16 Declarações de Amor em Poemas Curtos e Encantadores


Escrito por Sónia Cunha

A poesia possui a capacidade de expressar, frequentemente, de modo sincero e penetrante alguns dos sentimentos mais intensos.

Muitos casais apaixonados buscam versos de amor para expressar seu amor de forma poética. É uma maneira linda de demonstrar o quanto estão envolvidos um com o outro.

Ao escolhermos 16 poemas curtos que falam sobre o amor e o carinho, não conseguimos conter os nossos suspiros.

1. Eu não quero te ter, Rupi Kaur

não quero ter você

para preencher minhas partes

vazias

quero ser plena sozinha

quero ser tão completa

que poderia iluminar a cidade

e só aí

quero ter você

porque nós dois juntos

botamos fogo em tudo

Nascida em 1992 em Panjabe, na Índia, Rupi Kaur é uma jovem poeta radicada no Canadá. Seus poemas tratam da mulher de uma perspectiva feminista e contemporânea, tendo tido grande aceitação.

Publicado em Outros jeitos de usar a boca (2014), o poema "Não quero ter você" é uma celebração à auto-aceitação e à madurez do amor. Aqui, a mulher se mostra plenamente segura de si, preenchida de amor-próprio.

Desta forma, esta mulher é capaz de experienciar uma conexão profunda e intensa com outra pessoa.

2. O Poema Final do Último Príncipe de Matilde Campilho

Era capaz de atravessar a cidade em bicicleta para te ver dançar.

E isso

diz muito sobre minha caixa torácica.

Considerada uma grande novidade na poesia presente, Matilde Campilho (1982-) é uma poetisa Portuguesa que reside no Brasil. Seu debut literário aconteceu em 2014, com o lançamento do livro intitulado Jóquei.

O último poema do último príncipe, o mais curto da publicação, retrata a disponibilidade e a ousadia perante o amor. A autora, neste texto, mostra como uma atitude ou ação possam expressar o que há dentro de nós.

3. Miniaturas Vocais

Antes que o mundo acabe, Túlio,

Deita-te e prova

Esse milagre do gosto

Que se fez na minha boca

Enquanto o mundo grita

Belicoso. E ao meu lado

Te fazes árabe, me faço israelita

E nos cobrimos de beijos

E de flores

Antes que o mundo se acabe

Antes que acabe em nós

Nosso desejo.

O poema "Júbilo, memória, noviciado da paixão" faz parte do livro de mesmo nome, publicado em 1974.

A renomada escritora paulistana Hilda Hilst (1930-2004) era conhecida por seus textos impactantes, repletos de paixão, erotismo e atrevimento. Neste poema é possível perceber que ela instiga seu amado, até mesmo lhe dando um nome próprio, e o convida para viverem o amor.

Ela busca o amor e o prazer, mesmo que o mundo esteja em conflito. Há uma sensação de urgência e pressa para amar, enquanto existir desejo.

4. A Inexplicabilidade do Amor, de Drummond

(...) Eu te amo porque te amo.

Não precisas ser amante,

e nem sempre sabes sê-lo.

Eu te amo porque te amo.

Amor é estado de graça

e com amor não se paga. (...)

Um dos gênios da literatura brasileira, Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) foi um poeta mineiro consagrado. Seus poemas foram dedicados ao amor.

As Sem-razões do Amor foi lançado em 1984 no livro Corpo. Seu poema procura explicar que o amor não precisa ter "motivos" para ser sentido, pois ele simplesmente aparece, mesmo sem que saibamos o motivo. A seguir, reproduzimos a primeira estrofe:

Apesar de, muitas vezes, não haver correspondência, o "estado de graça" persiste no coração do apaixonado.

5. Manuel António Pina: Amor como em Casa

Regresso devagar ao teu

sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que

não é nada comigo. Distraído percorro

o caminho familiar da saudade,

pequeninas coisas me prendem,

uma tarde num café, um livro. Devagar

te amo e às vezes depressa,

meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,

regresso devagar a tua casa,

compro um livro, entro no

amor como em casa.

Manuel António Pina (1943–2012) é considerado um grande poeta e jornalista. Seu poema Amor Como em Casa, de 1974, aborda o amor como um sentimento de aconchego que nos envolve, apesar de nos trazer saudades e a necessidade de seguirmos adiante.

