18 Incríveis Filmes Franceses que Você Não Pode Perder


Escrito por Sónia Cunha

1. Abrindo os Braços (À Bras Ouverts) (2017)

À primeira vista, a obra cômica de Philippe de Chauveron pode parecer leve, mas aborda questões sociais muito mais profundas, como o preconceito contra imigrantes e minorias.

O filme nos apresenta Jean-Etienne Fougerole (Christian Clavier), um intelectual francês de esquerda, branco, com muito humor. Durante um programa de televisão, ele foi desafiado por seu opositor político a acolher na sua própria casa uma família cigana. Como não havia outra saída, ele aceitou o desafio.

Numa abordagem interessante, De braços abertos traz uma análise profunda sobre racismo e xenofobia, indo muito além do tradicional confronto entre duas culturas distintas.

O filme é extremamente relevante para a realidade de exclusão social que se vê hoje na França e, em geral, na Europa. Ele aborda essa questão de maneira divertida mas eficaz.

"De braços abertos" é uma produção que é inteligente o suficiente para oferecer múltiplas possibilidades de interpretação.

2. A Família Bélier: Uma História de Amor (La Famille Bélier) (2014)

Paula (Louane Emera), única dotada de audição numa família formada por deficientes auditivos, é a peça-chave para o funcionamento desta. Ela traduz para seu pai (François Damiens), mãe (Karin Viard) e irmão (Luca Gelberg) tudo aquilo que eles não conseguem ouvir.

Paula é a peça central na família que reside em uma fazenda. Enfrentando todos os desafios de uma adolescente, ela discute na escola, busca por amor e, às vezes, deixa de seguir as regras estabelecidas em casa. Ainda assim, é graças a ela que a dinâmica familiar é mantida.

A família Bélier tem um verdadeiro divisor de águas quando Paula descobre a sua vocação musical e recebe um convite para mudar de cidade. Esta decisão de Paula é muito complicada, pois ela tem de escolher entre o seu sonho e o bem-estar da sua família, que depende tanto dela.

O filme foi nomeado para seis Césares e exibe um talento soberano ao abordar o processo de maturação. Tratando o tema com muita sensibilidade, é uma obra-prima.

Em A família Bélier, é retratado um contexto específico que nos faz sentir identificação e comoção. Nós, que ao longo da vida já tivemos que nos desvencilhar de algo para seguir um caminho independente, nos reconhecemos nessa história.

3. Inacessíveis (Intouchables) (2011)

"Intocáveis" é muito mais do que uma simples narrativa de amizade: trata-se de uma obra-prima que aborda vários assuntos delicados com sensibilidade.

Philippe (François Cluzet), um milionário, sofreu um acidente que o deixou tetraplégico. Assim, ele necessita de ajuda para todas as tarefas cotidianas, desde o banho até as refeições.

Driss, um jovem negro de Paris, com uma vida de problemas e sob condicional, vive na periferia da cidade.

Quando Driss se candidata para ser cuidador de Philippe, os dois se encontram. Com o convívio diário, surge entre eles uma sólida relação de afinidade.

Apesar das suas diferenças - Philippe é um aristocrata culto, branco e rico, enquanto Driss é um imigrante senegalês que sempre foi marginalizado - surge uma inesperada amizade entre eles.

Sem carregar a pena de seus predecessores, Driss conquista a confiança de Philippe, tornando-se um grande amigo dele.

Intocáveis conta sua história de forma sensível, mesclando momentos de drama com risadas. O enredo apresenta alguns momentos engraçados, dando ao filme contornos de uma comédia.

O milionário francês Phillippe Pozzo di Borgo e o argelino Abdel Yasmin Sellou foram a inspiração para uma história de amizade verdadeira.

O longa-metragem foi premiado com o Goya de Melhor Filme Europeu e foi um grande sucesso entre os espectadores, ficando como líder nas bilheterias francesas no ano de seu lançamento.

Intocáveis nos mostra o quanto é possível construir relações de afeto entre pessoas de origens muito diferentes, e nos emociona ao nos convidar a refletir sobre isso.

4. A Maravilhosa Jornada de Amélie Poulain (2001)

O filme "Amélie Poulain" tornou-se um clássico cult do cinema francês, e não à toa. Sua história é um grande consolo para os olhos.

Amélie é uma jovem muito especial, que foi criada de forma diferente devido ao diagnóstico precoce de um problema cardíaco. Ela cresceu numa vida solitária, como se estivesse guardada dentro de uma redoma de vidro. Só no início da vida adulta que ela descobriu o seu propósito, a de fazer o bem para aqueles que estão à sua volta através de simples atos de bondade.

