Explorando o Filme Green Book: Análise, Resumo e Explicação


Escrito por Rebeca Fuks

Green Book, dirigido por Peter Farrelly, é baseado em uma história real sobre o improvável amizade entre o famoso pianista Don Shirley (Mahershala Ali) e seu motorista Tony Lip (Viggo Mortensen) durante a discriminatória década de 1960 nos Estados Unidos.

No Globo de Ouro de 2019, Green Book foi indicado em cinco categorias. No final da noite, o filme levou para casa três prêmios: Melhor Ator Coadjuvante (Mahershala Ali), Melhor Filme Cômico e Melhor Roteiro de Cinema.

No BAFTA 2019, Mahershala Ali foi premiado na categoria de Melhor Ator Coadjuvante.

Indicado em quatro categorias, o filme Green Book - O Guia foi um dos grandes vencedores da premiação do Oscar 2019, levando para casa os prêmios de Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante (Mahershala Ali) e Melhor Roteiro Original. Viggo Mortensen, que protagonizou o longa, concorreu à estatueta de Melhor Ator, enquanto a montagem também foi indicada.

Análise do Filme Green Book

O pianista Don Shirley (interpretado por Mahershala Ali) é brilhante, no entanto deseja fazer uma turnê em uma região com um histórico de atraso, preconceito e violência racial: o sul dos Estados Unidos.

Durante os próximos dois meses de shows, ele precisou de um motorista/assistente para acompanhá-lo. Assim, ele foi à procura de alguém para preencher essa função.

os protagonistasa de Green Book

Tony Vallelonga, interpretado por Viggo Mortensen, é mais conhecido como Tony Lip. Ele possui origem italiana e trabalha como malandro durante a noite na cidade de Nova Iorque. A Copacabana, a boate onde trabalhava, fica obrigada a fechar suas portas, deixando Tony sem trabalho por alguns meses.

Tony, que estava casado com Dolores e tinha dois filhos pequenos, precisava prover para a família. Logo, começou a procurar emprego para garantir a subsistência durante os meses em que a boate estava fechada.

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Embarcando na Jornada

No dia seguinte, Tony recebeu um telefonema de um conhecido que lhe anunciou que um médico estava precisando de um motorista. Sem saber o que estava por vir, ele foi para a entrevista. Ao chegar, ficou surpreso ao verificar que o endereço o levou a um teatro.

Ao conhecer Don Shirley na entrevista, Tony ficou surpreso ao saber que o doutor era na verdade um mestre de piano e que era negro. Embora ele negasse, Tony era preconceituoso, como a maioria das pessoas na sociedade em que ele estava inserido.

Aparentemente, Shirley era muito prestigiado entre o público, sendo chamado de doutor como sinal de admiração. Contudo, Tony discordou desta situação, pois, em vez de seu desejo de ser motorista, ele foi oferecido o cargo de assistente pessoal, com uma remuneração insuficiente. Subseqüentemente, Tony decidiu não trabalhar para Shirley.

No dia seguinte, Dolores, esposa de Tony, recebeu um telefonema inesperado do famoso pianista. Ele havia se interessado por contratá-lo, satisfazendo às exigências de seu marido. O acordo foi fechado e eles partiram para a realização de shows no Sul do país.

A América nos Anos 60

Lembrando que, durante a época em que se passa o filme (anos sessenta), o Brasil vivenciava um período marcado pelo preconceito racial extremo.

Durante nossa viagem, presenciamos varias formas claras de segregação. Por exemplo, durante uma das performances, o pianista foi proibido de usar o banheiro destinado apenas aos brancos.

Em uma outra vez, Shirley foi impedido de almoçar no mesmo restaurante em que seu público estava. Durante a turnê, também não foi permitido que ele se hospedasse em vários hotéis destinados exclusivamente às pessoas de cor branca.

Tony começa a desenvolver afeto pelo excêntrico pianista, enquanto sente raiva das regras antiquadas e preconceituosas da região.

À medida que o tempo passa, um vínculo de carinho se desenvolve entre eles e cada um se desenvolve pessoalmente, aprendendo a lidar com a personalidade diferente do outro.

Explorando o Filme Green Book: Análise e Interpretação

Inspirado em Histórias Reais

Em 1962, o talentoso pianista negro Don Shirley embarcou em uma viagem pelo sul dos Estados Unidos.

A Columbia Artists gerenciou a viagem de aproximadamente um ano e meio do pianista, embora o filme condense a história como se durasse apenas dois meses. O artista tocou apenas para um público branco durante o percurso.

