Resumo e Análise do Livro "Alice no País das Maravilhas"


Escrito por Rebeca Fuks

Em 4 de julho de 1865, a obra intitulada originalmente de As Aventuras de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, pseudônimo de Charles Lutwidge Dodgson, foi lançada ao público.

Esta obra infantil, que possui diversas linhas de leitura e interpretação, tem satisfeito leitores e entusiastas de todas as gerações. Além de ser repleta de referências e críticas à cultura da época, ela também impressiona o seu público com sua profundidade e conteúdo.

Capa da primeira edição do livro (1985)

Lewis Carroll é considerado um dos principais responsáveis pela consolidação da literatura nonsense, um estilo que desafia os contos de fadas tradicionais e cria histórias que não obedecem à lógica.

A singularidade da obra que se tornou um ícone literário e cultural está no seu caráter de absurdo. Ao longo dos anos, tem sido amplamente representada em pintura, cinema, moda e em outros campos.

Uma Revisão do Clássico 'Alice no País das Maravilhas'

Alice é protagonista de uma história encantadora e curiosa. Seguindo um Coelho Branco com colete e relógio, ela é projetada a um lugar inimaginável, onde tudo e todos têm vida própria. Nesse novo mundo, os animais e objetos se comportam como seres humanos, falando e interagindo entre si.

No País das Maravilhas, Alice experimenta mudanças significativas, embarca em uma jornada desafiadora e é confrontada com o que vai além do normal e do possível, desafiando suas crenças anteriores.

Ao ser condenada à morte pela Rainha de Copas, tirana que cortava a cabeça de todos que a incomodavam, a menina Alice descobriu que aquela experiência toda era apenas um sonho. Quando os soldados da Rainha a atacaram, ela acordou e compreendeu que tudo aquilo não passara de um julgamento sem sentido.

A Verdadeira Alice e sua Criação

Em 4 de julho de 1862, Charles Lutwidge Dodgson criou a história de Alice no País das Maravilhas durante uma excursão de barco pelo rio Tâmisa. Esta narrativa foi desenvolvida para divertir as filhas do amigo de Dodgson, Henry George Liddel: Loriny, Edith e Alice.

Retrato de Alice Liddell tirado por Dodgson em 1803.

A protagonista do clássico de Lewis Carroll foi inspirada nada mais nada menos que em Alice Liddel. Embora as ilustrações mostrem uma garotinha loira de cabelos longos, ao longo da história, o autor faz referências a locais e pessoas conhecidas por seus leitores, prendendo assim a sua atenção.

Em 26 de Novembro de 1864, Charles Lutwidge Dodgson criou a primeira versão de Alice Debaixo da Terra para presentear a verdadeira Alice. Inspirado pelo improviso, ele escreveu a obra.

Depois de resolver publicar o livro, será necessário reescrevê-lo, acrescentando detalhes para tornar a história mais envolvente, como a do Chapeleiro Louco e do Gato de Cheshire.

A primeira edição com apenas duas mil cópias, datada de 4 de Julho de 1865, foi retirada da circulação devido a erros nela contidos. Mas o ano seguinte foi de grande sucesso para o Alice e o seu País das Maravilhas, projetando-o para o imaginário comum. Hoje, a obra conta com mais de uma centena de edições e já foi traduzida para mais de cento e vinte e cinco línguas.

Saiba mais

Principais Personagens

  • Alice é uma menina inteligente e observadora que embarca em uma viagem para o País das Maravilhas, um mundo onde tudo parece ser diferente daquilo que ela conhece, simbolizando a curiosidade e a imaginação que todos temos na infância. O Coelho Branco, vestindo um colete e usando um relógio de bolso, corre porque está atrasado e desperta a atenção de Alice, representando a passagem inevitável do tempo. A Lagarta que fuma narguilé ajuda a garota, aconselhando-a e indicando um cogumelo que pode fazê-la aumentar ou diminuir a qualquer momento, simbolizando a capacidade de aceitarmos nossas mudanças e transformações ao longo da vida. O Gato de Cheshire, figura misteriosa que sorri o tempo todo, surge para indicar o caminho à protagonista mas acaba confundindo Alice ainda mais, marcando o momento em que ela tem que deixar para trás toda a lógica e aceitar que há uma certa dose de insanidade em todos os personagens. O Chapeleiro Louco é um personagem que parece estar eternamente preso à hora do chá, autointitulado de louco, representando o abandono das normas sociais e das regras de etiqueta associadas ao modo de vida britânico. A Rainha de Copas é a autoridade máxima do país, aterrorizando todos os personagens e forçando-as a obedecer todas as suas ordens e satisfazer os seus caprichos, ilustrando a tirania e o abuso de poder.

Embarcando em uma aventura para o País das Maravilhas, Alice, uma menina curiosa e dotada de imaginação, descobre um mundo repleto de maravilhas, totalmente diferente do que ela conhecia. Esta criança simboliza a vontade de descobrir ainda presente em todas as crianças.

Alice não pensou nas consequências quando viu o Coelho Branco passando pelo jardim. Ele estava vestindo um colete e segurando um relógio de bolso, correndo desesperadamente. O Coelho simboliza a passagem inescapável do tempo e desperta a curiosidade da menina que não resiste ao desafio e decide segui-lo.

