Legião Urbana - Música Faroeste Caboclo


Escrito por Sónia Cunha

Lançado em 1987, o álbum Que País É Este 1978/1987 trazia a música Faroeste Caboclo, escrita por Renato Russo em 1979. Esta faixa marca a terceira produção da Legião Urbana, constituída por composições antigas partindo de 1978.

A obra de Russo, "João Santo Cristo", faz parte da chamada "fase do trovador solitário". Com cerca de nove minutos de duração, narra a história de João Santo Cristo e os altos e baixos de sua carreira como criminoso, culminando com sua trágica morte em praça pública.

Dado o seu conteúdo polêmico, a canção precisou passar por uma análise da censura federal antes de ser lançada.

Principais Pontos do Resumo

A história de João Santo Cristo é narrada em "Faroeste Caboclo", desde a sua saída da fazenda no nordeste até a trágica morte em um duelo armado em Brasília. Só e morando na capital, ele começa como carpinteiro, mas com o passar do tempo sua ambição o leva a entrar no comércio de drogas.

Após ser preso, ele passa a sofrer violências na cadeia, e acaba se envolvendo cada vez mais no tráfico. Tudo muda quando ele conhece Maria Lúcia, e se apaixona perdidamente por ela. A partir daí, ele decide mudar de vida e voltar a trabalhar como carpinteiro, planejando formar uma família com a mulher que ama.

Após um deslize, João perde o emprego e volta ao crime, voltando a contrabandear armas ao lado de Pablo. Quando isso acontece, Maria Lúcia acaba se envolvendo com Jeremias, um traficante rival, que acaba se casando com ela e engravidando. Esta decisão desperta a ira de João, que acaba desafiando o rival para um duelo que é anunciado na Tv. Um grande número de pessoas comparece para assistir à luta, sendo que Jeremias acaba atirando nas costas de João. Respondendo à provocação, Maria lhe entrega uma arma a Santo Cristo, que acaba se vingando e atirando no seu oponente. Infelizmente, os três acabam morrendo.

Examinando a Música

A canção faz referência aos filmes de faroeste, retratando a luta por honra dos cowboys. No entanto, o protagonista da história é parte da realidade brasileira. Duelos mortais são substituídos por lutas diárias, e o personagem luta pelo seu próprio bem-estar.

O termo "caboclo" é usado para descrever João, um homem originário do sertão e fruto da miscigenação racial. Estas características têm sido motivo de discriminação em relação a ele.

O seu nome, "João de Santo Cristo", carrega uma forte simbologia. "João" é um nome comum na língua portuguesa, um nome que qualquer brasileiro poderia ter. Por outro lado, "de Santo Cristo" parece sugerir uma proteção divina, como se ele estivesse apadrinhado pelo Filho de Deus.

O nome de Santo Cristo, com uma significância profundamente religiosa, estabelece uma associação entre João e Jesus, que se confirma quando ele morre.

Com 150 versos mas sem refrão, ouvimos o desenrolar do relato da vida de João Santo Cristo: sua ascensão, seguida da queda, morte e finalmente santificação.

Iniciando a Jornada

Não tinha medo o tal João de Santo Cristo

Era o que todos diziam quando ele se perdeu

Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda

Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu

Ouvimos que o protagonista, João de Santo Cristo, era extremamente corajoso, já que as outras pessoas que o conheciam afirmavam que "não tinha medo".

Mesmo com o seu desejo de liberdade, João não podia prever o que o esperava depois que abandonou a calmaria da fazenda. Ele tem o desejo de experimentar a raiva que Jesus lhe deu, como se tivesse sido destinado ao caos e à desordem desde o nascimento. Esta é a premissa da narração: João partiu do Nordeste, disposto a causar problemas e a viver aventuras. Sua ousadia fez com que todos na região prestassem atenção e o conhecessem.

