Definição, Características, Obras e Artistas do Estilo Rococó


Escrito por Carolina Marcello

O rococó foi um movimento artístico europeu de origem francesa que destacou-se por ter um estilo alegre e o uso exagerado de decoração. Seu estilo influenciou a pintura, a arquitetura, as artes decorativas e a escultura.

Início do século XVIII, marcado por uma transição da arte barroca para a neoclássica, foi a época de surgimento do estilo rococó. Diferenciando-se do barroco, que apresentava solenidade e drama, o rococó prezava pelo prazer e entretenimento, mantendo, porém, a complexidade de detalhes.

Tela de Fragonard, o Balanço

O rococó não se preocupava com as preocupações da Igreja ou do Estado. Ao invés disso, como observado pelo pesquisador Michael Levey, seu foco era o entretenimento. Tendo em vista isso, amor, sensualidade e o cotidiano eram temas mais atrativos do que as glórias espirituais.

O termo "rococó" provém do termo "rocaille", que foi amplamente usado para decorar jardins com conchas e pedras no século XVII, tanto na Itália quanto na França. A semelhança entre essa decoração e os resultados conseguidos fez com que o termo "rococó" fosse associado a este estilo.

Explorando a Arte Rococó

Jean-Honoré Fragonard: The Stolen Kiss, 1788, óleo sobre tela, 45 × 55 cm, Museu Hermitage, São Petersburgo.

A arte rococó foi uma maneira de fugir do tédio e celebrar a vida. Ela se caracterizou por ser alegre, com espaço para humor, graça e erotismo leve, ao contrário de seu antecessor, o barroco. Esta expressão artística, ao contrário de outras com objetivos didáticos, se mostrou entusiasmada e encantadora.

Alegria e Humor no Caráter

O estilo rococó se destacava pela busca de expressar graça e alegria. Sua atmosfera era caracterizada por decorações ornamentadas e leves, que buscavam transmitir entusiasmo e luminosidade.

Malícia e Humor

O estilo rococó é caracterizado pela sua alegria e ironia, que tem como objetivo afastar qualquer coisa séria. Esta expressão artística representa a liberdade da elite de obedecer às restrições sociais e, portanto, suprime as normas da etiqueta.

Temas sem Intenção de Moralizar ou Ensinar

O Estilo Rococó era muito voltado para as aventuras sentimentais, cenas pastorais, a vida dos ricos e dos divertimentos, bem como da vida doméstica. Apesar de sua aparência doce, esses temas estavam ligados à experiência. Assim, também eram explorados temas religiosos, mitológicos ou históricos, mas sem a solenidade que os acompanha comumente.

Houve uma mudança na forma como as cenas eram apresentadas. As cenas passaram de moralistas, didáticas ou de poder para aquelas que eram mais divertidas, prazerosas e baseadas na vida real. O teor de cada tema também foi filtrado para que passassem por um novo padrão, mais leve e alegre.

Sutil Erotismo

A arte se alimentava de um erotismo sutil, tanto em seus desenhos quanto em seus tópicos. Alguns artistas usavam a mitologia como uma forma de justificar a criação de obras eróticas, visando evitar possíveis julgamentos severos de parte dos intelectuais da elite.

Interior da Abadía de Ottobeuren, Baviera.

A arte rococó era caracterizada por um grande cuidado com os detalhes e uma exuberância ornamentação. Artistas, designers e arquitetos fomentaram obras repletas de elementos criativos. Era comum a incorporação de elementos de diferentes culturas orientais, como fauna, flora e outros motivos.

Criando um Ambiente com Tons Pastel e Branco

Os artistas do período rococó desenvolveram maneiras de dar às suas obras de arte e decoração uma aparência leve e alegre. Para isso, eles substituíram tons de terra e escuros por tons pastel e claros. O efeito foi um visual descontraído e cheio de charme, aplicado tanto na pintura quanto na decoração arquitetônica.

