Análise e História do Pensador de Rodin


Escrito por Carolina Marcello

Em 1880, o artista francês Auguste Rodin começou a trabalhar em sua famosa escultura, O Pensador (Le Penseur), que faria parte da composição maior conhecida como A Porta do Inferno. Esta obra recebeu inspiração do poema Divina Comédia, de Dante Alighieri, e foi finalizada somente em 1917.

Antes de concluir a Porta do Inferno, Rodin criou outras versões de O Pensador, dentre elas a famosa escultura de 1904.

O Pensador

Qual foi a Motivação por Trás da Criação do O Pensador por Rodin?

Em 1880, Auguste Rodin criou uma escultura intitulada O Poeta, inspirada na história contada no livro A divina comédia, de Dante Alighieri. Ela foi incluída num portal e representava um homem com apenas 70 cm de altura, muito menor do que o tamanho natural.

O artista recebeu a encomenda para esculpir o portal onde O Pensador está inserido no dia 16 de agosto de 1880. Ele foi exposto no Cour de Comptes, no Museu de Arte Decorativa de Paris, que havia sido vítima de um incêndio anteriormente.

Rodin sugeriu como tema do portal o romance de Dante. A ideia original era incluir os personagens centrais do livro e o autor, criando uma obra de arte grandiosa.

Após longos anos de trabalho (1880-1917), A Porta do Inferno foi concluída. O Pensador foi colocado na parte superior da criação, contemplando os círculos do Inferno e refletindo sobre sua própria obra.

Rodin nunca teve a chance de ver a cobertura de bronze do portal atual.

porta do inferno

"O Pensador", inicialmente denominado "O Poeta", foi apenas uma parte de uma obra maior.

Após o exame dos trabalhadores da fundição, foi-lhe conferido o apelido de O Pensador, devido aos traços similares às esculturas de Michelângelo.

Artigos semelhantes

Como a arte italiana do Renascimento influenciou a criação de O Pensador?

Rodin fez uma viagem à Itália em 1875, onde teve contato com as obras dos grandes mestres renascentistas, Donatello e Michelângelo (1475-1564). Esta experiência foi fundamental para a carreira de Rodin, pois influenciou significativamente diversos de seus trabalhos.

A obra de Michelângelo, como Lorenzo de Medici (1526-1531) e Crouching Boy (1530-1534), foi uma grande fonte de inspiração para o trabalho de Rodin, que procurava trasmitir o mesmo caráter heróico à sua obra, o Pensador.

Lorenzo

Crouching boy

A Porta do Inferno Contém o Pensador

O Museu de Arte Decorativa (Paris) solicitou a realização da Porta do Inferno em bronze. Rodin escolheu o tema para a obra, que retrata personagens da Divina Comédia. Esta está composta por cerca de 150 figuras, medindo de 15 cm a 1 metro.

opensadorportainfrno

Muitas das figuras criadas por Rodin tornaram-se esculturas independentes, entre elas O Pensador.

Em 1888, O Pensador foi destacado como uma obra autônoma, separada do Portal de Porta do Inferno, que é exibido no Musée Rodin na França.

A Escultura do Pensador Tornou-se Autônoma ao Receber Grandes Proporções

Em 1902 foi concluída a primeira estátua de grande porte de O Pensador. No entanto, foi necessário mais alguns anos para que ela fosse apresentada ao público, o que ocorreu em 1904.

A escultura, feita em bronze com 1.86 metros de altura, foi tornada propriedade da cidade de Paris com a contribuição de um grupo de fãs do artista Rodin.

Em 1906, o Pensador foi instalado em frente ao Panteão Nacional, em Paris. Ele permaneceu neste local até 1922, quando foi levado para o Musée Rodin, que anteriormente era conhecido como Hotel Biron.

Atualmente, há mais de vinte cópias oficiais da escultura espalhadas por museus por todo o mundo. O Instituto Ricardo Brennand, no Recife, possui uma réplica da obra.

Explorando os Diversos Significados do Pensador

Sentado, com a cabeça apoiada em uma das mãos e a outra sobre o joelho, a escultura do Pensador de Rodin transmite uma impressão de profunda meditação. O corpo robusto da figura passa a sensação de que ela está prestes a tomar uma atitude importante.

Muitos afirmam que O Pensador não se refere necessariamente a Dante Alighieri. Várias explicações são dadas quanto à obra: ela poderia simbolizar Rodin refletindo sobre seu trabalho ou, ainda, Adão hesitante ao escolher o que fazer no paraíso.

Uma questão surge ao vermos o Pensador posicionado na parte superior do portal: seria ele um juiz espiando os condenados no inferno ou também um deles, aprisionado nas trevas?

"as linhas, os movimentos, os contornos, os ângulos, a proporção, a velocidade... tudo foi cuidadosamente pensado". A obra de Rodin é marcada pelosdetalhes. Notam-se, por exemplo, as formas das sobrancelhas e a contração dos pés. O próprio artista desafiou-se a incluir essas características: "as linhas, os movimentos, os contornos, os ângulos, a proporção, a velocidade... tudo foi meticulosamente planejado".

O que faz meu Pensador pensar é que ele pensa não só com o cérebro, mas também com suas sobrancelhas tensas, suas narinas distendidas e seus lábios comprimidos. Ele pensa com cada músculo de seus braços e pernas, com seus punhos fechados e com seus artelhos curvados

Ao observar o Pensador, é notável sua nudez. Isso pode ser explicado devido à sua inspiração em Michelângelo e a outros artistas renascentistas, que caracterizavam seu trabalho com figuras heroicas nuas.