A Viagem de João: da Infância à Juventude

Quando criança só pensava em ser bandido

Ainda mais quando com um tiro de soldado o pai morreu

Era o terror da cercania onde morava

E na escola até o professor com ele aprendeu

Ia pra igreja só pra roubar o dinheiro

Que as velhinhas colocavam na caixinha do altar

Na segunda estrofe, o passado do protagonista é contado em flashback. Sua criação foi tal que ele nasceu para ser mau, já que desde sua infância era rebelde e seu desejo de se tornar um bandido só aumentou quando seu pai foi morto por um policial. Isso acendeu sua revolta.

Apesar do seu nome, o comportamento e a astúcia do garoto são pouco virtuosos. Ele não mostra nenhum temor ou fé em Deus, chegando ao ponto de roubar dinheiro da Igreja.

Sentia mesmo que era mesmo diferente

Sentia que aquilo ali não era o seu lugar

Ele queria sair para ver o mar

E as coisas que ele via na televisão

Juntou dinheiro para poder viajar

De escolha própria, escolheu a solidão

O verso repetido “Sentia mesmo que era mesmo diferente” reforça que João sentia como se não se encaixasse no lugar em que estava. Ficava claro que não era como os outros, não pertencia a aquela realidade.

João, um menino pobre do nordeste, sonhava com a liberdade que o mar representava. Cedo ele criou o desejo de escapar da sua condição, inspirado pelas coisas que via na TV. Para alguém nascido e criado no sertão, o mar significava a possibilidade de descobrir o que estava para além de seu mundo.

Antes de partir em sua aventura, João trabalhou arduamente para juntar dinheiro suficiente. Embora sua luta não tivesse começado ainda na viagem, ele já estava lutando por seu futuro desde cedo.

No último verso da estrofe, o verbo "escolher" é repetido, destacando que a escolha de ficar sozinho foi feita pelo protagonista. Ele optou por arriscar tudo na busca de uma vida melhor ou diferente daquela que estava habituado.

Comia todas as menininhas da cidade

De tanto brincar de médico aos doze era professor

Aos quinze foi mandado pro reformatório

Onde aumentou seu ódio diante de tanto terror

Não entendia como a vida funcionava

Descriminação por causa da sua classe e sua cor

Ficou cansado de tentar achar resposta

E comprou uma passagem foi direto a Salvador

Ao passar pelo reformatório aos quinze anos, a sua consciência foi despertada para a injustiça, a falta de igualdade de tratamento e o impacto dos preconceitos "baseados na sua classe e cor". Isso só serviu para aumentar o seu ódio e foi o motivo para decidir viajar para Salvador.

Brasília: Emprego, Diversão e Avidez

E lá chegando foi tomar um cafezinho

E encontrou um boiadeiro com quem foi falar

E o boiadeiro tinha uma passagem

Ia perder a viagem mas João foi lhe salvar

Dizia ele ''Estou indo pra Brasília

Nesse país lugar melhor não há

Tô precisando visitar a minha filha

Eu fico aqui e você vai no meu lugar''

Talvez por destino, ou até mesmo mera coincidência, João Santo Cristo encontrou alguém que lhe ofereceu uma passagem para Brasília, dizendo que não havia lugar melhor. Assim, ele terminou indo para a capital.

E João aceitou sua proposta

E num ônibus entrou no Planalto Central

Ele ficou bestificado com a cidade

Saindo da rodoviária viu as luzes de natal

Meu Deus, mas que cidade linda!

No Ano Novo eu começo a trabalhar

Cortar madeira aprendiz de carpinteiro

Ganhava cem mil por mês em Taguatinga

João fica encantado com a grandiosidade da cidade. As luzes de Natal em Brasília o deixam "bestificado", pois simbolizam o nascimento de Cristo. Esta época representa um momento importante para o protagonista, que chega na cidade durante essa data.

Santo Cristo parecia ter sido dado uma segunda chance, reencarnando-se metaforicamente na metrópole como se sua vida tivesse recomeçado ali. Seu primeiro passo como aprendiz de carpinteiro serviu como um lembrete da história bíblica, pois foi a mesma profissão de José, o pai de Jesus.

