Características e Tipos de Arte Indígena


Escrito por Sónia Cunha

A arte produzida pelos povos nativos de uma localidade é conhecida como arte indígena, sendo múltipla e bastante diversificada. Suas características, formas e atributos variam de acordo com a região e com as culturas locais.

A pintura corporal é uma característica comum em diversas tribos e etnias indígenas. Contudo, cada uma delas possui suas particularidades artísticas que a distinguem das demais. Dessa forma, é possível observar uma grande variedade de manifestações artísticas que retratam a identidade e cultura das populações indígenas.

As manifestações artísticas são consideradas um elemento essencial da cultura brasileira e compõem o nosso patrimônio através de variadas formas de expressão.

A Arte dos Povos Indígenas do Brasil

A arte indígena é um dos mais importantes pilares da cultura brasileira e tem contribuído significativamente para a construção do nosso imaginário nacional.

Arte indígena nacional é a produção de povos nativos que remonta ao período pré e pós-colonização. Muitas destas manifestações são resistentes ao tempo, e ainda hoje estão preservadas em nosso território.

Neste país, a cultura é evidenciada por meio da cerâmica, das máscaras, das pinturas corporais, das tecelagens, dos ritmos musicais, das danças e da mitologia.

Nativos da etnia Rikbaksta.

As etnias possuem seus próprios desenhos e símbolos, assim como estilos específicos de arte. Estes elementos são repetidos em diferentes peças, reforçando a identificação e o reconhecimento da sua origem.

De acordo com o censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em 2010, cerca de 800 mil cidadãos indígenas são reconhecidos no Brasil, divididos entre mais de 250 povos.

Embora sejam lindas, ricas em história e cultura, as criações desta população ainda são objeto de discriminação e violência. Por isso, é necessário que façamos o máximo para salvaguardar e divulgar essas obras.

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Arte Indígena - Uma Visão Geral

Arte da Pintura Corporal Indígena

A pintura corporal é uma importante parte da arte, com diversas técnicas e padrões. Maioritariamente realizada por mulheres, essa prática não tem fins práticos, mas simbolicamente transmite muitas mensagens.

Assurinis do Tocantins.

As tintas usadas pelas tribos variam em preparação e recursos naturais, tendo como principais componentes plantas, árvores e frutos. As cores e desenhos podem mudar de acordo com o gênero, idade ou função de um indivíduo na comunidade.

Ao misturar jenipapo, urucum e tabatinga, origem de cores como o preto, vermelho e branco, é possível obter tonalidades intensas. Essas cores representam a alegria, força e energia.

Urucum, fruto vermelho usado para criar tinta.

Existem muitos padrões e desenhos que representam a história e as crenças de uma comunidade. Estes podem variar de simples combinações e arranjos a complexos símbolos que carregam significados profundos, remetendo a momentos e emoções específicas.

Muitas vezes, as pinturas corporais são usadas para fins estéticos, com a intenção de tornar os corpos mais bonitos. Entretanto, frequentemente elas também são usadas em rituais e cerimônias.

Os Karajás são conhecidos por usarem pinturas corporais para decorar e enfeitar os seus corpos, usando imagens que eles mesmos criam.

Uma nativa dos Kadiwéu em 1892.

Os Kadiwéu, conhecidos por terem origem no Mato Grosso do Sul, são mundialmente reconhecidos por seus detalhados desenhos ornamentais que consistem em listras e espirais. Hoje em dia, essas pinturas podem ser encontradas em vasos de cerâmica que são comercializados pelos próprios Kadiwéu.

Máscaras Tradicionais Indígenas

As máscaras indígenas possuem uma significância simbólica marcante e são comumente usadas em rituais e celebrações. Estas têm uma forte associação com o mundo sobrenatural e só são empregadas em ocasiões especiais, como rituais sagrados.

Costumes e folclore são parte integrante da identidade de cada população. Seguindo as tradições, essas comunidades se empenham em agradar ou acalmar entidades superiores.

Máscara dosTicunas, ou tucunas, que habitam a região da Amazônia.

Enquanto realizam danças sagradas, os Tucanos, os Aruaques e os Karajás usam objetos específicos. Estes últimos reservam esses itens especiais para a Aruanã, uma dança que celebra os seus heróis.