Amélie possui uma sensibilidade ímpar, que a possibilita observar as necessidades das pessoas à sua volta. Em seguida, ela encontra maneiras criativas e discretas para tornar a vida dessas pessoas melhor: ora presenteando-as com algo inesperado, ora unindo duas pessoas em namoro.

A beleza visual de O fabuloso destino de Amélie Poulain não tem paralelo: além disso, o enredo nos mostra a importância de prestar atenção às pessoas que amamos.

5. O Que Fiz de Errado ao Deus? (Qu'est-ce qu'on a fait au Bon Dieu?) (2014)

Christian Clavier é protagonista de uma comédia onde Claude e Marie Verneuil formam um casal tradicional francês católico com quatro filhas.

Eles, conservadores, temem que o futuro de suas filhas seja comprometido quando elas optam por parceiros não convencionais. Por isso, desejam um parceiro ideal para elas.

As três filhas mais velhas escolhem maridos de origens diferentes: Rachid, um advogado argelino; David, um judeu; e Chao, um japonês. Porém, a esperança de que algum dia a família seja unificada recai sobre a filha mais nova, Laure, que até o momento ainda é solteira.

Com suas piadas inteligentes e seu humor refinado, Que mal eu fiz a Deus? é um filme divertido, mas também aborda um assunto muito sério: o preconceito.

A narrativa aborda as pressões sociais que os pais exercem sobre os seus filhos ao tentarem escolher o seu futuro, bem como as dificuldades encontradas pelas famílias com herança multicultural.

6. Le Petit Nicolas (2009)

Nicolau, um talento do cinema francês, conseguiu realizar a difícil missão de reavivar a visão das crianças.

Nicolau teme que, com a chegada de um novo membro para a família, ele seja abandonado. Ao ouvir uma conversa entre seus pais e descobrir que esperam um irmãozinho, o menino entra em pânico e busca ajuda nos amigos da escola para encontrar uma solução para o problema.

O filme, Família, é um deleite tanto para crianças quanto para adultos, contendo diálogos engraçados e inteligentes.

Ao assistirmos ao longa-metragem baseado nos livros de René Goscinny, somos transportados para o nosso passado, nos lembrando do olhar ingênuo e criativo que tínhamos quando éramos crianças, mas que acabamos por perder ao longo dos anos.

7. Uma Boa-Vinda para Marly-Gomont (Bienvenue à Marly-Gomont) (2016)

A história de Bem-vindo a Marly-Gomont tem como tema principal a mudança de um jovem médico recém-formado do Congo para um vilarejo francês. Ele é o único médico negro que aquela comunidade já viu.

O filme conta a história real da família Zantoko, que deixou o Congo em busca de melhores condições de vida na França.

O médico, mesmo tendo sido capacitado, é recebido com grande rejeição pela população local, pois é negro e estrangeiro. Sua esposa e filhos também experimentam a hostilidade dos nativos.

No dia a dia, as manifestações de racismo são vistas de diversas formas. O médico pode notar a falta de pacientes, os filhos podem ser tratados de modo desigual na escola e a mãe pode sentir dificuldade em se relacionar com o meio social.

Esse filme, que une drama e humor, nos ajuda a pensar sobre o preconceito racial e as dificuldades que os imigrantes enfrentam.

Bem-vindo a Marly-Gomont é um filme profundamente humano e sensível que aborda uma história que, apesar de datar dos anos 70, poderia muito bem estar acontecendo nos dias atuais.

8. Passando Tardes com Margueritte (La Tête en Friche) (2010)

Se você é apaixonado por filmes sobre amizade, não deixe de conferir Minhas tardes com Margueritte. Esta produção é imperdível!

Uma obra cheia de ternura que aborda a conexão estabelecida entre dois estranhos: Germain (Gérard Depardieu) e Margueritte (Gisèle Casadesus). Germain é um homem de quarenta anos, enquanto a Margueritte é uma senhora idosa que está gradualmente ficando cega. Os dois se conheceram em um parque público, onde o Germain costuma se sentar para lanchar e Margueritte para ler.

Embora Germain seja um brutamontes e Margueritte, uma senhora frágil, eles têm algo em comum, pois ambos nutrem uma paixão por palavras e literatura. Esta ligação os une, mesmo que estejam em fases diferentes de suas vidas; enquanto ele está no meio, ela está no fim.

Germain não tem sido visto com bons olhos na escola e em casa. Porém, ele encontra em Margueritte uma companheira amorosa e compreensiva com quem aprende e se desenvolve dia a dia. Aos 95 anos, a presença de Germain traz nova energia para a vida de Margueritte.

