Visita à Catedral de Notre-Dame em Paris


Escrito por Laura Aidar

Nossa Senhora de Paris, também conhecida como Catedral de Notre-Dame, é um exemplo notável do estilo gótico francês em toda a sua glória.

Em 1163, a construção do Monumento teve início, tornando-se uma referência fundamental da cultura ocidental. Reconhecida como Patrimônio Mundial da UNESCO, a Catedral é venerada por gerações.

Em 15 de abril de 2019, uma tragédia aconteceu quando a Catedral foi destruída por um incêndio de grandes proporções.

A fachada ocidental de Notre Dame.

A Notre-Dame de Paris, com mais de 850 anos de idade, tem um impressionante número de 20 milhões de visitantes por ano.

Explorando as Maravilhas da Catedral de Notre-Dame

A Catedral de Notre-Dame de Paris foi construída em um entorno completamente diferente do que é visto atualmente, com ruas estreitas e edificações residenciais ao seu redor, em vez do espaço aberto que circunda o local.

Quando alguém chega à entrada da igreja, é imediatamente notável a grandeza que aquele recinto traz. O concreto está repleto de símbolos, lendas e histórias, que dão ainda mais força à essência daquele lugar.

A monumentalidade é destacada como a principal característica da arte gótica. O seu poder simbólico é ressaltado, dando relevância à construção. Esta era de acordo com a visão de mundo teocêntrica, onde qualquer espaço do edifício gótico, mesmo que não tivesse um uso específico, era meticulosamente cuidado. Os artesãos acreditavam que Deus os observava em cada passo, e este sentimento foi refletido em sua obra.

Riqueza de detalhes da entrada.

A geração responsável pela Catedral não se importava com a falta de capacidade humana para perceber todos os detalhes colocados na obra. Eles acreditavam que ainda assim havia uma grande importância em oferecer cada detalhe único para Deus, em todas as seções, mesmo aquelas inacessíveis ou sem um propósito definido. A sua intenção era de dar a todo o trabalho a maior dignidade possível.

Notre dame

Dedicado à Virgem Maria ou à Notre Dame, a Catedral representa muito mais do que uma referência ao cristianismo. Ela é um refúgio para as mulheres, que, cada vez mais solitárias devido às cruzadas, encontraram na espiritualidade um meio para se conectar com Deus e com o seu lugar no mundo.

O surgimento do humanismo teológico no período em questão permitiu que Deus fosse percebido de forma mais próxima, além de reivindicar o mundo sensível como uma evidência da luz divina.

A construção explorou novos recursos arquitetônicos para oferecer luz e espaço tanto na estrutura quanto nas obras de arte. Elementos como cofres de cadinho, contrafortes, arcobotantes, vitrais e rosetas foram unidos pela arte cada vez mais naturalista, permitindo ao povo expressar sua renovada fé em Deus. Notre-Dame foi único também por criar os arcobotantes.

A Catedral de Plantas

A Catedral de Notre-Dame tem o seu desenho em forma de cruz latina. A nave principal possui 127 metros de comprimento e 48 metros de largura, enquanto o transepto, mais curto, apresenta 14 metros de largura e também 48 metros de comprimento, igual à largura da nave.

O edifício possui 5 naves, sendo uma principal e 4 laterais, com deambulatório duplo. A altura máxima é de 96 metros e a área total de 5500 m².

A esquerda vemos a planta da Catedral de Notre Dame, a direita observamos elementos arquitetônicos exteriores.

Principal Fachada

Base da fachada ocidental. Da esquerda para a direita: pórtico de Santa Ana, pórtico do Juízo Final e pórtico da Virgem Maria.

O frontispício ocidental de Notre-Dame possui três partes separadas de forma horizontal.

Três pórticos na entrada do recinto preparam os fiéis para serem absolutamente subjugados pelo ambiente interno.

Embora pareçam iguais, os três pórticos possuem processos de criação, tamanhos e temas distintos.

Entrada de Santa Ana

Pórtico de Santa Ana, repare nos detalhes das esculturas.

O primeiro pórtico, o da esquerda, está dedicado a Santa Ana, mãe de Maria. Muitas das esculturas não são originais, pois foram restauradas a partir de outra igreja. Isso explica a postura hierática, característica do estilo românico tardio, da parte superior da peça. A Virgem Maria aparece rígida em seu trono ao lado da criança.