Qual Movimento Artístico Possui O Pensador?

A obra "O Pensador" é considerada uma peça moderna da escultura e seu criador, Rodin, é visto como um pioneiro na arte moderna, sendo um dos pais da escultura moderna.

"A arte moderna é a arte da rebelião - contra a tradição, contra a convenção, contra a autoridade". Embora tenha fundado a modernidade, Rodin nunca se insurgiu contra os grandes mestres clássicos. Isto desafia a afirmação de Magit Rowell de que "A arte moderna é a arte da rebelião - contra a tradição, contra a convenção, contra a autoridade".

Falar da escultura moderna significa portanto evocar uma escultura que rompeu com as tradições anteriores para se ligar resolutamente a um 'presente' que escolhemos situar entre 1900 e 1970.

Rodin utilizou influências do passado para criar suas obras, como se tivesse bebido em fontes do passado.

O artista foi profundamente moderno ao revelar seu método de trabalho ao público, mostrando os vestígios do processo de moldagem. Assim, foi possível ter acesso ao seu processo criativo de forma aberta.

Através da sua arte, ele testemunhou o mundo moderno, procurando reproduzir e registrar o cotidiano de um momento crucial da história francesa.

O escultor tem sido considerado como tendo uma postura naturalista para o seu tempo, pois inspirou-se na natureza e tentou representá-la da melhor forma possível. Isto foi visto por críticos e historiadores da arte como um grande rigor por parte do artista.

A fascinação de Rodin pelo movimento do corpo humano levou-o a pedir que seus modelos adotassem posturas vibrantes e vivas. Em suas esculturas, ele aspirava a traduzir gestos e transmitir emoções através da expressão dos corpos.

Como Posso Fazer Para Conhecer Pessoalmente O Pensador?

O Pensador, de Rodin, é extremamente presente em Paris: no Museu Rodin, em frente ao Pantheon e em Meudon, no jardim da casa de Rodin, onde também há uma versão sobre o túmulo do escultor.

O Instituto Ricardo Brennand, situado em Pernambuco, abriga uma versão da peça feita com base no molde original. Porém, para preservar seu valor, o acesso à galeria onde ela está posicionada é restrito.

instituto-ricardo-brennand

Na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, há uma versão nos jardins do curso de Filosofia.

Em 1930, o presidente Nicholas Murray Butler comprou a versão americana diretamente do Museu Rodin.

the thinker

Técnicas de Rodin Utilizadas

O artista francês surpreendeu ao inovar ao utilizar técnicas diferentes para a escultura. Ao invés de seguir a tradição, ele pediu que seus modelos caminhassem por seu atelier, desta forma conseguindo captar os movimentos, mesmo a obra sendo estática.

Inicialmente, Rodin criava um esboço em argila. Após a conclusão do desenho, ele transformava a escultura em gesso ou bronze, ajustando suas dimensões de acordo com a visão de sua obra-prima.

Mesmo quando o molde de gesso de suas obras estava pronto, Rodin continuou trabalhando nelas, diferentemente da prática comum da época. Costumava-se transformar esse molde em uma escultura de bronze ou mármore.

A Vida e Obra de Auguste Rodin

Auguste Rodin, que nasceu em 12 de novembro de 1840 em Paris, foi um dos mais significativos escultores franceses. Ao completar 13 anos, já mostrava interesse especial pelas artes e matriculou-se em uma escola de desenho.

Interessado em prosseguir com a educação formal, o escultor tentou se candidatar à Escola de Belas Artes, em Paris, porém, foi recusado por três vezes. Diante desta situação, decidiu se tornar um autodidata, abraçando seu ofício e trabalhando por conta própria. Nas primeiras experiências, obteve seu sustento criando peças decorativas.

Rodin2

Em 1864, Rodin, que começara sua carreira com o escultor Albert Carrier-Belleuse, tentou participar de uma exposição oficial com sua obra intitulada O homem com o nariz partido, mas foi rejeitado.

Após sete anos, Rodin e Albert desenvolveram juntos projetos para a decoração de monumentos públicos em Bruxelas.

Durante o período de grande produção artística em que viveu, Rodin teve como contemporâneos Monet e Edgar Degas.

O escultor demonstrou uma grande variedade de materiais ao usar bronze, argila, mármore e gesso para criar suas obras.

Em 17 de novembro de 1917, aos setenta e sete anos, faleceu em Meudon.

Retrato de Rodin.

Descubra o Museu Rodin

Localizado no Hôtel Biron, em Paris, o Musée Rodin foi inaugurado em 1919. Desde 1908, o local serviu como oficina para Rodin.

Após isso, o artista doou suas próprias obras, bem como sua coleção privada de outros artistas, para a Prefeitura de Paris, desde que elas fossem expostas no Hôtel Biron.

Grande parte das esculturas de Rodin estão expostas no Jardim do Musée Rodin, com destaque para as suas mais famosas obras, como O Pensador e a Porta do Inferno.

Anualmente, o museu atrai mais de 70 mil visitantes.

Descubra Agora

Carolina Marcello
Escrito por Carolina Marcello

Formou-se em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e possui mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes pela mesma instituição. Durante os estudos universitários, foi co-fundadora do Grupo de Estudos Lusófonos da faculdade e uma das editoras da revista da mesma, que se dedica às literaturas de língua portuguesa.