O autor enxerga a relação amorosa como um lugar de pertencimento e de liberdade, onde ao estar com o ser amado existe a sensação de se encontrar em um lar.

6. Clareza de Ana Cristina Cesar

é muito claro

amor

bateu

para ficar

nesta varanda descoberta

a anoitecer sobre a cidade

em construção

sobre a pequena constrição

no teu peito

angústia de felicidade

luzes de automóveis

riscando o tempo

canteiros de obras

em repouso

recuo súbito da trama

A poeta Ana Cristina Cesar (1952-1983) foi uma figura importante da Literatura Marginal dos anos 70 no Brasil. Ela foi essencial para o desenvolvimento deste estilo literário nesta época.

Seus versos, cheios de detalhes que retratam o cotidiano, impressionam pela liberdade e espontaneidade presentes em sua poesia, que ainda assim se mantém incrivelmente bem estruturada.

Ana C. descreveu um amor arrebatador que chega em um cenário urbano e traz consigo alegria, mas também tristeza. É muito claro que este sentimento traz consigo um misto de sentimentos.

7. O Tempo Não Passa: Uma Reflexão de Drummond

(...) O meu tempo e o teu, amada,

transcendem qualquer medida.

Além do amor, não há nada,

amar é o sumo da vida. (...)

Mostramos a quarta estrofe de O tempo não passa? Não passa, de Drummond para exprimir o sentimento de plenitude que o amor desperta. Esta poesia romântica transmite a sensação de plenitude produzida pelo amor.

O autor ressalta a relação amorosa como sendo o "sumo da vida", apontando-a como aquilo que dá sentido à existência.

8. Soneto sobre o Amor Absoluto de Vinicius de Moraes

(...) E de te amar assim muito e amiúde,

É que um dia em teu corpo de repente

Hei de morrer de amar mais do que pude.

O lindo Soneto do Amor Total, de Vinicius de Moraes (1913–1980), é um dos poemas mais celebrados da literatura brasileira.

Esta última estrofe de um poema publicado em 1971 traz consigo um forte sentimento de amor romântico. O sujeito do poema está tão apaixonado que fica desfalecido nos braços da pessoa amada, de um modo figurado.

9. Mário Cesariny: Um Poema

Tu estás em mim como eu estive no berço

como a árvore sob a sua crosta

como o navio no fundo do mar

Mário Cesariny, um pintor e poeta surrealista português (1923-2018), escreveu o poema "Pena Capital" na década de 50, que foi publicado no livro de mesmo nome em 1957.

A singeleza de apenas três versos poéticos é capaz de simplificar o sentimento complexo do amor, transmitindo a sensação de que o ser amado está presente em todas as circunstâncias.

O amor que existe é tão poderoso quanto a própria natureza. Ele traz um sentimento de segurança e pertencimento.

10. Mario Quintana e os Vigilantes Noturnos

Os que fazem amor não estão fazendo apenas amor,

estão dando corda ao relógio do mundo.

Mario Quintana (1906–1994), conhecido pela sua simplicidade, é considerado um dos maiores poetas brasileiros. Em 1987, ele publicou o livro Preguiça como Método de Trabalho, que inclui a poesia Vigilantes Noturnos.

Neste texto, o autor cria uma visão singular sobre o amor e as ligações românticas. É sugerido que o amor é o mecanismo que dá energia à vida humana e é o impulsionador do mundo, fazendo com que a "máquina do mundo gire".

11. Obras de Paulo Leminski Sem Título

Eu tão isósceles

Você ângulo

Hipóteses

Sobre o meu tesão

Teses sínteses

Antíteses

Vê bem onde pises

Pode ser meu coração

O estilo de Paulo Leminski (1944-1989), poeta e escritor brasileiro, foi marcante na poesia de nosso país. Seu trabalho é conhecido por seu uso de trocadilhos, jogos de palavras e brincadeiras repletos de humor e acidez.

No poema, o autor usa vários conceitos matemáticos para ilustrar um problema romântico e, por fim, alerta para que se tenha cautela com os sentimentos.

12. Procurando Alice Ruiz

Te procuro

nas coisas boas

em nenhuma

encontro inteiro

em cada uma

te inauguro

Alice Ruiz, nascida em 1946, possui uma extensa produção literária, composta por mais de vinte obras publicadas. Curitibana, é poeta e compositora.

