6 Incríveis Gêneros Literários para Apreciar


Escrito por Rebeca Fuks

A literatura é diversa e rica em expressão. Ela abarca uma variedade de gêneros literários, ou seja, textos que possuem estruturas e temas semelhantes.

Estes gêneros são agrupados em três categorias: lírico, narrativo e dramático.

A Beleza da Poesia Lírica

Os gêneros líricos são caracterizados pela subjetividade, dando destaque aos sentimentos e ao ponto de vista do autor ou autora. São frequentemente expressos de forma simbólica e através de metáforas.

Textos líricos incluem poesias como poema, soneto, haicai e sátira.

No Soneto de Separação, Vinícius de Moraes transmite toda a dor e frustração causadas por uma separação amorosa. Tal sentimento é tão presente e intenso que se faz necessário a sua expressão através de versos poéticos.

O término de um relacionamento é algo que todas as pessoas podem experimentar, sendo assim, um evento comum. O autor consegue traduzir em palavras as angústias de quem se despede de alguém. Nessa ocasião, o sentimento de luto é profundo, pois se trata de uma perda irreparável. É necessário, então, aceitar a impermanência da vida e lidar com a solidão que pode sobrevir.

Soneto de separação (Vinícius de Moraes)

De repente do riso fez-se o pranto

Silencioso e branco como a bruma

E das bocas unidas fez-se a espuma

E das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o vento

Que dos olhos desfez a última chama

E da paixão fez-se o pressentimento

E do momento imóvel fez-se o drama

De repente não mais que de repente

Fez-se de triste o que se fez amante

E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo, distante

Fez-se da vida uma aventura errante

De repente, não mais que de repente

O haikai, de origem japonesa, é um gênero poético que, em poucas palavras, expressa uma ideia. Trata-se de um texto lírico curto que, mesmo com poucas palavras, consegue abranger um pensamento.

Fanny Luíza Dupré nos mostra de uma forma poética e objetiva o sofrimento, a desigualdade e a miséria presentes na infância através da estrutura específica de seu texto.

Tremendo de frio

no asfalto negro da rua

a criança chora.

(Fanny Luíza Dupré)

Narrativas: Explorando o Gênero

O gênero narrativo é um esteio da literatura que conta uma história com personagens, eventos e uma narrativa. É o gênero que engloba romances, contos, crônicas e fábulas.

Itamar Vieira Junior, baiano, lançou em 2019 o romance Torto Arado, que se destacou na cena contemporânea.

Duas irmãs, cujas vidas estão entrelaçadas pela tragédia, vivem no semi-árido nordestino. Um evento traumático une as duas e faz com que suas jornadas se entrecruzem.

Esta obra traz uma mistura poderosa de força, resistência e sensibilidade ao abordar questões sociais. A seguir, uma amostra do conteúdo:

Quando retirei a faca da mala de roupas, embrulhada em um pedaço de tecido antigo e encardido, com nódoas escuras e um nó no meio, tinha pouco mais de sete anos.

Minha irmã, Belonísia, que estava comigo, era mais nova um ano. Pouco antes daquele evento estávamos no terreiro da casa antiga, brincando com bonecas feitas de espigas de milho colhidas na semana anterior. Aproveitávamos as palhas que já amarelavam para vestir feito roupas nos sabugos. Falávamos que as bonecas eram nossas filhas, filhas de Bibiana e Belonísia.

Ao percebermos nossa avó se afastar da casa pela lateral do terreiro, nos olhamos em sinal de que o terreno estava livre, para em seguida dizer que era a hora de descobrir o que Donana escondia na mala de couro, em meio às roupas surradas com cheiro de gordura rançosa.

(Torto Arado, de Itamar Vieira Junior)

Neste livro de 1986, Contos de Amor Rasgado, encontramos o conto de Marina Colasanti, intitulado E tinha a cabeça cheia deles. O pequeno texto nos apresenta a história narrada.

Aqui, uma atitude comumente vista como desagradável, pois ter piolhos não é algo positivo, é marcada por amor e carinho, através do cuidado da mãe ao percorrer os cabelos da filha para buscar piolhos.

Todos os dias, ao primeiro sol da manhã, mãe e filha sentavam-se na soleira da porta. E deitada a cabeça da filha no colo da mãe, começava esta a catar-lhe piolhos.

Os dedos ágeis conheciam sua tarefa. Como se vissem, patrulhavam a cabeleira separando mechas, esquadrinhando entre os fios, expondo o claro azulado do couro. E na alternância ritmada de suas pontas macias, procuravam os minúsculos inimigos, levemente arranhando com as unhas, em carícia de cafuné.