Na parte central do quadro, a vida de Maria é representada, ao passo que a margem inferior contém a representação de Santa Ana e San Joaquín. Essas histórias, bem como a infância de Maria, foram descritas de acordo com os evangelhos apócrifos.

Julgamento Final no Pórtico

Pórtico do Julgamento Final

No centro do pórtico encontra-se o julgamento final. Cristo é o juiz supremo, presente na margem superior, flanqueado por dois anjos de cada lado. San Juan está à direita e a Virgem Maria à esquerda. No meio, encontram-se os eleitos, coroados de glória. Do outro lado, vê-se os condenados. No centro, o arcanjo São Miguel segura a balança da justiça, enquanto demoníacos tentam interferir a seu favor.

No século XIX, a ressurreição dos mortos no final dos tempos foi retratada na faixa inferior pela reconstrução do arquiteto Eugène Viollet-Le-Duc. Cristo foi mostrado bençoando o meio, enquanto que nos batentes dos lados se destacavam os apóstolos. Cada personagem trazia consigo os atributos relacionados à sua ocupação ou comércio. Por fim, encontram-se os signos zodiacais, abaixo de cada um dos apóstolos.

A peça retrata elementos alegóricos do céu e do inferno, representados por demônios torturando as almas no lado direito e por anjos, patriarcas e santos no restante da peça, com crianças abençoadas no lado esquerdo.

Portal de Nossa Senhora

Pórtico de Nossa Senhora.

Durante a Revolução Francesa, esta seção foi fortemente danificada e só foi restaurada no século XIX. A porta, dedicada à Virgem Maria, apresenta a cena de sua coroação na parte superior.

No meio da peça, o sono de Maria é mostrado. Ela é mostrada repousando em uma cama, acompanhada por seus apóstolos, enquanto anjos elevam suas almas ao céu. Na parte inferior, patriarcas seguram um dossel com a arca da aliança e as tábuas da lei.

Nos batentes da peça, é possível observar vários personagens, como reis e patriarcas. Entre eles, a figura de Saint Denis se revela especialmente notável, um símbolo de seu martírio ao segurar a própria cabeça em suas mãos. Na cena, a Virgem Maria aparece adorável com o Santo Menino nos braços.

Artigos semelhantes

A Galeria dos Reis e a Galeria das Quimeras: Gárgulas

Galeria dos reis.

Localizada na seção intermediária da fachada ocidental, a Galeria dos Reis foi construída durante a Idade Média. Com 28 figuras esculturais de reis da Judéia e de Israel, ela representa um importante marco histórico daquela época.

Durante a Revolução Francesa, a Galeria dos Reis, parte dos Pórticos, foi gravemente danificada pelos revolucionários, que percebiam as figuras representadas nela como representantes dos reis da França.

Galeria de quimeras ou gárgulas.

Eugène Viollet-leDuc, o arquiteto que foi contratado para restaurar a Catedral, não se limitou apenas a restaurar o que já existia. Ele também teve a oportunidade de criar e reinventar novas peças.

Viollet-le-Duc usou sua imaginativa para incluir seu rosto em um dos retratos dos reis. Além disso, com a perspectiva romântica do século XIX, ele adaptou os restos da galeria das gárgulas a figuras monstruosas e fantásticas.

Visão da Fachada Norte

Fachada Norte.

A fachada do norte da igreja, na rua do Cloitre, apresenta uma porta do transepto. Esta característica entalhe gótico é composta por três frontões dispostos de forma hierárquica.

Alpendre de Cloitre. Detalhe da peça dedicada a Teófilo de Adana.

Na varanda, vemos uma escultura incompleta da Virgem com o Menino Jesus no batente. O tímpano é dedicado ao monge Teófilo de Adana, cuja história está retratada nas partes superior e média.

Conta-se que Teófilo de Adana, um monge, foi contratado como abade, mas preferiu continuar como arquidiácono. O abade recém-nomeado afastou-o do cargo e, aflito, ele concordou com o diabo, com a ajuda de um judeu, para impor-se ao abade. No entanto, ao ver o prejuízo causado, Teófilo se arrependeu e foi salvo pela interferência da Virgem Maria.

