Biografia e Músicas de Chiquinha Gonzaga


Escrito por Carolina Marcello

A inconfundível Chiquinha Gonzaga (1847 — 1935) foi uma pioneira na história nacional. Suas habilidades como pianista, compositora e maestrina romperam barreiras e asseguraram seu lugar na memória do Brasil.

Chiquinha foi um exemplo de pioneirismo, desafiando os estereótipos e lutando por um sonho inovador para as mulheres na época: viver da música. Ela quebrou barreiras e preconceitos, mostrando que todos, independentemente do gênero, têm o direito de perseguir suas ambições.

Encarando o desafio com valentia, ela marcou a história da música brasileira, tornando-se a primeira mulher a reger uma orquestra. Além disso, ela se tornou uma grande divulgadora da música popular, abrindo portas para um estilo que alçaria voos incríveis.

Retrato de Chiquinha Gonzaga.

Desde 2012, o Dia Nacional da Música Popular Brasileira é celebrado em 17 de outubro, data do aniversário da famosa compositora, cuja importância foi tão grande.

Chiquinha Gonzaga é reconhecida por seu notável legado artístico, mas também pela sua vida singular.

A cantora carioca foi conhecida não só por sua carreira musical, mas também por seu engajamento em causas sociais. Ela militou fortemente pela abolição da escravidão e se tornou uma grande defensora dos direitos de autoria.

A Vida e a Obra de Chiquinha Gonzaga

Os Primeiros Passos

No dia 17 de outubro de 1847, Francisca Edwiges Neves Gonzaga veio ao mundo no Rio de Janeiro. Seu pai era o marechal do Exército Imperial, José Basileu Gonzaga, e sua mãe, Rosa Maria Neves de Lima, era filha de escravos.

Apesar da família do pai ser tradicional e conservadora, isso não impediu o casal de se unir depois do nascimento de Francisca.

O maestro Elias Álvares Lobo foi responsável por ensinar a menina a tocar piano quando ela ainda era criança. Aos 11 anos de idade, ela já se destacava na composição. No entanto, não só as músicas eruditas despertavam sua curiosidade, mas também os ritmos populares, como a umbigada, que costumavam animar as festas.

Explorando Dinâmicas de Relacionamentos e Desligamentos

Com 16 anos, em 1863, Francisca foi forçada a se casar com Jacinto Ribeiro do Amaral, que era empresário e oficial da Marinha, sendo mais velho que ela. Desse casamento nasceram três filhos: João Gualberto, Maria do Patrocínio e Hilário.

Jacinto não aceitava a vocação de Francisca para o piano e mostrava ciúmes quando ela tocava. A família se mudou para o navio São Paulo, onde o marido trabalhava, e o isolamento lá causou insuportabilidade.

Em 1869, Chiquinha Gonzaga tomou uma decisão inovadora para a época: ela se separou do marido e iniciou a sua jornada em busca da carreira dos seus sonhos. O divórcio causou um imenso escândalo e acabou por ser rejeitado pela família.

Embora Francisca tivesse que se separar de dois de seus filhos para prosseguir com sua vida, ela não deixou que esse desgosto a impedisse. Ela começou a dar aulas de piano e a frequentar rodas de choro, conseguindo assim continuar sua jornada.

Após um certo período, Chiquinha desenvolveu uma relação com João Batista de Carvalho, um engenheiro. Este relacionamento deu origem a uma filha, Alice Maria. No entanto, o par se separou devido à infidelidade do companheiro, levando Chiquinha a abandonar sua filha.

Relações entre Política e Sociedade

Na sociedade patriarcal e colonialista que ainda permitia a escravidão, Francisca buscava a liberdade e a diversidade.

Ela era uma abolicionista e republicana convicta, e não hesitava em expressar as suas opiniões ao público. Para arrecadar fundos para o movimento abolicionista, ela até mesmo vendia partituras.

Ela desafiou a moral da época ao se divorciar e, mesmo assim, sobrepujou todos os empecilhos estabelecidos e construiu um novo caminho para si mesma na música.

Após a desilusão amorosa, a pianista aderiu à vida boêmia: festas, cigarros e música eram seu foco, e ela chamava a atenção por não condizer com o que se esperava de uma mulher e mãe.

Atinja o Sucesso na Sua Carreira

Partitura de Chiquinha Gonzaga.