Alice usa a linguagem do haicai, um estilo japonês de poemas curtos, ao longo de sua produção poética.

O poema trata sobre o desejo das pessoas apaixonadas de se conectarem ao seu amado, ainda que na ausência dele. Elas procuram por vestígios da presença dele nos pequenos acontecimentos do dia a dia e, quando não há relação direta, elas inventam uma nova forma de lembrar e sentir a presença do ser amado.

13. Lêdo Ivo no Oceano Secreto

Quando te amo

obedeço às estrelas.

Um número preside

nosso encontro na treva.

Vamos e voltamos

como os dias e as noites

as estações e as marés

a água e a terra.

Amor, respiração

do nosso oceano secreto.

Lêdo Ivo (1924-2012) foi um dos principais nomes da Geração 45 da literatura brasileira. Autor alagoano, ele desenvolveu vários gêneros de escrita, deixando um grande legado para o País.

No poema Oceano Secreto, publicado no livro Crepúsculo Civil (1990), o ato amoroso é comparado à vida, que é descrita como sublime e misteriosa. A imagem do amor é retratada como uma atividade natural e orgânica, como as marés e os ciclos da natureza.

14. Você também Era uma Pequena Folha”, de Pablo Neruda

Tu eras também uma pequena folha

que tremia no meu peito.

O vento da vida pôs-te ali.

A princípio não te vi: não soube

que ias comigo,

até que as tuas raízes

atravessaram o meu peito,

se uniram aos fios do meu sangue,

falaram pela minha boca,

floresceram comigo

Pablo Neruda (1904-1973) foi um poeta e diplomata de destacada relevância na América Latina. O chileno foi reconhecido internacionalmente por sua vasta obra literária.

Muitos de seus poemas tratam do amor com uma abordagem romântica, envolvendo frequentemente elementos da natureza.

A amada foi descrita como uma pequena folha, que inadvertidamente se estabeleceu no coração do poeta, causando o nascimento de um profundo e sincero amor.

15. Adélia Prado: Uma Maneira

Meu amor é assim, sem nenhum pudor.

Quando aperta eu grito da janela

— ouve quem estiver passando —

ô fulano, vem depressa.

Tem urgência, medo de encanto quebrado,

é duro como osso duro.

Ideal eu tenho de amar como quem diz coisas:

quero é dormir com você, alisar seu cabelo,

espremer de suas costas as montanhas pequenininhas

de matéria branca. Por hora dou é grito e susto.

Pouca gente gosta.

Adélia Prado, a escritora mineira nascida em 1935, foi uma das principais figuras do modernismo no Brasil. Ela se expressou em várias formas literárias, incluindo poesia.

Adélia nos revela seu estilo único de expressão nas palavras do seu poema - lúdico, coloquial e livre. Nesse poema, ela nos mostra seu amor com urgência e intensidade, desapontando quem espera seguir a opinião alheia.

Ela busca nos pequenos gestos diários a demonstração do amor, como um aconchego ao dar um cafuné, partilhar a cama e espremer cravos, pois esses atos só possuem significado quando são realizados na mais profunda intimidade.

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16. Seja Uma Chama Viva, de Alice Ruiz

Teu corpo seja brasa

e o meu a casa

que se consome no fogo

um incêndio basta

pra consumar esse jogo

uma fogueira chega

pra eu brincar de novo.

Alice Ruiz traz a temática amorosa em um de seus poemas: Teu corpo seja brasa.

A paixão é frequentemente associada ao fogo. A poeta deixa claro a ligação íntima e ardente entre os amantes neste poema.

Alice associa o romance com algo "arriscado", comparando-o a "brincar com fogo", desenvolvendo assim um jogo de palavras que expressa a eletricidade da paixão.

Sónia Cunha
Escrito por Sónia Cunha

É licenciada em História, variante História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (2003) e em Conservação e Restauro pelo Instituto Politécnico de Tomar (2006). Ao longo da carreira profissional, exerceu vários cargos em diferentes áreas, como técnico superior de Conservação e Restauro, assistente a tempo parcial na UPT e professora de História do 3º ciclo e ensino secundário. A arte e as letras sempre foram a sua grande paixão.