No painel, a área inferior mostra a infância de Jesus: desde seu nascimento, até sua apresentação no Templo de Jerusalém, a matança dos inocentes, e a fuga para o Egito.

Visão da Fachada Sul

Fachada Sul.

A fachada sul do edifício apresenta um pórtico dedicado a San Esteban, composto por três registos e coronado por uma empena. Por sua vez, a fachada norte também é coroada por uma empena e é a outra extremidade do transepto.

Jesus e os seus anjos são vistos no registro superior, contemplando o martírio de Santo Estêvão. Os registros inferiores trazem a história da vida e do martírio de Estêvão.

Pórtico de San Esteban.

A Fascinante Porta Vermelha

Esquerda: a porta vermelha. Direita: detalhes da parte superior da porta vermelha.

A Porta Vermelha, ou Porta da Clausura, foi construída no século 13 como um meio de facilitar a passagem dos claustros religiosos para a Igreja de Notre-Dame. Normalmente usada para celebrar o "Matins" nas primeiras horas da manhã, ela possui uma estrutura única, com uma parte superior simples e menor do que as outras portas. Coroada por um complexo de empena, ela tem o seu uso restrito aos ambientes internos da igreja.

A obra de arte de Pierre de Montreuil é dedicada à coroação da Virgem Maria. Financiada pelo rei St. Louis e sua rainha Margaret da Provença, ela conta com eles nos extremos da peça.

Em homenagem a São Marcelino (São Marcel), bispo de Paris no século IV, há uma única arquivolta ao redor da peça. Seu relicário foi preservado na Catedral até a Revolução Francesa. A vida desse santo é representada por meio de cenas variadas, começando com seu batismo por imersão, e incluindo lendas populares como aquela segundo a qual Marcel teria enfrentado um dragão que devorava mulheres de mau caráter. À sua vitória, ele somente contou com a força de fé de seu bispo.

A Agulha e o Telhado

Notre Dame Agulha do telhado. Século XIX.

A moldura de madeira que sustenta o telhado de Notre Dame é denominada "floresta de Notre Dame", devido ao fato de cada viga ser composta por um carvalho inteiro, muitos deles com centenas de anos de existência.

A agulha que se ergue sobre o telhado da Catedral de Notre-Dame foi adicionada por Viollet-le-Duc no século XIX, substituindo uma antiga agulha do tipo sino que havia sido instalada por volta de 1250. Apesar de ter sido retirada no fim do século XVIII, este elemento ainda é uma característica marcante do cenário.

À esquerda: detalhe do grupo escultórico de bronze Os Doze Apóstolos (telhado). Direita: Detalhe do retrato de Viollet-le-Duc como Saint Thomas.

Viollet-le-Duc criou uma série de estátuas de bronze dos doze apóstolos que vigiavam a cidade de cima. Entre eles estava St. Thomas - que, na verdade, era ninguém menos que Viollet-le-Duc - olhando para trás, para Paris, da agulha. Desta forma, Viollet-le-Duc passou à eternidade como um guardião de seu próprio sagrado edifício.

Interior da Catedral de Notre Dame.

Dentro da Catedral, um telhado bem traçado com abóbadas com nervuras é visto. O desenho é feito pelo encontro de dois arcos afiados. As nervuras das abóbadas ajudam a distribuir o peso para os pilares.

A Catedral se destaca graças à técnica arquitetônica empregada, que permitiu aos arquitetos eliminar as paredes pesadas e criar janelas para proporcionar aos visitantes um efeito celestial. Na fotografia, é possível constatar os três níveis de elevação da igreja.

Belas Rosas

Esquerda: roseta do transepto norte. Centro: Roseta da fachada ocidental (observe o órgão tubular). Direita: roseta do transepto sul.

É fácil perceber o efeito emocional que aquelas luzes coloridas dos vitrais proporcionavam, considerando o fato de que na época a única fonte de luz interior era o fogo.

As rosetas da Notre-Dame são um elemento destacado de sua beleza. As fachadas oeste, norte e sul contam com essas lindas figuras. A roseta do norte é uma homenagem à Virgem Maria, enquanto a do sul foi dedicada a Jesus Cristo.