Na sexta-feira ia pra zona da cidade

Gastar todo o seu dinheiro de rapaz trabalhador

E conhecia muita gente interessante

Até um neto bastardo do seu bisavô

Um peruano que vivia na Bolívia

E muitas coisas trazia de lá

Seu nome era Pablo e ele dizia

Que um negócio ele ia começar

E Santo Cristo até a morte trabalhava

Mas o dinheiro não dava pra ele se alimentar

E ouvia às sete horas o noticiário

Que sempre dizia que seu ministro ia ajudar

Encontrando-se sozinho na cidade, gastava seu dinheiro e tempo livre em locais de prostituição e boates, o que o levou a conhecer Pablo, um homem que comandava um negócio de entorpecentes na Bolívia. Ali, cruzou-se com diversas pessoas.

O nome parece ser, com certeza, uma homenagem a Pablo Escobar, o traficante de drogas mais conhecido na América Latina. Infelizmente, porém, esse criminoso acabou se tornando um ícone de sucesso para aqueles que buscam enriquecer em detrimento da lei.

Santo Cristo, desiludido devido à sua pobreza persistente apesar de ter trabalhado arduamente, começa a frequentar o mundo do crime com o estímulo da nova amizade.

Consequências da Exploração do Tráfico de Drogas: Crime e Prisão

Mas ele não queria mais conversa

E decidiu que, como Pablo, ele iria se virar

Elaborou mais uma vez seu plano santo

E sem ser crucificado a plantação foi começar

Logo, logo os maluco da cidade

Souberam da novidade

''Tem bagulho bom aí!''

Na estrofe anterior, é referida a insatisfação que João sente com as mentiras do ministro nos noticiários. Prometendo que a vida dos pobres iria melhorar, mas a realidade é bem diferente. Este sentimento de revolta e desânimo o leva a desacreditar nas leis e no governo. Com isso, João decide então seguir o caminho mais fácil para conseguir dinheiro: plantar e vender drogas.

E o João de Santo Cristo ficou rico

E acabou com todos os traficantes dali

Fez amigos, frequentava a Asa Norte

Ia pra festa de rock pra se libertar

Logo que começou, o negócio de João teve êxito e ele passa a acumular riqueza em grande quantidade. Seu estilo de vida melhora notavelmente e ele se torna um homem bastante poderoso e popular por causa da profissão que exerce e do grande montante de dinheiro que ganha.

Mas de repente

Sob uma má influência dos boyzinhos da cidade

Começou a roubar

Já no primeiro roubo ele dançou

E pro inferno ele foi pela primeira vez

Violência e estupro do seu corpo

''Vocês vão ver, eu vou pegar vocês!''

A influência de Pablo o levou ao tráfico, o que o convenceu a realizar um roubo. Na prisão, teve a oportunidade de conhecer de perto a realidade trágica e desumanizante da vida dos reclusos, submetidos constantemente a violência e estupro.

Ao comparar o período de prisão a uma descida aos infernos, o narrador explicita o caráter irrevogável da experiência. Esta situação aprofunda o rancor de João e aumenta a sua vontade de se vingar.

Salvação Através do Amor

Agora Santo Cristo era bandido

Destemido e temido no Distrito Federal

Não tinha nenhum medo de polícia

Capitão ou traficante, playboy ou general

Foi quando conheceu uma menina

E de todos os seus pecados ele se arrependeu

Maria Lúcia era uma menina linda

E o coração dele pra ela o Santo Cristo prometeu

O protagonista recuperou sua liberdade, mas o tempo na prisão o endureceu a ponto de fazê-lo se tornar um criminoso. O verso “Agora Santo Cristo era bandido” nos remete à figura de Jesus, provocando a reflexão de que, diante do cenário prisional brasileiro, mesmo o Messias não conseguiria ser imune à corrupção.

