O Modernismo no Brasil


Escrito por Sónia Cunha

O movimento cultural e artístico do modernismo brasileiro exerceu uma enorme influência na cultura nacional, principalmente na literatura e nas artes plásticas.

Seus principais atributos reformularam drasticamente a maneira como a produção era vista e a forma como a sociedade era encarada, exercendo influência nas gerações seguintes.

Resumo do Modernismo Brasileiro

Na primeira metade do século XX, foi introduzida a corrente artística e cultural conhecida como modernismo brasileiro, que gerou uma grande revolução na cultura do país.

O modernismo brasileiro foi além do que era visto em outras partes do mundo, pois coincidiu com um momento em que o país buscava desenvolver sua própria identidade. Enquanto isso, o movimento desafiava as normas estabelecidas e procurava por novas ideias e formas de expressão.

Durante séculos, os artistas e escritores brasileiros se limitaram a reproduzir e importar referências europeias. Contudo, o modernismo veio mudar esse cenário, de modo a trazer a atenção para a cultura nacional. A valorização da cultura e do povo brasileiro tomou forma, passando a ser considerada: o seu modo de falar, a sua realidade e os seus problemas.

Inicialmente, os modernistas receberam uma severa crítica, gerando até insinuações de loucura por causa das ideias e proposições artísticas. No entanto, sua influência na literatura, na arte e na cultura foi e é incontestável.

Aspectos do Modernismo Brasileiro

Adotando Novas Tradições

O modernismo marcou o rompimento com as escolas e tradições anteriores, buscando subverter as normas estabelecidas. Na literatura, isso significou o abandono das formas fixas e esquemas rimáticos. Assim, a criação artística foi aberta à experimentação, com modelos, técnicas e temas não limitados.

Experimentação da Postura

O modernismo, inspirado pelas correntes vanguardistas, explorava as possibilidades da mente humana, buscando novos métodos e técnicas para conhecer e produzir. Sempre pronto para a inovação, este movimento não tinha medo de arriscar e experimentar.

Apreciando o Cotidiano

A literatura e as artes plásticas ganharam novas formas e estéticas, bem como novas temáticas para serem abordadas. Ao refletir os pequenos detalhes da vida cotidiana, anteriormente desprezados, as criações passaram a ter mais relevância.

Exploração e Redefinição da Identidade

O modernismo contribuiu significativamente para a construção de uma identidade nacional brasileira, que foi sufocada por séculos de dominação portuguesa e simples reprodução de influências europeias. A arte e a literatura modernista, entretanto, quebraram essa rotina, possibilitando a refletir sobre o sujeito brasileiro e sua experiência única.

A cultura, os costumes, a linguagem e outras características nacionais são refletidas pelo nosso território. Esta pluralidade e diversidade revelam os diferentes "Brasis" que existem.

Valorizando a Cultura e a Herança Indígena

O modernismo brasileiro decidiu recuperar algo que havia sido negligenciado e descartado: a cultura indígena. Por isso, os modernistas aproveitaram essa oportunidade para explorá-la em suas obras, na busca de uma identidade própria.

Quadro Abaporu de Tarsila do Amaral

Explorando as Etapas do Modernismo Brasileiro na Literatura

O modernismo brasileiro apresentou-se em três etapas distintas, manifestando-se de formas variadas durante as sucessivas eras.

A ideia de romper com estruturas tradicionais é uma marca presente no modernismo e, nesse sentido, o verso livre representou um grande avanço na literatura. Além disso, a poesia modernista também tem se caracterizado pelo olhar sobre o cotidiano, o que se reflete numa linguagem mais simples e próxima àquela utilizada na oralidade.

infográfico fases do modernismo no brasil

A Primeira Fase Heroica: 1922 - 1930

A Fase Heroica é considerada a mais ousada de todas, pois exigia a desconsideração de tudo que era comum e a completa substituição de princípios.

Esta geração rejeitou as convenções, desafiando todos os modelos e buscando algo verdadeiramente brasileiro. Ao fazerem isso, também houve uma recuperação da cultura indígena, que havia sido tão pouco valorizada.

