Análise e Resumo do Livro O Morro dos Ventos Uivantes


Escrito por Rebeca Fuks

Emily Brontë é a única autora da Inglaterra que escreveu o romance Morro dos Ventos Uivantes (título original Wuthering heights).

Quando publicado em 1847, o livro foi recebido com críticas duras. Porém, com o decorrer dos anos, tornou-se um dos maiores clássicos da literatura inglesa.

Uma Breve Análise do Livro

O Morro dos Ventos Uivantes é uma homenagem a zona rural da Inglaterra, onde se desenvolve a trama. Os relatos da governanta Nelly Dean são o principal meio de descobrirmos o que ocorre na casa da família Earnshaw. De maneira geral, a narrativa é carregada de tons sombrios.

O senhor Earnshaw, de Wuthering Heights, encontrou um menino órfão e desamparado nas ruas de Liverpool e decidiu adotá-lo em 1801. O garoto tinha pele escura, e muitos descreviam-no como um cigano. Após ser adotado pela família Earnshaw, ele foi trazido para a fazenda dos ventos uivantes, onde a chegada dele foi narrada de uma forma muito descritiva.

"O patrão tentou explicar o que acontecera, mas, como estava morto de cansaço, tudo o que consegui entender durante o raspanete da senhora, resumia-se a uma história em que falava de o ter encontrado faminto e sem abrigo, a vaguear pelas ruas de Liverpool, tendo-o tomado ao seu cuidado e tentado encontrar quem o reclamasse. Porém, como ninguém sabia a quem pertencia e o tempo e o dinheiro escasseassem, achou preferível trazê-lo para casa, para não entrar em despesas desnecessárias, pois não desejava devolvê-lo à situação em que o encontrara."

De acordo com a perspectiva de Nelly, governanta da casa dos patrões, temos conhecimento de como tudo se desenrola ali: as reações dos envolvidos e detalhes do ambiente físico. Por exemplo, sabemos que o menino foi encontrado nas ruas de Liverpool e que está bem, assim como o senhor que o adotou.

Earnshaw sente profunda compaixão por aquele garoto abandonado: sujo, andrajoso, maltrapilho, faminto, e sem ter para onde ir, pedindo esmola nas ruas. Ele tenta encontrar os responsáveis pela criança, mas sem sucesso, e chega à conclusão de que a única forma de salvá-lo é levando-o para sua casa.

Quando o menino chegou à casa, o senhor Earnshaw disse à governanta que lhe desse banho, o vistesse com roupas limpas e o colocasse na cama com os outros filhos.

Localizada no alto de um monte, a casa da família fazia parte da propriedade rural intitulada Alto dos Vendavais, nome dado por causa da forte inclemência climatérica que o terreno sofria. A região era frequentemente atingida por tempestades e as fortes nortadas só intensificavam a violência do vento.

Hareton Earnshaw, antepassado da família tradicional dos Earnshaw, possuía a propriedade há gerações. A evidência disso estava presente no interior da propriedade, onde se podia ler o nome de Hareton Earnshaw seguido da data de 1500.

A visita à propriedade destaca a riqueza de detalhes descritos no romance. É notável a precisão com que as características são narradas, tornando a leitura extremamente envolvente.

"O telhado não tinha forro, exibindo-se em toda a sua nudez aos olhares curiosos, excepto nos locais onde ficava escondido atrás de uma prateleira suspensa cheia de bolos de aveia, ou atrás de presuntos fumados, de vitela, carneiro e porco, que pendiam das traves em fiadas. Por cima da chaminé enfileiravam se velhas escopetas já sem préstimo e um par de pistolas de arção, e, sobre o rebordo, à guisa de enfeite, três latas de chá pintadas de cores garridas. O chão era de lajes brancas e polidas. As cadeiras eram antigas, de espaldar, pintadas de verde, havendo também um ou dois cadeirões negros e pesados, semi-ocultos na sombra."

O olhar do narrador é minucioso, nada escapa à sua avaliação. Ele olha desde o chão até o teto, identificando o feitio, a cor e os detalhes da mobília, bem como os mantimentos expostos.

O casal Earnshaw levou um garoto que havia sido abandonado nas ruas de Liverpool para a fazenda, e lhe deram o nome de Heathcliff, em homenagem a um filho que havia partido antes. Considerando-o um filho, o casal o criou junto com os outros dois filhos que possuíam, Catherine e Hindley. O menino de pele escura como a de um cigano foi tratado por eles da mesma forma como os outros.

Assim que Heathcliff chegou à casa, Hindley, com catorze anos, rejeitou-o imediatamente devido à sua origem humilde e manteve-se detestando-o ao longo dos anos. Catherine, por outro lado, teve alguma resistência inicial, porém logo aceitou-o como membro da família e desenvolveu um grande laço de amizade com ele.

desconfiado, medroso, tímido. A narradora destaca que o personagem, embora criado junto aos seus irmãos, preservou qualquer coisa de sua trágica origem. Tal característica é descrita com as palavras: desconfiado, medroso e tímido.