De repente, João vê a salvação chegando na forma de Maria Lúcia. Seu nome inebriado de simbologia cristã lhe dá a esperança de um novo caminho, livre de pecado.

Ele dizia que queria se casar

E carpinteiro ele voltou a ser

Maria Lúcia pra sempre vou te amar

E um filho com você eu quero ter

Amor motivou a decisão de mudar de vida. Para se casar com a pessoa amada e formar uma família, resolveu voltar a trabalhar como carpinteiro, regressando ao lado do bom e da luz.

O tempo passa

E um dia vem na porta um senhor de alta classe

Com dinheiro na mão

E ele faz uma proposta indecorosa

E diz que espera uma resposta, uma resposta de João

''Não boto bomba em banca de jornal

Nem em colégio de criança

Isso eu não faço não

E não protejo general de dez estrelas

Que fica atrás da mesa com o cu na mão

E é melhor o senhor sair da minha casa

E nunca brinque com um peixes de ascendente escorpião''

Quando João foi abordado com uma proposta inaceitável por um homem rico, ao invés de ceder às tentações, ele recusou a ideia de voltar ao crime, pois ela implicava em forjar atentados em locais públicos para culpar militantes de esquerda. Isso prova que até mesmo os bandidos podem manter princípios éticos.

Mas antes de sair com ódio no olhar

O velho disse:

Você perdeu a sua vida, meu irmão!

Você perdeu a sua vida, meu irmão!

Você perdeu a sua vida, meu irmão!

Essas palavras vão entrar no coração

Eu vou sofrer as consequências como um cão

João sentiu o ódio no olhar do homem e percebeu que ele ameaçava lançar uma maldição. Ao crer nisso, ele sabia que haveria consequências e aceitou a sua própria sentença.

Não é que o Santo Cristo estava certo

Seu futuro era incerto

E ele não foi trabalhar

Se embebedou e no meio da bebedeira

Descobriu que tinha outro trabalhando em seu lugar

Falou com Pablo que queria um parceiro

Que também tinha dinheiro e queria se armar

Pablo trazia o contrabando da Bolívia

E Santo Cristo revendia em Planaltina

Após este ocorrido, perdeu o controle da sua vida. Como "seu futuro era desconhecido", ele deixou de trabalhar, começou a beber excessivamente e foi substituído. Com isso, bastou um passo falso para que ele desviasse do caminho certo e voltasse para a criminalidade.

Ao contrabandeio de armas praticado por Pablo, João se vê obrigado a se afastar de Maria Lúcia e de seus princípios de viver em harmonia com as leis dos Homens e de Deus.

Jeremias e o Desafio Público

Mas acontece que um tal de Jeremias

Traficante de renome apareceu por lá

Ficou sabendo dos planos de Santo Cristo

E decidiu que com João ele ia acabar

Mas Pablo trouxe uma Winchester 22

E Santo Cristo já sabia atirar

E decidiu usar a arma só depois

Que Jeremias começasse a brigar

Jeremias maconheiro sem vergonha

Organizou a Rockonha e fez todo mundo dançar

Desvirginava mocinhas inocentes

E dizia que era crente, mas não sabia rezar

E Santo Cristo há muito não ia pra casa

E a saudade começou a apertar

Jeremias surge nesta passagem como o bandido rival que guiará Santo Cristo à morte. Ele é descrito como tendo um caráter duvidoso, sendo abusivo com as mulheres, hipócrita e falso religioso. Por outro lado, João sentia saudades da vida deixada para trás.

Eu vou me embora, eu vou ver Maria Lúcia

Já está em tempo de a gente se casar

Chegando em casa então ele chorou

E pro inferno ele foi pela segunda vez

Com Maria Lúcia Jeremias se casou

E um filho nela ele fez

Santo Cristo era só ódio por dentro

E então o Jeremias pra um duelo ele chamou

Amanhã as duas horas na Ceilândia

Em frente ao lote catorze é pra lá que eu vou

E você pode escolher as suas armas

Que eu acabo mesmo com você, seu porco traidor

E mato também Maria Lúcia

Aquela menina boçal pra quem jurei o meu amor

Quando João voltou, foi ao Inferno ao descobrir que a amada havia se casado com Jeremias e estava grávida dele. A tristeza tomou conta dele e, aos poucos, foi dando lugar à raiva, que parecia aumentar a cada minuto. A frustração de João atingiu o ápice neste momento, e ele explodiu em lágrimas.