Nessa fase, o nacionalismo assumiu contornos opostos. Por um lado, o nacionalismo crítico denunciava as violências presentes no Brasil. Por outro, havia os ufanistas, com seus ideais extremos e patriotismo exacerbado.

A Revista Klaxon (1922 - 1923), o Manifesto da Poesia Pau-Brasil (1924 - 1925) e a Revista de Antropofagia (1928 - 1929) foram algumas das principais publicações da época.

Capa da Revista de Antropofagia.

Fase da Consolidação (1930-1945): Geração de 30

Esta geração é caracterizada pela sua continuidade, preservando alguns dos princípios básicos do modernismo de 22, tais como o verso livre e a linguagem coloquial.

A Geração de 30 mudou-se da destruição da primeira fase modernista para a poesia e o romance. Ao mesmo tempo, ela também investigava questões sociopolíticas e filosóficas, ao adotar uma postura mais séria e ponderada. Estes escritores refletiam sobre o lugar do homem no mundo e o papel do cidadão brasileiro.

Ao prestar atenção aos distintos contextos nacionais, a fase de consolidação destacou as desigualdades existentes em diferentes regiões do Brasil.

O coronelismo, a exploração dos trabalhadores, as consequências da escravidão e a situação desfavorável dos retirantes eram alguns dos muitos problemas denunciados pelo regionalismo daquela época, com ênfase no Nordeste.

A literatura passou a prestar atenção às idiossincrasias locais, incorporando expressões regionais e gírias a suas temáticas.

Em 1928, o regionalismo obteve um destaque significativo ao ser representado por obras como A Bagaceira, de José Américo de Almeida, e Macunaíma, de Mário de Andrade.

A Geração de 45: Uma Abordagem Pós-Modernista (1945-1960)

A Geração de 45 ficou conhecida como Pós-Modernista devido a seu afastamento dos parâmetros estéticos da fase anterior, como a liberdade formal, a sátira, entre outros.

Muitas controvérsias rodeiam a data de término deste período; 1960 é geralmente apontado como sendo o ano final, mas algumas críticas sustentam que ele se estendeu até os anos 80.

Na época, a poesia foi a principal forma de expressão artística, com seu conteúdo fortemente influenciado pela Guerra Fria. Esta relação entre a poesia e o conflito entre os Estados Unidos e a União Soviética tornou-se cada vez mais evidente entre 1945 e 1991.

Durante a Era Vargas e o Populismo, o Brasil viveu um período marcado por mudanças políticas, que culminou na instauração de uma Ditadura. A poesia desenvolvida nesta fase reflete essas transformações, sendo uma arte mais reflexiva e individualista.

A tradição do regionalismo está presente na prosa, destacando-se a realidade sertaneja. Um dos mais importantes marcos literários brasileiros é o romance extraordinário Grande Sertão: Veredas (1956), de Guimarães Rosa.

Capa do livro Grande Sertão: Veredas (1956), de Guimarães Rosa.

Autores e Obras do Modernismo no Brasil

Oswald de Andrade (1890-1954) é inesquecível quando se fala do modernismo no Brasil. Ele foi o pioneiro deste movimento em nosso país, liderando a Semana de Arte Moderna.

O Manifesto da Poesia Pau-Brasil defendeu um estilo poético baseado no contexto brasileiro e na cultura popular, buscando uma "redescoberta do Brasil".

Retrato do escritor Oswald de Andrade.

No Manifesto Antropófago (1928), o brasileiro é incentivado a "engolir" as influências europeias, criando assim a possibilidade de "digeri-las" e recriá-las em um contexto diferente.

Desde o início, Mário de Andrade (1893 — 1945) se destacou no movimento modernista. Em 1928, o autor publicou Macunaíma, considerada uma das mais importantes obras da literatura brasileira.

Capa do livro Macunaíma, de Mário de Andrade.

Contando a saga de Macunaíma desde o momento de sua chegada ao mundo, o livro é resultado de investigações realizadas pelo autor a fim de explorar a cultura e as raízes brasileiras.