O filme de Marie-Sabine é sincero e encantador, estimulando-nos a considerar diversos tópicos filosóficos a respeito do significado da vida.

9. Amor: Uma História de 2012

O filme "Amor" mostra como o amor e a cumplicidade entre Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva) permanecem imutáveis apesar da passagem do tempo. Ambos são professores aposentados de música com cerca de oitenta anos de idade e partilharam toda uma vida juntos.

O casal tem apenas uma filha que mora em outro país, de modo que, na prática, eles acabam tendo apenas a companhia um do outro no cotidiano.

O drama retrata como Anne e seu parceiro amadurecem ao longo do tempo, enfrentando as restrições impostas por seus corpos, especialmente quando Anne sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC).

A narrativa é extremamente realista, demonstrando como ambos se organizam diante das mudanças ao longo dos anos, assim como como o sentimento de amor evolui com o passar das décadas.

10. La Môme: Um Hino ao Amor de Edith Piaf (2007)

Piaf: um hino ao amor é um filme biográfico que apresenta a extraordinária jornada de Edith Piaf. A história de vida da cantora é marcada por grandes dificuldades, mas também por uma força incrível que a levou a vencer.

Seguimos a trajetória da menina desde a sua difícil infância, quando foi abandonada pela mãe e criada por sua avó em um bordel. Já como cantora de sucesso, ela conquistou a música ‘La vie en rose’.

Não é necessário ser um fã da cantora para que se possa se interessar por esta história singular. Trata-se de um filme que apresenta uma personagem fora do comum, Piaf, contando a sua história de perseverança e reinvenção de uma forma cativante para aqueles que não são tão aficionados por música.

11. Assediado (À beira da Exaustão) (1960)

O clássico filme do cineasta francês Jean-Luc Godard, Acossado, é celebrado por sua inovação técnica. Ele rompia com as convenções previamente estabelecidas do cinema francês. A montagem foi uma das inovações, pois ela propunha rupturas entre as cenas e era muitas vezes filmada com luz natural. Assim, Godard criou sua própria linguagem.

Godard foi o criador de seu primeiro longa-metragem, inspirado em uma história real. A trama policial tem Jean-Paul Belmondo como protagonista, no papel de Michel Poiccard, um ladrão de carros que acaba por matar um policial durante sua fuga.

Após chegar a Paris, Michel reencontra uma amiga americana de longa data (Jean Seberg). Estabelecendo um relacionamento íntimo, o objetivo de Michel passa a ser escapar para a Itália com ela.

Com imensa importância para a história do cinema, Acossado é um filme ícone do movimento francês Nouvelle Vague.

12. Não Sou Fácil de Ser Homem (Je ne suis pas un Homme Facile) (2018)

"Não Sou um Homem Fácil" é uma comédia que aborda de forma divertida a questão dos estereótipos de gênero.

Em um dia lindo, Damien caminhava pela rua quando bateu com a cabeça em um poste. Quando voltou a si, percebeu que o mundo havia mudado completamente.

Neste contexto totalmente novo, os papéis sociais dos homens e das mulheres se invertem, o que o leva a ficar surpreso ao perceber questões que antes nunca havia notado, como o assédio constante sofrido pelas mulheres.

Damien encontra-se desorientado sem os privilégios que possuía como homem heterossexual, muitas vezes o deixando sentir-se objetificado nesta nova realidade.

Ao invertermos os papeis de homens e mulheres, podemos experimentar uma série de situações cotidianas de uma maneira diferente.

O filme é repleto de ironia, proporcionando boas risadas e não sendo de modo algum superficial no que se refere ao humor.

A cineasta Éléonore Pourriat sugere que encaremos o nosso dia a dia de forma inovadora.

13. Mamãe, Eu e os Meninos: Uma Mesa para Guillaume (2013)

O enredo singular da comédia Eu, mamãe e os meninos trata da história de Guillaume Gallienne, o qual, devido à sua singularidade em relação aos irmãos, foi educado pela mãe como se fosse uma menina.

A criação incomum de seu lar fez com que ele passasse por uma série de situações constrangedoras. O pior de tudo é que acabou sofrendo bullying dos colegas da escola, o que o fez crescer sofrendo as consequências dessa violência.

Guillaume ficou confuso no meio do caminho: não se sentia totalmente identificado como menina, apesar de ter sido criado como tal, nem como menino, apesar de suas características físicas.

Guillaume, cuja história conta com elementos autobiográficos, chama a atenção pela maneira surpreendente e divertida de como aborda seus traumas pessoais.

