Introdução à Arte Conceitual


Escrito por Rebeca Fuks

Desde o meio dos anos sessenta, artistas começaram a divulgar a arte conceitual, que já tinha alguns precursores muito antes. Estes artistas querem produzir trabalhos que estimulem o debate e provoquem o público a refletir.

No gênero de criação em questão, o conceito é fundamental, mais do que a aparência da obra.

Qual é o significado da Arte Conceitual?

No gênero de arte conceitual, o conceito é o elemento fundamental. A execução, bem como a forma e a beleza, são aspectos que estão em segundo plano, sendo menos importantes que a ideia.

"arte não é sobre beleza"

Joseph Kosuth

A arte conceitual possui várias formas de expressão, como performances artísticas e body art. Em performances, o próprio corpo do artista é o suporte para a expressão de sua obra. Body art é similar ao mesmo conceito, já que a própria anatomia do artista é usada como um meio de expressão.

Explorando as Características da Arte Conceitual

Negando o Objetualismo

Em geral, os artistas conceituais negam a perspectiva do objetualismo.

"Se queremos que a obra seja importante para nosso tempo, não podemos fazer arte decorativa ou simplesmente entretenimento visual."

Joseph Kosuth

Neste gênero particular de arte, a técnica, a implementação e o objeto físico não são os aspectos mais importantes; O que realmente importa é estimular a reflexão e promover o questionamento entre o público.

Analisar o sistema

Os artistas que se dedicam à arte conceitual abominam a tradicional apreciação puramente estética da arte. Pretendem, assim, incentivar uma discussão de ideias, fomentar o debate acerca do que é arte e, acima de tudo, desafiarem o sistema, provocando-o e subvertendo-o.

Existe uma tendência de se interrogar sobre a função das organizações: quais são os objetivos da galeria, do museu? Quais são os objetivos do mercado? E da crítica?

Os Benefícios de um Público Participativo

A obra de arte conceitual apresenta uma convocação ao público para buscar outros meios de interpretação, como a interação, a experiência tátil e a reflexão. Metáforas que só podem ser decodificadas através de um olhar mais demorado e atento são frequentemente usadas na produção de trabalhos desse tipo.

O valor da aura da obra de arte é abalado, abrindo espaço para reflexão. É preciso que o observador se coloque diante da criação de modo ativo.

5 Obras Conceituais Notáveis

O Parangolé de Helio Oiticica

Ao falar sobre a arte conceitual brasileira, a obra de Helio Oiticica e suas criações parangolé não podem deixar de ser mencionadas. Embora tenha realizado uma série de instalações sensoriais, foi sua produção parangolé que mais ganhou destaque.

O participante é envolta por materiais variados (uma variedade de texturas e cores): uma obra que oferece uma interessante estética visual quando há movimento.

Ao sair do quadro, a arte interativa, como o parangolé, proporciona espaços seguros e momentos de diversão tanto para o usuário quanto para a plateia que presencia a experiência.

Parangolé

A Antropofagia de Baba, de Lygia Clark

Em 1973, Lygia Clark criou uma interação social curiosa enquanto dava aulas na Sorbonne. Um estudante participante deitado no chão tinha fios de linha passando pela boca dos presentes, formando uma rede sobre seu corpo. Seguia-se um ritual de desfazer a teia que se havia formado.

A performance Baba antropofágica tem grande relevância no cenário artístico brasileiro, pois estimula o público e os participantes a refletirem sobre a antropofagia dos povos indígenas e dos modernistas. O processo proposto pode ser repetido várias vezes, reafirmando a importância deste trabalho.

baba antropofagica

Cildo Meireles e o Esquecimento

O artista brasileiro Cildo Meireles produziu a obra conceitual "Olvido" entre 1987 e 1989. Esta significativa criação aborda a colonização europeia, incitando o público a refletir sobre essa parte da história e a emitir críticas.

Neste projeto, é possível ver uma tenda coberta de notas (de dinheiro), representando a população indígena dizimada, enquanto ao redor dela estão espalhados ossos de boi. Dentro da tenda, é possível ouvir o som de uma motosserra.

Olvido

Joseph Kosuth: Uma e Três Cadeiras

Criada quando o artista norte-americano Joseph Kosuth tinha apenas vinte anos, Uma e Três Cadeiras é amplamente reconhecida como uma das maiores obras da arte conceitual de todos os tempos. Desde a sua criação, a instalação tornou-se uma das obras mais citadas na arte contemporânea.

Nesta montagem, observamos três elementos: uma cadeira situada no meio, uma fotografia desta mesma cadeira no lado esquerdo e, do lado direito, um verbete do dicionário que faz referência à palavra cadeira. Estes três elementos propiciam ao espectador uma reflexão sobre o que é uma obra de arte e a relevância da representação.

Uma e Três Cadeiras, de Joseph Kosuth

Sistema de Crenças de John Latham

John Latham, um artista nascido no Zâmbia, criou a obra Belief System em 1959. Esta trabalha com a ideia de se construir e destruir um livro físico.

Latham usa seus livros em maneiras inovadoras, selando-os com tinta ou distorcendo a forma original. Essa é uma característica presente em muitas de suas obras.

Para o artista, os livros são simbólicos, pois além de carregarem consigo conhecimento e informações, representam também erros cometidos e o testemunho do passado. Eles são ainda vistos como uma metáfora do conhecimento ocidental.

john latham

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A Origem da Arte Conceitual

Em meados de 1960, o que conhecemos como arte conceitual começou a surgir, embora Marcel Duchamp, um artista francês, já tivesse criado obras famosas como o seu urinol e as ready made.

Muitos críticos consideram o urinol como o primeiro exemplo de obra conceitual. Ele serviu como a base para o surgimento das peças ready made, que consistem em objetos do dia a dia transformados em materiais artísticos. Este movimento se tornou uma tendência a partir de 1913.

Durante um período de incertezas em várias áreas, a arte conceitual surgiu para desafiar as ideias convencionais tanto sociais, quanto ideológicas e artísticas.

Ao olharmos para trás e fazermos um panorama da história da arte, vemos que a ideia de arte conceitual representa uma verdadeira revolução. Até o século XIX, era quase impossível imaginar artes que não tenham um objeto concreto como suporte – uma tela, uma escultura – era difícil ver obras de arte que não sejam expressas de alguma forma física.

Os Artistas Conceituais Mais Proeminentes

Artistas Internacionais

  • Joseph Kosuth (1945)
  • Lawrence Weiner (1942)
  • Piero Manzoni (1933-1963)
  • Eva Hesse (1936-1970)

Celebrando a Cultura Brasileira: Artistas Nacionais

  • Helio Oiticica (1937-1980) (um dos pioneiros da arte conceitual no Brasil na década de 60)
  • Lygia Clark (1920-1988)
Rebeca Fuks
Escrito por Rebeca Fuks

É graduada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), possui mestrado em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutorado em Estudos de Cultura pelas Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).