Shirley precisou contratar um motorista para acompanhá-la neste ambiente sulista tenso. Além disso, precisava de um assistente pessoal e alguém para servir de guarda-costas.

Lembre-se de que não se tratava de uma preocupação exagerada com a segurança: apenas alguns anos antes, em 12 de abril de 1956, o também músico negro Nat King Cole foi violentamente atacado no palco enquanto se apresentava para uma plateia branca no Alabama.

O Pianista Don Shirley: Um Verdadeiro Talento

O Don Shirley nasceu na Flórida no dia 29 de janeiro de 1927, filho de pais imigrantes jamaicanos. Seu pai era um pastor e sua mãe uma professora. Infelizmente, Shirley ficou órfão de mãe aos nove anos de idade.

Desde criança, houve uma forte ligação entre o menino e a música. Aos dois anos, ele já estava tocando e, aos dezoito, já se apresentava profissionalmente.

Shirley originalmente queria seguir a carreira de pianista clássico, mas foi desencorajada a fazê-lo por causa da crença de que o público norte-americano não aceitaria um músico negro tocando canções clássicas. No final, ela acabou optando pelo jazz.

O pianista retratado no filme possui hábitos muito semelhantes aos do verdadeiro Don Shirley. Este vivido por cerca de cinquenta anos em um luxuoso apartamento no Carnegie Hall.

O pianista

Tony Vallelonga foi descoberto pelo pianista devido à sua procura por alguém que o acompanhasse. Ele era segurança de uma boate chamada Copacabana.

Ao fechar temporariamente, Tony ficou desempregado e teve que encontrar trabalhos esporádicos para sustentar a sua família.

Reunindo-se com Tony

Tony nasceu no Bronx, de uma família ítalo-americana. Ele era o provedor do lar que ele compartilhava com sua esposa e seus dois filhos.

Dolores deixa transparecer o preconceito do marido no filme, mesmo que ele não se assuma abertamente como tal. Esse comportamento se alinha à realidade da história.

Numa curta cena, vemos Tony demonstrando seu preconceito racial. Quando dois homens negros visitam sua casa, Tony os trata com desprezo, jogando fora os copos utilizados por eles. Outra ocasião em que Tony mostra seu preconceito é quando apelida o pianista usando uma série de estereótipos.

Tony

O Relato do Filho de Tony

Nick Vallelonga, filho de Tony Vallelonga, é um dos roteiristas de Green Book. Ele incluiu dados reais no filme, como as cartas de amor que seu pai escreveu para Dolores, com a ajuda do pianista.

Desde os anos 1980, o filho de Don Shirley mostrava interesse em contar a história improvável de amizade entre o pai e Don Shirley. Para isso, ele gravou uma série de entrevistas minuciosas sobre a turnê que os dois realizaram juntos. Assim, a história foi inspirada em acontecimentos reais.

Nick Vallelonga ajudou a contar, em Green Book, a história do pai, Tony.

O Caminho de Tony e Don Shirley

Após sua viagem, Tony e Don retornaram para casa. Tony começou a trabalhar novamente no Copacabana, mas a amizade dos dois nunca diminuiu. Surpreendentemente, ambos faleceram em datas muito próximas: Tony em 4 de janeiro de 2013 e Don em 6 de abril de 2013.

Contrariamente à narrativa do filme Green Book, a família do pianista alegou em entrevistas que Don Shirley e o pianista não haviam se tornado amigos até à morte.

Duas versões pairam sobre a lenda da amizade de Tony e Don Shirley: o longa metragem garante que os dois ficaram grandes amigos até o final da vida, a família do pianista afirma que a versão é falsa.

Contrastes de Uma História

Na maioria das vezes, a ordem social naturalizava a visão de um negro trabalhando para um branco; porém, de tempos em tempos, essa situação mudava e acabava-se por ver um branco prestando serviços ao negro.

A estranheza social foi uma presença constante no filme, como por exemplo quando a viatura de Tony e Shirley foi parada por policiais no Sul, para que fosse prestada alguma explicação.

Apesar de suas diferenças, Don e Tony são completamente opostos no nível de personalidade. Don é preocupado com os aspectos sociais, como a imagem e a conduta, enquanto Tony é descuidado e irreverente. Esta lógica dos opostos também se aplica no nível de refinamento e cultura dos personagens.

Don tem uma percepção mais refinada do que Tony, sendo caracterizado por seus conhecimentos e estudos, enquanto Tony possui pele branca.

