Zé Ramalho - Chão de Giz


Escrito por Laura Aidar

Composta por Zé Ramalho, "Chão de Giz" conta a história do fim de um relacionamento amoroso. Esta canção foi lançada em 1978 no álbum de estreia do cantor paraibano. Ao som de muita melancolia, a música descreve os sentimentos de tristeza que acompanham o rompimento de um amor.

A música "Chão de Giz", escrita pelo cantor, é uma de suas obras mais aclamadas, e foi regravada diversas vezes ao longo das últimas quatro décadas. Em 2011, a faixa foi incluída na trilha sonora da novela "Cordel Encantado", exibida pela Rede Globo.

Aprenda agora mais sobre o significado e a interpretação desta maravilhosa canção.

Música 'Chão de Giz' - Letra

Eu desço dessa solidão

Espalho coisas sobre

Um chão de giz

Há meros devaneios tolos

A me torturar

Fotografias recortadas

Em jornais de folhas

Amiúde!

Eu vou te jogar

Num pano de guardar confetes

Eu vou te jogar

Num pano de guardar confetes

Disparo balas de canhão

É inútil, pois existe

Um grão-vizir

Há tantas violetas velhas

Sem um colibri

Queria usar quem sabe

Uma camisa de força

Ou de vênus

Mas não vou gozar de nós

Apenas um cigarro

Nem vou lhe beijar

Gastando assim o meu batom

Agora pego

Um caminhão na lona

Vou a nocaute outra vez

Prá sempre fui acorrentado

No seu calcanhar

Meus vinte anos de "boy"

That's over, baby!

Freud explica

Não vou me sujar

Fumando apenas um cigarro

Nem vou lhe beijar

Gastando assim o meu batom

Quanto ao pano dos confetes

Já passou meu carnaval

E isso explica porque o sexo

É assunto popular

No mais estou indo embora!

No mais estou indo embora!

No mais estou indo embora!

No mais!

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Explorando o Simbolismo na Música Chão de Giz

A canção Chão de Giz, do artista, é uma obra poética repleta de metáforas que, por sua vez, oferece diversas possibilidades de interpretação.

A música parece tratar de um amor não correspondido ou do término de uma relação entre duas pessoas.

A ideia de que a música foi criada para abordar um suposto fracasso amoroso entre o compositor e uma mulher casada é bastante divulgada. Conta-se que esta relação durou algum tempo e que a mulher era bem mais velha, estando casada com uma pessoa de destaque na sociedade de João Pessoa.

Apaixonado, Zé Ramalho teve um grande caso com uma mulher por um longo tempo, porém, no final, foi dispensado por ela. Desolado, sua desilusão se tornou inspiração para a criação de Chão de Giz.

Zé Ramalho, nos anos setenta. Especula-se que Chão de Giz tenha sido escrito em homenagem a um caso de amor frustrado com uma mulher mais velha casada.

A música pode ser um meio de eternizar os momentos passageiros da vida. Eles desaparecem com facilidade, como o giz apagado do chão.

Existe uma interpretação controversa que afirma que a palavra "giz" no verso se refere a cocaína. Desta forma, a música pode estar fazendo referência ao consumo da droga e aos desafios que ela apresenta.

Análise da Música Chão de Giz

Para analisarmos a canção de forma mais completa, vamos destrinchar a letra verso a verso. Começando pelo verso inicial:

"Eu desço desta solidão e espalho coisas sobre um chão de giz"

O autor foi forçado a descer ao chão, humilhado pelas lembranças que o assolavam. Ele se viu em meio a memórias de um relacionamento que passou como giz é apagado do chão - rapidamente. Tudo que restava era o sentimento de sofrimento.

"Há meros devaneios tolos, a me torturar"

A nostalgia de um amor que não deu certo é uma provação para quem a vive, levando-o ao delírio. O sofrimento que a saudade do passado causa é imensurável.

"Fotografias recortadas de jornais de folhas amiúdes."

O hábito de colecionar as fotos de sua amada, que eram veiculadas nos jornais, sugere que ela era alguém pertencente à alta sociedade.

"Eu vou te jogar num pano de guardar confetes"

Os sacos usados por costureiras do nordeste para guardar retalhos de pano ou papel eram conhecidos como panos de guardar confetes. Referenciando esta ideia, o artista declara que irá guardar as partes difíceis de sua vida, para que elas não lhe causem mais sofrimento.

"Disparo balas de canhão, é inútil, pois existe um grão-vizir."