Com o rosto metido no escuro pano da saia da mãe, vertidos os cabelos sobre a testa, a filha deixava-se ficar enlanguescida, enquanto a massagem tamborilada daqueles dedos parecia penetrar-lhe a cabeça, e o calor crescente da manhã lhe entrefechava os olhos.

Foi talvez devido à modorra que a invadia, entrega prazerosa de quem se submete a outros dedos, que nada percebeu naquela manhã – a não ser, talvez, uma leve pontada – quando a mãe, devassando gulosa o secreto reduto da nuca, segurou seu achado entre polegar e indicador e, puxando-o ao longo do fio negro e lustroso em gesto de vitória, extraiu-lhe o primeiro pensamento.

(E tinha a cabeça cheia deles, de Marina Colasanti)

A crônica pertence ao gênero narrativo de escrita. Ela se assemelha ao conto, porém com a característica de retratar eventos do cotidiano, com um toque jornalístico.

Carlos Drummond de Andrade é reconhecido como um dos maiores nomes da literatura brasileira, tendo explorado diferentes gêneros de escrita.

No conto “Furto de Flor”, o escritor mineiro descreve uma transgressão cometida por ele, quando roubou uma flor de um jardim. Ele a acompanha em seu processo de ressecamento até que ela finalmente murchou por completo.

Quando tentou lhe proporcionar um lugar digno para a flor, recebeu uma resposta bruta e incompatível com sua visão da natureza.

Furtei uma flor daquele jardim. O porteiro do edifício cochilava e eu furtei a flor. Trouxe-a para casa e coloquei-a no copo com água. Logo senti que ela não estava feliz. O copo destina-se a beber, e flor não é para ser bebida.

Passei-a para o vaso, e notei que ela me agradecia, revelando melhor sua delicada composição. Quantas novidades há numa flor, se a contemplarmos bem. Sendo autor do furto, eu assumira a obrigação de conservá-la. Renovei a água do vaso, mas a flor empalidecia. Temi por sua vida. Não adiantava restituí-la ao jardim. Nem apelar para o médico das flores. Eu a furtara, eu a via morrer.

Já murcha, e com a cor particular da morte, peguei-a docemente e fui depositá-la no jardim onde desabrochara. O porteiro estava atento e repreendeu-me:

– Que ideia a sua, vir jogar lixo de sua casa neste jardim!

(Furto de Flor, de Carlos Drummond de Andrade)

A Dramática como Gênero Literário

O gênero dramático é aquela literatura destinada à encenação. Dentro desse gênero, existem várias vertentes: tragédia, comédia, tragicomédia, farsa e auto. Essas variações dão vida a toda a história da dramaturgia, tanto para o teatro como para outras manifestações artísticas.

Édipo Rei, escrita por Sófocles, um dos dramaturgos mais importantes da antiguidade grega, é uma tragédia famosa na cultura ocidental, datada de 427 a.C.

A peça em questão conta o mito de Édipo, o herói que, por uma amaldição dos deuses, tem como destino matar seu próprio pai e se casar com sua mãe. Esta história tem um desfecho trágico, enquadrando assim a peça na vertente da tragédia. Contrariamente, na comédia, o final é esperançoso.

ÉDIPO — Foi ela que te entregou a criança?

SERVO — Sim, meu rei.

ÉDIPO — E para quê?

SERVO — Para que eu a matasse.

ÉDIPO — Uma mãe fez tal coisa! Amaldiçoada seja!

SERVO — Assim fez, temendo a terrível profecia...

ÉDIPO — Que profecia?

SERVO — Aquele menino deveria matar seu pai, assim diziam...

ÉDIPO — E por que então entregá-lo a esse velho?

SERVO — Senti pena dele, senhor! Pedi a esse homem que o levasse para a sua terra, para um país distante... Vejo agora que o salvou da morte para uma sina pior! Pois, se és tu aquela criança, sabe que és o mais infeliz dos homens!

ÉDIPO — Horror! Horror! Ai de mim! Tudo era verdade! Ó luz, que eu te veja pela derradeira vez! Filho amaldiçoado que sou, marido maldito de minha própria mãe... e... assassino maldito de meu próprio pai!

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Rebeca Fuks
Escrito por Rebeca Fuks

É graduada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), possui mestrado em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutorado em Estudos de Cultura pelas Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).