Historicamente, os negros tiveram pouca oportunidade de ter acesso à informação e à formação. Porém, no caso do pianista, essa lógica foi invertida, pois era um sujeito culto, com pele negra, e outro, de alguma forma, ignorante, com pele branca.

Don vivia em meio a um âmbito culturalmente refinado e participava dos grandes eventos sociais, enquanto Tony nunca saía do seu bairro com origem imigrante e baixa renda, profundamente enraizado na mesmice de seus conhecidos.

Enquanto Shirley mostra-se perceptiva em relação ao racismo e à luta de classes, Tony parece desconhecer esses assuntos e prefere usar a força para lidar com os problemas aos quais é confrontado.

O pianista é uma pessoa extremamente lógica, ponderando cada passo e as suas consequências. Por outro lado, Tony tem um jeito mais intuitivo e se deixa guiar pelos sentimentos. Vive cada experiência intensamente e à flor da pele.

A amizade de Tony e Don se contrói através da diferença.

The Green Book

O 'Negro Motorist Green Book', editado por Victor Hugo Green, fornecia orientações para que os viajantes negros pudessem viajar com tranquilidade, sem preocupações em relação à segurança.

A intenção era garantir que restaurantes, hotéis e locais turísticos tratassem todos por igual, sem manifestações de preconceito em relação às pessoas negras.

O guia, publicado pela primeira vez em 1936, foi vendido continuamente até 1966. Era comum encontrá-lo em postos de gasolina, sendo que cerca de 15.000 cópias eram vendidas anualmente.

O verdadeiro The Negro Motorist Green Book foi efetivamente usado na viagem de Tony com o pianista.

Principais Personagens

Viggo Mortensen como Tony Vallelonga

Tony

Tony Vallelonga, mais conhecido como “Lip”, tem uma origem italiana. Ele é casado com Dolores e tem dois filhos. Como meio de sustento, ele trabalha como segurança numa boate em Nova Iorque. Infelizmente, quando o estabelecimento decide fechar por dois meses, ele se vê em dificuldades financeiras.

No decorrer deste período, Tony Lip precisa arrumar um emprego temporário para pagar as despesas da residência e acaba sendo contratado por Don Shirley para se tornar seu motorista.

Durante sua jornada pelo sul dos Estados Unidos, ele presencia o racismo enfrentado por um pianista afro-descendente. Esta viagem serviu como um alerta para ele, que, sendo um cidadão branco americano comum, nascido e criado no Bronx, não tinha que se preocupar com problemas relacionados à cor da sua pele.

Mahershala Ali como Don Shirley

Don

O virtuoso pianista é extremamente solitário, não tendo contato com nenhum amigo ou membro de sua família. Ele menciona rapidamente um irmão com quem não mantém qualquer contato há muito tempo. Em uma conversa com Tony ele revela também que já foi casado, mas que a relação foi destruída devido aos compromissos de sua carreira.

Tony, que é correto e honesto, muitas vezes se irrita com a flexibilidade de algumas atitudes do motorista quanto ao certo/errado.

A princípio, Shirley era rude, antipática e arrogante, mas aos poucos foi cedendo ao encantamento de Tony, criando assim uma ligação harmoniosa entre eles que se transformou em uma profunda amizade.

Os negros norte-americanos eram sujeitos a diversas restrições e ofensas diárias apenas devido à sua raça.

Linda Cardellini como Dolores

Dolores

Dolores, esposa de Tony, é muito responsável, cuidando não só do lar e dos filhos, mas também da administração das finanças da família. Embora seja extremamente preocupada com o futuro deles, ela é compreensiva com o marido. Porém, quando a boate Copacabana fecha as portas, ela não sabe mais como conseguirá pagar as contas e fica desesperada.

Linda Cardellini interpreta uma personagem que encapsula o estereótipo da mulher norte-americana dos anos sessenta: doce, amorosa e gentil. Esta figura é responsável pela criação de seus filhos e pelo cuidado da rotina de seu lar.

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Informações Técnicas

O filme "Green Book" foi o grande vencedor do Globo de Ouro de 2019, levando os prêmios de Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Filme Cômico e Melhor Roteiro de Cinema.

Mahershala Ali foi o vencedor do BAFTA 2019 na categoria de Melhor Ator Coadjuvante.

O filme vencedor do Oscar 2019 foi premiado nas categorias Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante (Mahershala Ali) e Melhor Roteiro Original.

Cartaz do filme.

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Rebeca Fuks
Escrito por Rebeca Fuks

É graduada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), possui mestrado em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutorado em Estudos de Cultura pelas Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).