Justificação dos Meios pelos Fins


Escrito por Sónia Cunha

Frequentemente, Nicolau Maquiavel é associado à citação "Os fins justificam os meios", apesar de que essa frase nunca foi pronunciada por ele.

Apesar de a oração poder ser uma representação reduzida do tratado O príncipe, de autoria do pensador, a realidade é que ele nunca a escreveu.

A Ética dos Fins Justificando os Meios

Esta frase sugere que, para se alcançar um objetivo, é aceitável usar qualquer meio para conseguir tal resultado.

Na área política, a frase famosa de Maquiavel é frequentemente usada para se referir a líderes que fazem acordos e alianças duvidosas a fim de satisfazer seus interesses pessoais.

Costuma-se relacionar esta sentença a regimes totalitários e ditaduras que, para se manter no comando, empregam recursos antiéticos e, em muitos casos, desumanos, como o uso da tortura, da chantagem, da censura e da corrupção.

A história está repleta de exemplos de ditadores, tais como Hitler (Alemanha), Stálin (União Soviética) e o recente Kim Jong Un (líder da Coreia do Norte). No Brasil, alguns desses ditadores incluem nomes como Geisel, Médici e Figueiredo.

A famosa frase atribuída ao célebre maquiavélico, pode também ser interpretada como "ele rouba, mas faz". O que significa que, independentemente da forma como a autoridade alcançou o seu objetivo, o resultado ainda é o mais importante.

A frase e o autor

Vários estudiosos afirmam que a afirmação atribuída a Maquiavel nunca foi escrita pelo pensador italiano.

Maquiavel defende em O príncipe que os governantes devem fazer uso de meios justos para alcançar o poder, porém, se necessário, podem recorrer a táticas injustas para mantê-lo.

Conteúdo similar

A Vida e Obra de Nicolau Maquiavel

. Nicolau Maquiavel foi um grande nome do Renascimento italiano. Nascido em Florença no dia 3 de maio de 1469, ele era filósofo e político ao mesmo tempo.

O pai, um advogado estudioso e intelectual, incentivou os primeiros estudos em humanidades do diplomata e conselheiro político.

Ele viveu por apenas cinquenta e dois anos, mas durante esse tempo teve a oportunidade de conhecer muitos aspectos da vida política do seu país. Hoje, é considerado como o pai da política moderna.

Aos 29 anos, Maquiavel foi nomeado para ocupar a segunda chancelaria em 1498, o que o trouxe para o centro do poder da cena italiana durante um período de extrema instabilidade. Aqui, ele viu de perto a crueldade, a chantagem e a corrupção que estavam presentes na sociedade daquela época.

O pensador analisou profundamente o poder, as lógicas não-óbvias (e frequentemente repreensíveis) que orientavam os dirigentes.

“Eu não sei nada de teologia, mas sei que a virtude não é necessária para ser um príncipe. Maquiavel confessou a Francesco Vettori, Embaixador florentino em Roma, em 1513, que apesar de não saber nada de teologia, acreditava que a virtude não era necessária para um príncipe.

O destino determinou que eu não saiba discutir sobre a seda, nem sobre a lã; tampouco sobre questões de lucro ou de perda. Minha missão é falar sobre o Estado. Será preciso submeter-me à promessa de emudecer, ou terei que falar sobre ele.

Até que a família Médici reassumisse o poder, Maquiavel era um importante colaborador do governo. Entretanto, logo depois disso, foi preso, sujeito a tortura e deportado.

O tratado intitulado O príncipe foi escrito por um anônimo que permaneceu no campo pelo resto de sua vida. Ele faleceu em 21 de junho de 1527.

Estátua de Maquiavel.

Maquiavelismo Adjetival

O adjetivo "maquiavélico" tornou-se tão comum que é frequente escutar "Fulano é maquiavélico" em referência ao intelectual italiano.

A transcendência de caracterizações políticas é usada para classificar aqueles que não têm escrúpulos, são traiçoeiros, espertos e astutos, além de não respeitarem as leis morais.

O termo "adjetivo" é usado frequentemente com uma conotação pejorativa.

O Herdeiro Real

O Príncipe, a principal obra de Maquiavel, foi escrita em 1513 e publicada em 1532. Trata-se de um tratado breve, contendo cerca de cem páginas, que defende a separação entre moral religiosa e ética política. É, portanto, uma espécie de manual.

O sinceridade do texto é profunda, alcançando níveis que podem ser considerados cruelmente realistas.

Chegamos assim à questão de saber se é melhor ser amado do que temido. A resposta é que seria desejável ser ao mesmo tempo amado e temido, mas que, como tal combinação é difícil, é muito mais seguro ser temido, se for preciso optar.

A publicação causou grande desconforto na sociedade do século XVI devido ao seu conteúdo, que expunha os mecanismos políticos vigentes na época e revelava como muitas vezes a justiça era negligenciada.

Durante o Concílio de Trento, a Igreja Católica adicionou O Príncipe ao seu Índex dos Livros Proibidos.

Na Itália do século XVI, Maquiavel presenciou um Estado dividido e fragmentado, com diversas forças políticas disputando entre si pelo domínio do país. Ele testemunhou lutas internas em toda a região, cada uma visando ampliar o seu poder.

O Tratado Político O Príncipe é considerado uma obra primordial para o estudo das Ciências Políticas, sendo leitura essencial para universidades que oferecem disciplinas como Direito, Relações Internacionais e Filosofia.

Nesta seção, descubra alguns dos trechos mais célebres da obra de Maquiavel.

Citações Famosas do Livro O Príncipe

Portanto, as ofensas devem ser feitas todas de uma só vez, a fim de que, pouco degustadas, ofendam menos, ao passo que os benefícios devem ser feitos aos poucos, para que sejam melhor apreciados.

Não se afaste do bem, mas saiba valer-se do mal, se necessário.

Querem muito ser teus soldados enquanto não estás em guerra, mas, quando esta surge, querem fugir ou ir embora.

Deve o príncipe, não obstante, fazer-se temer de forma que, se não conquistar o amor, fuja ao ódio, mesmo porque podem muito bem coexistir o ser temido e o não ser odiado: isso conseguirá sempre que se abstenha de tomar os bens e as mulheres de seus cidadãos e de seus súditos e, em se lhe tornando necessário derramar o sangue de alguém, faça-o quando existir conveniente justificativa e causa manifesta.

Para bem conhecer o caráter do povo, é preciso ser príncipe e, para bem entender o do príncipe, é preciso ser do povo.

Não obstante, o príncipe deve fazer-se temer de modo que, mesmo que não ganhe o amor dos súditos, pelo menos evite seu ódio.

Descubra a Íntegra

Sónia Cunha
Escrito por Sónia Cunha

É licenciada em História, variante História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (2003) e em Conservação e Restauro pelo Instituto Politécnico de Tomar (2006). Ao longo da carreira profissional, exerceu vários cargos em diferentes áreas, como técnico superior de Conservação e Restauro, assistente a tempo parcial na UPT e professora de História do 3º ciclo e ensino secundário. A arte e as letras sempre foram a sua grande paixão.