A Lagarta que fuma narguilé lembra a garota de sua capacidade de se adaptar e crescer com as transformações ao longo da vida, oferecendo-lhe aconselhamento e recomendando um cogumelo que lhe permitiria aumentar ou diminuir conforme a necessidade. Esta simbólica criatura, que em si encarna uma metamorfose, serve como um lembrete de que nossa versatilidade e capacidade de mudança são nossos maiores trunfos.

O Gato de Cheshire, uma figura enigmática que parecia sorrir constantemente, aproximou-se de Alice para lhe mostrar o caminho, no entanto, acabou por a confundir ainda mais. Tal encontro foi crucial para que Alice compreendesse que, dentro do mundo de sonhos e de fantasias, a lógica era colocada de lado e que, de modo geral, os personagens encontravam-se um tanto quanto insanos.

O Chapeleiro Louco é um personagem cujo comportamento não condiz com as normas sociais e regras de etiqueta britânicas. Ao invés de ser um anfitrião cordial, ele tenta impedir a Alice de sentar à sua mesa e a irrita com enigmas e poemas sem sentido. Apesar de se intitular "louco", o Chapeleiro Louco parece estar eternamente preso à hora do chá.

Com seu autoritarismo, a Rainha de Copas é a figura que simboliza a injustiça do sistema monárquico, exercendo sua tirania e abuso de poder. Todos os personagens da história são forçados a obedecer servilmente às suas ordens e ceder aos seus caprichos.

Explorando o Enredo

Começando

Deitada na grama do jardim, Alice viu passar um coelho branco com um colete de festa e um relógio em suas mãos. O animal, que se comportava como se fosse um humano, apressadamente disse estar atrasado e, sem hesitar, mergulhou numa toca.

Sem hesitar, movida pela sua curiosidade, a menina pulou atrás do coelho. Enquanto caía, ela notou diversos objetos estranhos e começou a se questionar por ter sido tão imprudente.

Ao pisar o solo, ele notou uma mesa com uma chave dourada, muito pequena. Ao olhar para o fundo da sala, surpreendeu-se ao encontrar uma portinha que dava acesso a um belo jardim, porém, devido ao seu tamanho, não conseguia passar. Ao olhar de volta para a mesa, percebeu um vidro contendo um líquido, que tinha um rótulo dizendo: "BEBA-ME".

A menina bebeu o conteúdo do vidro e imediatamente começou a encolher até ficar com vinte e cinco centímetros de altura. Quando percebeu que tinha esquecido a chave em cima da mesa, sua altura diminuta a impedia de alcançá-la. Ela então viu um bolo com um rótulo dizendo "COMA-ME" e comeu um pedaço, esperando crescer de novo. No entanto, isso não aconteceu e ela começou a chorar desesperadamente.

Depois de devorar o último pedaço de bolo, ela começa a ficar cada vez mais grande e as palavras que saíam de sua boca não faziam sentido. Ela estava paralisada pelo medo de estar perdendo sua sanidade e as lágrimas não paravam de cair, formando uma lagoa ao seu redor.

Explorando o Desenvolvimento

Alice é interrompida por uma passagem inesperada. O Coelho Branco, vestindo gala, desceu correndo, largando suas luvas brancas de pelica. Quando ela tentou chamá-lo, o Coelho desapareceu. Segurando uma das luvas, ela sentiu que estava começando a encolher e suas lágrimas começaram a cair.

Alice nadou atrás de vários animais até chegar a uma praia, onde decidiram jogar para se secarem. Ao redor, o Coelho Branco passou distraído e, ao vê-la, pensou tratar-se de Mary Ann, a empregada. Então, determinou-lhe que fosse à sua casa buscar um leque e um par de luvas.

Ao ver um frasco com o rótulo "BEBA-ME", Alice resolveu beber seu conteúdo, e logo cresceu até ficar maior do que a casa. Seu corpo ficou preso, com as extremidades e sua cabeça de fora. O Coelho então chamou o lagarto Bill para ajudá-la. Este lançou pedrinhas na direção dela, as quais se transformaram em bolos. Ao comer um, Alice encolheu até ficar com apenas alguns centímetros.

Ao encontrar uma lagarta fumando um narguilé em cima de um cogumelo, Alice conta todas as transformações que havia sofrido durante o dia, dizendo que não sabia mais quem era. A lagarta recomendou que ela mantivesse a calma e se afastou, explicando que um lado do cogumelo a faria crescer enquanto que o outro lado a faria diminuir.

A princípio, ela começa a comer alguns pedaços de um cogumelo, mudando de tamanho, até que seu pescoço fica preso nos ramos da árvore. Uma pomba que estava chocando seus ovos no ninho começa a brigar com ela, acusando-a de ser uma serpente. Ao comer mais um pedaço, a pessoa volta à sua altura normal, e avista uma casa nas proximidades.

O Mordomo-Peixe anunciou a chegada à casa da Duquesa e, assim que entramos, uma criada estava preparando uma sopa temperada com muita pimenta. A Duquesa nina um bebê que, de vez em quando, espirrava. Na sala, também estava presente um gato que sorria. De repente, o bebê começou a espirrar e grunhir, e logo se transformou em um porco.

