois a imagem resultante é o que transmite o significado.

A poesia visual, que recorre tanto a palavras quanto à disposição gráfica para se comunicar, não é algo recente, visto que ela já está em uso há muito mais tempo do que a poesia concreta usualmente associada a ela.

Desde a Antiguidade, há evidências de poemas visuais. Por exemplo, O Ovo, criado por Símias de Rodes, cerca de 325 a.C., é o mais antigo poema visual conhecido.

Poema Ovo, de Símias de Rodes, datado de 325 a.C.

Poemas Visuais: Exemplos

Símias de Rodes e o Ovo

O ovo, de Símias de Rodes

Símias de Rodes, um nome importante da literatura grega, é creditado com a autoria de "Ovo", poema visual escrito em cerca de 325 a.C. Essa é a primeira obra desse gênero que temos notícia.

Ao traduzir o poema de José Paulo Paes, percebemos como a obra versa sobre o nascimento do próprio canto. A forma dos versos imita uma estrutura de ovo, evidenciando o diálogo entre a forma e o conteúdo da obra - desenvolvendo o tema da origem.

A escrita teve sua origem na imagem. O desenho foi socialmente convencionado como código comum e serviu de base para a formação da palavra. A poesia visual surge como inovação, pois faz os dois elementos, imagem e escrita, se reunirem novamente num único trabalho. Porém, é preciso lembrar que a escrita, ao longo da história, se distanciou da sua componente gráfica e visual.

Embora sejam, historicamente, poucos os exemplos de produções visuais que tenham resistido, O Ovo é um dos raros sobreviventes.

Luxo e Lixo de Augusto de Campos

Lixo, luxo, de Augusto de Campos

Talvez o poema mais conhecido do movimento concretista brasileiro seja "Lixo, luxo", de Augusto de Campos, escrito em 1966.

Esta produção de curta duração e de grande impacto visual crítica a sociedade, explorando os paradoxos da palavra Lixo e Luxo.

Luxo + Lixo: o poeta brasileiro desafia o leitor a refletir sobre diversas interpretações.

Será que o desejo de ter uma vida luxuosa nos leva a nos tornarmos lixo? A sociedade de consumo nos incentiva a acumular lixo? Ou aqueles que só buscam o luxo são de fato lixo? Estas são algumas das perguntas que devemos nos fazer.

A obra de Augusto de Campos é bem-sucedida em sua intenção de provocar o leitor.

Salette Tavares - Uma Aranha no Espelho

Aranha, de Salette Tavares

Em 1963, a artista portuguesa Salette Tavares (1922-1994) publicou Aranha, um dos mais importantes poemas da poesia experimental portuguesa. Desde a década de 60, ela tem desenvolvido sua criatividade.

Ao brincarmos com as palavras, conseguimos criar uma aranha a partir de oito traços simples. A palavra "aranha" é desmontada e reconstruída de forma a recriar o formato deste animal medonho. Além disso, cada linha carrega sinais que nos remetem à aranha.

A autora Salette Tavares inspirou-se numa brincadeira com seus filhos durante o carnaval, onde eles corriam com uma aranha de brinquedo para cima e para baixo.

A Chuva, de Guillaume Apollinaire

Chove, de Guillaume Apollinaire

Em 1914, o célebre poema visual Chove (Il pleut) foi criado pelo poeta francês Guillaume Apollinaire (1880-1918). A poesia remete às gotas de água caindo no chão.

Os versos imitando a chuva caindo não são escritos na maneira comum, horizontalmente, mas sim em formato vertical e oblíquo, dirigindo-se para o solo.

O texto conta a história da chuva e transmite a mensagem por meio tanto da sua forma como do seu conteúdo.

Chovem vozes de mulheres como se estivessem mortas mesmo na recordação

Chovem também encontros maravilhosos da minha vida ó gotículas

E estas nuvens empinadas começam a relinchar um universo de cidades mínimas

Escuta se chove enquanto a mágoa e o desdém choram uma música antiga

Escuta caírem os elos que te retém em cima e embaixo

(tradução de Sérgio Caparelli)

A Figuração da Poesia de Rabanus Maurus

Carmina figurata, de Rabanus Maurus

Desde 350 a.C, durante o Baixo Império Romano, Carmina figurata foi um estilo de poema visual criado e que durou por um longo período de história.

Ao longo dos anos, a criação em formato de cruz começou a ser usada para referir-se ao divino. Inicialmente, esta ideia era usada apenas para fins decorativos, pois as palavras eram brincadas dentro de um texto de forma a criar uma referência ao sagrado.