Maria Lúcia e Jeremias foram insultados por esta atitude destrutiva. Suas vidas foram ameaçadas e eles foram desafiados a um duelo mortal.

E Santo Cristo não sabia o que fazer

Quando viu o repórter da televisão

Que deu notícia do duelo na Tv

Dizendo a hora, o local e a razão

No sábado, então as duas horas

Todo o povo sem demora

Foi lá só pra assistir

Um homem que atirava pelas costas

E acertou o Santo Cristo

E começou a sorrir

O duelo se tornou alvo de grande interesse da população, que se divertia com aquela cena. Contudo, Jeremias não se preocupou em honrar as regras do duelo e, de forma desonesta e covarde, atacou João por trás, com um sorriso no rosto.

A Crucificação de Jesus e a Morte de Cristo Santo

Sentindo o sangue na garganta

João olhou pras bandeirinhas

E pro povo a aplaudir

E olhou pro sorveteiro

E pras câmeras e a gente da Tv filmava tudo ali

E se lembrou de quando era uma criança

E de tudo o que vivera até ali

E decidiu entrar de vez naquela dança

Se a Via-Crucis virou circo, estou aqui

Jeremias, que pode ser visto como um Judas, traiu João, fazendo com que seu sofrimento e morte se tornassem públicos. Esta cena, descrita por Renato Russo, possui grande semelhança com a crucificação de Jesus, como se todos aqueles que assistiam formassem um público para o espetáculo.

Lembranças da sua infância e do seu caminho difícil se misturam à raiva que acumulara ao longo dos anos, e ele decide lutar. Com o sangue escorrendo, é hora de revidar.

No último verso da estrofe, é estabelecida a ligação entre a morte do protagonista e a citação bíblica do Via-Crucis. Referenciando a jornada de Jesus ao carregar a cruz em direção à sua execução, o poema aponta que, diante de um público que convertia sua crucificação em um espetáculo, o personagem decidiu agir igualmente.

E nisso o sol cegou seus olhos

E então Maria Lúcia ele reconheceu

Ela trazia a Winchester 22

A arma que seu primo Pablo lhe deu

Jeremias, eu sou homem

Coisa que você não é

E não atiro pelas costas, não

Olha prá cá filho-da-puta sem vergonha

Dá uma olhada no meu sangue

E vem sentir o teu perdão

João avança firmemente em direção ao traidor, firmando-se com a arma que Maria lhe entregou. Ele está indignado com a covardia do traidor por atirar pelas costas.

Ao falar, João foi comparado a Jesus: "Dê uma olhada no meu sangue" era sua versão da famosa frase "Bebei: este é o meu sangue". Contudo, João não converteu o sangue em vinho para que alguém bebesse, mas simplesmente mostrou seu sofrimento e sua próxima morte.

"Vem sentir o teu perdão" assume um tom irônico, pois João não segue o exemplo de Jesus e não oferece perdão. Pelo contrário, ele se vinga, retribuindo a ação de outra pessoa de forma igual.

E Santo Cristo com a Winchester 22

Deu cinco tiros no bandido traidor

Maria Lúcia se arrependeu depois

E morreu junto com João, seu protetor

O desfecho do confronto foi devastador. Três vidas foram cortadas abruptamente naquele dia, diante de todos que testemunhavam aquela tragédia. Na última hora, Maria deixou-se levar pelo seu grande amor por João, e abandonou este mundo reunida a ele.