Libertando a Arte da sua Função Propagandística

A arte liberou-se de seu papel de veículo de uma "verdade" e foi liberada do compromisso de servir às causas religiosas ou absolutistas. Isso possibilitou que surgissem temas e estilos variados, que não precisavam ser necessariamente sérios. O rococó foi o responsável por essa transformação.

A Estética Rococó na Pintura

Fragonard, A Leitora (1772)

O Rubenismo foi o vencedor sobre o Poussinismo, e isso se expressou na pintura rococó.

A corrente de pintura conhecida como "Rubenismo" foi inspirada no trabalho do artista flamengo Pedro Pablo Rubens (1577-1640). Essa escola visual dá destaque à cor sobre o desenho.

A corrente do Poussinismo, promovida pelo pintor francês Nicolás Poussin (1594-1665), valorizava o desenho sobre a cor, contrariando a tendência do Colorismo, típica da pintura rococó.

A vida na corte francesa no período barroco começou a se concentrar em entretenimentos e banalidades, como romances, jogos e atividades do dia a dia, que eram refletidos na pintura. Esse caráter divertido e delicado contrastava com o drama do barroco.

A alegria desse espírito se espalhou rapidamente pelas cortes europeias, mas cada país personalizou-o de acordo com suas características específicas.

O Estilo Rococó dos Pintores

O pintor Antoine Watteau (1684-1721) nasceu na cidade flamenga que foi anexada à França. Seu trabalho foi fundamental para atender às preocupações da elite ociosa, e também para dar “humanidade” aos personagens. Entre suas obras mais importantes estão Peregrinação à ilha de Cythera (1717), A escalada do amor (1717) e Festa veneziana (1719).

Jean-Baptiste-Simeon Chardin (1699-1779) foi um pintor francês independente, apoiado pelos recursos financeiros de sua companheira. Seu trabalho mostrou grande interesse por retratar a vida cotidiana. Entre suas produções mais conhecidas estão: O menino do pião (1737), A jovem governanta (1740) e A bênção.

François Boucher (1703-1770), pintor francês, desfrutou de grande patrocínio por parte da Marquesa de Pompadour, favorita do rei Luís XV. Seu estilo versava sobre temas mitológicos, pastorais e idílicos, alcançando grande exuberância. Dentre suas principais obras, estão: Retrato de Madame de Pompadour (1759); Jovem reclinada (1752) e Diana depois do banho (1742).

O pintor francês Jean-Honoré Fragonard (1732-1806) é conhecido por sua pintura hedonista, erótica e exuberante. Suas obras mais emblemáticas são The Swing (1767), The Blind Hen (1769), The Lock (1779) e The Stolen Kiss (1788).

Giovanni Battista Tiepolo (1696-1770) foi um célebre pintor italiano, cujas obras incluíam temas religiosos, mitológicos e cotidianos. Dentre suas criações mais notórias, podemos destacar a Tradução da Santa Casa de Loreto (1743-1745), os Afrescos da Residência de Würzburg (1752-1753), Jovem com um Papagaio (1760) e os Afrescos no Palácio Real de Madrid (1762-1766).

William Hogarth (1697-1764) foi um pintor inglês que se utilizou dos recursos do rococó, mas que ao mesmo tempo satirizava as normas sociais da elite. Algumas de suas obras mais célebres são The Four Times of the Day (1736), The Career of a Prostitute (1732) e Marriage a-la-mode (c. 1743).

Thomas Gainsborough (1727-1788) foi um pintor inglês destacado por retratar as pessoas com graça e por sua tendência a pintar a pequena aristocracia local. Seu interesse pela paisagem, que costumava usar como pano de fundo, foi marcante. Dentre os seus trabalhos mais conhecidos estão o Sr. e Sra. Andrews (1749), The Blue Boy (1770) e o Dr. Ralph Schomberg.

A Arquitetura Rococó

Fachada del Hotel de Soubise, París.