A menina fugiu e encontrou o gato na floresta, sorrindo. Ao pedir informações sobre um lugar para visitar, ele apontou a casa da Lebre de Março e a casa do Chapeleiro, advertindo-a de que todos ali eram loucos. Chegando lá, ela ficou chocada com a maneira como eles ignoravam as regras da boa educação e irritada com os seus enigmas absurdos. Para escapar desta situação, ela correu para uma porta escondida em um tronco e foi parar em um jardim.

Soldados que eram cartas de um baralho estavam pintando as rosas brancas de vermelho. Eles admitiram terem plantado as rosas erradas e que a Rainha os cortaria se descobrisse. Mais tarde, Alice foi apresentada ao Rei e à Rainha de Copas, que a convidaram para um jogo de croquet e a obrigaram a comparecer.

O jogo apresentado era muito diferente de qualquer que a menina já tivesse visto, pois usava animais em vez de tacos e bolas e desconsiderava as normas e a tradição comuns destes jogos. Esta atitude revoltou a Rainha, que mandou decapitar diversas pessoas envolvidas.

De repente, o misterioso Gato de Cheshire apareceu e começou a fazer perguntas para a Alice sobre o jogo e também para a Rainha, que estava escutando a distância. A ousadia do felino incomodou os Reis, que decidiram condená-lo à morte. Entretanto, a Rainha mudou de ideia e decidiu perdoar a todos. Nesta jornada, Alice conheceu um Grifo que a levou a Falsa Tartaruga, uma estranha criatura que contava histórias do fundo do mar.

Análise dos Resultados

Alice é chamada para comparecer a um julgamento, sem ter a menor ideia de qual é o caso. O juiz, ninguém menos que o próprio Rei, está muito confuso e os membros do júri ficam escrevendo o seu próprio nome em uma folha. O Valete de Copas está sendo acusado de roubar as tortas da Rainha, mas as testemunhas não parecem ter informações úteis, falando apenas coisas sem sentido.

Alice começa a depor, mas fica irritada e é expulsa do tribunal pelo Rei, que a acusa de ter mais de três quilômetros de altura. Isso a revolta e ela acusa os soldados de serem um mero baralho de cartas, e então todos se lançam em sua direção. Só então ela acorda com cabeça no colo da sua irmã, e percebe que tudo isso não passou de um sonho.

Examinando a obra

Com seus 12 capítulos, essa obra desafia os princípios da lógica e incentiva a imaginação, sendo uma grande inspiração para autores de literatura fantástica.

O autor renova a maneira de contar histórias para crianças, usando poemas e canções conhecidos da época para provocar uma reflexão sobre o sistema educacional.

O livro faz referências a diversos campos como literatura, pintura, psicologia, filosofia e matemática. Além disso, procura retratar o estilo de vida britânico, incluindo questões como a monarquia, o hábito de tomar chá da tarde e o jogo de croquê.

É notável a complexidade e o absurdo dos laços entre a protagonista e os outros personagens no enredo, um retrato vívido da vida adulta.

As figuras que aparecem com o intuito de auxiliar Alice, acabam por só aumentar a sua desorientação mental, devido às interações nebulosas desse universo que lhe escapam do entendimento.

Uma Visita à Toca do Coelho

Alice é dotada de uma curiosidade que lhe permite viver esta aventura. Ela possui inteligência, boa educação e conhecimentos adquiridos na escola, mas isso não a impede de se arriscar quando avista o Coelho Branco.

A presença da misteriosa criatura, que parecia ter características humanas, deu a Alice uma nova perspectiva de vida. Ela passou a desejar adquirir mais conhecimento e experimentar uma jornada desconhecida.

Mas quando o Coelho tirou um relógio do bolso do colete, deu uma olhada nele e acelerou o passo, Alice ergueu-se, porque lhe passou pela cabeça que nunca em sua vida tinha visto um coelho de colete e muito menos com relógio dentro do bolso. Então, ardendo de curiosidade, ela correu atrás dele campo afora, chegando justamente a tempo de vê-lo sumir numa grande toca sob a cerca.

No instante seguinte, Alice entrou na toca atrás dele, sem ao menos pensar em como é que iria sair dali depois.

Até então, a menina estava entediada, deitada no jardim com a irmã e a queixar-se dos livros sem diálogo que estavam a ler. Mas, a partir desse momento, a sua vida mudou drasticamente.

Alice troca a monotonia do mundo conhecido por um mundo cheio de surpresas, o País das Maravilhas, que se mostra um "reino de cabeça para baixo", onde tudo desafia sua lógica.

Ilustração de John Tenniel com Alice seguindo o Coelho.

Ao tocar o chão, a protagonista encontrou um vidro com um líquido e um bolo, que respectivamente diziam "BEBA-ME" e "COMA-ME". Em busca de cautela, como foi aconselhado, ela verificou se nenhum dos rótulos indicavam "veneno" e então comeu e bebeu.