"É um cigano de pele escura no aspecto e um cavalheiro nos modos e no trajar, ou melhor, tão cavalheiro como tantos outros fidalgotes rurais um pouco desmazelado talvez, sem contudo deixar que essa negligência o amesquinhe no seu porte altivo e elegante, se bem que taciturno."

O que ninguém esperava era que o jovem Heathcliff se apaixonasse pela irmã adotiva, Catherine Earnshaw. Esta também tinha grande afeto por ele, sendo que o mais severo dos castigos para ela era a separação do rapaz.

Hindley sempre detestou Heathcliff, e após a morte do pai dele, ele o deslocou para viver com os criados. Gradualmente, ele foi apertando o cerco, privando-o de ir as aulas e incumbindo-o de tarefas cansativas, igual a um criado qualquer.

Em uma época em que os matrimônios eram mais baseados em negócios do que em verdadeiro amor, o destino de Catherine já estava traçado pela sua família: encontrar um marido proveniente de uma família abastada. Edgar Linton, dono da Granja dos Tordos e filho de uma família de muito prestígio e nome, foi escolhido para ser o marido. Ele vivia perto da propriedade dos Earnshaw.

Durante um dia comum, Heathcliff escuta uma conversa entre Catherine e a governanta Nelly onde a moça explica que, apesar de seu amor por ele, casar-se com seu irmão adotivo destruiria sua reputação e status social. Por isso, Catherine decide aceitar o pedido de casamento de Linton, consciente de que não pode casar com Heathcliff.

Após ouvir a amada e descobrir que ela tinha um enlace com outro, Heathcliff deixou a fazenda. Quando ele voltou, já era um cavalheiro poderoso e repleto de ódio. Catherine ficou dividida entre dois homens: o marido, Edgar Linton, e o seu irmão de criação, Heathcliff.

Catherine sofreu um destino trágico, morrendo enquanto dava à luz a uma linda garotinha. A perda de sua amada deixou Heathcliff profundamente abalado e ele prometeu se vingar de aqueles que impediram seu amor.

A história, embora seja simples, ganha profundidade com a quantidade de detalhes que são explorados e pela complexidade das relações entre os seus principais personagens. O enredo gira em torno de um triângulo amoroso, mas é muito mais do que isso.

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Personagens Centrais

A História de Hareton Earnshaw

Um dia, Hareton foi a Liverpool e encontrou uma criança desamparada pelas ruas. Sem pensar duas vezes, ele decidiu adotar a criança e trazê-la para casa. Desse modo, ele se tornou o pai biológico de Catherine e Hindley.

O Drama de Heathcliff

Heathcliff é o protagonista de O morro dos ventos uivantes. O seu passado é marcado pela tragédia do abandono, preconceito, violência e negligência. Contudo, a sua vida muda quando é levado para o morro dos ventos uivantes, onde conhece a sua irmã adotiva, Catherine, por quem se apaixona perdidamente. Apesar disso, Heathcliff pode ser considerado tanto um herói quanto um vilão, pois é, ao mesmo tempo, apaixonado e amargo, e vingativo.

A História de Catherine Earnshaw

Catherine Earnshaw, protagonista da história, tem seis anos quando conhece seu irmão adotivo, Heathcliff. Apesar da sua primeira reação de desconfiança, ela logo se aproxima dele e torna-se muito próxima. Ela é filha de um casal Earnshaw e irmã de Hindley.

A História de Hindley Earnshaw

Hindley, o irmão biológico de Catherine, não suporta o fato de seus pais darem mais atenção ao jovem Heathcliff e desenvolve um sentimento de ciúmes.

A História de Nelly Dean

A governanta da casa Earnshaw presencia todos os eventos e, por conhecer toda a história, torna-se a narradora principal.

Publicação do Livro: Uma Análise

Publicado sob o pseudônimo Ellis Bell, Wuthering Heights (O morro dos ventos uivantes) tem surpreendido seus leitores através dos anos.

Em 1938, a Editora Globo realizou a primeira tradução brasileira, com Oscar Mendes no cargo de tradutor. Nove anos mais tarde, Rachel de Queiroz foi contratada pela Editora José Olympio para refazer a tradução. Por fim, a editora L&PM lançou a versão do romance traduzida por Guilherme da Silva Braga.

O romance "A Colina dos Vendavais" foi traduzido para o português a partir do original em inglês. É uma obra escrita pela autora americana Madeleine L'Engle.

Emily Brontë incentivou uma nova forma de uso da linguagem, optando por expressar-se de forma coloquial.