A obra acima foi criada por Rabanus Maurus, um escritor proeminente que produziu muitos carminas figuratas. Esta poesia foi fortemente influenciada pela fé e demonstra a lealdade tanto do autor como da época em que foi escrita.

Augusto de Campos e o Caracol

Caracol, o poema concreto, foi criado em 1960. Três décadas depois, em 1995, o próprio artista animou digitalmente a obra.

Neste poema visual, há três elementos: palavra, imagem e som. A palavra é escrita, a imagem é formada e o som é o poeta recitando o poema.

O poeta brinca com a frase “Colocar a Máscara”, dando origem à palavra “Caracol”. Ele apresenta então a imagem do animal caracol, que está girando sem parar, se apropriando do desenho de seu próprio casco.

Visita ao Rio com Arnaldo Antunes

Rio: o ir de Arnaldo Antunes

O poeta e músico Arnaldo Antunes (1960) é um dos grandes nomes da poesia visual contemporânea.

O poema intitulado Rio: o ir apresenta um formato circular, um octógono, como símbolo de movimento contínuo, quase como se fosse uma metáfora da jornada da vida. A letra o está no meio, formando uma circunferência, enquanto a letra i, com seu tamanho maior, nos lembra uma barra. Além disso, observamos que, se jogarmos com as palavras, temos outros significados para o poema, como ouvir ou até mesmo rir.

A palavra pode ser lida de maneira diferente: ao se dispôr na página de outra forma, o leitor pode experimentar lê-la ao contrário, resultando assim no "ir".

Maravilha de Ferreira Gullar: um Poema Objeto

"Abordagem Holística do Autocuidado

Ferreira Gullar investiu muito na produção de poemas objetos, sendo um dos principais expoentes do concretismo brasileiro.

A maravilha é um exemplo característico de uma criação que necessita de interação com o leitor/espectador para poder funcionar. A palavra é escrita num suporte físico, tornando a sua execução possível.

A palavra grega παράδοξον (que significa "incomum" ou "inesperado") está escrita em um lado do cubo. Ela cobre a palavra "maravilha" e, assim, o poema objeto comunica através tanto de sua estrutura quanto de seu conteúdo.

Explorando o Universo dos Poemas Visuais

A expressão "poesia visual" abrange uma variedade de obras artísticas, incluindo poemas objetos, poemas digitais, vídeos e poemas sonoros. Estas produções artísticas são formas criativas de expressar ideias poéticas.

A infopoesia está se tornando cada vez mais popular como uma nova forma de fazer poesia. Nesta forma, a poesia é criada usando um computador e uma linguagem visual. A produção de infopoemas vem crescendo a cada dia.

O Poema Visual é um tipo de produção artística que combina elementos da linguagem verbal e não verbal. Esta mistura pode ser apresentada de diversas maneiras, como em uma página, em uma tela de computador ou em projeção sobre qualquer superfície.

A Estética Visual da Poesia no Brasil

A partir dos anos 50, a poesia visual foi iniciada no Brasil com o movimento concretista. Entre seus principais expoentes destacam-se Décio Pignatari, Ferreira Gullar e os irmãos Augusto e Haroldo de Campos.

Em 1956, o grupo de poetas conseguiu realizar a Exposição Nacional de Arte Concreta no MASP, tornando o ano especialmente significativo.

Unidos por um ideal comum, esta geração de escritores buscou provocar o leitor com uma produção enxuta e rigorosa. Apesar de curta, cada obra estimulava o leitor a refletir sobre diversas possibilidades de interpretação. Assim, procuravam renovar a poesia através de uma nova estética.

A poesia, ao adotar uma nova perspectiva baseada na imagem, estabeleceu uma conexão com o Design. Essa abordagem permitiu que os dois campos artísticos se aproximassem de maneira inovadora.

A poesia concreta, embora preocupe-se com a parte estética, não é desprovida de conteúdo. Artistas desse movimento encararam a crítica social como um meio de expressar suas preocupações com relação ao que consideravam equívocos da sociedade brasileira e do ocidente capitalista baseado no consumismo.

Essa geração aborda a poesia de maneira diferente. Não se trata mais de poemas sobre temas específicos, mas sim de poesia focada na realidade própria.

Muito comuns entre os concretistas, os poemas sucintos não usam o verso tradicional (linear, rimado e pontuado), mas sim jogos de palavras ou repetições.

O livro Teoria da Poesia Concreta (1965), organizado por Pignatari e os irmãos Campos, foi o mais marcante desta época pela sua reunião das importantes obras dos poetas-revolucionários.

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Rebeca Fuks
Escrito por Rebeca Fuks

É graduada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), possui mestrado em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutorado em Estudos de Cultura pelas Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).