A menina se sente desesperada devido às transformações em seu corpo, o que a leva a se censurar e a dar-se lições de moral. Ela tenta manter-se como era mesmo estando em um ambiente diferente, lutando para agir de forma apropriada.

Quando chora até criar uma lagoa, mas então começa a se afogar, ela sente que está sendo punida por seus maus comportamentos.

“Seria melhor não ter chorado tanto!” lamentou-se Alice enquanto nadava, tentando sair dali. “Parece que serei punida agora por isso, afogando-me em minhas próprias lágrimas!”

Na obra, parece haver uma crítica, se não um questionamento, do sistema de educação e da forma como o pensamento das crianças é direcionado.

Muito curiosos por natureza, as crianças aprendem lições que têm que decorar e seguir à risca. No entanto, não há lugar para o pensamento crítico ou para a imaginação.

Ao descobrir tudo o que há de maravilhoso, Alice começa a deixar para trás seus antigos ensinamentos e mergulha em um mundo inteiramente novo. Quando começa a comer o bolo e não ocorre nenhum milagre, ela fica decepcionada por não ter vivido algo magico.

Alice estava tão acostumada a só esperar por coisas extraordinárias, que então lhe parecia muito tolo e tedioso que a vida continuasse de modo comum.

Uma referência à Revolução Industrial é o Coelho Branco, que representa o número crescente de relógios de bolso vendidos na Inglaterra. Sempre sério, tensão e atrasado, ele simboliza a preocupação com o tempo que muitos têm e a vida agitada que levam.

A Viagem da Lagarta ao Cogumelo

Enfrentando um mundo surreal, Alice experimentou mudanças, tanto em sua estatura quanto em seu modo de ver a realidade. Comprometida entre a garota esperta que era e a que está se tornando, ela começa a se questionar sobre sua identidade.

Ela se questiona sobre a sua identidade, pois mudou drasticamente em pouco tempo. Acredita que, talvez, possa ter se tornado uma das suas companheiras da escola, devido ao seu comportamento irreconhecível.

Será que eu mudei durante a noite? Vamos ver: eu era a mesma quando me levantei esta manhã? Estou quase me recordando que me sentia um pouquinho diferente. Mas, se eu não sou mais a mesma, a pergunta é: "Quem afinal eu sou"? Ah, aí é que está o problema!

Alice e a Lagarta, ilustração de John Tenniel.

Sentindo-se desorientada, Alice encontra a Lagarta fumando narguilé em cima de um cogumelo. Esta figura curiosa e enigmática deixou-a ainda mais confusa com as suas dúvidas e reflexões, já que ela tinha apenas sete centímetros de altura.

Ao avistar a menina, a criatura se aproximou e lhe indagou quem era, e atentou às suas palavras a respeito do seu tumultuado estado.

Por fim, a Lagarta tirou o cachimbo da boca e dirigiu-se a Alice com voz lânguida e sonolenta: “Quem é você?” Não era um começo de conversa encorajador.

Alice respondeu muito tímida: “Eu... já nem sei, minha senhora, nesse momento... Bem, eu sei quem eu era quando acordei esta manhã, mas acho que mudei tantas vezes desde então...”

Ao ouvir a menina, a lagarta ofereceu conselhos, refletindo sobre as suas afirmações. Quando Alice se perguntou se não se sentiria estranha quando se tornasse uma borboleta, ela prontamente respondeu: "Não, nem um pouco".

É natural e faz parte do caminho da vida, enfrentar mudanças e transformações. O inseto, destinado à metamorfose, sabe disso. Por esse motivo, tem uma mensagem importante para compartilhar: "Mantenha a calma".

A personagem tenta transmitir a Alice uma sensação de calma, aceitação e compreensão das mudanças que a vida traz: “Com o tempo você vai se acostumar”. Ao se despedir, ela revela o segredo do cogumelo: “um lado fará você crescer e o outro diminuir”. Embora assustada, Alice não tem outra opção senão arriscar e experimentar os lados do fungo, alternando entre os tamanhos.

A identidade de Alice é questionada pelos outros personagens com frequência. O Coelho Branco a confunde com Mary Ann, sua empregada, e solicita que ela vá à sua casa a fim de pegar as luvas e o leque, o que ela cumpre sem protestar. Quando ela fica presa na casa, com metade do corpo para fora, a multidão se assusta e acredita que se trata de um monstro.

Ao comer um pedaço de cogumelo, a menina cresceu demais, ficando presa nos ramos de uma árvore, e foi confundida por uma pomba como uma serpente que queria roubar os seus ovos. Esta situação obrigou-a a reflectir sobre quem ela era e a afirmar a sua identidade repetidamente, mesmo estando atordoada acerca da sua própria identidade.

A Magia do Sorriso do Gato de Cheshire

Ao chegar à residência da Duquesa, Alice conhece criaturas bem peculiares, tais como o Mordomo-Peixe, um bebê que se transforma em porquinho por causa da pimenta da sopa, e um gato que está sorridente. Quando perguntado pela protagonista, a Duquesa explica que tal animal é um gato de Cheshire, que sempre sorri.