Guillaume é uma fonte de humor que faz rir o público ao mostrar os estereótipos sociais, tais como garotos andróginos e adultos extremamente machistas e crueles.

14. Elle a déjà tes yeux (2016)

Paul e Sali, um casal francês de origem negra, decidiram adotar um bebê para completar sua família. Após alguns meses de espera, a esperança se tornou realidade quando eles finalmente receberam um recém-nascido, que, para a surpresa deles, era branco.

Os dois lidam muito calmamente com a chegada do recém-nascido, mas é notória a perplexidade de quem os observa, uma vez que a criança é branca, sendo criada em um lar negro.

Ele tem os seus olhos inquietos que desafiam os preconceitos e ilustram o desconforto social que se segue à quebra dos padrões sociais vigentes. Nesse sentido, Paul e Sali demonstram que bebês negros podem ser adotados por pais brancos, desconstruindo assim a narrativa comumente aceita.

O filme trata de um tema profundo, mas o aborda de forma leve e divertida, com abundância de humor.

15. La Vie D'Adèle: O Azul É o Mais Quente (2013)

Um filme celebrado, 'Azul é a Cor Mais Quente', conta a história de amor entre duas adolescentes: Adèle (Adèle Exarchopoulos) e Emma (Léa Seydoux).

Adèle, de 15 anos, experimenta seu primeiro amor em Emma, uma estudante de artes mais velha. Ela precisa lidar com o sentimento inédito e os preconceitos das pessoas ao seu redor enquanto se envolve cada vez mais com a jovem.

A obra Le bleu est une couleur chaude (2010) serviu como base para a adaptação livre que estabeleceu o enredo intenso do filme. Devido a isso, o Festival de Cannes outorgou o prêmio Palma de Ouro à produção.

Azul merece ser visto não apenas por contar uma linda história de amor, mas principalmente por reproduzir de forma realista a maneira como ainda não há aceitação natural de uma relação amorosa entre duas mulheres na sociedade.

16. J'ai Perdu Mon Corps

Em Perdi o meu corpo, um filme premiado e cujo enredo é muito único, é contada a história de uma mão decepada que precisa fugir do laboratório onde vivia aprisionada para procurar seu corpo a fim de voltar a ser inteira.

Rastejando nas ruas de Paris, a mão vê diversos acontecimentos enquanto procura reconectar-se com as outras partes do seu corpo.

A princípio, o que parecia ser uma história de mistério acabou por representar algo muito mais profundo: uma busca para entender a memória e as emoções.

A criatividade do diretor Jérémy Clapin é destacada em sua história, que aborda a incompletude inerente à condição humana.

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17. Explorando os Muros da Escola: 'Entre les Murs' (2008)

A Palma de Ouro foi entregue ao filme que narra as experiências do professor François Marin (François Bégaudeau). Ele atua em uma escola de ensino médio na periferia de Paris e o filme mostra o poder transformador que a educação tem em sua vida e na vida de seus alunos.

Trabalhar com os jovens complicados, questionadores, que testam os limites, conflituosos e agressivos é um desafio para François. Ele precisa descobrir como ser um professor rigoroso, mas ao mesmo tempo é necessário conquistar a confiança dos alunos para que o processo de ensino se desenvolva.

O filme retrata uma periferia francesa, mas aborda também dramas universais enfrentados por professores em várias comunidades carentes a nível global.

Dentro das instalações escolares, é o local perfeito para aqueles que desejam pensar sobre o papel dos professores.

18. O Jogo de Nada a Esconder (2018)

Uma reunião de amigos de longa data se reúne para jantar na casa de um deles, na capital francesa. Uma brincadeira peculiar e inusitada é proposta: perder a privacidade por uma noite e partilhar todos os emails, mensagens e chamadas que receberam. Será que os amigos aceitarão a desafiadora brincadeira?

No meio da noite, um dos membros do grupo teve uma ideia inusitada: tornar todas as conversas públicas.

Nada a esconder é um filme que foca nas máscaras sociais que todos usamos e na nossa tendência de nos disfarçarmos e de agradar o público. Apesar de a princípio parecer inofensivo, o filme acaba se revelando um pesadelo.

Sónia Cunha
Escrito por Sónia Cunha

É licenciada em História, variante História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (2003) e em Conservação e Restauro pelo Instituto Politécnico de Tomar (2006). Ao longo da carreira profissional, exerceu vários cargos em diferentes áreas, como técnico superior de Conservação e Restauro, assistente a tempo parcial na UPT e professora de História do 3º ciclo e ensino secundário. A arte e as letras sempre foram a sua grande paixão.