Máscaras produzidas pelos Matis, do sudoeste da Amazônia, se destacam por serem feitas em cerâmica, diferentemente das outras, que são feitas com materiais como palha, cabaças ou cascas de árvore, e decoradas com desenhos e penas de pássaros.

Arte Cerâmica Indígena

Mulheres de origem indígena são frequentemente responsáveis pela confecção de cerâmica, que é muito comum entre essas etnias.

A argila é manipulada para criar não apenas objetos úteis, como vasos e taças, mas também esculturas, urnas funerárias e outros recipientes destinados a guardar cinzas dos falecidos.

Exemplo de vaso de cerâmica indígena.

Os povos trabalham de formas distintas, sem o uso de instrumentos típicos de olaria, como a roda de oleiro. Assim, criam peças únicas, ornamentadas com desenhos e detalhes decorativos.

Atualmente, os Kadiwéu produzem peças de cerâmica com os mesmos desenhos que usavam na pintura corporal. A Ilha de Marajó se tornou mundialmente conhecida pela sua artesanato.

Vaso de cerâmica criado pelos Kadiwéu.

A região era conhecida por sua cerâmica da cultura marajoara, que se caracterizava por obras de tamanho maior, bem como pela cultura santarena, que retratava figuras humanas e incluía elementos em relevo.

Artesanato Indígena de Trançado

O sexo feminino tem grande influência na cestaria indígena. Materiais como folhas e fibras de árvores, como a folha de palmeira, são usados para trançar as obras em muitas técnicas diferentes. Os padrões e figuras decorativos tornam a cestaria indígena ainda mais rica e variada.

Cesto da etnia Tariana.

Estes cestos possuem múltiplas funções no dia-a-dia: podem ser usados para coar líquidos, peneirar farinha, transportar ou armazenar alimentos.

Os Baniwa, famosos por sua cestaria de arumã, são uma etnia localizada na fronteira entre o Brasil, a Colômbia e a Venezuela. Suas obras artesanais são comercializadas em várias partes do país.

Belas Penas da Plumagem

A caça das aves é feita para a coleta das penas e das plumas, que são posteriormente tingidas e cortadas. Após isso, esses materiais são usados para a decoração de máscaras, flechas, cocares, pulseiras, brincos e outros objetos. Além disso, as plumas também são coladas diretamente ao corpo de alguém.

Exemplo do trabalho de plumagem no cocar.

A arte plumária indígena é repleta de simbolismos. Os Palicures, por exemplo, usavam penas vermelhas de arara para homenagear os espíritos e afastar a energia negativa.

Objetos de grande valor, as plumas são usadas somente em ocasiões especiais. A cor e a forma das penas indicam qual é o gênero, a idade e a posição de destaque de cada indivíduo dentro do grupo.

Usada frequentemente por homens, a plumagem é também vista como uma representação de autoridade e posição social.

Aspectos da Arte Indígena

A característica mais marcante da arte indígena é sua natureza coletiva. Ela não é vista como uma atividade individual, mas sim como algo a ser compartilhado.

As formas artísticas têm um profundo vínculo com o meio em que são criadas, sendo responsáveis por satisfazer as necessidades diárias, assim como rituais e celebrações que são passados de geração em geração. Estas tradições são a base dessas formas artísticas.

Apesar de possuírem um caráter estético, a maioria das peças têm um uso prático e podem ser utilizadas no dia a dia.

É importante frisar que essas obras de arte utilizam materiais encontrados na Natureza: folhas, frutos, árvores, ossos, dentes e penas de animais, entre outros.

Muitos também são vistos como artigos cerimoniais, servindo para aproximar as pessoas do mundo espiritual, além de serem utilizados no cotidiano.

Sónia Cunha
Escrito por Sónia Cunha

É licenciada em História, variante História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (2003) e em Conservação e Restauro pelo Instituto Politécnico de Tomar (2006). Ao longo da carreira profissional, exerceu vários cargos em diferentes áreas, como técnico superior de Conservação e Restauro, assistente a tempo parcial na UPT e professora de História do 3º ciclo e ensino secundário. A arte e as letras sempre foram a sua grande paixão.