Alice correu desesperada da metamorfose do bebê e acabou na floresta, onde não sabia para qual lado seguir. Logo, um sorriso surgiu entre as árvores e o gato de Cheshire apareceu. Ela pediu ajuda a ele para encontrar o caminho certo.

“Você poderia me dizer, por favor, qual o caminho para sair daqui?” “Depende muito de onde você quer chegar”, disse o Gato. “Não me importa muito onde...” foi dizendo Alice. “Nesse caso não faz diferença por qual caminho você vá”, disse o Gato. “...desde que eu chegue a algum lugar”, acrescentou Alice, explicando. “Oh, esteja certa de que isso ocorrerá”

A criatura aparenta intimidar, mas também tem um conhecimento profundo que forneceu a Alice uma nova visão sobre a vida, quebrando todas as regras que ela tinha aprendido até então. Diferente daquilo que a educação nos incentiva a executar, seguindo ordens, estabelecendo rotas e caminhos, o Gato estimulou a liberdade e a aventura.

Alice deve aprender que há muitas opções no caminho a percorrer e que ela precisa estar preparada para explorar e descobrir coisas novas, mesmo sem saber onde ela vai acabar.

A protagonista é incentivada à deambulação, ilustrando-lhe o encanto de viajar despreocupado sem mapa ou rota predeterminada. É sugerido que ela conheça os moradores ao seu redor, como o Chapeleiro e a Lebre de Março.

"Visite ou um ou outro: ambos são loucos.” “Mas eu não quero me encontrar com gente louca”, observou Alice. “Oh, não se pode evitar”, disse o Gato, “todos são loucos por aqui. Eu sou louco. Você é louca.” “Como sabe que eu sou louca?” indagou Alice. “Você deve ser”, respondeu o Gato, “ou então não teria vindo aqui.”

Ao ouvir o personagem, a menina percebeu que o que ela considerava desde o começo era verdade: todos ali agiam como se estivessem loucos.

No País das Maravilhas, a protagonista é estimulada a explorar novas possibilidades, sem se preocupar com as regras da lógica. É um espaço onde ela pode sentir-se livre para experimentar algo que jamais imaginou ser possível.

Uma Loucura de Chá

Ao encontrar o Chapeleiro e a Lebre de Março tomando chá durante a tarde, Alice sentiu uma sensação de familiaridade. Apesar disso, a atitude dos personagens era bem diferente da de um anfitrião cortês.

A menina queria ser convidada para lanchar, mas os dois amigos loucos, fazendo todo tipo de jogos bizarros e recitando poemas, impediam-na de chegar à cadeira para poder comer. Trocavam de cadeiras e de chávenas várias vezes enquanto repetiam “Não tem lugar! Não tem lugar!”. Mesmo quando finalmente conseguiu sentar na mesa, não teve a oportunidade de beber nada.

Alice tomando cha com Chapeleiro e Lebre, ilustração de John Tenniel.

O Chapeleiro Louco tem uma relação complexa com o Tempo. Ele acredita que nosso modo de tratá-lo determina o quão adiante vamos na vida e, portanto, é importante saber brincar com as convenções, eventos sociais, e regras de etiqueta, assim como lidar com o tempo de forma mais eficiente.

Agora, se você mantivesse com ele boas relações, ele faria qualquer coisa que você quisesse com o relógio. Por exemplo, suponha que fossem nove horas da manhã, justamente a hora de começarem as lições: você teria apenas de sussurrar uma dica ao Tempo, e o ponteiro giraria num piscar de olhos: uma e meia, hora do almoço!

Estas personagens parecem estar sofrendo os efeitos nocivos da passagem dos ponteiros, pois agem de forma ainda mais alucinada que aquelas que os antecederam. Elas confessam que parecem sempre presas às seis horas da tarde, não tendo tempo nem para tomar chá, nem para lavar a louça.

Alice prometeu a si mesma que nunca mais voltaria ao lugar. Ao ver uma porta entre as ramificações de uma árvore, resolveu fugir sem olhar para trás. Demonstrando que mesmo estando em um mundo completamente diferente, ela ainda estava apta a aprender e a progredir, Alice tomou a atitude certa para abrir a porta e passar para o jardim.

“Desta vez, farei tudo certo”, disse consigo. E começou pegando a chavezinha dourada e destrancando a porta que conduzia ao jardim. Depois, foi mordiscando o cogumelo (ela guardara um pedaço no bolso) até ficar com trinta centímetros de altura. Daí atravessou a pequena passagem: então... achou-se finalmente no lindo jardim, entre canteiros resplandecentes e fontes fresquinhas.

Tingindo as Rosas de Vermelho

Alice se aproximou da entrada do jardim, onde viu um grupo de soldados. Eles haviam formado um baralho de cartas e se referiam uns aos outros como números. Enquanto discutiam, os soldados tentavam pintar as rosas brancas com a tinta vermelha. A curiosidade de Alice foi despertada ao ver aquela cena, e ela questionou os soldados, tentando descobrir o motivo de estarem pintando as flores.

Veja bem, senhorita, o fato é que, neste lugar, deveria haver uma roseira vermelha, mas por engano nós pusemos uma branca; e se a Rainha a descobrir, todos teremos nossas cabeças cortadas, compreende?