João Santo Cristo sendo Santificado pelo Povo

O povo declarava que João de Santo Cristo

Era santo porque sabia morrer

E a alta burguesia da cidade não acreditou na história

Que eles viram da Tv

A morte de João impressionou o povo que o viu partir. Ele foi visto como um santo por ter lutado pela sua vida até o último momento, mesmo com suas imperfeições. A coragem com que enfrentou a morte foi o que o tornou exemplo de heroísmo.

A alta burguesia, que estava desconectada da realidade das condições humildes e do sentimento de insatisfação, não conseguia acreditar que João fosse tratado como um herói ou santo por aquelas pessoas.

Análise Final

E João não conseguiu o que queria

Quando veio pra Brasília com o diabo ter

Ele queria era falar com o presidente

Pra ajudar toda essa gente que só faz

Sofrer

Na última estrofe, o protagonista revela como suas intenções de mudança social acabaram por ser frustradas. Quando diz que João chegou à Brasília com o Diabo, ele faz alusão à capital como o local onde sua jornada teve um fim desastroso. Apesar de ter sido motivado para ajudar o povo, ele foi corrompido pela cidade onde crime e política andam de mãos dadas.

Análise da música

João Santo Cristo é um anti-herói brasileiro, de origem humilde, natural do Nordeste. Ele deixa sua terra natal com a intenção de buscar uma vida melhor em Brasília. Contudo, acaba caindo em tentações, envolvendo-se com tráfico, crimes e outras atividades ilegais. Assim, sua história termina com sua prisão, transformando-o em um famoso bandido.

Dividido entre a sua vida de bandido e o amor que tinha por Maria, acabou por perder a namorada para o seu rival. Na batalha com Jeremias, foi baleado pelas costas, o que o comparou a Jesus, que foi traído e crucificado.

Em vez de implorar a Deus perdão para o inimigo, João faz justiça pelas próprias mãos, tornando-se um símbolo de esperança para o povo que compartilha do seu sofrimento e da sua indignação. Isso o faz ser considerado quase como um santo.

Apesar de ter escolhido o caminho que o condenou, João desejava realmente transformar a realidade social. Seu objetivo era libertar e ajudar o seu povo, assim como Jesus tentou fazer, porém o mundo do crime o “engoliu” antes que pudesse realizar seu propósito.

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O Faroeste de Caboclo: Um Filme de 2013

Em 2013, René Sampaio dirigiu o longa-metragem brasileiro "Faroeste Caboclo", que é baseado na música dos Legião Urbana. O filme traz à tona as aventuras e desventuras de João Santo Cristo (Fabrício Boliveira) e o seu triângulo amoroso com Maria Lúcia (Ísis Valverde) e Jeremias (Felipe Abib).

A crítica elogiou o filme, que foi um grande sucesso nas bilheterias.

Cartaz do filme Faroeste Caboclo, 2013

O Legado de Renato Russo - "Faroeste Caboclo

Nascido em 20 de março de 1960, Renato Russo, líder, vocalista e compositor da banda Legião Urbana, faleceu aos 36 anos, em 11 de outubro de 1996. Apesar de sua curta vida, seu talento musical o tornou um dos mais reconhecidos nomes do rock brasileiro, que deixou um legado musical inesquecível.

"Faroeste Caboclo" pode ser comparado à "Hurricane" de Bob Dylan. Esta música narra as desventuras de um homem condenado por um crime que não cometeu. Quando indagado sobre seu processo criativo, Russo revelou que escreveu a letra inteira de forma intuitiva, querendo dar voz ao tema clássico do "rebelde sem causa", inspirado no estilo de James Dean.

Renato Russo

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Sónia Cunha
Escrito por Sónia Cunha

É licenciada em História, variante História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (2003) e em Conservação e Restauro pelo Instituto Politécnico de Tomar (2006). Ao longo da carreira profissional, exerceu vários cargos em diferentes áreas, como técnico superior de Conservação e Restauro, assistente a tempo parcial na UPT e professora de História do 3º ciclo e ensino secundário. A arte e as letras sempre foram a sua grande paixão.