A arquitetura rococó tem exteriores austeros, porém seus espaços interiores são tratados de forma mais íntima, pois as decorações são ricas e exuberantes. As formas delicadas e suaves ajudam a criar um cenário particularmente aconchegante.

A decoração interior destacou-se pela criatividade e inovação. Havia arandelas douradas em toda parte, em curvas e formas florais enfeitadas por conchas e sinuosidades. Os tons eram sempre vivos e alegres.

Germain Boffrand, arquiteto francês, é considerado responsável pela introdução do estilo rococó na França, tendo usado-o especificamente para servir à ordem monárquica. Além disso, também foi responsável por projetos religiosos. Entre seus trabalhos, destacam-se a Place Vendôme em Paris, o Conservatório de Versalhes, o Hotel de Soubise em Paris e o Château de Lunéville.

Interior do Palacio Sanssouci, Postdam.

Na Áustria e nos estados alemães do Sacro Império Romano, a estética rococó era amplamente valorizada tanto na construção de edifícios religiosos quanto civis.

Exemplos do barroco alemão estão presentes na Basílica Vierzehnheiligen, projetada por Johann Balthasar Neumann, na Abadia de Ottobeuren, na Baviera, e no Palácio Sanssouci em Potsdam, Prússia, desenvolvido por Georg Wenzeslaus von Knobelsdorff.

Devido à supremacia do barroco na Espanha e à pouca troca artística com a França e a Alemanha, a disseminação do estilo rococó foi dificultada.

Hurtado Izquierdo e José de Bada são respetivamente responsáveis pela decoração da sacristia da Cartuja de Granada. Por outro lado, Narciso Tomé foi o artífice do Transparente da Catedral de Toledo. Por último, Hipólito Rovira projetou a fachada do Palácio do Marquês de Dos Aguas.

Estilo Rococó de Mobiliário

Durante o reinado de Luís XV, um estilo de decoração foi criado em seu nome. Rapidamente, este estilo se tornou uma tendência internacional devido ao seu gosto estético predominante entre a corte.

A marcenaria mostrava-se caracterizada pelo uso de verniz e marchetaria de bronze, com motivos florais sendo os mais populares.

O surgimento da arte dos móveis estofados veio como resultado dos projetos direcionados para a permanência descontraída dos membros da realeza na corte. Até então, tal prática não era comum.

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A Escultura do Estilo Rococó

No rococó, tanto a escultura autônoma quanto a escultura a serviço da arquitetura desempenharam um importante papel. Uma das principais diferenças entre elas foi a diminuição de seu tamanho, se comparado às proporções colossais das obras do barroco.

O rococó prezava pela suavidade e delicadeza em seus materiais e movimentos. Mármore era a opção preferida para escultores, mas a porcelana também era usada em larga escala.

A produção de esculturas feitas em gesso e madeira foi uma característica do Rococó. Os tons pastéis usados para compor os objetos serviam para iluminar os ambientes. Entre os escultores mais destacados deste estilo estão Antonio Corradini e Étienne-Maurice Falconet.

Antonio Corradini (1688-1752) foi um importante escultor italiano, que prestando serviço para a corte de Carlos VI, se destacou pela habilidade ao tratar as roupas, especialmente pelo efeito da transparência. Entre suas obras mais famosas estão: A Mulher Velada (La Fe) e Modestia, também conhecida como A Verdade Velada.

O francês Étienne-Maurice Falconet (1716-1791) foi um dos protegidos da Marquesa de Pompadour. Seu trabalho é estudado por muitos especialistas em arte como um marco da transição para o neoclassicismo. Entre suas obras mais conhecidas estão Menacing Cupid (1757) e Pigmalião e Galatea (1763).

História do Estilo Rococó

Peregrinação à ilha de Cythera, de Antoine Watteau

A partir de meados do século XVI, o barroco se tornou predominante na estética ocidental e permaneceu assim até o século XVII, período marcado por guerras religiosas e a consolidação do absolutismo.