Quando Alice vê a Rainha e o Rei chegando com sua comitiva, o baralho que segurava se joga no chão. Esta metáfora serve para mostrar que a Rainha é alguém intolerante e injusto, provocando medo entre aqueles que vivem em seu reino. Mesmo assim, Alice permanece de pé.

A Rainha ordena que a cabeça da menina seja cortada, mas quando repara que as rosas foram pintadas, ela se distrai e manda matar os soldados. No entanto, a menina consegue impedir o crime, ajudando as cartas a escaparem. Ignorante ao acontecido, a Rainha convida-a então para jogar croquet, que está prestes a iniciar.

“Aos seus lugares!” trovejou a Rainha. E todo mundo começou a correr em todas as direções, tropeçando uns nos outros. Em poucos minutos, porém, estavam todos acomodados, e o jogo começou.

A Guerra das Rosas foi uma série de disputas dinásticas que duraram cerca de três décadas, nas quais os grupos concorrentes disputavam o trono da Inglaterra. O episódio em questão parece fazer referência a esse evento histórico.

Durante os anos de 1455 a 1485, a Inglaterra foi testemunha da Guerra das Rosas, em que as casas de York e de Lancaster lutaram pelo controle do trono. Estas duas famílias eram representadas por uma rosa branca e uma rosa vermelha, respectivamente. O conflito foi encerrado quando Henrique Tudor, da casa de Lancaster, venceu o Rei Ricardo III de York e se casou com sua sobrinha, Isabel de York. Assim, as duas casas foram unidas.

Jogando Croquet

Todos os presentes estão cientes da atmosfera de inquietação que a Rainha autoritária e tirana criou. O jogo de interesses que ela pratica expõe a sua crueldade e egocentrismo, usando os súditos como objetos para divertimento. Neste mundo, onde animais, flores e outras criaturas possuem características humanas, o tratamento dado aos súditos demonstra a desumanização de todos eles, vistos como meras ferramentas para atender às necessidades da família real.

Alice pensou que nunca vira um campo de croquet tão curioso em toda a sua vida: era cheio de saliências e sulcos, as bolas eram ouriços vivos, os tacos eram flamingos, e os soldados tinham que se dobrar e apoiar os pés e as mãos no chão para formar os arcos.

A partida de croquet era quase impossível de jogar devido aos constantes conflitos entre os participantes. Eles jogavam sem se preocupar em esperar a vez e discutiam incessantemente, o que somente aumentava a irritação.

A Rainha, cada vez mais exasperada, começou a determinar a decapitação dos jogadores, deixando Alice desolada.

Quando o Gato de Cheshire aparece, a menina aproveita para desabafar sobre a desordem, a falta de comunicação e a ausência de regras no País das Maravilhas.

“Acho que eles não jogam de maneira correta”, começou Alice em tom de queixa, “além disso brigam tanto que é impossível ouvir o que alguém fala... e acho que não têm regras muito definidas... ou, então, ninguém obedece a elas..."

A Rainha, que "só conhecia um jeito de solucionar todas as dificuldades": a violência, se enfurece ao ver o Rei estender a mão para o felino beijar mas que ele se recusasse. Para evitar seu assassinato, a protagonista propôs que a Duquesa, dona do gato, fosse chamada para resolver o caso.

A Rainha, desanimada, resolve parar o jogo e oferece para levar a menina para encontrar a Falsa Tartaruga. Antes de irem embora, a menina ouve o Rei perdoando todos aqueles que tinham sido sentenciados à morte.

A Sentença

A menina conversou com a Falsa Tartaruga e o Grifo e escutou diversas histórias do fundo do mar, além de canções, rimas e adivinhas. Após isso, foi solicitado que ela recitasse o poema moralizante de Isaac Watts, intitulado "Preguiçoso", que havia sido ensinado na escola. Contudo, ela estava tão confusa com tudo o que ouviu que errou todos os versos.

Alice não disse nada: sentou-se com a cabeça entre as mãos, indagando a si mesma se alguma vez as coisas voltariam a ser como antes.

De repente, um grito anuncia o início do julgamento, e eles são compelidos a correr. Ao chegarem, eles veem o Rei e a Rainha sentados nos tronos, rodeados por uma multidão, prontos para o julgamento. O Rei, com uma peruca branca, será o juiz. Na banca do júri estão várias criaturas escrevendo seus próprios nomes repetidas vezes em uma folha de papel, "por medo de esquecê-los".

O Coelho Branco começa a leitura da acusação: o Valete de Copas está sendo acusado de ter roubado as tortas da Rainha. Ao chamarem as testemunhas, Alice nota que elas não parecem ter nenhuma relação com o caso, já que não sabem de nada sobre os fatos. Ao assistir ao julgamento, ela começa a ficar cada vez mais irritada com a quantidade de absurdos que vê.

Neste exato momento, Alice teve uma sensação muito estranha, que a deixou muito embaraçada até que descobrisse do que se tratava: estava começando a crescer outra vez.

Alice derrubou a banca do júri quando se levantou para depor. A sátira ao sistema judicial mostrava que a injustiça, a tirania e o absurdo estavam presentes até na lei. Alice declarou que não sabia nada, e corrigiu o Rei quando ele afirmou que isso era "muito importante".

