para entender a luta contra o racismo 3 Livros Essenciais para Entender a Luta Antirracista de Djamila Ribeiro


Escrito por Laura Aidar

Nascida em 1980, Djamila Ribeiro é uma figura proeminente no Brasil como filósofa, escritora, acadêmica e ativista social. Ela é particularmente reconhecida como teórica e militante do feminismo negro.

Suas obras, que abordam questões de raça e gênero, têm ganhado cada vez mais notoriedade e se tornaram essenciais para entendermos o mundo em que vivemos hoje.

1. Manual Antirracista para Iniciantes (2019)

"Numa sociedade marcada pelo racismo, não é suficiente não ser racista. É preciso ser antirracista", frisou a inesquecível Angela Davis, membro dos Panteras Negras e destacada ativista norte-americana.

O livro Pequeno Manual Antirracista, laureado com o Prêmio Jabuti, possui uma leitura curta e forte, abordando o racismo sistemático de que sofre a sociedade brasileira. A obra resulta da apurada busca de diversas fontes e contém orientações práticas para combater a desigualdade racial.

1 Pequeno Manual Antirracista (2019)

De acordo com Djamila, o que é importante aqui não são as ações isoladas, mas sim um conjunto de práticas sociais prejudiciais que têm um grande impacto na forma como a nossa sociedade é estruturada.

No entanto, podemos tomar várias medidas para criar um mundo mais equitativo:

Movimentos de pessoas negras há anos debatem o racismo como estrutura fundamental das relações sociais, criando desigualdades e abismos. O racismo é, por tanto, um sistema de opressões que nega direitos, e não um simples ato da vontade de um indivíduo. Reconhecer o caráter estrutural do racismo pode ser paralisante. Afinal, como enfrentar um monstro tão grande? No entanto, não devemos nos intimidar. A prática antirracista é urgente e se dá nas atitudes mais cotidianas.

Inicialmente, devemos nos conscientizar sobre a opressão existente, uma vez que ela é frequentemente ignorada e banalizada. A filósofa destaca que é fundamental compreendermos a história brasileira, bem como a desvalorização dos negros que foi promovida no período de dominação colonial.

A abolição da escravatura foi um grande marco na história do Brasil, no entanto, ainda há práticas discriminatórias em vigor. Afro-brasileiros, por exemplo, são excluídos de oportunidades educacionais e de exercerem cargos de destaque na sociedade.

É importante que reconheçamos os privilégios de que desfrutamos neste sistema e que busquemos a diversidade nos locais de trabalho e estudo, apoiando ações afirmativas para promover a igualdade de oportunidades.

Na maioria dos países cuja população é predominantemente negra, os indivíduos desta etnia são os que mais sofrem as consequências de práticas policias violentas e de uma severidade judicial excessiva, além de serem mais sujeitos à prisão e à morte.

Ao analisarmos esses dados, é necessário nos questionarmos a respeito da cultura que consumimos e das narrativas romantizadas sobre a miscigenação e a colonização no Brasil. Para que isso ocorra, é imprescindível o acesso aos escritos e pensamentos de autores e intelectuais negros, cuja contribuição, muitas vezes, foi silenciada de nossos cânones e da academia.

A investigação sobre o racismo é uma ferramenta essencial para compreender o quanto o racismo está enraizado na nossa sociedade e o que podemos fazer para combater isso.

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2. O Feminismo Negro: Quem Ousa Desafiá-lo?

Com um sucesso enorme, o trabalho da autora, composto por uma reflexão autobiográfica e diversas crônicas, se tornou muito popular nacional e internacionalmente.

Fundamentado nas suas experiências e observações enquanto mulher afro-brasileira, o livro contém o conceito da interseccionalidade, criado pela feminista norte-americana Kimberlé Crenshaw.

Quem Tem Medo do Feminismo Negro? (2018)

O conceito destaca como as opressões de raça, classe e gênero se somam, criando uma maior fragilidade social para pessoas específicas, incluindo mulheres negras.

Somos fortes porque o Estado é omisso, porque precisamos enfrentar uma realidade violenta. Internalizar a guerreira, na verdade, pode ser mais uma forma de morrer. Reconhecer fragilidades, dores e saber pedir ajuda são formas de restituir as humanidades negadas. Nem subalternizada nem guerreira natural: humana. Aprendi que reconhecer as subjetividades faz parte de um processo importante de transformação.