Decoração e Arte Litúrgica

Mesas policromas do Juba de Notre Dame adjacentes ao coro.

A arte gótica une a escultura, a pintura e a arquitetura em prol de uma função litúrgica, além de educacional e de propaganda.

Ao entrar no complexo de Notre-Dame, chama a atenção a parede que envolve o coro. Ela foi decorada ao longo do século XIV com esculturas de madeira policromada que contam ciclos da vida de Jesus. Estas esculturas dão um toque especial e único ao trecho, tornando-o mais interessante.

Pierre de Chelles supervisionou a seção do norte, que abordava a vida de Jesus desde a infância até à sua paixão e morte. Ele realizou este trabalho entre 1300 e 1318. Jean Ravy supervisionou a seção sul e, após a sua morte, a supervisão passou para o sobrinho Jean le Boutellier. Esta seção descreveu cenas após a ressurreição, um tema menos explorado na iconografia naquela época do que as anteriores. O trabalho foi realizado entre 1344 e 1351.

Seção norte: a vida de Jesus. 1300-1318.

Seção sul: Histórias da ressurreição. 1344-1351.

A Catedral possui uma coleção de arte litúrgica rica em pedras preciosas e metais, que capturam a estética da luz através de sua cor e brilho. Essas obras são consideradas essenciais para preservar o significado da construção, e, portanto, nunca caem em desuso.

A Fabulosa História da Catedral de Notre Dame

A Catedral de Notre Dame é um exemplo de trabalho meticuloso ao longo de quase dois séculos. Gerações inteiras dedicaram suas vidas à construção desta obra como testemunho de sua fé. A arte gótica representa essa oferenda para o céu, o que torna a Catedral de Notre Dame um emblema desta arte.

Localizada no meio do rio Sena, a Ilha da Cidade de Paris abriga a histórica Catedral. Ao longo dos séculos, o local foi palco de cultos celtas e romanos, sendo que um templo dedicado a Júpiter ainda pode ser encontrado na ilha.

Ao longo da cristianização da Europa, a construção da igreja românica Saint Etienne foi um marco para a época. Entretanto, com a transição cultural que permitiu a formação de cidades, o interesse por edifícios de acordo com a nova era passou a existir. A Catedral Gótica de Notre-Dame está entre esses marcos, sendo a maior prova da nova era.

Maurice de Sully, bispo de Paris, propôs o projeto de construção da Catedral durante o reinado de Luís VII. O rei ofereceu seu apoio e o trabalho recebeu contribuições financeiras de todos os segmentos da sociedade, garantindo sua continuidade sem interrupções. A inspiração para o projeto foi a Abadia de Saint Denis, onde o abade Suger experimentou pela primeira vez a famosa "estética da luz", marco da arte gótica.

Processos de Reconstrução, Transformação e Restauração de Notre Dame

  • 1163: Início da construção.
  • 1182: A Catedral começa a prestar serviços religiosos no final da área do coro.
  • 1182-1200 (aproximadamente): Conclusão da nave principal.
  • Início do Século XIII: Construção de fachadas e torres.
  • 1250-1267: Conclusão do transepto (trabalho de Jean de Chelles e Pierre de Montreuil).
  • 1250: Instalação da primeira agulha.
  • 1345: Fim da construção.
  • 1400: Instalação do sino na torre sul.
  • 1630-1707: Desenvolvimento de um total de 77 pinturas das quais apenas 12 foram recuperadas.
  • Século XVIII, Revolução Francesa: Aaque e destruição parcial da Catedral por parte dos revolucionários. Deterioração causada pelo seu uso como loja de alimentos. Os sinos foram removidos para se fazer canhões com o ferro fundido.
  • Século XIX: Projetos de restauração de Eugène Viollet-le-Duc e Jean-Baptiste-Antoine Lassus.
  • 1831: Victor Hugo publica o romance Nossa Senhora de Paris.
  • 1856: Instalação de 4 novos sinos na torre norte.
  • Século XVII, reinado de Luis XIV: Destruição dos vitrais para substituí-los por decoração barroca.
Laura Aidar
Escrito por Laura Aidar

É arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Possui licenciatura em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e formação em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.