O Rei citou o "Artigo Quarenta e Dois: Todas as pessoas com altura superior a 1,5 quilômetro devem sair do tribunal". Ele alegou que Alice deveria sair do local.

Ao descobrir que a prova contra o Valete se tratava de um bilhete sem assinatura nem a sua caligrafia, a garota ficou ainda mais revoltada e interrompeu.

Pois eu acho que não tem um pingo de sentido em tudo isso.

Alice perdeu o medo da Rainha ao ouvir a ordem de decretar a sentença antes do veredito dos jurados. Ela não se conteve e começou a discutir com a Rainha, mostrando o absurdo da situação: "Vocês não passam de um maço de cartas!”.

Alice finalmente encontrou coragem para enfrentar aqueles que a ameaçavam, demonstrando seu forte desejo de lutar. No entanto, ao acordar, ela constatou que tudo não passava de um sonho.

Alice Regressa ao Jardim

Naquele momento, todo o baralho voou pelos ares e começou a cair em sua direção: Alice deu um gritinho, meio de susto, meio de raiva, e tentou abatê-los, mas... quando deu por si, estava deitada no barranco com a cabeça no colo de sua irmã.

A menina, desesperada inúmeras vezes no País das Maravilhas, relatou todas as suas experiências à sua irmã, afirmando que foi "um sonho maravilhoso".

Quando Alice se levantou para tomar o chá, sua irmã caiu em um sonho profundo, imaginando as personagens descritas por Alice. O som das chávenas de chá se transformou em chocalhos das ovelhas, enquanto os gritos da Rainha eram os sons típicos da fazenda.

Explorando o Significado da Obra

Por fim, ela imaginou como seria sua irmãzinha quando, no futuro, se transformasse em uma mulher adulta; e como conservaria, com o avançar dos anos, o coração simples e afetuoso da infância; e como reuniria em torno de si outras crianças e deixaria os olhos delas brilhantes e atentos a muitas histórias estranhas, talvez mesmo com o sonho do País das Maravilhas de tantos anos atrás; e como compartilharia as suas pequenas tristezas e as suas simples alegrias, recordando-se de sua própria infância e de seus felizes dias de verão.

O último parágrafo da história destaca uma questão fundamental: a magia da infância. É um período de sonhos e fantasias, onde a imaginação e a liberdade podem reinar.

O País das Maravilhas é uma representação da forma com que as crianças experiênciam e se relacionam com o mundo, de um modo ingênuo. Por vezes, as regras estabelecidas são incompreensíveis e injustas, ainda assim, elas se confrontam com elas.

Alice enfrenta o desafio de crescer, iniciando a aventura de sua vida. O seu amadurecimento é simbolizado por uma transição abrupta para o desconhecido e talvez ameaçador território da maturidade.

A irmã da menina acredita que a magia da infância viverá para sempre no coração da menina e ela poderá contar suas histórias como uma forma de retorno à curiosidade de sua infância.

Naquela viagem, o autor improvisou uma versão inicial da história para divertir as meninas Liddell. Há fortes indícios de que ele estava se referindo a si mesmo.

"A Alice não tem nada para provar, exceto que não há nada a provar". Lewis Carroll explícita que a obra de Alice não tem uma mensagem específica para transmitir: "Alice não possui nada a demonstrar, exceto que não há nada a provar".

Temo dizer que não é nada além de bobagens. Ainda assim, as palavras significam mais do que pretendemos expressar quando as usamos. Assim, um livro deve significar muito mais do que o escritor quer dizer. Então, quaisquer bons significados que estejam no livro, fico feliz em aceitar como o significado da obra.

Alice no País das Maravilhas foi pioneira em destacar-se de outras histórias infantis. Ao invés de transmitir uma moralidade ou lição à audiência, a narrativa funcionou como uma inversão radical dos padrões estabelecidos na literatura infantil, que normalmente tem como foco a educação dos seus leitores.

A obra desperta uma preocupação especial em diverti-las e incentivar a imaginação e a criatividade. Lendo-a, todos nos lembramos da curiosidade e do espírito de aventura que tínhamos quando éramos crianças. Ela encanta adultos e crianças.

Explorações Alternativas e Ideias Teóricas

Alice no País das Maravilhas possui várias teorias possíveis para a compreensão de sua trama, sem nenhuma moral ou lição definida. Uma das mais aceitas diz respeito à possível relação entre o conto e o uso de drogas que provocam alucinações. Em outras palavras, as aventuras de Alice podem ser associadas ao efeito de substâncias psicoativas.

O narguilé, o cogumelo, o chá e outros produtos que a menina ingeriu tinham o potencial de alterar sua percepção do mundo, criando um efeito temporário que transformaria sua realidade.

Segundo outra hipótese, a narrativa é vista como uma jornada até o inconsciente que ajuda a menina a lidar e a perceber o mundo dos adultos, muitas vezes cheio de perigos e perplexidades.

Uma terceira, e mais sombria, teoria diz que Alice está internada em um hospital psiquiátrico. Sua viagem ao País das Maravilhas é uma construção de sua mente para passar o tempo.