No ano de 1969, Joaquim Pedro de Andrade adaptou para o cinema o romance, contando com Grande Otelo no papel principal.

O brasileiro Carlos Drummond de Andrade (1902 — 1987) foi considerado um dos maiores poetas do país. Ele se destacou como um dos grandes representantes da segunda geração do Modernismo no Brasil.

Retrato do escritor Carlos Drummond de Andrade.

Ele abordava grandes questões sociopolíticas de forma poética, pondo à prova o papel do ser humano na sociedade. Seus versos refletiam a busca do indivíduo pela compreensão do seu lugar no mundo.

Com uma linguagem próxima ao modo de falar, abordando assuntos comuns, o poeta cativou inúmeras gerações de leitores e teve grande influência no modo de compor poesias no Brasil.

Além de Guimarães Rosa (1908— 1967), Graciliano Ramos (1892 — 1953) foi outro grande autor brasileiro que representou o regionalismo e os romances modernistas.

Capa do livro Vidas Secas e retrato do seu autor, Graciliano Ramos.

Consagrado como a obra-prima de Graciliano Ramos, Vidas Secas (1938) retrata as experiências vividas no sertão de forma comovente. A família nordestina retratada na obra tenta desesperadamente sobreviver à pobreza, à fome e às batalhas diárias.

Principais Autores Notáveis

  • Manuel Bandeira (1886 — 1968)
  • Cassiano Ricardo (1894 — 1974)
  • Plínio Salgado (1895 — 1975)
  • Menotti del Picchia (1892 — 1988)
  • Guilherme de Almeida (1890 — 1969)
  • Vinícius de Morais (1913 — 1980)
  • Cecília Meireles (1901 — 1964)
  • Murilo Mendes (1901 — 1975)
  • Clarice Lispector (1920 — 1977)
  • Rachel de Queiroz (1910 — 2003)
  • José Lins do Rego (1901 — 1957)
  • Lygia Fagundes Telles (1923)

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A Origem do Modernismo no Brasil: Um Estudo do Contexto Histórico

Como resultado da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o modernismo brasileiro surgiu inserido no contexto social e político da época.

Durante esse período no país, a inflação aumentou, provocando uma sensação de descontentamento entre a população.

Embora o modernismo já tivesse surgido no Brasil antes de 1922, aquele ano acabou por ser marcado como o ponto de partida do movimento. Por isso, é eternamente ligado ao ano mencionado.

A Semana de Arte Moderna de 1922: Uma Análise

Considerada o marco inicial do modernismo brasileiro, a Semana de Arte Moderna contou também com a presença de artistas de outros estilos.

Cartaz da última noite da Semana de Arte Moderna (17 de fevereiro de 1922).

O Theatro Municipal de São Paulo foi o local escolhido para sediar o evento nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922.

No centésimo aniversário da Independência do Brasil, os modernistas buscaram reverter o panorama cultural do país através de obras de arte, música e literatura.

Comissão organizadora da Semana da Arte Moderna, com Oswald de Andrade em destaque (na frente).

Origem do Modernismo

No período entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial (1914 - 1945), o modernismo se estabeleceu como um movimento cultural e artístico diante de grandes conflitos e mudanças.

O processo de industrialização acelerado ajudou a definir este período, pois estimulava o progresso e a inovação.

Em 1890, o empresário Siegfried Bing inaugurou em Paris a loja Art Nouveau, que reúne peças que acompanham uma estética contemporânea. Desde então, o estilo modernista passou a ser reconhecido.

Em toda a Europa, inúmeras correntes vanguardistas, como o Surrealismo, o Futurismo e o Expressionismo, se multiplicaram e se espalharam por todo o globo.

Sónia Cunha
Escrito por Sónia Cunha

É licenciada em História, variante História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (2003) e em Conservação e Restauro pelo Instituto Politécnico de Tomar (2006). Ao longo da carreira profissional, exerceu vários cargos em diferentes áreas, como técnico superior de Conservação e Restauro, assistente a tempo parcial na UPT e professora de História do 3º ciclo e ensino secundário. A arte e as letras sempre foram a sua grande paixão.