Djamila faz uma retrospectiva de sua trajetória como cidadã e militante feminista, e se diz não identificada com um feminismo predominantemente branco que não considerava outras experiências e narrativas.

A autora enfatizou a importância de discursos e conhecimentos múltiplos, que foram descobertos por meio de referências como bell hooks, Alice Walker e Toni Morrison, no que diz respeito às perspectivas do feminismo negro. Por outro lado, também se opôs à visão supostamente universal (e branca).

O livro apresenta crônicas que lutam contra um sistema patriarcal racista, refletindo sobre muitas questões pertinentes ao nosso tempo. Estas abordam questões como o uso de estereótipos ofensivos como piadas, a crença de que os africanos são submetidos ao racismo e a objetificação das mulheres afro-brasileiras, entre outras pautas.

O feminismo negro emergiu nos Estados Unidos durante a década de 70 e é lembrado na publicação intitulada. A militante reviveu a história desse movimento nesse contexto.

Sojourner Truth, uma figura do século XIX, expressou que mesmo entre mulheres, as experiências podiam ser diversas.

"Portanto, as práticas de racismo institucional não são o inverso da igualdade, mas o seu contrário". Para encerrar, Djamila Ribeiro nos aponta que as práticas de racismo institucional não se opõem à igualdade, mas sim a ela.

É necessário entender de uma vez por todas que existem várias mulheres contidas nesse ser mulher e romper com a tentação da universalidade, que só exclui.

3. Entendendo o Conceito de Lugar de Fala (2017)

A publicação de Djamila Ribeiro na editora Pólen, fazendo parte da coleção Feminismos Plurais, fez com que ela fosse mais reconhecida pelo público brasileiro.

A obra começa destacando o "apagamento" das perspetivas e discursos da mulher negra como categoria política. Assim, retrata a realidade de sua invisibilidade.

O que é lugar de fala? (2017)

A autora argumenta que o termo "lugar de fala" é variável e pode ter diferentes acepções e conotações, dependendo da situação.

Localização na estrutura social é o nosso "ponto de partida" para lidar com o mundo. É bastante sintetizado.

Segundo Djamila, é vital compreender como o lugar social que certos grupos ocupam limita suas chances. Esta questão já foi abordada por Foucault sobre quem tem, ou não, poder para ser ouvido.

Em uma sociedade marcada pelo racismo e pelo sexismo, persiste uma abordagem limitante e colonialista de "única visão".

A militante aponta que é importante desafiar essa visão ao trazer discursos diversos e atentos às subjetividades.

Ao promover uma multiplicidade de vozes o que se quer, acima de tudo, é quebrar com o discurso autorizado e único, que se pretende universal. Busca-se aqui, sobretudo, lutar para romper com o regime de autorização discursiva.

A Quem é Djamila Ribeiro?

Djamila Ribeiro nasceu no dia 1 de agosto de 1980, de uma família com fortes laços com as lutas sociais. Seu pai, Joaquim José Ribeiro dos Santos, foi um ativista do movimento negro e um dos criadores do Partido Comunista em Santos.

Aos 18 anos, ela começou sua trajetória na luta contra as desigualdades raciais e de gênero ao ingressar na Casa da Cultura da Mulher Negra.

Retrato de Djamila Ribeiro

Após isso, ele matriculou-se na Universidade Federal de São Paulo para realizar seus estudos em Filosofia. Ao se graduar, recebeu o título de mestre na área de Filosofia Política, tendo como foco principal a teoria feminista.

Depois de sua graduação, Djamila tornou-se professora universitária e obteve um cargo na Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo. Ela saiu-se muito bem também no campo da literatura, tornando-se colunista da Elle Brasil e da Folha de São Paulo.

A presença da pensadora contemporânea nas redes sociais é muito significativa, servindo como um meio para a promoção do ativismo e debate público. Ela é reconhecida como uma voz importante na luta contra as violências e as desigualdades no Brasil.

Laura Aidar
Escrito por Laura Aidar

É arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Possui licenciatura em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e formação em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.