A obra Wuthering heights foi altamente inovadora para a época porque a autora coloriu seus personagens com realidade. Estes seres possuíam defeitos, intrigavam os leitores e tinham raivas, mesmo sem motivos. Naquele período, os livros eram usados apenas para formação literária e seus protagonistas eram quase perfeitos. Por isso, o impacto que Wuthering heights causou entre seu público leitor foi enorme.

Primeira página da primeira edição.

Em 2007, ocorreu um leilão em Londres que tratava da primeira edição de Wuthering heights, datada de 1847. O preço inicial proposto era de 60 mil dólares, mas o livro acabou surpreendendo a todos com o seu preço final de 230 mil dólares.

Explorando o Morro dos Ventos Uivantes e a Saga Crepúsculo

A protagonista de Crepúsculo, Bella Swan, cita o romance de Emily Brontë, Wuthering heights, como seu livro favorito. No terceiro livro da série de Stephenie Meyer, ela faz várias referências a essa obra clássica.

Bella cita um trecho do clássico inglês para Edward Cullen: "Quando sou contigo, o tempo voa."

Se tudo o mais perecesse e enquanto ele perdurasse, eu ainda continuaria a existir; e se tudo o mais restasse e ele fosse aniquilado, o universo se tornaria muito mais estranho.

Devido ao grande sucesso das vendas de Crepúsculo, a editora HarperCollins decidiu reformular a capa de O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brontë, para que ficasse mais próxima da saga Twilight. A nova capa ficou mais gótica e deu ao livro a possibilidade de obter ainda mais sucesso.

A edição brasileira do livro Crepúsculo chegou a ter um selo que dizia: "o livro favorito de Bella e Edward".

Edição que traz na capa uma referência a Twilight.

Transformando Histórias para a Tela do Cinema

Alturas Assombradas (1920)

A A. V. Bramble foi o diretor responsável pela primeira adaptação para o cinema de O morro dos ventos uivantes, realizada no Reino Unido em 1920.

Amor e Tempestade em Wuthering Heights (1939)

O filme de 1939 dirigido por William Wyler contou com Merle Oberon, Laurence Olivier e David Niven como protagonistas.

Heights Wuthering (1970)

Em 1970, a adaptação do romance inglês foi ao ar, com Robert Fuest como diretor. Anna Calder-Marshall e Timothy Dalton desempenharam os papéis principais.

Cartaz Wuthering Heights.

Morro dos Ventos Uivantes - 1992

Peter Kosminsky foi o diretor da versão norte-americana, com Juliette Binoche interpretando Catherine Earnshaw e Ralph Fiennes como Heathcliff.

A Montanha dos Ventos Uivantes (1998)

David Skynner dirigiu a versão norte-americana de 1998 com fidelidade ao livro.

A Montanha dos Ventos Uivantes (2011)

Andrea Arnold foi a diretora da última versão cinematográfica de 'Heathcliff', com James Howson interpretando o protagonista e Kaya Scodelario como Cathy.

A Literatura Brasileira: Uma Novela

Em 1967, o canal de televisão Excelsior, no Brasil, exibiu uma novela baseada na obra de Emily Brontë. O diretor, Lauro César Muniz, selecionou Altair Lima para interpretar o personagem Heathcliff e Irina Greco para viver a mocinha Catarina.

Cartaz da novela

Descubra na íntegra

A Vida e Obra de Emily Brontë, Pseudônimo de Ellis Bel

Nascida em Thornton, uma cidadezinha rural de Yorkshire, na Inglaterra, no dia 30 de julho de 1818, Emily Brontë viveu apenas alguns anos.

“Foi nesse lugar que encontrei meu refúgio e minha solidão”. Emily nasceu em um lugar distante, o que a incentivou a encontrar seu refúgio em livros. Seu principal porto seguro era a biblioteca do pai, um lugar onde ela podia sentir-se sozinha e protegida: "Foi onde encontrei meu refúgio e meu silêncio".

Dependíamos totalmente de nós mesmos e uns dos outros, dos livros e do estudo para encontrar diversões e ocupações na vida. O estímulo mais elevado, bem como o prazer mais vivo, que conhecemos da infância em diante residia em nossos primeiros esforços na composição literária.

A trágica morte da escritora britânica aconteceu prematuramente, no dia 19 de dezembro de 1848, quando ela ainda tinha 30 anos de idade. Infelizmente, ela só deixou para trás como único legado um romance, a obra-prima Wuthering heights.

O livro foi publicado em dezembro de 1847, um ano antes de Branwell Brontë falecer. Ele optou por usar o pseudônimo masculino Ellis Bel para ocultar sua identidade.

Emily Bronte

Rebeca Fuks
Escrito por Rebeca Fuks

É graduada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), possui mestrado em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutorado em Estudos de Cultura pelas Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).