Em meio às dificuldades de sobrevivência, Chiquinha encontrou em sua música o caminho para o sucesso. Para aprimorar seus conhecimentos, ela estudava com Artur Napoleão, enquanto se apresentava com o grupo Choro Carioca.

Aos poucos, Gonazaga foi sendo reconhecida pelo seu trabalho, especialmente como compositora, nos variados gêneros musicais. Apesar de não ter sido a primeira pianista ou compositora brasileira, ela foi uma das primeiras mulheres a viver de sua música de forma profissional.

A artista começou a trabalhar escrevendo para teatro de variedades e revista, e posteriormente fundou a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais.

Em 1885, quando Chiquinha dirigiu uma orquestra pela primeira vez, a imprensa não sabia como descrever a cena, pois não havia a palavra "maestrina" em seu vocabulário.

Passados quatro anos, ela liderou uma orquestra de violões, uma vez que eram vistos com desdém naquele momento, associados a classes sociais inferiores e a músicas populares.

Explorando a Europa e a Vida Final

Retrato de Chiquinha Gonzaga.

Aos 52 anos, Chiquinha Gonzaga viveu mais um romance controverso, desta vez com o jovem português João Batista Fernandes Lage, que tinha apenas 16 anos de idade.

A pianista decidiu fugir do escândalo e do julgamento público com o adolescente, indo para a Europa entre 1902 e 1910. Por lá, eles passaram uma temporada em Lisboa, Portugal, onde ela manteve a atividade artística, cativando seus admiradores.

Ao retornar ao Brasil, eles mantiveram seu romance escondido. Em 28 de fevereiro de 1935, Francisca faleceu ao lado do amado, sendo enterrada no Cemitério de São Francisco de Paula.

Depois que ele falecera, descobriu-se a ligação amorosa entre os dois através de cartas e fotografias antigas.

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Os Grandes Sucessos de Chiquinha Gonzaga

Considerada a primeira compositora popular do Brasil, Chiquinha Gonzaga teve o insight de unir o piano aos ritmos populares que emocionavam a população. Além disso, ela compreendeu a necessidade de criar músicas de acordo com os gostos do nosso país.

A obra de Gonzaga é extensa: além de ser considerada a pioneira do choro instrumental, ela compôs cerca de 2 mil músicas com gêneros como a valsa, a polca e o maxixe.

Beleza Encantadora (1877)

A partitura de "Atraente" mudou o destino de Chiquinha Gonzaga, tornando-a um grande sucesso. Logo após a sua publicação, a partitura já havia sido impressa 15 vezes, e a música estava se popularizando por toda a nação.

A princípio, a fama foi motivo de aborrecimento para a pianista, pois sua família ficou muito irritada e até tentou sabotar o seu sucesso profissional.

Dança da Corta-Jaca (1895)

A música Corta-Jaca foi originalmente intitulada Gaúcho e faz parte da operetta musical Zizinha Maxixe. Trata-se de um maxixe (ou tango brasileiro).

Em 1914, o episódio de Corta-Jaca tocado na presença do Presidente Hermes da Fonseca por sua Primeira-Dama, Nair de Teffé, foi um acontecimento memorável na história do país. O tema foi interpretado no violão.

A apresentação desencadeou reações contrárias da população mais conservadora, que a qualificou de vulgar. No entanto, abriu caminho para que novas sonoridades, características dos níveis mais baixos da sociedade, fossem aceitas nos círculos da "alta roda".

Abre Alas em 1899

Abriu caminho para o carnaval brasileiro e virou o hino de muitas escolas de samba: Abre Alas é a música de Chiquinha Gonzaga que eternizou seu nome na história do nosso carnaval. Composta para um desfile no bairro do Andaraí, Rio de Janeiro, foi a primeira marcha carnavalesca a ter letra. Ela foi a precursor do nosso carnaval e se tornou a música de muitas escolas de samba.

A música inovadora deu origem a um ritmo que se tornou característico da celebração do carnaval brasileiro. Ela é, atualmente, um dos principais símbolos desta festa tão adorada por aqui.

Carolina Marcello
Escrito por Carolina Marcello

Formou-se em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e possui mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes pela mesma instituição. Durante os estudos universitários, foi co-fundadora do Grupo de Estudos Lusófonos da faculdade e uma das editoras da revista da mesma, que se dedica às literaturas de língua portuguesa.