Durante os últimos anos do reinado de Luís XIV, o rei da França, a estabilidade política alcançada tornou desnecessário o cerimonial barroco. Isso fez com que o Rei Sol visse a nobreza como uma ameaça, de modo que, ao final de seu reinado, ele privou os nobres de seu poder, transformando-os em uma elite ociosa.

a Guerra de Sucessão Espanhola, a Guerra dos Sete Anos e a Revolução Francesa. Durante a Guerra de Sucessão Espanhola, a Guerra dos Sete Anos e a Revolução Francesa, ocorreram fatos que conduziram ao desenvolvimento da estética do rococó.

Viva o Rei! O Antigo Rei Está Morto!

François Boucher: Marquesa de Pompadour, 1756

Ao falecimento de Luís XIV, os membros da corte deixaram Versalhes e se estabeleceram em Paris. Enquanto isso, o jovem Luís XV esperava que chegasse o momento de se tornar o novo monarca.

Segundo Stephen Richard Jones em seu livro Introdução à História da Arte: o Século XVII, os nobres de Paris foram estabelecendo, aos poucos, contato com as elites econômicas mais poderosas e com os funcionários do Tesouro. Nesse contexto, as formas de etiqueta foram se relaxando gradualmente.

Afastados da atividade prática, os nobres necessitavam de novas ocupações. A arte foi o caminho encontrado para preencher sua inatividade. Segundo Jones, isso contribuiria significativamente para manter o interesse na corte.

A arte rococó era apenas para deleitar uma sociedade rica, realmente ociosa, para a qual o único pecado era se aborrecer.

Quando Luís XV, ainda jovem, assumiu o trono, novos ideais de clientelismo passaram a ser praticados pelo setor privado, trazendo prosperidade.

Jeanne-Antoine Poisson, a Marquesa de Pompadour, pode ser considerada uma das figuras mais relevantes daquele período. Ela era incluída na Corte Real como a amante do rei, porém seu nome ficou conhecido como protetora das artes.

Inspirado em Watteau, um mercado foi criado para dar destaque à vida doméstica, ao erotismo e à celebração da vida e do prazer.

O tédio foi combatido com interesse por questões amorosas, enquanto a arte evoluía para algo novo, que deixou para trás o clássico barroco. Esta nova arte ganhou destaque em muitos países da Europa, proporcionando oportunidades únicas a artistas em movimento.

Declínio Declinante

No século XVIII, pensadores iluministas como Voltaire defendiam a supremacia da razão, e a moderação das emoções, para o benefício da sociedade.

Muitos consideraram o estilo rococó excessivo ou mesmo imoral. Por essa razão, foi associado ao declínio do Antigo Regime.

Influenciado pelo Iluminismo, Jacques François Blodel defendeu a modernização da arte e contribuiu para o debate político quanto ao crescente republicanismo. Ele também desqualificou o estilo artístico do Antigo Regime.

Com o passar do tempo, a arte neoclássica veio à tona com o triunfo do desenho sobre a cor. Sob o controle do pensamento filosófico e político, a arte voltou aos princípios acadêmicos, à moralização e à promoção do Estado.

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Citações de Referência

  • Jones, Stephen Richard (1985): Introducción a la historia del arte: El Siglo XVIII. Barcelona: Editorial Gustavo Gili / Círculo de leitores/ Universidade de Cambridge.
  • Levey, Michael (1998): Del rococó a la Revolución: principales tendencias de la pintura en el siglo XVIII. Barcelona: Edições Destino.
Carolina Marcello
Escrito por Carolina Marcello

Formou-se em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e possui mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes pela mesma instituição. Durante os estudos universitários, foi co-fundadora do Grupo de Estudos Lusófonos da faculdade e uma das editoras da revista da mesma, que se dedica às literaturas de língua portuguesa.