O compositor sabe que não há nada a ser feito. Mesmo querendo lutar pelo relacionamento, se sente impotente diante da figura do Grão-Vizir, um poderoso conselheiro, que servia como autoridade ao sultão da antiga Pérsia. É o seu rival, provavelmente o marido da amada, que é mais influente, rico ou poderoso.

"Há tantas violetas velhas sem um colibri"

Esta metáfora nos mostra que, ao contrário do que pensam muitas pessoas, a idade não é impedimento para o amor. A violeta velha simboliza uma pessoa mais experiente, enquanto o colibri representa alguém mais novo. O autor faz uma clara sugestão de que mesmo que muitas pessoas mais velhas não tenham alguém novo que as reconheça e as ame, isso não deve ser motivo de desespero ou de descrença.

"Queria usar, quem sabe, uma camisa de força ou de Vênus"

Neste parágrafo, o autor expressa um conflito de emoções: por um lado a loucura (evidenciada pela camisa de forças) e por outro, a paixão (representada pela camisa de Vênus).

"Agora pego um caminhão, na lona vou a nocaute outra vez"

Ele chegou a uma devastadora conclusão: era necessário partir. Sabia que o relacionamento nunca teria um futuro, e se sentia como um lutador de boxe nocauteado por um poderoso golpe.

"Pra sempre fui acorrentado no seu calcanhar

Meus vinte anos de 'boy, that's over, baby'"

O mais novo elemento do relacionamento mostra a sua dependência e é descrito como um "boy". Ele revela, com a expressão "that's over, baby", que a ligação entre eles chegou ao fim.

"Quanto ao pano dos confetes, já passou meu carnaval"

Eles provavelmente se conheceram no Carnaval, mas agora aquele momento passou e o pano de confetes já não tem mais serventia.

"No mais, estou indo embora"

Ao final da canção, com todas as memórias e declarações que trouxeram o sentimento de inescapável tristeza, o autor da música conclui que é hora de seguir em frente. Como único caminho para a cura de tanto sofrimento, ele diz adeus à história de amor que o deixou tão amargurado, como um passo desenhado à giz no chão.

A Gravação Explorada

Em 1978, Zé Ramalho lançou seu primeiro CD solo, sob a gravadora Epic/CDB. Ele já contava com sucessos que o acompanharam por toda sua carreira, como Avohai, Chão de Giz e Vila do Sossego.

O primeiro álbum do cantor contém composições escritas por ele próprio, sendo a maioria inteiramente autorais. No entanto, quatro das suas músicas são frutos de colaborações com outros músicos.

Zé Ramanho gravou o disco "Paêbiru: o caminho da montanha do sol" em parceria com o pernambucano Lula Côrtes antes de iniciar sua carreira solo.

Verifique as músicas que compõem o disco de 1978.

Capa do CD onde foi gravada pela primeira vez Chão de Giz.

"Ventura Highway", "Don't Cross the River" e "Tin Man". Em 2003, o disco foi reeditado com três gravações adicionais: "Ventura Highway", "Don't Cross the River" e "Tin Man". Essas músicas foram apenas cantadas e tocadas no violão.

Chão de Giz, Bicho de 7 Cabeças, Vila do Sossego e Rato do Porto são obras primas da cultura brasileira. Estas obras possuem conteúdos distintos, mas todas elas são consideradas tesouros de nossa própria história e tradição. Chão de Giz é uma peça musical escrita por Gilberto Gil, Bicho de 7 Cabeças é um filme de 2001 dirigido por Laís Bodanski, Vila do Sossego é um romance de Lima Barreto publicado em 1914, e Rato do Porto é uma crônica do escritor português Eça de Queiroz. Estas obras são um retrato da cultura brasileira. Chão de Giz, de Gilberto Gil, Bicho de 7 Cabeças, dirigido por Laís Bodanski, o romance de 1914 Vila do Sossego, de Lima Barreto, e a crônica de Eça de Queiroz, Rato do Porto, são consideradas tesouros da cultura brasileira. Elas possuem conteúdos diferentes, mas cada uma dessas obras é um retrato único da nossa história e tradição.

Capa do CD lançado em 2003, uma regravação do primeiro disco solo da carreira de Zé Ramalho.

Aos 40 anos, o primeiro álbum solo de Zé Ramalho foi relançado para as plataformas digitais com a participação de artistas da cena independente.

Laura Aidar
Escrito por Laura Aidar

É arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Possui licenciatura em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e formação em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.