A Influência de Alice na Cultura Popular

Lewis Carroll é muito admirado na literatura e cultura ocidentais, e sua obra tem sido uma fonte de inspiração para muitos artistas. A adaptação cinematográfica de Walt Disney em 1951 marcou a popularização da história, tornando-a um clássico.

A história de Alice no País das Maravilhas tem sido adaptada para o cinema desde 1903, com um filme mudo de 12 minutos dirigido por Cecil Hepworth e Percy Stow. Em 2010, Tim Burton dirigiu a última versão, distribuída pelo Walt Disney Studio, com Mia Wasikowska, Johnny Depp, Helena Bonham Carter e Anne Hathaway interpretando os personagens principais.

John Tenniel originalmente ilustrou A Lenda de Johnny Cabeça de Veado, mas inúmeros artistas internacionais também contribuíram. O lendário pintor surrealista Salvador Dalí é um destaque nessa lista, tendo produzido 12 desenhos para a edição especial de 1969, um para cada capítulo.

Quadro de Salvador Dali, Down the rabbit hole (1969)

A obra foi referenciada em muitos contextos musicais, incluindo o disco de Gal Costa "O Sorriso do Gato de Alice" (1993) e o hino da contracultura "White Rabbit" de Jefferson Airplane (1967).

Personagens do País das Maravilhas são frequentemente apresentadas em séries de televisão, quadrinhos, jogos de computador, editoriais de moda e videoclipes de música.

Conhecendo Mais sobre as Curiosidades e Informações Adicionais

  • Em 1871, o autor Lewis Carroll publicou Alice Através do Espelho, a continuação de seu livro anterior. Na obra, Alice enfrenta um jogo de xadrez para se tornar rainha. Para isso, Carroll criou vários elementos que eram relativos ao universo das meninas Liddell, como escadas que se pareciam com tocas e estátuas de um coelho e um grifo localizados na catedral. O livro também contém paródias de poemas e canções famosas criados por autores renomados, como Isaac Watts, Robert Southey e David Bates. Apesar do sucesso da obra, o desconfiado interesse de Carroll por crianças e sua coleção de desenhos e fotos de meninas seminuas levantaram suspeitas de atividades pedofílicas, o que o trouxe muita negatividade.

A Vida e Obra de Lewis Carroll

Autoretrato de Lewis Carroll, junho de 1857.

Charles Lutwidge Dodgson, nascido em 27 de janeiro de 1832 e falecido em 14 de janeiro de 1898, foi um escritor, fotógrafo, matemático, reverendo anglicano e professor universitário inglês, conhecido sob o pseudônimo literário de Lewis Carroll.

O escritor de Alice no País das Maravilhas possuía diversas áreas de interesses, tais como artes, literatura, filosofia e ciências. Para criar os seus peculiares personagens, pesquisou sobre história natural. Antes de tornar a sua obra pública, leu-a para vários jovens, buscando o seu aval.

Enigmas de Lewis Carroll

Ao escrever sua obra mais famosa, Carroll buscava distrair e despertar a imaginação de seus ouvintes, mas também era um pedagogo e incorporou enigmas e equações matemáticas complexas como parte de exercícios de lógica.

Um dos episódios mais famosos da história de Alice no País das Maravilhas é quando ela é perseguida por uma pomba após comer um pedaço de cogumelo. A ave se assusta ao ver que o pescoço de Alice cresceu tanto que ficou da altura da árvore.

A conclusão de que Alice é uma serpente, decorrente da associação de duas premissas - o pássaro afirma que as serpentes comem ovos; e Alice come ovos -, é um exemplo de falso silogismo, tipo de raciocínio de dedução criado por Aristóteles. Estas três proposições interligam-se entre si.

A pomba argumentava que só os gansos comem ovos, mas a menina foi rápida e esperta ao rebater a premissa, pois lembrou que muitos animais, inclusive os seres humanos, consomem ovos. Dessa forma, as duas premissas não geram uma conclusão verdadeira.

O Chapeleiro Louco ficou muito marcado na memória dos leitores ao fazer uma adivinha para Alice.

Em que se parece um corvo com uma escrivaninha?

Não há resposta para esta questão absurda criada por um homem louco.

Algumas teorias surgiram para solucionar o enigma, como aquela que apontava Edgar Allan Poe como a resposta. O autor escreveu O Corvo e também escreveu usando uma escrivaninha. Outra interpretação possível é que a resposta sejam as penas, que são parte do animal e eram usadas para escrita no móvel.

Após a publicação, Carroll escreveu um texto para tratar o seu próprio desafio, com a peculiaridade humorística e as charadas de palavras que eram típicas dele.

Ambos podem produzir algumas notas. Numa secretária podemos produzir algumas notas (escrever). O corvo, enquanto ave, também pode produzir algumas notas (grasnar). Na secretária nunca se escreve de trás para a frente e no corvo "nunca" (grafado como "nevar") também se escreve de trás para a frente ("raven").

Rebeca Fuks
Escrito por Rebeca Fuks

É graduada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), possui mestrado em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutorado em Estudos de Cultura pelas Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).